VIENA -A Áustria se tornou nesta sexta-feira, 19, a primeira democracia ocidental a determinar a vacinação obrigatória contra a covid-19 para toda a sua população adulta, enquanto se preparava para um lockdown nacional de dez dias a partir de segunda-feira, em meio a um alarmante aumento de novo casos de covid em toda a Europa. O anúncio desatou uma ameaça de violentos protestos neste fim de semana por líderes de movimentos antivacinas e do Partido da Liberdade, de extrema direita, que comparou as últimas decisões do governo com os de uma ditadura.
A exigência de vacina na Áustria entrará em vigor em fevereiro, na esperança de que o maior número possível de pessoas se sinta motivado a tomar as vacinas iniciais e as de reforço. O ministro da Saúde da Áustria, Wolfgang Mückstein, disse que deu aos líderes tempo para formalizar as diretrizes legais para a obrigatoriedade, acrescentando que haverá exceções para pessoas que não podem ser vacinadas.
Ele disse que o anúncio foi apenas o primeiro passo para a elaboração de uma lei que estabelecerá a obrigatoriedade, um processo que envolverá a sociedade civil e uma revisão cuidadosa. Ele disse que detalhes sobre como a lei será executada e aplicada não estarão disponíveis até que o processo seja concluído. Segundo Mückstein, o governo está confiante de que uma lei poderá ser elaborada dentro dos limites da Constituição, citando a obrigatoriedade nacional para a vacinação contra a varíola, aprovada em 1948.
Quarta onda ameaça a Europa
A medida extraordinária anunciada pela Áustria, que já havia determinado restrições aos não vacinados, é um grave alerta sobre a chegada da quarta onda do vírus na Europa, atual epicentro da pandemia. Mas também mostra que os governos, cada vez mais desesperados, estão perdendo a paciência com os céticos da vacina e mudando de medidas voluntárias para medidas obrigatórias para promover vacinações e combater um vírus que não mostra sinais de declínio.
Alguns países europeus – incluindo a Alemanha, que antes parecia um modelo de como controlar o vírus – agora enfrentam seus piores níveis de infecções desde o início da pandemia e reavaliam suas políticas nacionais de saúde para evitar os possíveis efeitos de uma quarta onda da doença e discutem a imposição de medidas restritivas – trazendo de volta até mesmo a figura do lockdown.
Em questão de número de casos, o cenário atual é o pior desde o começo da pandemia na Europa. Na quinta-feira, o continente registrou uma média móvel nos últimos sete dias de 310.373 casos diários confirmados, segundo a plataforma Our World in Data, vinculada à Universidade Oxford.
A confiança de que a vacinação é um fator indispensável no combate à pandemia mobiliza líderes europeus, que estudam abordagens para pressionar os críticos da vacina a cederem à imunização. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel anunciou na quinta que o país vai impor medidas restritivas especificamente para os não vacinados. “Muitas das medidas não teriam sido necessárias se mais pessoas fossem vacinadas. E não é tarde demais para ser vacinado agora”, disse Merkel.
Outros países preocupam
Na Holanda, após o governo reimpor medidas restritivas nas últimas semanas, como regras sobre o uso de máscaras em locais públicos e até mesmo um lockdown parcial de três semanas -- que limitou o horário de funcionamento de lojas, bares e restaurantes --, o país debate agoa se um fechamento das escolas será necessário, frente a um aumento de 44% no número de testes positivos para a doença - a maioria envolvendo crianças de 4 a 12 anos, de acordo com dados do governo. Um sindicato de dirigentes escolares da Holanda apontou que quase 9 mil trabalhadores em escolas primárias e centros educacionais testaram positivo para o vírus na semana passada, no entanto, a piora no desempenho dos alunos durante a pandemia é vista como um entrave para um novo fechamento das escolas. "Entendo que há preocupações", escreveu o ministro da educação holandês, Arie Slob, reconhecendo que a situação "exige muito dos professores e dos pais". "Mas estou convencido de que as escolas são abertas com responsabilidade (...) A maioria dos professores é vacinada e os alunos geralmente não ficam muito doentes", acrescentou. Na República Checa, o atual governo tenta conter um novo surto em meio a uma transição de poder -- após o primeiro-ministro Andrej Babis ser derrotado nas eleições realizadas em outubro. Um dia após o país registrar 22.511 casos de covid-19, na terça-feira passada, milhares de pessoas tomaram às ruas de Praga em uma comemoração do 32º aniversário da Revolução de Veludo, que derrubou o regime comunista. De acordo com a polícia, cerca de 10 mil pessoas também se reuniram para protestar contra as restrições e contra a vacinação./ NYT, W.POST E REUTERS