WASHINGTON - Na véspera da esperada reunião da Otan amanhã, 11, o presidente do Estados Unidos, Joe Biden, sinalizou que pode vender os desejado caças F-16 para a Turquia em troca de Ancara apoiar a entrada da Suécia na aliança. O tema voltou à discussão ao mesmo tempo em que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, condicionou seu apoio ao país nórdico à aprovação de sua entrada na União Europeia.
Segundo fontes americanas disseram à agência EFE, o governo Biden acredita que a Suécia deve aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte o mais rápido possível e também acredita que é do interesse desta última que a Turquia tenha F-16, cuja venda para Ancara foi bloqueada pelo Congresso dos EUA. A venda, no entanto, ocorreria apenas com a condição de que não sejam utilizados para ameaçar a Grécia, com quem a Turquia tem uma disputa por fronteiras marítimas.
Até agora os dois assuntos vinham sendo tratados separadamente pelo Executivo americano, mas o próprio Biden os relacionou em entrevista à CNN americana transmitida no último domingo, 10. Especificamente, quando questionado sobre a adesão da Suécia à Otan, Biden mencionou o desejo da Turquia de ter acesso aos F-16 e também aludiu ao desejo do recém-reeleito primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, de fortalecer a segurança da Grécia contra as tensões com a Turquia sobre o Mar Egeu.
“A Turquia quer a modernização do F-16 e Mitsotakis na Grécia também está procurando ajuda. Então, francamente, o que estou tentando fazer é um pequeno consórcio onde fortalecemos a Otan em termos de capacidade militar para a Grécia e a Turquia e permitimos a adesão da Suécia”, revelou Biden.
De qualquer forma, o presidente dos EUA insistiu que nenhum acordo concreto foi alcançado ainda. Um dos maiores obstáculos para Biden é o próprio Congresso dos EUA, onde muitos legisladores, incluindo o poderoso presidente da Comissão de Relações Exteriores, o democrata Bob Menendez, se opõem à venda de F-16 americanos para a Turquia por medo de que o país os utilize contra a Grécia.
Para entender
A Grécia e a Turquia têm disputado a delimitação das zonas marítimas no Egeu e no Mediterrâneo oriental há décadas, e os jatos gregos e turcos se desafiam regularmente em uma disputa sobre os limites do espaço aéreo.
Oficialmente, a Turquia bloqueou a adesão da Suécia à Otan por considerar que o país nórdico tem uma postura muito frouxa com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo guerrilheiro que iniciou uma luta armada contra o Estado turco em 1984 e é considerado um grupo terrorista pela Turquia, União Europeia e Estados Unidos.
Após essas reclamações turcas, a Suécia reformou sua legislação antiterrorismo e tornou crime pertencer ou apoiar, financeiramente ou de outra forma, uma organização terrorista. Nesta mesma tarde, o presidente Erdogan e o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson se reúnem em Vilnius, na Lituânia, antes do início da cúpula da Otan amanhã.
A reunião foi convocada por iniciativa do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, após várias rondas de negociações para tentar quebrar o bloqueio turco à integração sueca. A Suécia e a Finlândia mudaram a posição de neutralidade que mantinham há três décadas e, após a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, solicitaram a adesão à Otan. A Finlândia tornou-se o 31º membro em abril passado, mas a Suécia ainda não o fez.
Entrada na UE
Erdogan estabeleceu um novo obstáculo esta segunda quando disse que apoiará a entrada da Suécia na Otan se a União Europeia reabrir as negociações de adesão da Turquia. “Primeiro abra o caminho para a adesão da Turquia à União Europeia e depois abriremos o caminho para a Suécia, assim como abrimos o caminho para a Finlândia”, declarou.
Esta foi a primeira vez que Erdogan vinculou a ambição de seu país de ingressar na UE com os esforços da Suécia para se tornar um membro da Otan.
As negociações entre Ancara e a UE estão bloqueadas há vários anos. No final de 2020, a Comissão Europeia estimou que a adesão de Ancara estava “em um impasse” devido a decisões contrárias aos interesses da UE por parte de seus líderes.
Entre os impasses estariam o retrocesso democrático durante a presidência de Erdogan, as disputas com Chipre, membro da UE, e outras questões impediram o progresso do país em direção à admissão no bloco de 27 nações.
“A Turquia está esperando na porta da União Europeia há mais de 50 anos, e quase todos os países membros da Otan agora são membros da União Europeia”, disse Erdogan a repórteres em Istambul. “Estou fazendo este apelo a esses países que deixaram a Turquia esperando nos portões da União Europeia por mais de 50 anos.”
Questionado sobre os comentários de Erdogan, o secretário-geral da Otan disse que apoia a ambição da Turquia de ingressar na UE, mas observou que não estava entre as condições listadas em um acordo que Suécia, Finlândia e Turquia assinaram na cúpula da aliança do ano passado em Madri.
Stoltenberg reiterou que a Suécia atendeu a essas condições e disse que acha que “ainda é possível ter uma decisão positiva” sobre a adesão pendente do país durante a cúpula desta semana na Lituânia.
O porta-voz da Comissão da UE, Dana Spinant, disse que “você não pode vincular os dois processos em relação à Turquia”./AP e EFE