As três semanas que trouxeram péssimas notícias para os planos de Donald Trump


Desde que anunciou a pré-candidatura à presidência, o ex-presidente acumulou uma série de derrotas políticas e judiciais

Por Maggie Haberman e Michael C. Bender

As primeiras três semanas de Donald Trump como pré-candidato à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2024, após um anúncio incomum e antecipado, foram negativas para o objetivo de eliminar a concorrência interna do Partido Republicano – em parte, um dos seus motivos do anúncio precoce. O período destacou as vulnerabilidades de Trump e forneceu munição considerável para os republicanos concorrentes, que defendem que o ex-presidente deve ser página virada.

Desde que os resultados das eleições de meio de mandato acabaram em uma série de derrotas humilhantes para ele, devido ao fracasso dos candidatos apoiados por ele, na intenção de criar líderes sob o sua tutela, Trump recebeu um líder supremacista branco e uma celebridade antissemita em sua residência, no sul da Flórida.

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Nas suas aparições, sugeriu o fim da Constituição — aquela que o presidente jura preservar, proteger e defender — para sustentar a mentira de que as eleições de 2020 foram fraudadas para lhe roubarem e teve a empresa condenada por 17 acusações de fraude fiscal em Nova York.

Ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante discurso em um comício em Iowa, no dia 9 de outubro de 2021. Após anunciar a pré-candidatura à presidência, Trump cometeu uma série de erros que dificultam seus objetivos Foto: Rachel Mummey/Reuters

Na noite da terça-feira, 6, seu candidato ao Senado pela Geórgia – o ex-astro do futebol americano Herschel Walker, que foi funcionário de Trump no breve período em que ele foi proprietário de um time nos anos 80 –, escolhido a dedo, acabou derrotado após uma campanha que será lembrada como uma série de escândalos e erros próprios.

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Ampliando a autossabotagem, Trump recebeu na mesma terça-feira outra figura extremista na sua residência, pousou para fotos com um “joinha” ao lado de uma adepta fervorosa das teorias da conspiração conhecidas como QAnon e “Pizzagate”, segundo noticiou a ABC News.

Derrotas e constrangimentos se acumulam rapidamente em torno de Trump e agravaram preocupações antigas entre os seus colegas republicanos de que a vitória em 2016 pode ter sido uma anormalidade – e de que a insistência na tentativa de voltar à presidência poderia afundar as esperanças do partido reconquistar a Casa Branca em 2024. “Sei que muita gente no nosso partido adora o ex-presidente”, afirmou na quarta-feira, 7, o senador Mitt Romney no Capitólio, a respeito da derrota de Walker. “Mas ele foi, se vocês me permitem dizer, a pá de cal para quem queria vencer nas eleições. Em dado momento, temos de seguir adiante e procurar novos líderes que nos levem à vitória.”

Scott Reed, estrategista republicano veterano e ex-conselheiro máximo da Câmara Americana de Comércio, classificou as últimas três semanas como “devastadoras para a viabilidade de Trump no futuro”. “O anúncio apressado, os sérios problemas na Justiça e as derrotas de seus candidatos a senador escolhidos a dedo — que novamente privaram o Partido Republicano do controle do Senado — levantaram sérias preocupações entre doadores e apoiadores”, afirmou Reed.

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É cedo demais para avaliar os efeitos a longo prazo da onda de derrotas e denúncias sobre a pré-candidatura de Trump, especialmente em razão de seu histórico em se manter influente em meio a controvérsias.

O surgimento de Trump refletiu — e acelerou — a ascensão da direita do Partido Republicano. Nas pesquisas internas do partido, ele conta com um apoio sólido de pelo menos 25% dos republicanos e continua favorito para ser o possível candidato à presidência. Entretanto, não está claro se Trump terá capacidade de aumentar seu apelo para ter o apoio amplo que lhe garantiu a vitória surpreendente em 2016.

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O início tem sido pouco favorável para Trump, que até agora conduziu os republicanos à derrota em três ciclos eleitorais seguidos.

Ignorando a maioria dos conselheiros, Trump decidiu anunciar a pré-candidatura uma semana após as eleições de meio de mandato, certo de um resultado favorável aos republicanos. Mas, em vez disso, o Partido Republicano reconquistou a Câmara com pouquíssima margem e fracassou na tentativa de ter o controle do Senado.

O resultado fez muitos republicanos culparem Trump por seu apoio a candidatos pouco habilidosos e pela pressão que exerceu sobre estes para que endossassem as mentiras a respeito da eleição de 2020. “Se tivéssemos conquistado o Senado e a Câmara com uma boa maioria, em vez de uma margem tênue, isso teria pavimentado o caminho de Trump para a indicação e resolvido a questão rapidamente”, afirmou Lori Corbin, representante do Arizona no Comitê Nacional Republicano. “Agora, simplesmente não sabemos o que vai acontecer.”

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Imagem mostra o candidato ao Senado americano pelo Partido Republicano, Herschel Walker, durante a campanha eleitoral, em imagem do dia 5 deste mês. Walker foi um dos políticos apoiados por Trump que saíram derrotados nas urnas Foto: Ben Gray / AP

Trump não participou de nenhum evento de pré-campanha desde que se apresentou para a disputa, não nomeou encarregados para postos-chave para a sua campanha e não estabeleceu comitês. Ele tem ficado principalmente em Mar-a-Lago, o seu resort na Flórida, onde participa de alguns eventos públicos de forma remota – caso de um comício virtual que organizou para Walker na Geórgia.

Entretanto, o ex-presidente encontrou tempo para jantar no dia 22 de novembro com o rapper Kanye West, artista que Trump buscou repetidamente a aprovação enquanto era presidente e que foi denunciado por uma série de comentários antissemitas, e com o supremacista branco Nick Fuentes, um racista notório e negacionista do Holocausto. Quando o ex-embaixador de Trump em Israel, David Friedman, o criticou, o ex-presidente se queixou privadamente de que ele havia sido desleal.

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Em um comunicado, Steven Cheung, assessor de comunicação de Trump, desqualificou as questões em torno do início da pré-campanha com o argumento de que Trump “é a força mais dominante na política” e insistiu que tudo está conforme o planejado. “Estamos focados em construir a campanha e instalar o comitê para empreender um trabalho avassalador, como nunca se viu”, afirmou Cheung. “Estamos constituindo nossas equipes em Estados com eleições antecipadas e garantindo que estaremos posicionados para vencer em todos os níveis.”

As derrotas de Trump incluem graves problemas na Justiça. O esforço que empreendeu durante quatro anos para bloquear o acesso de congressistas democratas às declarações de impostos terminou em derrota na Suprema Corte, e a Comissão Fiscal da Câmara afirmou em 30 de novembro que obteve acesso a seis anos de declarações de impostos do ex-presidente. Além disso, o processo aberto por Trump que por quase três meses atrasou a investigação a respeito dos documentos secretos mantidos em Mar-a-Lago foi encerrado por um tribunal federal em 1.º de dezembro.

Estamos focados em construir a campanha e instalar o comitê para empreender um trabalho avassalador, como nunca se viu

Steven Cheung, assessor de comunicação de Trump

Por fim, um júri de Nova York culpou a empresa da sua família por 17 acusações relacionadas a um esquema de fraude fiscal que, na avaliação dos promotores de Justiça, constituía uma “cultura de fraude e trapaça” do empreendimento.

Derrota na Geórgia é o ápice do péssimo ano de Trump

A derrota de Walker na terça-feira em sua disputa de segundo turno contra o senador democrata Raphael Warnock foi a ápice do péssimo ano de Trump como articulador político.

Trump pressionou Walker para concorrer e o apoiou no início da pré-campanha do candidato, a despeito da insistência de republicanos em Washington para ele ter cautela devido a antigas acusações de violência doméstica contra Walker. O ex-presidente foi inflexível e manteve a convicção de que o ex-astro do futebol americano superaria as acusações, assim como ele superou os escândalos.

Entretanto, ainda que Walker tenha mantido a disputa surpreendentemente apertada — sob a enxurrada de manchetes a respeito da existência de filhos desconhecidos até então e dos pedidos de aborto que ele fazia a ex-namoradas – o ex-atleta perdeu por cerca de 100 mil votos e os democratas ganharam um 51.º assento valiosíssimo no Senado.

Julianne Thompson, consultora republicana em Atlanta e ex-porta-voz do Partido Republicano na Geórgia, afirmou que os resultados gerais das eleições de meio de mandato no Estado — onde os eleitores rejeitaram candidatos apoiados por Trump para senador, governador, secretário estadual e procurador-geral — mostraram que “muita gente está questionando a direção do partido”. “Há uma grande parcela do Partido Republicano pronta para seguir adiante”, afirmou ela.

Mais amplamente, as terríveis, horríveis, absolutamente ruins, péssimas três semanas de Trump trouxeram à tona a possibilidade de sua aparente impermeabilidade às regras normais da gravidade política ter finalmente perdido o efeito.

Ignorando a maioria dos conselheiros, Trump decidiu anunciar a pré-candidatura oe uma oportunidade de desafiar Trump”, afirmou Michael Barnett, presidente do Partido Republicano no Condado de Palm Beach, Flórida. “Não acho que a influência dele caiu tanto — se é que caiu — mas ele terá oponentes.” /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As primeiras três semanas de Donald Trump como pré-candidato à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2024, após um anúncio incomum e antecipado, foram negativas para o objetivo de eliminar a concorrência interna do Partido Republicano – em parte, um dos seus motivos do anúncio precoce. O período destacou as vulnerabilidades de Trump e forneceu munição considerável para os republicanos concorrentes, que defendem que o ex-presidente deve ser página virada.

Desde que os resultados das eleições de meio de mandato acabaram em uma série de derrotas humilhantes para ele, devido ao fracasso dos candidatos apoiados por ele, na intenção de criar líderes sob o sua tutela, Trump recebeu um líder supremacista branco e uma celebridade antissemita em sua residência, no sul da Flórida.

Nas suas aparições, sugeriu o fim da Constituição — aquela que o presidente jura preservar, proteger e defender — para sustentar a mentira de que as eleições de 2020 foram fraudadas para lhe roubarem e teve a empresa condenada por 17 acusações de fraude fiscal em Nova York.

Ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante discurso em um comício em Iowa, no dia 9 de outubro de 2021. Após anunciar a pré-candidatura à presidência, Trump cometeu uma série de erros que dificultam seus objetivos Foto: Rachel Mummey/Reuters

Na noite da terça-feira, 6, seu candidato ao Senado pela Geórgia – o ex-astro do futebol americano Herschel Walker, que foi funcionário de Trump no breve período em que ele foi proprietário de um time nos anos 80 –, escolhido a dedo, acabou derrotado após uma campanha que será lembrada como uma série de escândalos e erros próprios.

Ampliando a autossabotagem, Trump recebeu na mesma terça-feira outra figura extremista na sua residência, pousou para fotos com um “joinha” ao lado de uma adepta fervorosa das teorias da conspiração conhecidas como QAnon e “Pizzagate”, segundo noticiou a ABC News.

Derrotas e constrangimentos se acumulam rapidamente em torno de Trump e agravaram preocupações antigas entre os seus colegas republicanos de que a vitória em 2016 pode ter sido uma anormalidade – e de que a insistência na tentativa de voltar à presidência poderia afundar as esperanças do partido reconquistar a Casa Branca em 2024. “Sei que muita gente no nosso partido adora o ex-presidente”, afirmou na quarta-feira, 7, o senador Mitt Romney no Capitólio, a respeito da derrota de Walker. “Mas ele foi, se vocês me permitem dizer, a pá de cal para quem queria vencer nas eleições. Em dado momento, temos de seguir adiante e procurar novos líderes que nos levem à vitória.”

Scott Reed, estrategista republicano veterano e ex-conselheiro máximo da Câmara Americana de Comércio, classificou as últimas três semanas como “devastadoras para a viabilidade de Trump no futuro”. “O anúncio apressado, os sérios problemas na Justiça e as derrotas de seus candidatos a senador escolhidos a dedo — que novamente privaram o Partido Republicano do controle do Senado — levantaram sérias preocupações entre doadores e apoiadores”, afirmou Reed.

É cedo demais para avaliar os efeitos a longo prazo da onda de derrotas e denúncias sobre a pré-candidatura de Trump, especialmente em razão de seu histórico em se manter influente em meio a controvérsias.

O surgimento de Trump refletiu — e acelerou — a ascensão da direita do Partido Republicano. Nas pesquisas internas do partido, ele conta com um apoio sólido de pelo menos 25% dos republicanos e continua favorito para ser o possível candidato à presidência. Entretanto, não está claro se Trump terá capacidade de aumentar seu apelo para ter o apoio amplo que lhe garantiu a vitória surpreendente em 2016.

O início tem sido pouco favorável para Trump, que até agora conduziu os republicanos à derrota em três ciclos eleitorais seguidos.

Ignorando a maioria dos conselheiros, Trump decidiu anunciar a pré-candidatura uma semana após as eleições de meio de mandato, certo de um resultado favorável aos republicanos. Mas, em vez disso, o Partido Republicano reconquistou a Câmara com pouquíssima margem e fracassou na tentativa de ter o controle do Senado.

O resultado fez muitos republicanos culparem Trump por seu apoio a candidatos pouco habilidosos e pela pressão que exerceu sobre estes para que endossassem as mentiras a respeito da eleição de 2020. “Se tivéssemos conquistado o Senado e a Câmara com uma boa maioria, em vez de uma margem tênue, isso teria pavimentado o caminho de Trump para a indicação e resolvido a questão rapidamente”, afirmou Lori Corbin, representante do Arizona no Comitê Nacional Republicano. “Agora, simplesmente não sabemos o que vai acontecer.”

Imagem mostra o candidato ao Senado americano pelo Partido Republicano, Herschel Walker, durante a campanha eleitoral, em imagem do dia 5 deste mês. Walker foi um dos políticos apoiados por Trump que saíram derrotados nas urnas Foto: Ben Gray / AP

Trump não participou de nenhum evento de pré-campanha desde que se apresentou para a disputa, não nomeou encarregados para postos-chave para a sua campanha e não estabeleceu comitês. Ele tem ficado principalmente em Mar-a-Lago, o seu resort na Flórida, onde participa de alguns eventos públicos de forma remota – caso de um comício virtual que organizou para Walker na Geórgia.

Entretanto, o ex-presidente encontrou tempo para jantar no dia 22 de novembro com o rapper Kanye West, artista que Trump buscou repetidamente a aprovação enquanto era presidente e que foi denunciado por uma série de comentários antissemitas, e com o supremacista branco Nick Fuentes, um racista notório e negacionista do Holocausto. Quando o ex-embaixador de Trump em Israel, David Friedman, o criticou, o ex-presidente se queixou privadamente de que ele havia sido desleal.

Em um comunicado, Steven Cheung, assessor de comunicação de Trump, desqualificou as questões em torno do início da pré-campanha com o argumento de que Trump “é a força mais dominante na política” e insistiu que tudo está conforme o planejado. “Estamos focados em construir a campanha e instalar o comitê para empreender um trabalho avassalador, como nunca se viu”, afirmou Cheung. “Estamos constituindo nossas equipes em Estados com eleições antecipadas e garantindo que estaremos posicionados para vencer em todos os níveis.”

As derrotas de Trump incluem graves problemas na Justiça. O esforço que empreendeu durante quatro anos para bloquear o acesso de congressistas democratas às declarações de impostos terminou em derrota na Suprema Corte, e a Comissão Fiscal da Câmara afirmou em 30 de novembro que obteve acesso a seis anos de declarações de impostos do ex-presidente. Além disso, o processo aberto por Trump que por quase três meses atrasou a investigação a respeito dos documentos secretos mantidos em Mar-a-Lago foi encerrado por um tribunal federal em 1.º de dezembro.

Estamos focados em construir a campanha e instalar o comitê para empreender um trabalho avassalador, como nunca se viu

Steven Cheung, assessor de comunicação de Trump

Por fim, um júri de Nova York culpou a empresa da sua família por 17 acusações relacionadas a um esquema de fraude fiscal que, na avaliação dos promotores de Justiça, constituía uma “cultura de fraude e trapaça” do empreendimento.

Derrota na Geórgia é o ápice do péssimo ano de Trump

A derrota de Walker na terça-feira em sua disputa de segundo turno contra o senador democrata Raphael Warnock foi a ápice do péssimo ano de Trump como articulador político.

Trump pressionou Walker para concorrer e o apoiou no início da pré-campanha do candidato, a despeito da insistência de republicanos em Washington para ele ter cautela devido a antigas acusações de violência doméstica contra Walker. O ex-presidente foi inflexível e manteve a convicção de que o ex-astro do futebol americano superaria as acusações, assim como ele superou os escândalos.

Entretanto, ainda que Walker tenha mantido a disputa surpreendentemente apertada — sob a enxurrada de manchetes a respeito da existência de filhos desconhecidos até então e dos pedidos de aborto que ele fazia a ex-namoradas – o ex-atleta perdeu por cerca de 100 mil votos e os democratas ganharam um 51.º assento valiosíssimo no Senado.

Julianne Thompson, consultora republicana em Atlanta e ex-porta-voz do Partido Republicano na Geórgia, afirmou que os resultados gerais das eleições de meio de mandato no Estado — onde os eleitores rejeitaram candidatos apoiados por Trump para senador, governador, secretário estadual e procurador-geral — mostraram que “muita gente está questionando a direção do partido”. “Há uma grande parcela do Partido Republicano pronta para seguir adiante”, afirmou ela.

Mais amplamente, as terríveis, horríveis, absolutamente ruins, péssimas três semanas de Trump trouxeram à tona a possibilidade de sua aparente impermeabilidade às regras normais da gravidade política ter finalmente perdido o efeito.

Ignorando a maioria dos conselheiros, Trump decidiu anunciar a pré-candidatura oe uma oportunidade de desafiar Trump”, afirmou Michael Barnett, presidente do Partido Republicano no Condado de Palm Beach, Flórida. “Não acho que a influência dele caiu tanto — se é que caiu — mas ele terá oponentes.” /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As primeiras três semanas de Donald Trump como pré-candidato à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2024, após um anúncio incomum e antecipado, foram negativas para o objetivo de eliminar a concorrência interna do Partido Republicano – em parte, um dos seus motivos do anúncio precoce. O período destacou as vulnerabilidades de Trump e forneceu munição considerável para os republicanos concorrentes, que defendem que o ex-presidente deve ser página virada.

Desde que os resultados das eleições de meio de mandato acabaram em uma série de derrotas humilhantes para ele, devido ao fracasso dos candidatos apoiados por ele, na intenção de criar líderes sob o sua tutela, Trump recebeu um líder supremacista branco e uma celebridade antissemita em sua residência, no sul da Flórida.

Nas suas aparições, sugeriu o fim da Constituição — aquela que o presidente jura preservar, proteger e defender — para sustentar a mentira de que as eleições de 2020 foram fraudadas para lhe roubarem e teve a empresa condenada por 17 acusações de fraude fiscal em Nova York.

Ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante discurso em um comício em Iowa, no dia 9 de outubro de 2021. Após anunciar a pré-candidatura à presidência, Trump cometeu uma série de erros que dificultam seus objetivos Foto: Rachel Mummey/Reuters

Na noite da terça-feira, 6, seu candidato ao Senado pela Geórgia – o ex-astro do futebol americano Herschel Walker, que foi funcionário de Trump no breve período em que ele foi proprietário de um time nos anos 80 –, escolhido a dedo, acabou derrotado após uma campanha que será lembrada como uma série de escândalos e erros próprios.

Ampliando a autossabotagem, Trump recebeu na mesma terça-feira outra figura extremista na sua residência, pousou para fotos com um “joinha” ao lado de uma adepta fervorosa das teorias da conspiração conhecidas como QAnon e “Pizzagate”, segundo noticiou a ABC News.

Derrotas e constrangimentos se acumulam rapidamente em torno de Trump e agravaram preocupações antigas entre os seus colegas republicanos de que a vitória em 2016 pode ter sido uma anormalidade – e de que a insistência na tentativa de voltar à presidência poderia afundar as esperanças do partido reconquistar a Casa Branca em 2024. “Sei que muita gente no nosso partido adora o ex-presidente”, afirmou na quarta-feira, 7, o senador Mitt Romney no Capitólio, a respeito da derrota de Walker. “Mas ele foi, se vocês me permitem dizer, a pá de cal para quem queria vencer nas eleições. Em dado momento, temos de seguir adiante e procurar novos líderes que nos levem à vitória.”

Scott Reed, estrategista republicano veterano e ex-conselheiro máximo da Câmara Americana de Comércio, classificou as últimas três semanas como “devastadoras para a viabilidade de Trump no futuro”. “O anúncio apressado, os sérios problemas na Justiça e as derrotas de seus candidatos a senador escolhidos a dedo — que novamente privaram o Partido Republicano do controle do Senado — levantaram sérias preocupações entre doadores e apoiadores”, afirmou Reed.

É cedo demais para avaliar os efeitos a longo prazo da onda de derrotas e denúncias sobre a pré-candidatura de Trump, especialmente em razão de seu histórico em se manter influente em meio a controvérsias.

O surgimento de Trump refletiu — e acelerou — a ascensão da direita do Partido Republicano. Nas pesquisas internas do partido, ele conta com um apoio sólido de pelo menos 25% dos republicanos e continua favorito para ser o possível candidato à presidência. Entretanto, não está claro se Trump terá capacidade de aumentar seu apelo para ter o apoio amplo que lhe garantiu a vitória surpreendente em 2016.

O início tem sido pouco favorável para Trump, que até agora conduziu os republicanos à derrota em três ciclos eleitorais seguidos.

Ignorando a maioria dos conselheiros, Trump decidiu anunciar a pré-candidatura uma semana após as eleições de meio de mandato, certo de um resultado favorável aos republicanos. Mas, em vez disso, o Partido Republicano reconquistou a Câmara com pouquíssima margem e fracassou na tentativa de ter o controle do Senado.

O resultado fez muitos republicanos culparem Trump por seu apoio a candidatos pouco habilidosos e pela pressão que exerceu sobre estes para que endossassem as mentiras a respeito da eleição de 2020. “Se tivéssemos conquistado o Senado e a Câmara com uma boa maioria, em vez de uma margem tênue, isso teria pavimentado o caminho de Trump para a indicação e resolvido a questão rapidamente”, afirmou Lori Corbin, representante do Arizona no Comitê Nacional Republicano. “Agora, simplesmente não sabemos o que vai acontecer.”

Imagem mostra o candidato ao Senado americano pelo Partido Republicano, Herschel Walker, durante a campanha eleitoral, em imagem do dia 5 deste mês. Walker foi um dos políticos apoiados por Trump que saíram derrotados nas urnas Foto: Ben Gray / AP

Trump não participou de nenhum evento de pré-campanha desde que se apresentou para a disputa, não nomeou encarregados para postos-chave para a sua campanha e não estabeleceu comitês. Ele tem ficado principalmente em Mar-a-Lago, o seu resort na Flórida, onde participa de alguns eventos públicos de forma remota – caso de um comício virtual que organizou para Walker na Geórgia.

Entretanto, o ex-presidente encontrou tempo para jantar no dia 22 de novembro com o rapper Kanye West, artista que Trump buscou repetidamente a aprovação enquanto era presidente e que foi denunciado por uma série de comentários antissemitas, e com o supremacista branco Nick Fuentes, um racista notório e negacionista do Holocausto. Quando o ex-embaixador de Trump em Israel, David Friedman, o criticou, o ex-presidente se queixou privadamente de que ele havia sido desleal.

Em um comunicado, Steven Cheung, assessor de comunicação de Trump, desqualificou as questões em torno do início da pré-campanha com o argumento de que Trump “é a força mais dominante na política” e insistiu que tudo está conforme o planejado. “Estamos focados em construir a campanha e instalar o comitê para empreender um trabalho avassalador, como nunca se viu”, afirmou Cheung. “Estamos constituindo nossas equipes em Estados com eleições antecipadas e garantindo que estaremos posicionados para vencer em todos os níveis.”

As derrotas de Trump incluem graves problemas na Justiça. O esforço que empreendeu durante quatro anos para bloquear o acesso de congressistas democratas às declarações de impostos terminou em derrota na Suprema Corte, e a Comissão Fiscal da Câmara afirmou em 30 de novembro que obteve acesso a seis anos de declarações de impostos do ex-presidente. Além disso, o processo aberto por Trump que por quase três meses atrasou a investigação a respeito dos documentos secretos mantidos em Mar-a-Lago foi encerrado por um tribunal federal em 1.º de dezembro.

Estamos focados em construir a campanha e instalar o comitê para empreender um trabalho avassalador, como nunca se viu

Steven Cheung, assessor de comunicação de Trump

Por fim, um júri de Nova York culpou a empresa da sua família por 17 acusações relacionadas a um esquema de fraude fiscal que, na avaliação dos promotores de Justiça, constituía uma “cultura de fraude e trapaça” do empreendimento.

Derrota na Geórgia é o ápice do péssimo ano de Trump

A derrota de Walker na terça-feira em sua disputa de segundo turno contra o senador democrata Raphael Warnock foi a ápice do péssimo ano de Trump como articulador político.

Trump pressionou Walker para concorrer e o apoiou no início da pré-campanha do candidato, a despeito da insistência de republicanos em Washington para ele ter cautela devido a antigas acusações de violência doméstica contra Walker. O ex-presidente foi inflexível e manteve a convicção de que o ex-astro do futebol americano superaria as acusações, assim como ele superou os escândalos.

Entretanto, ainda que Walker tenha mantido a disputa surpreendentemente apertada — sob a enxurrada de manchetes a respeito da existência de filhos desconhecidos até então e dos pedidos de aborto que ele fazia a ex-namoradas – o ex-atleta perdeu por cerca de 100 mil votos e os democratas ganharam um 51.º assento valiosíssimo no Senado.

Julianne Thompson, consultora republicana em Atlanta e ex-porta-voz do Partido Republicano na Geórgia, afirmou que os resultados gerais das eleições de meio de mandato no Estado — onde os eleitores rejeitaram candidatos apoiados por Trump para senador, governador, secretário estadual e procurador-geral — mostraram que “muita gente está questionando a direção do partido”. “Há uma grande parcela do Partido Republicano pronta para seguir adiante”, afirmou ela.

Mais amplamente, as terríveis, horríveis, absolutamente ruins, péssimas três semanas de Trump trouxeram à tona a possibilidade de sua aparente impermeabilidade às regras normais da gravidade política ter finalmente perdido o efeito.

Ignorando a maioria dos conselheiros, Trump decidiu anunciar a pré-candidatura oe uma oportunidade de desafiar Trump”, afirmou Michael Barnett, presidente do Partido Republicano no Condado de Palm Beach, Flórida. “Não acho que a influência dele caiu tanto — se é que caiu — mas ele terá oponentes.” /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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