Em meados de 2021, agentes do Serviço Canadense de Inteligência de Segurança apareceram na casa em Vancouver de Ramin Seyed Emami, músico e artista iraniano-canadense que apresenta um popular podcast em língua persa.
Seyed Emami com frequência entrevista em seu programa pessoas dentro do Irã e conversa a respeito de tópicos que são tabu na conservadora cultura iraniana, como sexo, saúde mental e perda da fé religiosa.
Um dos agentes explicou que o governo do Irã tinha produzido uma lista de pessoas no exterior que representam ameaça para o regime, afirmou em entrevista Seyed Emami. O agente não informou de maneira direta se o nome do podcaster, de 41 anos, estava na lista, mas a insinuação foi evidente, e ele foi aconselhado a tomar precauções de segurança.
O governo do Irã tem ampliado seus esforços de sequestrar e assassinar autoridades de governos, ativistas e jornalistas em vários países do mundo, incluindo nos Estados Unidos, de acordo com documentos governamentais e entrevistas com 15 autoridades em Washington, na Europa e no Oriente Médio, que falaram sob condição de anonimato para discutir informações sensíveis.
Teerã tem mirado ex-autoridades graduadas do governo americano; dissidentes iranianos que fugiram para EUA, Reino Unido, Canadá, Turquia e Europa; meios de comunicação críticos ao regime; e judeus civis ou com vinculados a Israel, de acordo com as autoridades e documentos do governo.
Serviços de inteligência e segurança do Irã utilizam amplamente capangas terceirizados para executar seus planos, oferecendo centenas de milhares de dólares a ladrões de joias, traficantes de drogas e outros criminosos em esquemas de assassinato em troca de dinheiro, afirmaram as autoridades. A abordagem distanciada provavelmente fez com que mais operações fracassassem, afirmaram autoridades, e fossem canceladas — em alguns casos, os assassinos de aluguel pareceram amarelar e não cumpriram suas ordens.
Mas autoridades afirmam que a persistência do Irã torna provável que o país consiga afinal matar algum dissidente proeminente, jornalista ou membro de governo ocidental, o que poderia desencadear confrontação direta com Teerã.
Repressão iraniana
Forças de segurança do Irã realizam operações de assassinato no exterior desde que o regime tomou o poder, quatro décadas atrás, afirmaram autoridades. Mais recentemente, disserem as fontes, acredita-se que entre 2015 e 2017 Teerã assassinou pelo menos três dissidentes na Europa Ocidental, incluindo um ativista árabe-iraniano que foi morto a tiros em frente à sua residência, em Haia.
As autoridades holandesas acusaram o Irã de envolvimento em outra operação de assassinato e tentativas de atentado a bomba na Europa. Em 2018, um diplomata iraniano que servia em Viena foi preso e acusado de recrutar um casal iraniano que vivia na Bélgica para plantar uma bomba em uma grande manifestação em Paris em apoio ao grupo iraniano no exílio Mujahideen-e Khalq, ou MEK, que Teerã classifica como organização terrorista.
O ritmo das operações clandestinas aumentou dramaticamente nos dois anos recentes e as atuais ações estão entre as mais ambiciosas e de longo alcance na história recente, de acordo com as autoridades e os documentos. As operações clandestinas do Irã ocasionaram expulsões de diplomatas e alertas para possíveis alvos dentro de governos.
“A sensação geral que me veio foi que eles estão começando a levar esse assunto a sério”, afirmou Seyed Emami, recordando que um dos agentes canadenses pediu-lhe que colocasse seu telefone dentro de uma bolsa plástica destinada a bloquear ondas eletromagnéticas, para que a conversa não fosse monitorada. “Eles se dão conta de que, se as pessoas estão sendo ameaçadas nos países em que estão, a história muda completamente.”
Para Seyed Emami, o perigo é bem real. Seu pai, um ambientalista, morreu em uma prisão iraniana em fevereiro de 2018, e sua mãe foi impedida de deixar o país por mais de um ano depois da morte do marido. Os agentes canadenses recomendaram a Seyed Emami não viajar para nenhum país que faz fronteira com o Irã e estar alerta para “armadilhas sexuais”, em que um possível par romântico poderia atraí-lo para as mãos de operadores iranianos.
Sem comentar o caso de Seyed Emami, um porta-voz do serviço canadense de inteligência afirmou em um comunicado que a agência “tem conhecimento de que atores de Estados hostis, incluindo a República Islâmica do Irã, monitoram e intimidam comunidades canadenses, com as comunidades da diáspora com frequência implicadas desproporcionalmente. (…) O CSIS investiga ativamente várias ameaças à vida que emanam da República Islâmica do Irã com base em dados plausíveis de inteligência. Em última instância, essas atividades hostis e interferências estrangeiras afrontam a segurança do Canadá e dos canadenses, assim como nossos valores democráticos e soberania”.
A intensidade da campanha iraniana se reflete em seu alcance global, afirmaram autoridades. Desde o ano passado, agências de segurança e policiamento ocidentais afirmaram que frustraram uma tentativa de assassinato do ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton em Washington e uma tentativa de sequestro da jornalista iraniana-americana Masih Alinejad na cidade de Nova York; várias tentativas de assassinato de cidadãos britânicos e outras pessoas vivendo no Reino Unido; uma operação que acionava um traficante de drogas iraniano para matar o jornalista francês Bernard-Henri Lévy em Paris; tentativas de assassinar empresários israelenses no Chipre, incluindo uma operação supostamente coordenada por um cidadão de nacionalidade russa e do Azerbaijão, que envolveu uma equipe de vigilância composta por paquistaneses; e um plano para usar assassinos recrutados em uma prisão de Dubai para matar empresários israelenses na Colômbia.
A reportagem fez vários telefonemas e mandou e-mails para autoridades e diplomatas do Irã solicitando comentários, mas não houve resposta. O FBI se recusou a comentar.
As operações clandestinas do Irã parecem motivadas por diversos fatores, afirmaram autoridades. Lévy foi alvo de uma unidade da Força Quds, a unidade especial do Exército de Guardiões da Revolução Islâmica (EGRI), provavelmente em razão de sua notoriedade internacional como intelectual e comentarista crítico à liderança do país. Autoridades de inteligência afirmaram que a Força Quds cooptou um traficante de drogas iraniano, que recrutou outros indivíduos para ajudar no assassinato, e lhe pagou US$ 150 mil. Em uma mensagem de texto, Lévy recusou-se a comentar.
O plano para sequestrar Alinejad em sua casa no Brooklyn ilustra um esforço global de intimidação de iranianos exilados para mostrar-lhes que eles não estão seguros nem fora do Irã. No ano passado, o Departamento de Justiça indiciou quatro supostos operadores e agentes de inteligência iranianos envolvidos na operação, acusando-os de mirar Alinejad porque ela estava “mobilizando a opinião pública no Irã e ao redor do mundo para ocasionar mudanças nas leis e práticas do regime”.
Masih Alinejad, jornalista iraniana
Os operadores supostamente contrataram detetives particulares para fotografar e gravar vídeos de Alinejad e sua família — e pesquisaram como poderiam usar lanchas para retirá-la secretamente de Nova York e levá-la, por fim, até a Venezuela, “um país cujo governo de facto mantém relações amigáveis com o Irã”, afirmou o Departamento de Justiça em um comunicado.
Em julho, a polícia prendeu um homem no Brooklyn e encontrou um fuzil de assalto carregado em seu carro. Promotores de Justiça não identificaram Alinejad, mas ela escreveu no Twitter que era o alvo pretendido, postando um vídeo gravado com a câmera de segurança na porta de sua casa mostrando um homem aparentemente filmando o local com um celular.
“Ainda estou chocada em razão da República Islâmica ter tentado me eliminar em solo americano em duas ocasiões — eu sou cidadã americana — e não ter pago um preço por isso”, afirmou Alinejad em um comunicado por e-mail.
Autoridades e especialistas afirmaram que operações clandestinas dirigidas contra cidadãos americanos também são motivadas pelo assassinato, em janeiro de 2020, do major-general Qasem Soleimani, que comandava a Força Quds. O governo Trump lançou um ataque aéreo contra Soleimani em Bagdá, em uma ação que as autoridades classificaram como defensiva, acusando o Irã de “desenvolver ativamente planos” para atacar diplomatas americanos e forças militares na região. Na época, analistas alertaram que a ação dos EUA provavelmente resultaria em ataques em represália.
Matthew Levitt, ex-autoridade de contraterrorismo dos EUA e atualmente pesquisador do Instituto Washington para Políticas de Oriente Médio, afirmou que, entre 124 operações clandestinas ocorridas desde 1979 que ele detectou, 36 foram realizadas após o assassinato de Soleimani, o que ele qualificou como “um aumento excepcional”. Mais de um quarto dessas ações ocorreu dentro dos EUA, contra menos de 15% antes da morte de Soleimani, acrescentou Levitt.
Levitt afirmou que o Irã tem um longo histórico de operações de assassinato, assim como de vigiar alvos e formular planos para assassinatos e sequestros que os serviços de segurança guardam para ativação futura. Agora, porém, afirmou ele, “eles não estão coletando informações para ser capazes de tentar abduzir e matar as pessoas que querem, eles estão ativamente tentando sequestrar e assassinar pessoas”.
Norman Roule, agente veterano da CIA que vigiava as atividades de espionagem do Irã, afirmou que o governo iraniano está ávido para demonstrar suas capacidades — e outros adversários do Ocidente estão provavelmente atentos.
“Se a comunidade internacional não impõe nenhum limite a essas operações, por que motivo algum outro Estado delinquente não se sentiria capaz de empreender agressões similares, sem custo?”, disse Roule.
Soando alarmes
A frequência das operações clandestinas e seu potencial de fazer escalar tensões com o Irã fizeram com que governos ocidentais aumentassem suas defesas.
Em junho, o Reino Unido emitiu uma notificação conjunta com a Interpol afirmando que supostos membros da Força Quds tinham ajudado a organizar tentativas de “operações letais contra dissidentes iranianos no Reino Unido em 2020″. O operador, identificado como Mohammed Mehdi Mozayyani, também havia “conspirado para conduzir operações letais contra grupos oposicionistas iranianos” na Albânia, em 2018 e 2019, de acordo com uma “notificação azul”, que pediu para agências de policiamento começarem a coletar evidências contra Mozayyani e a respeito de qualquer atividade que ele pudesse estar planejando ou conduzindo em seus países. O Washington Post obteve uma cópia do documento.
Este mês, o diretor do MI5, a agência de inteligência doméstica do Reino Unido, afirmou publicamente que as autoridades desvendaram pelo menos dez “ameaças potenciais” de sequestro ou assassinato de cidadãos britânicos ou pessoas de outras nacionalidades vivendo no país. Dias antes, o Ministério das Relações Exteriores britânico convocou o diplomata iraniano mais graduado no país para responder por ameaças contra jornalistas. O Irã mirou funcionários da BBC Persian e da emissora de TV Iran International, com base em Londres e transmissão em língua persa, rotulando os meios de comunicação como instrumentos do Ocidente e incitadores de sentimentos antirregime, de acordo com autoridades britânicas e cidadãos iranianos que vivem no Reino Unido.
Neste mês, a Polícia Metropolitana de Londres estacionou homens armados em torno do escritório da Iran International na capital britânica. O meio de imprensa vinha noticiando amplamente a recente onda de protestos no Irã que se seguiu à morte de Mahsa Amini, de 22 anos.
“O volume das ameaças contra nossa equipe subiu no mesmo ritmo dos protestos que noticiamos”, afirmou o porta-voz da emissora, Adam Baillie, em um comunicado ao Post. Dois jornalistas veteranos receberam ameaças de morte, e os funcionários têm mantido pouco contato com suas famílias no Irã por temer retaliações, afirmou ele.
“A ameaça do EGRI ou de operadores ligados ao EGRI aqui, no próprio Reino Unido, é assustadora”, afirmou Baillie. “E para isso ela é projetada, para assustar e intimidar.”
O recrutamento de agentes pelos iranianos pareceu tão variado quanto a distribuição geográfica de seus alvos. Autoridades de inteligência afirmam que, enquanto Rahmat Asadi, operador do braço de inteligência do EGRI, cumpriu uma sentença de prisão em Dubai, em conexão ao sequestro e morte de um empresário iraniano-britânico, ele conheceu dois irmãos colombianos envolvidos em roubos internacionais de joias. Quando estava na prisão, afirmaram as autoridades, Asadi treinou os irmãos para conduzir operações letais e os contratou para assassinar indivíduos americanos e israelenses na Colômbia após sua libertação, em 2021. Os irmãos jamais foram adiante com as operações, afirmaram as autoridades, mas seu recrutamento sublinhou a amplitude do esforço do Irã em instalar operadores por todo o mundo.
Várias agências iranianas foram envolvidas nas operações clandestinas, incluindo o Ministério de Inteligência e Segurança, assim como a Força Quds e a Organização de Inteligência do EGRI. Mas as ordens para tentar sequestrar ou assassinar no exterior emanam do nível superior do governo, afirmaram autoridades e especialistas.
As operações do Irã no exterior tendem a seguir uma cartilha. Primeiro, os agentes seguem os alvos e coletam informações a respeito de seus hábitos diários, incluindo os caminhos que escolhem para ir e voltar do trabalho, assim como qualquer plano que eles possam ter de viajar para seu país-natal. Teerã usa, então, essa informação de “padrão cotidiano” para orientar operadores indiretos em tentativas de sequestro ou assassinato dos alvos, afirmaram autoridades.
Em uma operação no Chipre, supostamente mirando israelenses que viviam na ilha do Mediterrâneo, autoridades acusaram a Organização de Inteligência do EGRI de contratar uma rede de paquistaneses para conduzir a vigilância, incluindo um homem que, afirmaram elas, usou como disfarce seu emprego como motoboy entregador, em uma empresa de alimentos local. Autoridades afirmam que, no outono de 2021, ele transmitiu as informações que coletou para seus operadores em Teerã, assim como para um outro homem, no Chipre, contratado para levar a cabo os assassinatos.
No ano passado, autoridades cipriotas acusaram Orkhan Asadov, de 38 anos, de nacionalidade russa e do Azerbaijão, de conexão com operações clandestinas para assassinar cidadãos israelenses.
Shahram Poursafi, membro do EGRI que supostamente montou a operação para assassinar Bolton, recrutou um indivíduo via rede social para ajudar a organizar o assassinato e dirigiu a vigilância previamente, seguindo Bolton quando ele se deslocava entre sua residência e o trabalho, em Washington, afirmam autoridades federais.
Poursafi não sabia, mas seu pretenso colaborador era informante do FBI. O informante enrolou Poursafi por meses a fio, obtendo mais detalhes a respeito da operação de assassinato. Poursafi, segundo registros jurídicos, estava preparado para pagar até US$ 300 mil pela morte. Em suas conversas com o pretenso assassino de aluguel, Poursafi aludiu para conversas que mantinha com autoridades mais graduadas, ávidas para que a operação se completasse.
Autoridades americanas afirmaram que a operação clandestina contra Bolton tinha o objetivo de vingar a morte de Soleimani.
Autoridades ocidentais afirmam que Poursafi também tentou orquestrar no ano passado o assassinato de Itzik Moshe, empresário que atua na Geórgia e tem trabalhado para melhorar as relações de Israel com o país no sul do Cáucaso.
‘Uma vida de medo’
Às vezes, em vez de atacar alvos no exterior, o Irã tem construído operações de embuste para atrair dissidentes e críticos para países amigáveis a Teerã, onde eles são sequestrados ou entregues aos iranianos por autoridades locais, afirmaram fontes ouvidas pela reportagem.
Em outubro de 2019, Ruhollah Zam, um proeminente jornalista iraniano que vive exilado na França, foi para o Iraque acreditando que tinha conseguido uma entrevista com o grande-aiatolá Ali Sistani, maior autoridade religiosa xiita do Iraque. Zam, que tinha sido preso no Irã acusado de incitar protestos em 2017 e 2018, dirigia o Amadnews, um popular website antigoverno, que tinha mais de 1 milhão de seguidores no Telegram.
Quando chegou ao Iraque, Zam foi preso por autoridades locais e extraditado para o Irã, de acordo com registros públicos e autoridades familiarizadas com seu caso. A promessa de uma entrevista com Sistani foi um ardil orquestrado pelo EGRI. Representantes de Sistani negaram que o líder religioso havia planejado se reunir com Zam.
O EGRI se gabou publicamente do embuste, relatando a captura de Zam como um triunfo para os serviços de segurança iranianos, que haviam levado a melhor sobre seus adversários ocidentais. Zam foi julgado e condenado à morte por “corrupção na Terra”. Foi enforcado em 12 de dezembro de 2020, aos 42 anos.
Outros ativistas foram capturados enquanto viajavam ao exterior. Em agosto de 2020, Jamshid Sharmahd, de 67 anos, que vivia na Califórnia e tinha nacionalidade alemã e iraniana, foi sequestrado supostamente por agentes do ministério iraniano da Inteligência, durante uma escala do avião que o transportava em Dubai, e levado para o Irã. Teerã acusa Sharmahd de liderar um grupo “terrorista” que tenta derrubar o governo, acusação que ele negou durante seu julgamento, que ativistas de direitos humanos classificaram como uma farsa. A família de Sharmahd teme que ele seja condenado à morte.
Ativistas e dissidentes que fugiram do Irã têm enfrentado assédio implacável do governo iraniano.
Mehdi Hajati, ex-vereador de Shiraz que criticou publicamente a corrupção no Irã e defendeu os direitos dos bahais, uma minoria religiosa duramente perseguida, achava que estaria seguro na Turquia. Mas quase imediatamente após Hajati chegar ao país, no outono de 2021, ele começou a receber ameaças.
Hajati tinha sido preso por oito meses pelas forças de segurança iranianas. No dia que ele tuitou que havia deixado o Irã, um amigo dele iraniano na Turquia, que também havia fugido recentemente, recebeu mensagem de uma autoridade de inteligência do EGRI que interrogou ambos na prisão.
“Parece que um amigo ainda mais traidor que você chegou à Turquia e se juntou a você, o amigo espião”, afirmou a mensagem, cuja captura de tela Hajati compartilhou com o Post. “Ensine àquele hipócrita bahai a dormir de olhos abertos e ter cuidado até quando estiver no chuveiro ou na privada!”
O amigo que recebeu a mensagem, Mohammad Shabani, morreu em outubro, sob o que Hajati classificou de circunstâncias suspeitas. Os pulsos de Shabani foram cortados, e ele caiu do apartamento no quarto andar em que vivia, de acordo com Adel Javan, que o conhecia. Alguns amigos imaginam que Shabani pode ter sido levado ao suicídio pelo assédio de Teerã.
Uma pessoa que estava em contato com Shabani nas semanas que antecederam sua morte compartilharam capturas de tela com algumas mensagens dele. Em 10 de setembro, Shabani escreveu que tinha recebido ameaças de morte que incluíram fotos dele nas ruas da Turquia e do prédio em que vivia no país. Ele afirmou que, se não conseguisse mais ajuda para sua solicitação de status de refugiado, seria “condenado a uma vida de medo e clausura domiciliar durante os próximos dez anos”.
Pouco mais de um mês depois, Shabani morreu.
Hajati, atualmente vive como refugiado na Turquia com sua família, à espera de um reassentamento em um terceiro país. Ele afirmou que recebe torrentes quase constantes de ameaças em mensagens via redes sociais — e forneceu à reportagem capturas de tela comprovando. As ameaças tendem a escalar quando Hajati se pronuncia por meio de uma notória plataforma quando há distúrbios no Irã; e alcançaram uma nova intensidade durante a insurreição que ocorre no país há dois meses.
Hajati preocupa-se mais com as tentativas das autoridades em envolvê-lo no ataque mortífero ocorrido no santuário de Shahcheragh, em Shiraz — o que, ele teme, poderia ser usado para uma possível justificativa de seu eventual sequestro ou assassinato.
Em outubro, agentes de inteligência da Turquia intimaram Hajati para depor e o questionaram a respeito de suas atividades por cinco horas, lhe disseram que ele poderia ser deportado se não parar com suas atividades e que, com o nível de ameaças contra ele, não seriam capazes de garantir sua segurança.
Hajati respondeu que não poderia “abandonar o povo nas ruas levando tiros; e mesmo se isso ameaçar minha vida, continuarei com minhas atividades”. Autoridades turcas não responderam a pedidos de comentário.
As ameaças fizeram o universo de sua família se restringir à residência de 93 metros quadrados e dois quartos em que vive. Hajati só sai de casa para ir ao médico ou conversar com as autoridades turcas.
“É uma solidão absoluta e constante”, afirmou Hajati. “Não sei que desastre poderia ser pior que este: estar nominalmente livres, mas aprisionados em casa, e exclusivamente em razão das ameaças constantes da República Islâmica e sua intenção de nos destruir.”