Durante quase 10 meses de intensa guerra contra o Hamas em Gaza, Israel travou um conflito paralelo, de ritmo mais lento, com os aliados do Hamas em todo o Oriente Médio.
Apesar de todos os lados correrem o risco de uma escalada, todos evitaram arrastar a região para uma guerra maior e de várias frentes. Os ataques a dois dos principais inimigos de Israel na terça-feira, 30, e na quarta, 31, criaram um dos maiores desafios a esse equilíbrio desde o início dos combates em outubro.
O ataque de Israel na noite de terça-feira a Fuad Shukr, um comandante sênior do Hezbollah em Beirute, foi a primeira vez que Israel teve como alvo um líder tão influente do Hezbollah na capital do Líbano.
Horas depois, o assassinato no Irã do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi considerado a violação mais descarada das defesas do Irã desde outubro.
A importância dos alvos, a localização sensível dos ataques e sua quase simultaneidade, foram interpretadas como uma escalada provocativa. Com isso, a região teme uma resposta ainda maior do Irã e de seus representantes regionais, incluindo o Hezbollah, os Houthis no Iêmen e as milícias no Iraque. A intensidade dessa reação pode determinar se as batalhas regionais entre Israel e a aliança iraniana se transformarão em um conflito total e em grande escala.
Alguns analistas disseram que a morte de Haniyeh, o principal negociador do Hamas, também tornou menos provável um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza a curto prazo. Os israelenses esperavam que a morte de um líder tão influente interrompesse a determinação do Hamas, tornando o grupo mais disposto a fazer concessões a longo prazo. Mas outros disseram que era improvável que a organização fosse seriamente afetada pela morte de Haniyeh.
Embora fosse o líder político do Hamas, Haniyeh é substituível, disse Joost Hiltermann, diretor do programa para o Oriente Médio e Norte da África do International Crisis Group. “O Hamas sobreviverá”, disse ele. “Eles têm muitos outros líderes”.
Os analistas também disseram que tanto o Irã quanto o Hezbollah tinham motivos para reagir de forma a tornar menos provável uma guerra ainda maior.
Para o Irã, o ataque em seu território foi embaraçoso, mas não catastrófico, porque teve como alvo um hóspede estrangeiro em vez de altos funcionários iranianos, de acordo com Andreas Krieg, especialista em Oriente Médio do King’s College, em Londres. “Não acho que o cálculo estratégico dos iranianos tenha necessariamente mudado. O Irã terá que responder de alguma forma. Mas não é um ponto de inflexão”, disse.
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O Hezbollah enfrenta mais pressão para reagir do que o Irã porque o ataque a Beirute atingiu um de seus próprios comandantes, e não um de seus aliados, de acordo com Michael Stephens, especialista não residente em Oriente Médio no Foreign Policy Research Institute, uma organização de pesquisa com sede na Filadélfia. Porém, ele diz não estar claro se a morte de Haniyeh no Irã mudará os cálculos do Hezbollah no Líbano.
“Precisamos ser muito claros e cuidadosos ao confundir as duas questões. Nos últimos nove meses, o Hezbollah demonstrou repetidamente que o que acontece com o Hamas não está relacionado aos imperativos estratégicos do Hezbollah. Isso não significa que não haverá conflito. Só acho que o caminho para chegar lá é mais complexo do que parece”, afirma Stephens.
Experiências anteriores mostram que a redução da escalada ainda é possível. Em janeiro, os ataques israelenses mataram um líder sênior do Hamas na fortaleza do Hezbollah em Beirute, o que gerou temores de que o Hezbollah montaria uma resposta particularmente feroz em nome do Hamas. Dias depois, o Hezbollah disparou uma barragem de foguetes contra uma base do exército israelense que causou poucos danos, o que foi interpretado como uma resposta simbólica.
Depois que Israel matou vários comandantes iranianos na Síria em abril, o Irã respondeu com uma das maiores barragens de mísseis de cruzeiro e balísticos da história militar. Depois de um contra-ataque israelense simbólico, os dois lados decidiram se afastar da beira do abismo.
O duplo assassinato também poderia proporcionar uma saída para a guerra, permitindo que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reivindique uma vitória simbólica, dando espaço para recuar em Gaza e talvez concordar com um cessar-fogo.
Mas Netanyahu ainda pode evitar fazer isso se acreditar que uma trégua faria seu governo entrar em colapso; sua coalizão governista conta com legisladores de extrema direita que ameaçaram abandonar a aliança se a guerra terminar sem a derrota total do Hamas.
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