O atirador que matou seis pessoas nesta segunda-feira, 27, em uma escola infantil cristã em Nashville, nos Estados Unidos, comprou sete armas de fogo legalmente no país, incluindo as três usadas no ataque a tiros, segundo o chefe de polícia local. Ele acrescentou que o atirador, um homem transgênero de 28 anos que morreu após ser baleado por policiais, estava em um tratamento psiquiátrico por um “distúrbio emocional”.
Identificado pela polícia como Audrey Hale, o atirador comprou sete armas de fogo em cinco lojas locais e escondeu dos parentes, segundo John Drake, o chefe do Departamento de Polícia Metropolitana de Nashville. Os pais não sabiam que Hale possuía as armas e afirmaram em depoimento à polícia que ele não tinha condições de as possuir.
Apesar da afirmação, os pais não deram detalhes sobre o distúrbio emocional que Hale sofria, nem a natureza do tratamento psiquiátrico. A polícia não especificou se, no momento da compra das armas, ele estava diagnosticado com a condição psiquiátrica, mas admitiu que não tinha nenhuma informação sobre ele antes do massacre.
Drake disse que a mãe do atirador chegou a desconfiar de uma sacola vermelha carregada por ele e perguntou o que havia dentro, mas foi ignorada e não se preocupou porque não sabia sobre as armas. “Se tivessem sido informadas a nós, então teríamos tentado obter as armas”, disse Drake. “Mas, do jeito que foi, não tínhamos absolutamente nenhuma ideia de quem era essa pessoa”.
O motivo do ataque não foi determinado até o momento, mas a polícia acredita que os alvos eram a escola, que ele havia estudado, e a igreja. Arquivos investigados pela polícia também indicam registros sobre outros locais que poderiam ser alvos, incluindo um shopping e membros da própria família.
O atirador possuía um “manifesto” sobre a escola, acompanhado de um mapa que indicava como o acesso poderia ser feito e onde estavam as câmeras de vigilância, segundo os investigadores. Foram encontrados escritos adicionais em um carro que estava na escola, e as autoridades também examinam um celular encontrado no carro.
Na escola, o atirador estava armado com um fuzil semiautomático militar, um revólver e uma pequena carabina 9 mm - uma arma com cano do tamanho de um fuzil e coronha dobrável para ser carregada ou escondida com mais facilidade.
As seis vítimas na escola incluíam três estudantes - Evelyn Dieckhaus, Hallie Scruggs e William Kinney, todos os 9 - assim como os funcionários Cynthia Peak, de 61 anos; Katherine Koonce, 60; e Mike Hill, 61. O ataque terminou após a atiradora ser morta pelos policiais, no segundo andar da escola. Um vídeo dos agentes no local do crime foi divulgado nesta terça-feira, 28.
Ressentimento
No vídeo divulgado pela Polícia de Nashville, Hale é visto atirando na escola através de um conjunto de portas de vidro, antes de caminhar pelos corredores vazios carregando um fuzil de assalto enquanto as luzes do alarme de emergência piscavam.
Vestindo um colete preto de estilo militar, calças camufladas e um boné de beisebol vermelho, Hale atravessou o prédio e atirou contra crianças e funcionários.
Os policiais chegaram ao local cerca de 15 minutos depois que a primeira chamada de emergência foi feita por volta das 10h (12h no horário de Brasília) e confrontaram Hale, que atirou de volta antes de ser morto.
A ex-colega de escola Averianna Patton relatou à CNN uma mensagem que Hale postou em sua conta do Instagram na manhã do ataque. “Algum dia isso fará mais sentido”, escreveu Hale. “Deixei evidências mais do que suficientes. Mas algo ruim está para acontecer”, acrescentou. Patton afirmou que ligou para as autoridades para alertá-las pouco antes do início do ataque.
Em busca de uma motivação, John Drake disse à NBC News que “há uma certa convicção de que havia algum ressentimento por ter que ir para aquela escola”. Questionados se a identidade de gênero de Hale poderia ter sido um fator no ataque, os porta-vozes da polícia indicaram que todas as pistas estão sendo investigadas.
Pressão para proibir fuzis
Havia mais de 24 milhões de fuzis semi-automáticos estilo AR-15 em circulação nos Estados Unidos em meados de 2022, de acordo com a Fundação Nacional de Esportes de Tiro (NSSF, em inglês).
O presidente Joe Biden sinalizou nesta terça-feira que a maioria dos americanos é contra fuzis de assalto e instou o Congresso a restabelecer a proibição nacional dessas armas, que durou de 1994 a 2004 e não foi renovada. “Devemos a essas famílias mais do que nossas orações”, disse Biden em um discurso na Carolina do Norte.
As tentativas de proibir essas armas, frequentemente usadas em tiroteios em massa, enfrentam a oposição dos republicanos, que possuem a maioria no Congresso e são ferrenhos defensores do direito constitucional de portar armas.
Até agora neste ano nos Estados Unidos houve 129 tiroteios em massa, ou seja, pelo menos quatro pessoas foram baleadas ou mortas, segundo a ONG Gun Violence Archive. /AFP, NYT, WP