O ministro do gabinete de guerra de Israel Benny Gantz ameaçou deixar a coalizão do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, em um discurso televisionado neste sábado, 18, se o governo não aprovar um plano para a Faixa de Gaza após a guerra de Tel-Aviv contra o grupo terrorista Hamas até o dia 8 de junho.
O anúncio aprofunda a divisão na liderança de Israel, depois de mais de sete meses de guerra no enclave palestino, em que Israel ainda não conseguiu cumprir os objetivos principais de desmantelar a capacidade militar do Hamas e recuperar todos os reféns israelenses que estão em Gaza.
Gantz apontou uma proposta de um plano de seis pontos que inclui o regresso dos reféns, o fim do domínio do grupo terrorista Hamas em Gaza, a desmilitarização do enclave palestino e o estabelecimento de uma administração internacional dos assuntos civis no território com a cooperação americana, europeia, árabe e palestina. O plano também apoia os esforços para normalizar as relações com a Arábia Saudita e alargar o serviço militar a todos os israelenses.
“Se escolhermos o caminho dos fanáticos e levarmos toda a nação ao abismo, seremos forçados a renunciar ao governo”, disse ele.
Netanyahu, em um comunicado divulgado pela mídia israelense, respondeu dizendo que Gantz havia escolhido emitir um ultimato ao primeiro-ministro em vez de ao Hamas, e chamou suas condições de “eufemismos” para a derrota de Israel.
Gantz, um rival político de longa data de Netanyahu, juntou-se à a coligação de Netanyahu e ao gabinete de guerra nos primeiros dias da guerra, em um gesto de unidade nacional.
A sua saída deixaria Netanyahu ainda mais em dívida com os aliados de extrema direita que adotam uma posição linha dura nas negociações sobre um cessar-fogo e a libertação de reféns, e que acreditam que Israel deveria ocupar Gaza e construir assentamentos judaicos no enclave palestino.
Desafio para Netanyahu
Gantz é o segundo ministro do gabinete de guerra a ameaçar a saída do governo. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, apontou nesta semana que não permaneceria no cargo se Israel decidisse reocupar Gaza. Gallant também pediu ao governo que faça planos para a administração palestina do enclave.
Os críticos de Netanyahu acusam o primeiro-ministro de tentar prolongar a guerra para evitar novas eleições, acusações que ele nega.
As pesquisas sugerem que Netanyahu seria substituído nas eleições, sendo Gantz o candidato mais provável para ser o próximo primeiro-ministro, o que exporia Netanyahu a processos judiciais por acusações de corrupção de longa data.
“O povo de Israel está observando você”, disse Gantz em seu discurso no horário nobre a Netanyahu.
Saiba mais
O sionismo pode sobreviver à guerra de Israel contra o Hamas?
Guerra entre Israel e Hamas evidencia limites do absolutismo moral à esquerda e à direita
Exército de Israel anuncia recuperação de três corpos de reféns que estavam em Gaza
Exército de Israel anuncia recuperação de corpo de mais um refém em Gaza após repatriar outros três
Netanyahu está sob pressão crescente em múltiplas frentes. Os políticos de extrema direita de sua coalizão querem que a ofensiva militar na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, prossiga. Mas aliados como EUA e Alemanha não desejam que uma ofensiva militar mais abrangente ocorra na cidade por conta do risco de uma catástrofe humanitária. Mais de 1 milhão de civis palestinos se deslocaram para Rafah por conta da guerra em Gaza.
O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, viajará Arábia Saudita e em Israel neste fim de semana para discutir a guerra e está programado para se encontrar no domingo com Netanyahu, que declarou que Israel “ficaria sozinho” em sua luta contra o grupo terrorista Hamas se necessário.
Manifestações
Muitos israelenses acusam Netanyahu de não estar fazendo o suficiente para a soltura dos reféns. Na sexta-feira, 17, as Forças de Defesa de Israel (FDI) apontaram que as suas tropas em Gaza encontraram os corpos de três reféns mortos pelo Hamas no ataque de 7 de outubro do ano passado. A descoberta do corpo de um quarto refém foi anunciada neste sábado.
Milhares de israelenses se reuniram novamente para protestar no sábado à noite para exigir um acordo junto com novas eleições.
As últimas negociações em busca de um cessar-fogo em Gaza, mediadas por Catar, Estados Unidos e Egito não avançaram na última semana.
O ataque do dia 7 de outubro do ano passado, que deixou 1.200 pessoas mortas, foi o maior ataque terrorista da história de Israel e o maior contra judeus desde o Holocausto. No total, 250 pessoas foram feitas reféns e levadas para a Faixa de Gaza. Cerca de 124 ainda estão no enclave palestino e 35 destes sequestrados já foram mortos, segundo estatísticas do governo de Israel.
Após o ataque, Israel iniciou uma operação na Faixa de Gaza, que resultou na morte de mais de 34 mil pessoas, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas, após uma série de bombardeios aéreos israelenses e uma ofensiva terrestre em Gaza.
Reféns
Gantz exigiu a volta dos reféns em seu discurso e apontou que uma administração internacional deveria ser criada para administrar o enclave palestino.
Netanyahu já apontou algumas vezes que Israel manterá o controle de segurança sobre Gaza e fará parceria com civis palestinos que não são afiliados ao Hamas ou à Autoridade Palestina, apoiada pelo Ocidente, que governa partes da Cisjordânia. Mas Netanyahu disse que é impossível planejar como seria um futuro em Gaza sem que o Hamas seja derrotado./AP