Cerca de uma hora e meia depois de mergulhar no Atlântico Norte, o submarino desaparecido durante uma expedição turística para ver os destroços do Titanic perdeu a comunicação com a superfície. Mas se passariam mais quase oito horas para que o quebra-gelo de pesquisa canadense Polar Prince, que apoiava o submarino Titan, comunicasse seu desaparecimento à Guarda Costeira — um anúncio que desencadeou o esforço de resgate internacional, que culminou nesta quinta-feira com a confirmação da implosão que matou todos a bordo.
A demora na resposta do Polar Prince ainda não foi explicado pela empresa proprietária do submarino, a OceanGate Expeditions e levantou questionamentos sobre o impacto desse lapso no início dos resgates e sobre o quão precária era a comunicação entre a Titan e seus navios de apoio.
Sean Leet, chefe da empresa coproprietária do navio de apoio do Titan, recusou-se a discutir a linha do tempo durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira, 21, dizendo apenas que “todos os protocolos foram seguidos para a missão”. Mas especialistas familiarizados com a exploração em águas profundas disseram que essas horas perdidas levantam sinais de alerta.
Comunicação mambembe
“A demora entre a declaração de afundamento de um submarino e a notificação aos recursos externos e às equipes de emergência parece ser excessiva”, disse Robert Kraft, um explorador de águas profundas que já localizou navios desaparecidos no oceano. O procedimento de emergência em questão, segundo ele, é normalmente declarado após três comunicações programadas consecutivas serem perdidas, “mas pode variar um pouco entre as organizações”.
Outros sugeriram que o atraso pode ter sido devido à abordagem pouco ortodoxa adotada pela empresa por trás do navio experimental.
Salvatore Mercogliano, professor de história da Universidade de Campbell, na Carolina do Norte, que se dedica à história e à política marítima, disse que as pessoas no Polar Prince provavelmente não pediram ajuda após perderem a comunicação com o Titan porque o submarino já havia sofrido falhas de comunicação anteriormente — portanto, tal ocorrência não gerou alarme imediato. A embarcação usava um sistema rudimentar que basicamente se comunicava com o navio de superfície por meio de mensagens de texto, disse Mercogliano.
“Eles já haviam perdido a comunicação antes. Portanto, o que parece é que, quando perderam a comunicação, não pensaram que se tratava de um desastre”, disse Mercogliano.
“Provavelmente estavam esperando o que seria o fim da viagem programada. E provavelmente estavam esperando o período em que esperavam que o Titan voltasse à superfície”, especulou. “Eles não conseguiram localizá-lo. E então souberam que tinham uma emergência.”
Outro aspecto a ser considerado: Mercogliano disse que o Titan não tinha um sinalizador de rádio de emergência que poderia ter flutuado até a superfície e começado a emitir sinais sonoros em caso de emergência. “Mas eles não tinham isso”, disse ele. “E, portanto, parece que o Polar Prince esperou o período normal de tempo para a recuperação desse submarino para enviar o sinal de socorro.”
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Norman Polmar, um proeminente analista naval e autor, disse que o protocolo para “fazer a checagem” seria definido pela empresa e varia de acordo com a empresa e o submarino. Uma empresa pode dizer para fazer a checagem a cada quatro horas e fazer a checagem imediatamente se houver um problema, mas não há absolutamente nenhuma regra definida para os submarinos comerciais, acrescentou.
“Do ponto de vista militar, há protocolos específicos. Mas do ponto de vista comercial, não há nada que seja padrão”, disse ele na quinta-feira. “Se eles disseram nove horas, o acordo pode ter sido esse — se não tivermos problemas, ligaremos para você em nove horas. Para submersíveis civis, é o que eles querem. Dentro das forças armadas, se você tiver um experimento, teste ou ensaios, sim, há um protocolo fixo.”
Aaron Davenport, especialista em assuntos marítimos, pesquisador sênior de políticas da RAND Corporation e oficial aposentado da Guarda Costeira dos EUA, disse que ficou perplexo com a percepção da falta de protocolos de segurança da operação, considerando os perigos inerentes, incluindo o momento em que o Polar Prince enviou seu pedido de socorro.
Protocolo não era padronizado
Antes de mais nada, disse Davenport, o Titan e o Polar Prince deveriam ter adotado um procedimento para manter contato periódico, por exemplo, a cada hora.
“O protocolo normalmente usado nas operações da Guarda Costeira, e em qualquer tipo de situação potencialmente perigosa, é manter a comunicação com alguém na superfície ou em terra que possa pedir ajuda ou prestar assistência em caso de emergência”, disse Davenport.
“Portanto, é de se esperar que eles entrem em contato com a superfície regularmente”, disse Davenport. “E, se não tivermos notícias deles, isso seria uma indicação de que talvez seja necessário começar a pensar em um possível resgate, organizar a situação ou adotar um plano, se não formos capazes de determinar se eles estão seguros ou não.”
Davenport acrescentou que a maioria dos navios carrega um sinalizador de emergência, que é acionado automaticamente se o navio naufragar. Mas ele disse que não viu nenhuma indicação de que o Titan tivesse uma maneira de alertar alguém sobre uma situação de emergência.
Em um e-mail após uma entrevista com a Associated Press, Davenport acrescentou que a embarcação que lançou o submersível parecia incapaz de resgatar o navio.
“Eles perderam várias horas logo no início — deveriam ter começado a alertar as pessoas e a se preparar para um resgate imediatamente”, disse Davenport. “O que é confuso é que eles perderam a comunicação com o submarino no início da missão, e parece que não tinham um bom plano para restaurar a comunicação e/ou abortar a missão.” /AP