Há 35 dias no cargo, a presidente peruana, Dina Boluarte, enfrenta uma crise política, embates com o Congresso e assiste a manifestações diárias que pedem novas eleições. Até agora, são 40 mortos e o rápido aumento de violência pressiona a líder do Executivo a renunciar.
Cronologia
A única saída para a crise neste momento, segundo analistas, é a renúncia. Desde a deposição de Pedro Castillo, que tentou dar um golpe de estado e acabou preso, os protestos no Peru não pararam. O Ministério Público abriu uma investigação por genocídio em razão do alto número de mortos nos protestos e as tentativas de antecipar as eleições fracassaram.
“Mesmo tendo verbalizado que seu governo será de transição, a presidente parece não ter consciência disso e age como um governo regular, de cinco anos. O voto de confiança do Congresso é um exemplo disso. Ela parece não entender a sensibilidade para dimensionar o que está realmente acontecendo no país”, explica o analista político peruano José Carlos Requena.
No mesmo dia em que as manchetes dos jornais peruanos estampavam 17 mortos na região de Puno, no sul do país, em razão dos confrontos entre manifestantes e policiais, o MP abria a investigação contra Boluarte e seu governo pedia um voto de confiança ao Congresso para ter legitimidade.
“O voto de confiança foi aprovado”, disse o presidente do Parlamento, José Williams, após a votação que rendeu 73 votos a favor, 43 contra e seis abstenções. Em caso de rejeição, o gabinete deveria renunciar, mas a crise não diminuiu, pelo contrário.
A região sul do país continua vivendo bloqueios de estradas, paralisações, manifestações e confrontos. Mas a presidente Boluarte segue sem falar em renúncia. “Não acho que ela vá mudar de posição e isso a condena a uma instabilidade muito difícil de lidar”, afirma Requena.
O Sul e o apoio a Castillo
Em Puno, atual epicentro dos protestos e na fronteira com a Bolívia, as demandas vão da renúncia de Boluarte à volta de Castillo. Na segunda-feira, milhares de manifestantes tomaram as ruas da região e os confrontos com a polícia começaram após um grupo deles tentar tomar o aeroporto na cidade de Juliarca.
Cenas de violência, saques e ataques a viaturas policiais marcaram o dia, que terminou com 18 mortos. As vítimas apresentavam no corpo impactos de projéteis e um policial foi queimado dentro de uma viatura. Na terça-feira, um toque de recolher de três meses entrou em vigor e vale para o período de 20h às 4h.
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A região vive uma greve há uma semana, com comércios fechados, e tem bloqueios em rodovias. Cusco, Apurímac, Arequipa, Madre de Dios e Amazonas são outras regiões com piquetes nas estradas.
Nos últimos anos, o apoio a uma esquerda mais radical tem sido constante em Puno. É nessa região que Evo Morales - ex-presidente boliviano - convoca peruanos a participar de atos a favor de Castillo.
O temor agora é em razão do aumento de regiões onde ocorrem os protestos. As autoridades peruanas registraram manifestações ou paralisações em 31 províncias do país e 10 estradas nacionais afetadas. Na capital Lima, novos protestos foram convocados.
“Tivemos um pico de violência, mas vemos que os protestos estão aumentando em termos geográficos. É preciso acompanhar as reações do governo. Se houver uma repressão que implique em mais perdas de vidas, a situação pode piorar muito”, diz Requena.
A Igreja Católica, religião da maioria dos peruanos, qualificou como “situação de guerra” o que está acontecendo no sul do país. Uma nova missão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) foi enviada ao Peru nesta quarta-feira, 11, para investigar a resposta policial às manifestações.
Os Estados Unidos pediram, também nesta quarta-feira, “moderação” e a redução do uso da força contra as manifestações ao “mínimo”. Também apoiaram a abertura de uma investigação sobre a repressão que causou dezenas de mortes.