Entre os países que vêem vantagem na guerra contra o terrorismo em geral e os islamitas em particular, encontra-se certamente a Rússia, que visa a liquidação dos chechenos e, ao mesmo tempo, oleodutos através do futuro Afeganistão e uma aproximação com a Otan e o Ocidente. Mas um outro país se alegra da mesma maneira: a China. A China, também por várias razões: em primeiro lugar, ao ajudarem os Estados Unidos embaraçados em sua guerra, os chineses podem importunar seu "inimigo irmão", Taiwan, essa pequena China insular que os Estados Unidos protegem contra os apetites da China continental. Foi o que já aconteceu: durante a reunião de cúpula da APEC em Xangai, onde se deu o encontro (em traje de ópera chinesa) de Bush, Putin e Jiang Zemin, os chineses humilharam de maneira grosseira os delegados de Taiwan (o que não poderiam fazer se Bush não tivesse sido obrigado a colocar "uma surdina" em suas críticas em razão exatamente do Afeganistão). Mas há um outro motivo, ainda mais sério. Em sua região oeste, a China possui uma província, Xinjiang, três vezes o tamanho da França e que constitui uma zona estratégica para o controle de toda a Ásia central - Xinjiang tem fronteiras com oito países da região, entre eles, Mongólia, Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Paquistão, Índia. E tem mais: o subsolo de Xinjiang é rico em petróleo. Além disso, próxima de um outro futuro reservatório de petróleo mundial (Casaquistão e, mais longe, o Mar Cáspio), a província de Xinjiang poderia abrigar oleodutos, como outrora controlou a "rota da seda" ou a "rota do jade". Ora, Xinjiang é habitada por oito milhões de uigures, que foram incorporados à China em 1884. Noventa por cento desses uigures, que falam a língua turca, são muçulmanos e sunitas. Tão sunitas quanto os talebans, mas trata-se de uma variedade diferente de sunitas, que os talebans detestam e que são dóceis e moderados. Mas as coisas mudam. Na verdade, há alguns anos, a China teme que os uigures - e, portanto, a província de Xinjiang - sejam tentados pela aventura "independentista". E Pequim reagiu aos uigures, assim como aos tibetanos, mantendo o país sob um severo poder. A China age como um poder colonial obtuso e cruel. Vários milhões de chineses instalaram-se em Xinjiang e controlam todas as suas estruturas políticas e econômicas. Os uigures não tiraram vantagem alguma do boom petroleiro (e algodoeiro) que começou há dez anos. Nada de escolas. O acesso dos jovens às mesquitas é proibido. As mulheres não têm o direito de usar o véu (pobre véu! No Afeganistão e em outros países, aquelas que não querem usá-lo são obrigadas a fazê-lo. E, lá, são punidas as que têm um!). Em todas as épocas e em todos os lugares, a dureza colonial tem os mesmos efeitos: a revolta dos colonizados. Assim os uigures se recusam a acertar seus relógios com a hora de Pequim. Bombas explodem aqui e ali. E alguns desses muçulmanos uigures, tão moderados, entraram em contato com os talebans. Alguns uigures ajudam também alguns grupos "islamitas extremistas" do Casaquistão e até mesmo do Uzbequistão que, no entanto, fica mais distante. Pequim reagiu de acordo com seu gênio: limitado e sangrento. Cerca de 200 independentistas foram fuzilados de 1997 a 1999. Mas a violência na China, assim como no Tibete, foi constantemente denunciada pelos ocidentais. É aqui que a guerra do Afeganistão é "bem oportuna" para os chineses. A China faz o mesmo cálculo que Putin: o Afeganistão permite a Moscou irromper contra os chechenos (muçulmanos) sem ser condenada pelos Estados Unidos. Da mesma maneira, não se consegue entender como os Estados Unidos poderiam continuar "repreendendo" a repressão chinesa em Xinjiang, se, ao mesmo tempo, pede ajuda à China em sua coalizão contra os terroristas de Bin Laden. Aliás, Pequim já adaptou sua diplomacia e até seu vocabulário à nova situação da diplomacia mundial: há dois meses os uigures muçulmanos eram "separatistas". De repente, acabam de subir um degrau da hierarquia do mal: foram transformados em "terroristas". Leia o especial