THE NEW YORK TIMES – A Autoridade Palestina disse aos Estados Unidos que está disposta a assumir o governo da Faixa de Gaza após o Hamas se o governo americano se comprometer com a solução de dois Estados para acabar com o conflito Israel-Palestina. A informação é de um alto funcionário da Organização para a Libertação Palestina, que controla a Autoridade Palestina.
O funcionário, Hussein al-Sheikh, secretário-geral da OLP, afirmou ter dito ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, que a Autoridade Palestina buscava “um compromisso da administração dos EUA, com uma decisão política abrangente que incluiria a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental”.
Em declarações ao The New York Times na terça-feira em Ramallah, cidade da Cisjordânia onde fica a sede da Autoridade Palestina, al-Sheikh disse que os líderes estavam à procura de “uma iniciativa americana séria que forçasse Israel a cumpri-la, a comprometer-se com ela”. “Esta atual administração dos EUA é capaz de fazer isso”, acrescentou.
A mensagem oferece um alívio e um desafio para Casa Branca, que busca soluções para sair do pior momento em décadas do conflito Israel-Palestina. As autoridades americanas concordam que a Autoridade Palestina deve ter um papel central na Faixa de Gaza após a conclusão militar de Israel, que tem como objetivo destruir o grupo terrorista Hamas após o ataque do dia 7 de outubro, que resultou em 1,4 mil civis e soldados mortos em solo israelense.
A Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia, sinalizou que está disposta a assumir esse papel, mas mediante a um compromisso sério do governo de Joe Biden para o plano de dois Estados soberanos vivendo lado a lado e em paz. Trata-se de uma demanda antiga da OLP e um desafio diplomático para os EUA, que escapou no passado dos esforços para esse acordo.
Segundo al-Sheikh, o compromisso americano teria que resolver questões centrais que existem há pelo menos 30 anos: a retirada de cerca de 700 mil colonos israelenses da Cisjordânia e a situação de Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como sua capital.
Al-Sheikh disse não confiar no atual governo israelense, que pressionou para anexar grande parte da Cisjordânia, e acredita que eles não concordarão com esses termos.
Israel-Palestina
Legitimidade da Autoridade Palestina
Apesar da disposição da Autoridade Palestina para assumir a Faixa de Gaza, a legitimidade do grupo no enclave está longe de ser garantida mesmo que o Hamas seja erradicado. Os terroristas expulsaram o grupo do poder de Gaza em 2007 e, na Cisjordânia, a Autoridade Palestina passou a enfrentar acusações de corrupção e fraqueza.
Al-Sheik, por exemplo, chegou a ser visto como um potencial sucessor de Mahmoud Abbas, o presidente de 87 anos da Autoridade Palestina, mas não é popular entre os palestinos. Hoje, ele é responsável pela supervisão das relações entre os palestinos e os militares israelenses e sofre com a deterioração dessas relações desde o início do conflito atual.
Ao NYT, al-Sheikh reconheceu que a situação da Faixa de Gaza é grave após a resposta israelense no enclave, que já resultou em mais de 10 mil palestinos mortos, segundo autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo braço político do Hamas. “Sem uma iniciativa política abrangente dos EUA”, disse al-Sheik, uma Gaza do pós-guerra seria “um solo fértil para o radicalismo”.
Na atmosfera inflamada de hoje, disse ele, o apelo da Autoridade Palestina por calma é impopular entre os palestinos, enfurecidos com a morte de milhares de civis na guerra de Gaza e ansiosos por vingança. “Os palestinos não aceitam essa postura agora”, disse ele.
Biden se diz favorável à criação do Estado da Palestina
O presidente Joe Biden já externou publicamente ser favorável à criação de um Estado palestino para solucionar o conflito na região, mas ainda não tem um plano concreto para isso. “Tem que pensar o que vem a seguir”, disse recentemente. “Para nós, precisa-se da solução de dois Estados.”
A declaração também não esclarece qual a disposição dos EUA em investir nas negociações de dois Estados.
Biden não cumpriu a promessa de campanha de reabrir o escritório de Washington da Organização para a Libertação da Palestina, que o antecessor, Donald Trump, ordenou fechar. Ele não reabriu o consulado americano em Jerusalém, que atendia palestinos e também foi fechado por Trump. E, ao contrário de vários dos antecessores, ele não nomeou um enviado para o Oriente Médio.
Até os ataques do Hamas, o processo de paz no Oriente Médio era relativamente baixo na lista de prioridades de política externa da Casa Branca, depois de rivalidades geopolíticas como China e Rússia. A explosão da guerra entre Israel e o Hamas catapultou a questão de volta ao topo da lista.
Excursão de Blinken incluiu conversas com Abbas
Na semana passada, a viagem de Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, pelo Oriente Médio incluiu reuniões com Mahmoud Abbas e Hussein al-Sheik. Blinken elogiou a Autoridade Palestina por tentar manter o controle sobre a Cisjordânia, onde a violência entre palestinos e colonos israelenses aumentaram, a qual, em alguns casos, incluiu o uso de armas de fogo e ataque à vizinhança.
Ao sair da região e voar para o Japão para participar do encontro do G-7, Blinken apresentou algumas demandas para o que ele chamou de “paz sustentada”. “Deve-se incluir as vozes e aspirações do povo palestino no centro da governança pós-crise em Gaza”, disse ele. “E deve-se incluir a governança liderada pelos palestinos e Gaza unificada com a Cisjordânia sob a Autoridade Palestina.”
As demandas, no entanto, podem esbarrar com os planos de Israel. O primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, sugeriu esta semana que manterá um papel de ocupação em Gaza mesmo após o fim da guerra, sugerindo que o dia 7 resultou da ausência de tropas israelenses na região.
Segundo al-Sheik, posições como essa tornam difíceis acreditar que qualquer acordo de paz seja possível com o atual governo de Israel, que inclui ministros ultradireitistas e ultranacionalistas favoráveis à anexação da Cisjordânia. Bibi, de acordo com al-Sheik, aproveitou os ataques do Hamas para expulsar os palestinos de Gaza em um episódio semelhante à Nakba, como ficou conhecido o êxodo de palestinos na época da criação do Estado de Israel, em 1948. “O objetivo estratégico desta guerra é deslocar o povo palestino”, disse al-Sheik. “Eles querem separar Gaza inteiramente da Cisjordânia.”
Apesar do momento crítico, al-Sheik disse acreditar que os palestinos entenderão no futuro a posição da Autoridade Palestina de buscar solucionar o conflito através de uma paz duradoura. “As pessoas podem não entender minha posição hoje, mas entenderão amanhã”, declarou. “Não sou o Hamas. Eu represento o povo palestino.”