Milhões de europeus participaram nesta semana de uma das maiores eleições democráticas do mundo, para escolher quem ocupará as cadeiras Parlamento Europeu, o poder legislativo do bloco de 27 membros. De acordo com especialistas, os resultados da disputa, que até agora indicam um avanço da extrema direita, podem ter impactos no Brasil, especialmente em questões econômica e migratórias.
Na tarde deste domingo, 9, projeções iniciais já sinalizavam que os partidos de extrema direita obtiveram grandes ganhos no Parlamento Europeu. Na França, o partido Rally Nacional de Marine Le Pen dominou as pesquisas de boca de urna a tal ponto que Macron dissolveu imediatamente o parlamento nacional e convocou novas eleições. Já na Alemanha, as projeções indicavam que a AfD superou uma série de escândalos envolvendo o seu principal candidato para subir para 16,5%, acima dos 11% em 2019.
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A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás somente da China. Se políticas protecionistas ganharem força com o avanço da ultradireita, as exportações brasileiras e os investimentos europeus no Brasil podem ser prejudicados, aponta Christopher Mendonça, doutor em ciência política e professor de relações internacionais do Ibmec-BH.
“Os grupos conservadores são nacionalistas e protecionistas. Ou seja, vão se priorizar os laços de comércio entre os países da Europa”, afirma Mendonça.
Neste sentido, negociações de acordos comerciais, como o acordo entre a UE e o Mercosul, que ainda está pendente de ratificação, fica ainda mais distante, segundo Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV-SP.
“Um dos motivos pela relutância do Macron era justamente a percepção de que o apoio popular pela abertura estava já despencando e a sua oposição se deve acima de tudo à ascensão de forças nacionalistas. E agora, depois dessa eleição e da convocação de novas eleições, eu acho que a posição francesa permanece basicamente inalterada, que é uma posição de oposição total ao acordo”, avalia Stuenkel.
Além disso, a derrota para o partido de Olaf Scholz, na Alemanha, afunda ainda mais a possibilidade de acordo, já que o chanceler era um grande apoiador de um acordo com o Mercosul por ver na medida uma possibilidade de expansão da indústria alemã, destaca o professor de relações internacionais da ESPM-SP, Leonardo Trevisan.
“Para as relações diplomáticas brasileiras com a UE, os resultados não foram convenientes sob nenhum ponto de vista”, sintetiza Trevisan.
Migração
A formalização da maior influência de partidos da ultradireita possivelmente significará um endurecimento da política migratória, de acordo com os especialistas, já que a tendência “será de repelir o estrangeiro”, descreve Mendonça. “Nesse sentido, políticas xenofóbicas podem ser aplicadas ao bloco europeu.”
Embora não exista a expectativa de mudanças de regras migratórias envolvendo diretamente o Brasil em um primeiro momento, já que a questão prioritária na Europa envolve migrantes da África, Ásia e do Oriente Médio, o endurecimento das políticas pode impactar brasileiros que desejam migrar para países do bloco.
“Isso também é algo que a gente está vendo nos Estados Unidos e vai causar fricção em função do aumento da intensificação da crise migratória que estamos vendo pelo mundo por questões ligadas, inclusive, às mudanças climáticas”, pontua Stuenkel, mencionando o endurecimento das regras de migração anunciadas por Joe Biden na semana passada.
Nesse sentido, avalia Trevisan, a maior preocupação é Portugal, onde vivem 290 mil brasileiros. Até o início da noite desde domingo, pesquisas apontavam que a coalizão governamental de direita disputava ombro a ombro o primeiro lugar com a oposição socialista, enquanto a extrema direita do Chega teria cerca de 10%, em um distante terceiro lugar.