Plano inspirado em El Salvador para combater o narcotráfico faz sucesso no Equador


A nova guerra do presidente Daniel Noboa contra o crime organizado tem amplo apoio no país assolado pela violência; mas especialistas afirmam que liberdades civis podem estar em perigo

Por Annie Correal

THE NEW YORK TIMES — Desde que o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou guerra contra o crime organizado, no mês passado, soldados com fuzis de assalto ocupam as ruas de Guayaquil, uma grande cidade da Costa do Pacífico, que tem sido o epicentro da onda de violência que acomete o país há anos.

Os soldados retiram homens de ônibus e carros em busca de drogas, armas e tatuagens de gangues — e patrulham as ruas fazendo valer um toque de recolher noturno. A cidade está inquieta, seus homens e adolescentes do sexo masculino são potenciais alvos de soldados e policiais com ordens para derrubar gangues poderosas, que uniram forças com cartéis internacionais para transformar um Equador em um polo do narcotráfico internacional.

Mas quando veem soldados passando nas ruas, muitas pessoas os aplaudem ou lhe fazem joia. “Nós aplaudimos o pulso de ferro, o celebramos”, afirmou o prefeito de Guayaquil, Aquiles Álvarez. “A linha-dura colaborou para a paz.”

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Soldados patrulham base da Guarda Costeira, perto do Porto de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

Onda de violência

No início de janeiro, Guayaquil foi atingida por uma onda de violência que poderia se provar um ponto de inflexão na persistente crise de segurança no Equador: gangues atacaram a cidade após as autoridades se mobilizarem para retomar o controle das prisões do país, que as gangues controlavam quase completamente.

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Policiais foram sequestrados, bombas explodiram e, em um episódio transmitido ao vivo, uma dúzia de homens armados tomou brevemente uma grande emissora de TV.

Noboa então declarou conflito interno, uma medida de exceção tomada quando o Estado é alvo de ataque de um grupo armado. Ele ordenou que os militares enfrentassem as gangues, que tomaram grande parte do Equador lutando para controlar rotas de tráfico de cocaína e transformando um dos países mais pacíficos da América do Sul no mais letal.

O comandante das Forças Armadas equatorianas avisou que todo membro de gangue passou a ser um “objetivo militar”.

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A resposta agressiva de Noboa reduziu a violência e produziu uma precária sensação de segurança em lugares como Guayaquil, uma cidade de 2,7 milhões de habitantes, com um porto valioso para o tráfico de drogas, levando a aprovação do governo a 76% numa pesquisa nacional recente. E também disparou alertas entre ativistas defensores de direitos humanos.

Direitos humanos

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“Não estamos vendo nada novo nem inovador”, afirmou Fernando Bastias, do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos, de Guayaquil. “O que vemos é um aumento nos casos de violações graves de direitos humanos.”

A abordagem do Equador suscita comparações com El Salvador, cujo jovem líder, Nayib Bukele, desmantelou em grande medida suas gangues sanguinárias, o que lhe rendeu uma vitória eleitoral por ampla margem na disputa pela reeleição e elogios por toda a América Latina. Mas críticos afirmam que ele também esmagou os direitos humanos e o estado de direito, ordenando prisões em massa que acometeram pessoas inocentes.

“O Equador é um caso importante porque é quase um segundo laboratório das políticas de Bukele”, afirmou o professor de governança e políticas públicas Gustavo Flores-Macías, especialista em América Latina, da Universidade Cornell. “As pessoas estão tão desesperadas que acreditam na necessidade dessas políticas linha-dura para baixar os índices de criminalidade.”

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Soldados equatorianos patrulham as ruas de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

As medidas podem ser eficazes, mas, acrescentou ele, “o custo para as liberdades civis é alto”.

Efeito Bukele

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Assim como Bukele, Noboa, de 36 anos, quer construir megaprisões, e suas postagens em redes sociais incluem músicas animada e imagens de presos algemados e sem camisa. Ele batizou seu movimento em língua inglesa como “The Noboa Way” (o jeito de Noboa).

Ainda assim, há diferenças importantes, afirmou Christopher Sabatini, pesquisador sênior para América Latina da Chatham House, um grupo de pesquisa em Londres. Enquanto Bukele despreza a democracia, Noboa “retratou seu governo como uma democracia sitiada”, afirmou Sabatini.

Noboa também enfrenta um adversário diferente, afirmou o pesquisador Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations.

“El Salvador nunca foi importante para o tráfico de drogas”, afirmou ele, “é simplesmente pequeno demais”. O Equador, em contraste, agora é central para o comércio global de cocaína, afirmou ele, ligado a cartéis do México e da Europa. Como resultado, suas gangues têm milhões para se armar e combater as autoridades.

Mas, acrescentou Freeman, “nós vemos Noboa movimentando-se no sentido de uma de prisões em massa”.

Desde que o presidente declarou guerra às gangues, as autoridades equatorianas prenderam mais de 6 mil pessoas.

Em Guayaquil, soldados e policiais destroem sistemas de câmeras instalados por gangues para vigiar bairros inteiros, invadem áreas anteriormente quase inacessíveis à polícia e arrombam portas para apreender estoques de armas e explosivos.

A reação surtiu algum efeito.

Manifestação contra o aumento de impostos para financiar o combate ao crime no Equador  Foto: EFE / EFE

Entre dezembro e janeiro, o número de homicídios em Guayaquil caiu 33%, de 187 para 125. Diante do necrotério municipal, a ambulante Cheyla Jurado, que vende sucos e lanches para famílias à espera de retirar corpos, afirmou que a frequência diminuiu visivelmente. “Agora são (vítimas de) acidentes de carro, afogados”, afirmou ela.

No maior hospital da cidade, o número de pacientes feridos a bala e internados em razão de outros de ferimentos relacionados a violência caiu de cinco ao dia para um a cada três dias, afirmou o médico de urgências Rodolfo Zevallos.

O alívio no derramamento de sangue — ainda que incipiente — fez com que muitos equatorianos passassem a aprovar o jovem presidente.

“Nós podemos sentar do lado de fora à noite”, afirmou Janet Cisneros, que vende refeições caseiras no bairro Suburbio, em Guayaquil. “Antes, não podíamos — nós ficávamos completamente presos dentro de casa.”

Noboa, herdeiro de uma fortuna produzida em cultivos de banana, foi eleito em novembro para terminar o mandato de seu antecessor, Guillermo Lsso,que terminou prematuramente quando ele dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições.

Em janeiro, conforme a violência aumentava, Noboa trocou o terno de empresário e o sorriso tímido por uma cara amarrada e uma jaqueta de couro preta ao anunciar que o Equador não receberia mais ordens de “grupos narcoterroristas”. A mensagem linha-dura é destinada aos equatorianos, que votarão novamente para presidente no próximo ano, afirmou Flores-Macías, o cientista político, mas também pretende angariar apoio de líderes internacionais — particularmente do presidente Joe Biden. Noboa, disse Flores-Macías, “claramente percebe que precisa de apoio — orientação, financiamento e ajuda — dos Estados Unidos”.

Até aqui, o governo Biden forneceu ao Equador equipamento e treinamento, juntamente com cerca de US$ 93 milhões em ajuda militar e humanitária. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES — Desde que o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou guerra contra o crime organizado, no mês passado, soldados com fuzis de assalto ocupam as ruas de Guayaquil, uma grande cidade da Costa do Pacífico, que tem sido o epicentro da onda de violência que acomete o país há anos.

Os soldados retiram homens de ônibus e carros em busca de drogas, armas e tatuagens de gangues — e patrulham as ruas fazendo valer um toque de recolher noturno. A cidade está inquieta, seus homens e adolescentes do sexo masculino são potenciais alvos de soldados e policiais com ordens para derrubar gangues poderosas, que uniram forças com cartéis internacionais para transformar um Equador em um polo do narcotráfico internacional.

Mas quando veem soldados passando nas ruas, muitas pessoas os aplaudem ou lhe fazem joia. “Nós aplaudimos o pulso de ferro, o celebramos”, afirmou o prefeito de Guayaquil, Aquiles Álvarez. “A linha-dura colaborou para a paz.”

Soldados patrulham base da Guarda Costeira, perto do Porto de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

Onda de violência

No início de janeiro, Guayaquil foi atingida por uma onda de violência que poderia se provar um ponto de inflexão na persistente crise de segurança no Equador: gangues atacaram a cidade após as autoridades se mobilizarem para retomar o controle das prisões do país, que as gangues controlavam quase completamente.

Policiais foram sequestrados, bombas explodiram e, em um episódio transmitido ao vivo, uma dúzia de homens armados tomou brevemente uma grande emissora de TV.

Noboa então declarou conflito interno, uma medida de exceção tomada quando o Estado é alvo de ataque de um grupo armado. Ele ordenou que os militares enfrentassem as gangues, que tomaram grande parte do Equador lutando para controlar rotas de tráfico de cocaína e transformando um dos países mais pacíficos da América do Sul no mais letal.

O comandante das Forças Armadas equatorianas avisou que todo membro de gangue passou a ser um “objetivo militar”.

A resposta agressiva de Noboa reduziu a violência e produziu uma precária sensação de segurança em lugares como Guayaquil, uma cidade de 2,7 milhões de habitantes, com um porto valioso para o tráfico de drogas, levando a aprovação do governo a 76% numa pesquisa nacional recente. E também disparou alertas entre ativistas defensores de direitos humanos.

Direitos humanos

“Não estamos vendo nada novo nem inovador”, afirmou Fernando Bastias, do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos, de Guayaquil. “O que vemos é um aumento nos casos de violações graves de direitos humanos.”

A abordagem do Equador suscita comparações com El Salvador, cujo jovem líder, Nayib Bukele, desmantelou em grande medida suas gangues sanguinárias, o que lhe rendeu uma vitória eleitoral por ampla margem na disputa pela reeleição e elogios por toda a América Latina. Mas críticos afirmam que ele também esmagou os direitos humanos e o estado de direito, ordenando prisões em massa que acometeram pessoas inocentes.

“O Equador é um caso importante porque é quase um segundo laboratório das políticas de Bukele”, afirmou o professor de governança e políticas públicas Gustavo Flores-Macías, especialista em América Latina, da Universidade Cornell. “As pessoas estão tão desesperadas que acreditam na necessidade dessas políticas linha-dura para baixar os índices de criminalidade.”

Soldados equatorianos patrulham as ruas de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

As medidas podem ser eficazes, mas, acrescentou ele, “o custo para as liberdades civis é alto”.

Efeito Bukele

Assim como Bukele, Noboa, de 36 anos, quer construir megaprisões, e suas postagens em redes sociais incluem músicas animada e imagens de presos algemados e sem camisa. Ele batizou seu movimento em língua inglesa como “The Noboa Way” (o jeito de Noboa).

Ainda assim, há diferenças importantes, afirmou Christopher Sabatini, pesquisador sênior para América Latina da Chatham House, um grupo de pesquisa em Londres. Enquanto Bukele despreza a democracia, Noboa “retratou seu governo como uma democracia sitiada”, afirmou Sabatini.

Noboa também enfrenta um adversário diferente, afirmou o pesquisador Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations.

“El Salvador nunca foi importante para o tráfico de drogas”, afirmou ele, “é simplesmente pequeno demais”. O Equador, em contraste, agora é central para o comércio global de cocaína, afirmou ele, ligado a cartéis do México e da Europa. Como resultado, suas gangues têm milhões para se armar e combater as autoridades.

Mas, acrescentou Freeman, “nós vemos Noboa movimentando-se no sentido de uma de prisões em massa”.

Desde que o presidente declarou guerra às gangues, as autoridades equatorianas prenderam mais de 6 mil pessoas.

Em Guayaquil, soldados e policiais destroem sistemas de câmeras instalados por gangues para vigiar bairros inteiros, invadem áreas anteriormente quase inacessíveis à polícia e arrombam portas para apreender estoques de armas e explosivos.

A reação surtiu algum efeito.

Manifestação contra o aumento de impostos para financiar o combate ao crime no Equador  Foto: EFE / EFE

Entre dezembro e janeiro, o número de homicídios em Guayaquil caiu 33%, de 187 para 125. Diante do necrotério municipal, a ambulante Cheyla Jurado, que vende sucos e lanches para famílias à espera de retirar corpos, afirmou que a frequência diminuiu visivelmente. “Agora são (vítimas de) acidentes de carro, afogados”, afirmou ela.

No maior hospital da cidade, o número de pacientes feridos a bala e internados em razão de outros de ferimentos relacionados a violência caiu de cinco ao dia para um a cada três dias, afirmou o médico de urgências Rodolfo Zevallos.

O alívio no derramamento de sangue — ainda que incipiente — fez com que muitos equatorianos passassem a aprovar o jovem presidente.

“Nós podemos sentar do lado de fora à noite”, afirmou Janet Cisneros, que vende refeições caseiras no bairro Suburbio, em Guayaquil. “Antes, não podíamos — nós ficávamos completamente presos dentro de casa.”

Noboa, herdeiro de uma fortuna produzida em cultivos de banana, foi eleito em novembro para terminar o mandato de seu antecessor, Guillermo Lsso,que terminou prematuramente quando ele dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições.

Em janeiro, conforme a violência aumentava, Noboa trocou o terno de empresário e o sorriso tímido por uma cara amarrada e uma jaqueta de couro preta ao anunciar que o Equador não receberia mais ordens de “grupos narcoterroristas”. A mensagem linha-dura é destinada aos equatorianos, que votarão novamente para presidente no próximo ano, afirmou Flores-Macías, o cientista político, mas também pretende angariar apoio de líderes internacionais — particularmente do presidente Joe Biden. Noboa, disse Flores-Macías, “claramente percebe que precisa de apoio — orientação, financiamento e ajuda — dos Estados Unidos”.

Até aqui, o governo Biden forneceu ao Equador equipamento e treinamento, juntamente com cerca de US$ 93 milhões em ajuda militar e humanitária. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES — Desde que o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou guerra contra o crime organizado, no mês passado, soldados com fuzis de assalto ocupam as ruas de Guayaquil, uma grande cidade da Costa do Pacífico, que tem sido o epicentro da onda de violência que acomete o país há anos.

Os soldados retiram homens de ônibus e carros em busca de drogas, armas e tatuagens de gangues — e patrulham as ruas fazendo valer um toque de recolher noturno. A cidade está inquieta, seus homens e adolescentes do sexo masculino são potenciais alvos de soldados e policiais com ordens para derrubar gangues poderosas, que uniram forças com cartéis internacionais para transformar um Equador em um polo do narcotráfico internacional.

Mas quando veem soldados passando nas ruas, muitas pessoas os aplaudem ou lhe fazem joia. “Nós aplaudimos o pulso de ferro, o celebramos”, afirmou o prefeito de Guayaquil, Aquiles Álvarez. “A linha-dura colaborou para a paz.”

Soldados patrulham base da Guarda Costeira, perto do Porto de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

Onda de violência

No início de janeiro, Guayaquil foi atingida por uma onda de violência que poderia se provar um ponto de inflexão na persistente crise de segurança no Equador: gangues atacaram a cidade após as autoridades se mobilizarem para retomar o controle das prisões do país, que as gangues controlavam quase completamente.

Policiais foram sequestrados, bombas explodiram e, em um episódio transmitido ao vivo, uma dúzia de homens armados tomou brevemente uma grande emissora de TV.

Noboa então declarou conflito interno, uma medida de exceção tomada quando o Estado é alvo de ataque de um grupo armado. Ele ordenou que os militares enfrentassem as gangues, que tomaram grande parte do Equador lutando para controlar rotas de tráfico de cocaína e transformando um dos países mais pacíficos da América do Sul no mais letal.

O comandante das Forças Armadas equatorianas avisou que todo membro de gangue passou a ser um “objetivo militar”.

A resposta agressiva de Noboa reduziu a violência e produziu uma precária sensação de segurança em lugares como Guayaquil, uma cidade de 2,7 milhões de habitantes, com um porto valioso para o tráfico de drogas, levando a aprovação do governo a 76% numa pesquisa nacional recente. E também disparou alertas entre ativistas defensores de direitos humanos.

Direitos humanos

“Não estamos vendo nada novo nem inovador”, afirmou Fernando Bastias, do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos, de Guayaquil. “O que vemos é um aumento nos casos de violações graves de direitos humanos.”

A abordagem do Equador suscita comparações com El Salvador, cujo jovem líder, Nayib Bukele, desmantelou em grande medida suas gangues sanguinárias, o que lhe rendeu uma vitória eleitoral por ampla margem na disputa pela reeleição e elogios por toda a América Latina. Mas críticos afirmam que ele também esmagou os direitos humanos e o estado de direito, ordenando prisões em massa que acometeram pessoas inocentes.

“O Equador é um caso importante porque é quase um segundo laboratório das políticas de Bukele”, afirmou o professor de governança e políticas públicas Gustavo Flores-Macías, especialista em América Latina, da Universidade Cornell. “As pessoas estão tão desesperadas que acreditam na necessidade dessas políticas linha-dura para baixar os índices de criminalidade.”

Soldados equatorianos patrulham as ruas de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

As medidas podem ser eficazes, mas, acrescentou ele, “o custo para as liberdades civis é alto”.

Efeito Bukele

Assim como Bukele, Noboa, de 36 anos, quer construir megaprisões, e suas postagens em redes sociais incluem músicas animada e imagens de presos algemados e sem camisa. Ele batizou seu movimento em língua inglesa como “The Noboa Way” (o jeito de Noboa).

Ainda assim, há diferenças importantes, afirmou Christopher Sabatini, pesquisador sênior para América Latina da Chatham House, um grupo de pesquisa em Londres. Enquanto Bukele despreza a democracia, Noboa “retratou seu governo como uma democracia sitiada”, afirmou Sabatini.

Noboa também enfrenta um adversário diferente, afirmou o pesquisador Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations.

“El Salvador nunca foi importante para o tráfico de drogas”, afirmou ele, “é simplesmente pequeno demais”. O Equador, em contraste, agora é central para o comércio global de cocaína, afirmou ele, ligado a cartéis do México e da Europa. Como resultado, suas gangues têm milhões para se armar e combater as autoridades.

Mas, acrescentou Freeman, “nós vemos Noboa movimentando-se no sentido de uma de prisões em massa”.

Desde que o presidente declarou guerra às gangues, as autoridades equatorianas prenderam mais de 6 mil pessoas.

Em Guayaquil, soldados e policiais destroem sistemas de câmeras instalados por gangues para vigiar bairros inteiros, invadem áreas anteriormente quase inacessíveis à polícia e arrombam portas para apreender estoques de armas e explosivos.

A reação surtiu algum efeito.

Manifestação contra o aumento de impostos para financiar o combate ao crime no Equador  Foto: EFE / EFE

Entre dezembro e janeiro, o número de homicídios em Guayaquil caiu 33%, de 187 para 125. Diante do necrotério municipal, a ambulante Cheyla Jurado, que vende sucos e lanches para famílias à espera de retirar corpos, afirmou que a frequência diminuiu visivelmente. “Agora são (vítimas de) acidentes de carro, afogados”, afirmou ela.

No maior hospital da cidade, o número de pacientes feridos a bala e internados em razão de outros de ferimentos relacionados a violência caiu de cinco ao dia para um a cada três dias, afirmou o médico de urgências Rodolfo Zevallos.

O alívio no derramamento de sangue — ainda que incipiente — fez com que muitos equatorianos passassem a aprovar o jovem presidente.

“Nós podemos sentar do lado de fora à noite”, afirmou Janet Cisneros, que vende refeições caseiras no bairro Suburbio, em Guayaquil. “Antes, não podíamos — nós ficávamos completamente presos dentro de casa.”

Noboa, herdeiro de uma fortuna produzida em cultivos de banana, foi eleito em novembro para terminar o mandato de seu antecessor, Guillermo Lsso,que terminou prematuramente quando ele dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições.

Em janeiro, conforme a violência aumentava, Noboa trocou o terno de empresário e o sorriso tímido por uma cara amarrada e uma jaqueta de couro preta ao anunciar que o Equador não receberia mais ordens de “grupos narcoterroristas”. A mensagem linha-dura é destinada aos equatorianos, que votarão novamente para presidente no próximo ano, afirmou Flores-Macías, o cientista político, mas também pretende angariar apoio de líderes internacionais — particularmente do presidente Joe Biden. Noboa, disse Flores-Macías, “claramente percebe que precisa de apoio — orientação, financiamento e ajuda — dos Estados Unidos”.

Até aqui, o governo Biden forneceu ao Equador equipamento e treinamento, juntamente com cerca de US$ 93 milhões em ajuda militar e humanitária. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE NEW YORK TIMES — Desde que o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou guerra contra o crime organizado, no mês passado, soldados com fuzis de assalto ocupam as ruas de Guayaquil, uma grande cidade da Costa do Pacífico, que tem sido o epicentro da onda de violência que acomete o país há anos.

Os soldados retiram homens de ônibus e carros em busca de drogas, armas e tatuagens de gangues — e patrulham as ruas fazendo valer um toque de recolher noturno. A cidade está inquieta, seus homens e adolescentes do sexo masculino são potenciais alvos de soldados e policiais com ordens para derrubar gangues poderosas, que uniram forças com cartéis internacionais para transformar um Equador em um polo do narcotráfico internacional.

Mas quando veem soldados passando nas ruas, muitas pessoas os aplaudem ou lhe fazem joia. “Nós aplaudimos o pulso de ferro, o celebramos”, afirmou o prefeito de Guayaquil, Aquiles Álvarez. “A linha-dura colaborou para a paz.”

Soldados patrulham base da Guarda Costeira, perto do Porto de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

Onda de violência

No início de janeiro, Guayaquil foi atingida por uma onda de violência que poderia se provar um ponto de inflexão na persistente crise de segurança no Equador: gangues atacaram a cidade após as autoridades se mobilizarem para retomar o controle das prisões do país, que as gangues controlavam quase completamente.

Policiais foram sequestrados, bombas explodiram e, em um episódio transmitido ao vivo, uma dúzia de homens armados tomou brevemente uma grande emissora de TV.

Noboa então declarou conflito interno, uma medida de exceção tomada quando o Estado é alvo de ataque de um grupo armado. Ele ordenou que os militares enfrentassem as gangues, que tomaram grande parte do Equador lutando para controlar rotas de tráfico de cocaína e transformando um dos países mais pacíficos da América do Sul no mais letal.

O comandante das Forças Armadas equatorianas avisou que todo membro de gangue passou a ser um “objetivo militar”.

A resposta agressiva de Noboa reduziu a violência e produziu uma precária sensação de segurança em lugares como Guayaquil, uma cidade de 2,7 milhões de habitantes, com um porto valioso para o tráfico de drogas, levando a aprovação do governo a 76% numa pesquisa nacional recente. E também disparou alertas entre ativistas defensores de direitos humanos.

Direitos humanos

“Não estamos vendo nada novo nem inovador”, afirmou Fernando Bastias, do Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos, de Guayaquil. “O que vemos é um aumento nos casos de violações graves de direitos humanos.”

A abordagem do Equador suscita comparações com El Salvador, cujo jovem líder, Nayib Bukele, desmantelou em grande medida suas gangues sanguinárias, o que lhe rendeu uma vitória eleitoral por ampla margem na disputa pela reeleição e elogios por toda a América Latina. Mas críticos afirmam que ele também esmagou os direitos humanos e o estado de direito, ordenando prisões em massa que acometeram pessoas inocentes.

“O Equador é um caso importante porque é quase um segundo laboratório das políticas de Bukele”, afirmou o professor de governança e políticas públicas Gustavo Flores-Macías, especialista em América Latina, da Universidade Cornell. “As pessoas estão tão desesperadas que acreditam na necessidade dessas políticas linha-dura para baixar os índices de criminalidade.”

Soldados equatorianos patrulham as ruas de Guayaquil Foto: MARCOS PIN / AFP

As medidas podem ser eficazes, mas, acrescentou ele, “o custo para as liberdades civis é alto”.

Efeito Bukele

Assim como Bukele, Noboa, de 36 anos, quer construir megaprisões, e suas postagens em redes sociais incluem músicas animada e imagens de presos algemados e sem camisa. Ele batizou seu movimento em língua inglesa como “The Noboa Way” (o jeito de Noboa).

Ainda assim, há diferenças importantes, afirmou Christopher Sabatini, pesquisador sênior para América Latina da Chatham House, um grupo de pesquisa em Londres. Enquanto Bukele despreza a democracia, Noboa “retratou seu governo como uma democracia sitiada”, afirmou Sabatini.

Noboa também enfrenta um adversário diferente, afirmou o pesquisador Will Freeman, especialista em estudos latino-americanos do Council on Foreign Relations.

“El Salvador nunca foi importante para o tráfico de drogas”, afirmou ele, “é simplesmente pequeno demais”. O Equador, em contraste, agora é central para o comércio global de cocaína, afirmou ele, ligado a cartéis do México e da Europa. Como resultado, suas gangues têm milhões para se armar e combater as autoridades.

Mas, acrescentou Freeman, “nós vemos Noboa movimentando-se no sentido de uma de prisões em massa”.

Desde que o presidente declarou guerra às gangues, as autoridades equatorianas prenderam mais de 6 mil pessoas.

Em Guayaquil, soldados e policiais destroem sistemas de câmeras instalados por gangues para vigiar bairros inteiros, invadem áreas anteriormente quase inacessíveis à polícia e arrombam portas para apreender estoques de armas e explosivos.

A reação surtiu algum efeito.

Manifestação contra o aumento de impostos para financiar o combate ao crime no Equador  Foto: EFE / EFE

Entre dezembro e janeiro, o número de homicídios em Guayaquil caiu 33%, de 187 para 125. Diante do necrotério municipal, a ambulante Cheyla Jurado, que vende sucos e lanches para famílias à espera de retirar corpos, afirmou que a frequência diminuiu visivelmente. “Agora são (vítimas de) acidentes de carro, afogados”, afirmou ela.

No maior hospital da cidade, o número de pacientes feridos a bala e internados em razão de outros de ferimentos relacionados a violência caiu de cinco ao dia para um a cada três dias, afirmou o médico de urgências Rodolfo Zevallos.

O alívio no derramamento de sangue — ainda que incipiente — fez com que muitos equatorianos passassem a aprovar o jovem presidente.

“Nós podemos sentar do lado de fora à noite”, afirmou Janet Cisneros, que vende refeições caseiras no bairro Suburbio, em Guayaquil. “Antes, não podíamos — nós ficávamos completamente presos dentro de casa.”

Noboa, herdeiro de uma fortuna produzida em cultivos de banana, foi eleito em novembro para terminar o mandato de seu antecessor, Guillermo Lsso,que terminou prematuramente quando ele dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições.

Em janeiro, conforme a violência aumentava, Noboa trocou o terno de empresário e o sorriso tímido por uma cara amarrada e uma jaqueta de couro preta ao anunciar que o Equador não receberia mais ordens de “grupos narcoterroristas”. A mensagem linha-dura é destinada aos equatorianos, que votarão novamente para presidente no próximo ano, afirmou Flores-Macías, o cientista político, mas também pretende angariar apoio de líderes internacionais — particularmente do presidente Joe Biden. Noboa, disse Flores-Macías, “claramente percebe que precisa de apoio — orientação, financiamento e ajuda — dos Estados Unidos”.

Até aqui, o governo Biden forneceu ao Equador equipamento e treinamento, juntamente com cerca de US$ 93 milhões em ajuda militar e humanitária. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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