FAIXA DE GAZA - Quinze pessoas, incluindo três líderes da Jihad Islâmica e quatro crianças morreram nesta terça-feira, 9, em ataques aéreos lançados por Israel contra a Faixa Gaza, de acordo com autoridades locais. O Exército israelense anunciou ter mobilizado 40 aeronaves para a operação contra três comandantes das Brigadas Al-Qods, braço armado da Jihad Islâmica, em Gaza e em Rafah, na fronteira com o Egito.
“Alcançamos os objetivos que buscávamos”, declarou à imprensa Richard Hecht, porta-voz do Exército. A Jihad Islâmica, grupo considerado terrorista por Israel, União Europeia e Estados Unidos, confirmou a morte dos três dirigentes. Eles foram identificados como Yihad Ghannam, comandante das Brigadas Al-Qods para a Faixa de Gaza, Khalil al-Bahtini, membro do conselho e comandante para o norte do território, e Tareq Ezzedine, comandante de ação militar do movimento na Cisjordânia ocupada, que coordenava seu trabalho a partir de Gaza.
Os militares israelenses disseram, por sua vez, que outros dois dos mortos pertenciam a “um comando terrorista” da Jihad Islâmica que preparava um ataque com míssil contra Israel. Entre os falecidos estão um médico russo, sua esposa e um de seus filhos, de acordo com uma mensagem publicada no Facebook pela representação russa em Ramallah, na Cisjordânia.
Os ataques prepararam o terreno para o que provavelmente será uma nova rodada de combates uma semana após uma escalada entre Israel e a Jihad Islâmica. Os ataques aéreos desta terça atingiram um apartamento e uma casa na cidade de Gaza e uma terceira casa na cidade de Rafah, no sul. O Ministério da Saúde palestino disse que mais de 20 pessoas ficaram feridas.
Israel também disse ter alvejado locais de treinamento da Jihad Islâmica antes que os ataques aéreos parassem ao amanhecer (no horário local, noite em Brasília). Depois de uma pausa de uma hora, os militares disseram que atingiram um veículo que transportava mísseis guiados antitanque para uma plataforma de lançamento na cidade de Khan Younis, no sul. Duas pessoas foram mortas nesse ataque, disse o Ministério da Saúde palestino, sem fornecer suas identidades.
O Exército de Israel pediu aos moradores que estão em uma área a 40 quilômetros da fronteira com Gaza que permaneçam perto dos abrigos antiaéreos até a noite desta quarta-feira para evitar eventuais lançamentos de foguetes palestinos. A prefeitura de Tel-Aviv anunciou que manterá os abrigos antiaéreos públicos abertos. O governo também ordenou o fechamento de escolas, praias e rodovias em cidades e vilas no sul de Israel e limitou as reuniões públicas. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, aprovou a convocação de reservas.
Após uma reunião do gabinete de segurança, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse em um discurso televisionado em horário nobre disse que o país precisaria ser paciente nos próximos dias e que instruiu o Exército “a se preparar para todos os cenários possíveis de escalada”, incluindo a probabilidade de que isso aconteça em várias frentes. “Esta noite eu digo aos nossos inimigos, cada escalada sua será respondida com uma resposta esmagadora”, disse ele.
Reação internacional
Os ataques aéreos israelenses foram condenados pela Autoridade Palestina, Jordânia e Egito, que frequentemente faz a mediação entre Israel e grupos militantes palestinos em Gaza. A Liga Árabe denunciou os ataques aéreos como “atrozes”. A União Europeia disse estar “muito preocupada”. A França emitiu uma declaração mais forte, dizendo que “condena todos os ataques que visam civis, e especificamente aqueles ... nos quais vários civis palestinos foram mortos”.
O governo brasileiro emitiu uma nota na qual expressou “condolências aos familiares das vítimas e manifesta sua solidariedade ao povo e ao governo do Estado da Palestina”. “O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, já se tenham registrado as mortes de mais de 100 palestinos e mais de 15 israelenses em conflito. Ao reiterar que não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra civis, o governo brasileiro apela às partes que se abstenham de ações que levem a uma escalada de tensão.”
O enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, considerou a morte de civis inaceitável e, em nota, pediu a todas as partes “que exerçam a máxima moderação”.
“Fizemos o possível para concentrar os bombardeios contra os combatentes”, reagiu Hecht, ao ser questionado sobre a morte de menores de idade nos ataques. “Se aconteceram mortes trágicas, nós vamos investigar”, acrescentou o porta-voz.
A Jihad Islâmica criticou a ação, que chamou de “crime sionista covarde”, e prometeu que “a resistência vingará os dirigentes” assassinados. O comandante do movimento em Gaza, Daoud Shehab, afirmou que “todas as cidades e colônias israelenses ficarão sob fogo”. Hazem Qassem, um porta-voz do Hamas, disse que Israel é responsável pelas “consequências da escalada”.
Trégua
A Jihad Islâmica e o Hamas são grupos apoiados pelo Irã que se opõem à existência de Israel e possuem grandes arsenais de foguetes e outras armas.
Os bombardeios começaram pouco depois das 2h locais (20h de segunda-feira em Brasília) e duraram quase duas horas. Os ataques acontecem menos de uma semana depois do anúncio de uma trégua, alcançada com a mediação do Egito, após uma nova escalada da violência entre o Exército israelense e a Jihad Islâmica.
Os confrontos começaram após a morte de Khader Adnan, um dirigente do movimento islâmico que passou mais de 80 dias em greve de fome em uma penitenciária israelense. O Exército afirma que “continuará trabalhando para a segurança dos civis no Estado de Israel”.
As forças israelenses apresentaram Ghannan como “um dos principais membros da organização, que era responsável por coordenar as transferências de armas e dinheiro entre a organização terrorista Hamas e a Jihad Islâmica”.
Bahtini foi, por sua vez, apontado como “responsável pelos lançamentos de foguetes contra Israel no mês passado”. Ezzedine “planejou e comandou vários ataques contra civis israelenses” na Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967. Ele foi condenado a 25 anos de prisão por envolvimento em atentados suicidas. Acabou sendo liberado em uma troca de prisioneiros em 2011 e foi expulso para Gaza.
Os ataques aéreos repentinos ocorrem em um momento de tensões crescentes entre Israel e os palestinos, particularmente na Cisjordânia ocupada, onde Israel realiza ataques quase diários há meses para deter supostos militantes palestinos, incluindo muitos da Jihad Islâmica. Israel diz que os ataques na Cisjordânia visam desmantelar redes militantes e impedir futuros ataques.
Os palestinos denunciam os ataques como mais um cerco dos 56 anos de ocupação indefinida por Israel de terras que buscam para um futuro Estado. Até agora, 105 palestinos, cerca de metade deles afiliados a grupos militantes, foram mortos por tiros israelenses na Cisjordânia e no leste de Jerusalém desde o início de 2023, de acordo com uma contagem da Associated Press. Pelo menos 20 pessoas foram mortas em ataques palestinos em Israel./AP e AFP