No impasse envolvendo o programa nuclear da Coreia do Norte a noção que predomina há muito tempo é de que os Estados Unidos não têm uma opção viável para eliminá-lo. Qualquer tentativa nesse sentidoprovocará um contra-ataque brutal contra a Coreia do Sul, sangrento e devastador demais para se correr o risco.
Essa é a maior restrição a uma resposta do governo Trump, mesmo com o líder norte-coreano Kim Jong Um se aproximando cada vez mais da sua meta de criar um arsenal nuclear capaz de atingir os Estados Unidos. Na terça-feira a Coreia do Norte ultrapassou um novo limite, testando uma arma que qualificou como um míssil balístico intercontinental com potencial para alcançar o Alasca.
Durante anos, como costuma agir em crises potenciais no mundo, o Pentágono criou e aperfeiçoou planos de guerra para o caso da Coreia do Norte, incluindo uma enorme invasão em retaliação e ataques preventivos limitados e realizando exercícios militares anuais em conjunto com forças sul-coreanas. Mas as opções militares estão mais desalentadoras do que nunca.
Mesmo um ataque mais limitado pode provocar vítimas porque a Coreia do Norte irá retaliar com sua artilharia posicionada ao longo da fronteira com a Coreia do Sul. Apesar de o seu arsenal ter alcance limitado, podendo ser destruído em questão de dias, o secretário da Defesa americano Jim Mattis alertou recentemente que, se os norte-coreanos o utilizarem, “ será provavelmente o pior tipo de combatequemuitas pessoas viram”.
Além disso, não existe nenhum precedente histórico de um ataque militar com o objetivo de destruir o arsenal nuclear de um país hostil.
A última vez que os Estados teriam considerado seriamente um ataque contra a Coreia do Norte foi em 1994, mais de uma década antes do seu primeiro teste nuclear. O secretário americano da Defesa, na época, William J. Perry, pediu ao Pentágono para planejar um “ataque cirúrgico” contra um reator nuclear, mas recuou ao concluir que a ação desencadearia uma guerra que resultaria em centenas de milhares de mortes.
Hoje os riscos são maiores. As autoridades americanas acreditam que a Coreia do Norte desenvolveu uma dezena de bombas atômicas, - talvez muito mais - e pode montá-las nos mísseis capazes de atingir grande parte do Japão e da Coreia do Sul.
No início do seu mandato, Donald Trump tentou mudar a dinâmica da crise forçando a Coreia do Norte e a China, sua benfeitora, a reconsiderarem a disposição de Washington de iniciar uma guerra. Trump falou sem rodeios de “um grande, importante conflito” na Península Coreana, ordenou o envio de navios de guerra para águas vizinhas e prometeu “solucionar” o problema nuclear”. Mas ele também recuou nas últimas semanas, dando ênfase a esforços para pressionar a China a frear Kim com sanções.
Um ataque preventivo muito provavelmente não destruirá o arsenal da Coreia do Norte, porque algumas instalações estão ocultas em cavernas nas montanhas ou em subterrâneos e muitos mísseis estão escondidos em lançadores móveis.
A Coreia do Norte alertou que retaliará imediatamente, lançando mísseis nucleares. Mas prever como Kim responderá a um ataque limitado é exercitar a teoria do jogo estratégico. Muitos analistas acreditam que ele não usará de imediato suas armas nucleares nem suas armas biológicas e químicas para evitar uma resposta nuclear dos Estados Unidos.
O governo sul-coreano realiza exercícios de evacuação de emergência somente cinco vezes ao ano e são muito esporádicos, duram cerca de 20 minutos, com as pessoas se agachando nos prédios ou desligando os carros quando soam os alarmes. Muitos moradores nem têm ideia de onde se encontra o abrigo mais próximo.
Poucas pessoas mantém estoques de alimentos e água em casa, e embora o governo tenha anunciado que comprará 1,8 milhão de máscaras de gás para o caso de um ataque com armas químicas, isso não basta para proteger a população. “Nas primeiras 72 horas, cada indivíduo terá de lutar pela sua vida sozinho e se preparar por sua própria conta”, disse Nam Kyung-pil, governador da província de Gyeonggi”. / Tradução de Terezinha Martino
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