Coreia do Sul e Japão têm sido vizinhos distantes por décadas, mas agora estão se movimentando para estabelecer uma nova parceria – e não porque os EUA lhes disse para fazê-lo. Os dois países estão repensando sua posição em relação à segurança, pois percebem a necessidade de afrontar a cada vez mais agressiva expansão da China. Os aliados dos americanos falam claramente a respeito do crescente perigo no Pacífico, e os EUA deveriam escutar.
O estreitamento histórico de relações desta semana entre Seul e Tóquio foi quase completamente ignorado em Washington, onde comentaristas e políticos escolheram colocar foco na mais recente celeuma com Pequim.
O novo chanceler chinês alertou para a possibilidade de “conflito” caso Washington não recue de sua estratégia competitiva. Xi Jinping colocou a culpa das dificuldades econômicas da China nos EUA e sua política de “contenções amplas, cerco e supressão”.
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Um míssil convencional de médio alcance foi testado no último domingo pelos Estados Unidos, de acordo com um comunicado do Pentágono. O projétil voou por 500 quilômetros antes de atingir o alvo.
Está na moda em Washington atribuir a culpa aos americanos pelo início do declínio nas relações EUA-China. Alguns afirmam que a posição belicosa dos EUA é resultado de um pensamento de grupo politizado. O governo chinês explora essa obsessão autocentrada alegando que Washington é a única razão para a posição internacional da China estar baixa como jamais esteve.
Veículos chineses de propaganda chegaram a atribuir aos americanos a recente aproximação entre Coreia do Sul e Japão, acusando o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, de “servir como peão dos EUA”.
Mas a realidade é que as novas manobras no sentido de cooperação entre Seul e Tóquio não são resultado do que as pessoas em Washington estão pensando ou dizendo. Na verdade, o governo americano não se envolveu nesse feito diplomático, apesar de o presidente Joe Biden tê-lo elogiado após ele ser alcançado.
Yoon e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, assumiram um risco político significativo ao inaugurar um novo capítulo nas relações entre seus países. Mas eles o fizeram porque acreditam que o ambiente estratégico global está mudando rapidamente e a expansão da China representa uma ameaça com a qual nenhum deles é capaz de lidar sozinho.
Yoon fez o primeiro movimento, prometendo que fundos sul-coreanos serão usados para compensar vítimas da 2.ª Guerra das práticas de trabalho forçado do Japão, removendo, com isso, um grande obstáculo que mantinha a cooperação entre Tóquio e Seul congelada. Ele afirmou, na semana passada, que o Japão “se transformou, passando de agressor militar no passado a um parceiro que compartilha conosco os mesmos valores universais”.
Kishida respondeu, esta semana, elogiando as ações de Yoon e prometendo estreitar as relações com Seul. O que estabelece o cenário para o Japão retomar a cooperação em todos os campos, de compartilhamento de inteligência até cadeias de fornecimento.
Na próxima semana, Kishida deverá receber Yoon para uma reunião. E também poderá convidar o sul-coreano para a cúpula do G-7, em maio, em Hiroshima. Em abril, o presidente Biden receberá Yoon em um jantar de Estado.
Comportamento chinês exacerba agressividade na Ásia
Os formuladores de políticas de Washington tendem a ver a Ásia apenas pelas lentes da relação bilateral EUA-China. Mas esses movimentos de Tóquio e Seul mostram que os problemas com Pequim não se originam nos EUA. É o comportamento da China, não a agressividade de Washington, que está exacerbando as tensões na região.
“Aqueles apontando o dedo para o que chamam que política de ‘pensamento de grupo’ sobre a China aceitam uma visão muito centrada em Washington a respeito de como chegamos aqui”, afirmou Eric Sayers, pesquisador n do American Enterprise Institute. “Esse consenso desenvolvido em Washington depois de anos de chamados diplomáticos de nossos aliados na região nos pedindo para fazer mais pelo equilíbrio em relação à coerção chinesa.”
O Japão está dobrando seu gasto em defesa ao longo dos próximos cinco anos, pois considera isso necessário para sua segurança. A Coreia do Sul está se livrando de sua dependência em relação ao mercado e às cadeias de fornecimento da China para proteger sua economia. Certamente, ambos os países também têm interesse em administrar as tensões com a China, mas percebem que fazer frente ao seu desafio em segurança regional deve ser prioridade.
Os aliados na Ásia pedem mais envolvimento dos EUA na região, mas querem envolvimento com eles, não com a China. Eles percebem que países de mentalidade parecida precisam passar mais tempo trabalhando um com o outro e menos tempo tentando acalmar líderes em Pequim e Pyongyang.
Washington precisa se esforçar mais para garantir aos aliados na Ásia que os EUA estão comprometidos com a região – e não apenas militarmente. A estratégia de investimento econômico dos EUA na Ásia é vista como rarefeita. Líderes da região não percebem muito impacto na estratégia comercial do governo Biden.
‘Não queremos guerra com a China, nem fria nem quente’
“Não queremos uma guerra com a China, nem fria nem quente”, disse-me o deputado Raja Krishnamoorthi, democrata mais graduado na comissão especial do Congresso, sobre as relações EUA-China. “Nós queremos paz. Queremos paz duradoura. Mas, para alcançar essa paz, temos de dissuadir a agressão.
Não se trata de um pensamento de grupo perigoso. Trata-se de uma abordagem racional e bipartidária pela defesa dos interesses dos EUA e a promoção dos valores americanos.
O sinal de demanda vem de aliados dos EUA na região que não estão na linha de frente. Eles estão se mobilizando para encarar esse desafio, e Washington deve responder ao seu pedido de ajuda. l TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL