Biden e Lula tentam encontrar uma causa comum, apesar das diferenças; leia a análise


A retórica de Lula, que voltou ao cenário mundial depois de quatro anos de nacionalismo imprevisível de Bolsonaro, não é estranha ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que teve que derrotar Trump e uma insurreição antidemocrática para voltar ao poder

Por Ishaan Tharoor

Os líderes das duas maiores democracias do hemisfério ocidental deram início a um dia de discursos na Assembleia-Geral da ONU na terça-feira, 19. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou ao palco pela primeira vez desde 2009, quando o esquerdista esteve no poder pela última vez. A volta de Lula reflete a volta do Brasil ao cenário mundial após quatro anos de nacionalismo imprevisível e perturbador sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, cujas aparições nas Nações Unidas foram uma fonte de constrangimento para muitos dos seus compatriotas.

“O Brasil está se reencontrando, com a região, com o mundo e com o multilateralismo”, disse Lula, ao mesmo tempo em que atacava os flagelos da desigualdade econômica e das mudanças climáticas. “Como não me canso de dizer, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar a devida contribuição para enfrentar os principais desafios do mundo”.

continua após a publicidade

Esta não é uma retórica estranha ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que fez uma proposta semelhante nas Nações Unidas quase um ano após o seu triunfo eleitoral sobre Donald Trump. Os processos de tomada de posse de ambos os líderes foram marcados por insurreições antidemocráticas. Biden imediatamente seguiu Lula na ordem de discursos de terça-feira e divulgou uma mensagem que era, entre outras coisas, um repúdio inequívoco à agenda “America Frist” de Trump.

“Os Estados Unidos procuram um mundo mais seguro, mais próspero e mais equitativo para todas as pessoas porque sabemos que o nosso futuro está ligado ao de vocês”, disse Biden. “E nenhuma nação pode enfrentar os desafios de hoje sozinha.”

continua após a publicidade

Mas também havia diferenças claras entre eles: Lula criticou o bloqueio de décadas dos Estados Unidos a Cuba, país que visitou antes de viajar para Nova Iorque. Também lamentou como uma era de competição entre grandes potências parece ter apenas exacerbado as desigualdades sociais e econômicas no mundo e estabeleceu mais uma vez a sua posição como o inveterado campeão do “Sul Global”, especialmente diante da sempre presente crise climática.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Seth Wenig / AP

“Bate à nossa porta, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe sofrimento e perdas aos nossos irmãos”, disse Lula. “São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pelas alterações climáticas.”

continua após a publicidade

Biden também falou de desafios comuns como o de um planeta em aquecimento, mas passou uma parte significativa do seu discurso condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia e apelou à comunidade internacional para se levantar em defesa de Kiev. “Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de qualquer nação estará segura? Eu respeitosamente sugeriria que a resposta é não”, disse Biden. “Devemos enfrentar esta agressão flagrante hoje e dissuadir outros possíveis agressores amanhã.”

Isso está muito longe de Lula, que certa vez disse a jornalistas que o envolvimento dos EUA na guerra alimentava ainda mais o conflito, e instou “as partes em guerra” a iniciarem conversações. “Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, disse Lula na terça-feira.

continua após a publicidade

O Brasil descartou oferecer apoio militar à Ucrânia, mas condenou a invasão da Rússia. “Os conflitos armados são uma ofensa à racionalidade humana”, disse Lula na Assembleia-Geral. “Conhecemos os horrores e o sofrimento produzidos por todas as guerras. Promover uma cultura de paz é um dever de todos nós.”

Cultura de paz

continua após a publicidade

Para alguns interlocutores ocidentais, tal retórica é fantasiosa. Não existe qualquer evidência do interesse russo na construção dessa “cultura de paz” e, tal como Biden fez na terça-feira, muitos apontam o Kremlin como o único responsável pela carnificina e destruição desencadeadas na Ucrânia. Ao enquadrar os seus argumentos em torno da necessidade de paz, fica claro que Lula e alguns dos seus aliados mais próximos veem a situação sob uma luz diferente.

“Esta não é apenas uma guerra da Rússia contra a Ucrânia, ou entre a Rússia e a Ucrânia”, me disse Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Lula, “mas também reflete um conflito mais amplo entre a Rússia e o Ocidente”. Amorim alertou contra as potências da Otan que procuram o “objetivo de uma derrota” russa, apontando para as duras condições impostas à Alemanha após a 1ª Guerra Mundial e para o ressentimento nacional que mais tarde estimularia a ascensão do nazismo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversa com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington  Foto: Alex Brandon / AP
continua após a publicidade

Quaisquer que sejam os méritos desta analogia histórica específica (e ela tem os seus críticos), Amorim sublinhou a importância de ser capaz de dialogar com todas as partes num mundo moldado por múltiplas grandes potências. “Gostaríamos de ter um mundo ‘multipolar’, mas também, na medida do possível, um mundo multipolar benigno, em que haja competição, mas não necessariamente confronto”, disse Amorim. Nesse contexto, acrescentou, “nos consideramos bons amigos dos Estados Unidos”, mas “não precisamos concordar em tudo”.

Nesta quarta-feira, Biden e Lula deverão destacar conjuntamente um ponto de convergência ideológica: os direitos dos trabalhadores. O líder brasileiro é um antigo trabalhador e aliado vocal do movimento sindical do país. Três dos mais importantes líderes sindicais do Brasil juntaram-se à delegação de Lula em Nova Iorque e participaram numa reunião ao lado do presidente com representantes do sindicato United Auto Workers, cujos milhares de trabalhadores americanos estão atualmente em greve contra os três grandes fabricantes de automóveis dos Estados Unidos. Na quarta-feira estão previstas “ações solidárias” dirigidas a fábricas ou concessionárias afiliadas a estas empresas.

A iniciativa conjunta Biden-Lula em torno do trabalho parece ser bastante vaga, uma espécie de convocação de um grupo focal empenhado em pensar como poderá ser o futuro da classe trabalhadora numa era de automação, digitalização e precariedade crescente.

Mas num momento de crescente radicalização na direita – e depois da experiência turbulenta, especialmente no Brasil, de um presidente ideologicamente determinado a esmagar o trabalho organizado – os seus proponentes vêem um interesse partilhado vital.

Os líderes das duas maiores democracias do hemisfério ocidental deram início a um dia de discursos na Assembleia-Geral da ONU na terça-feira, 19. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou ao palco pela primeira vez desde 2009, quando o esquerdista esteve no poder pela última vez. A volta de Lula reflete a volta do Brasil ao cenário mundial após quatro anos de nacionalismo imprevisível e perturbador sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, cujas aparições nas Nações Unidas foram uma fonte de constrangimento para muitos dos seus compatriotas.

“O Brasil está se reencontrando, com a região, com o mundo e com o multilateralismo”, disse Lula, ao mesmo tempo em que atacava os flagelos da desigualdade econômica e das mudanças climáticas. “Como não me canso de dizer, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar a devida contribuição para enfrentar os principais desafios do mundo”.

Esta não é uma retórica estranha ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que fez uma proposta semelhante nas Nações Unidas quase um ano após o seu triunfo eleitoral sobre Donald Trump. Os processos de tomada de posse de ambos os líderes foram marcados por insurreições antidemocráticas. Biden imediatamente seguiu Lula na ordem de discursos de terça-feira e divulgou uma mensagem que era, entre outras coisas, um repúdio inequívoco à agenda “America Frist” de Trump.

“Os Estados Unidos procuram um mundo mais seguro, mais próspero e mais equitativo para todas as pessoas porque sabemos que o nosso futuro está ligado ao de vocês”, disse Biden. “E nenhuma nação pode enfrentar os desafios de hoje sozinha.”

Mas também havia diferenças claras entre eles: Lula criticou o bloqueio de décadas dos Estados Unidos a Cuba, país que visitou antes de viajar para Nova Iorque. Também lamentou como uma era de competição entre grandes potências parece ter apenas exacerbado as desigualdades sociais e econômicas no mundo e estabeleceu mais uma vez a sua posição como o inveterado campeão do “Sul Global”, especialmente diante da sempre presente crise climática.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Seth Wenig / AP

“Bate à nossa porta, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe sofrimento e perdas aos nossos irmãos”, disse Lula. “São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pelas alterações climáticas.”

Biden também falou de desafios comuns como o de um planeta em aquecimento, mas passou uma parte significativa do seu discurso condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia e apelou à comunidade internacional para se levantar em defesa de Kiev. “Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de qualquer nação estará segura? Eu respeitosamente sugeriria que a resposta é não”, disse Biden. “Devemos enfrentar esta agressão flagrante hoje e dissuadir outros possíveis agressores amanhã.”

Isso está muito longe de Lula, que certa vez disse a jornalistas que o envolvimento dos EUA na guerra alimentava ainda mais o conflito, e instou “as partes em guerra” a iniciarem conversações. “Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, disse Lula na terça-feira.

O Brasil descartou oferecer apoio militar à Ucrânia, mas condenou a invasão da Rússia. “Os conflitos armados são uma ofensa à racionalidade humana”, disse Lula na Assembleia-Geral. “Conhecemos os horrores e o sofrimento produzidos por todas as guerras. Promover uma cultura de paz é um dever de todos nós.”

Cultura de paz

Para alguns interlocutores ocidentais, tal retórica é fantasiosa. Não existe qualquer evidência do interesse russo na construção dessa “cultura de paz” e, tal como Biden fez na terça-feira, muitos apontam o Kremlin como o único responsável pela carnificina e destruição desencadeadas na Ucrânia. Ao enquadrar os seus argumentos em torno da necessidade de paz, fica claro que Lula e alguns dos seus aliados mais próximos veem a situação sob uma luz diferente.

“Esta não é apenas uma guerra da Rússia contra a Ucrânia, ou entre a Rússia e a Ucrânia”, me disse Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Lula, “mas também reflete um conflito mais amplo entre a Rússia e o Ocidente”. Amorim alertou contra as potências da Otan que procuram o “objetivo de uma derrota” russa, apontando para as duras condições impostas à Alemanha após a 1ª Guerra Mundial e para o ressentimento nacional que mais tarde estimularia a ascensão do nazismo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversa com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington  Foto: Alex Brandon / AP

Quaisquer que sejam os méritos desta analogia histórica específica (e ela tem os seus críticos), Amorim sublinhou a importância de ser capaz de dialogar com todas as partes num mundo moldado por múltiplas grandes potências. “Gostaríamos de ter um mundo ‘multipolar’, mas também, na medida do possível, um mundo multipolar benigno, em que haja competição, mas não necessariamente confronto”, disse Amorim. Nesse contexto, acrescentou, “nos consideramos bons amigos dos Estados Unidos”, mas “não precisamos concordar em tudo”.

Nesta quarta-feira, Biden e Lula deverão destacar conjuntamente um ponto de convergência ideológica: os direitos dos trabalhadores. O líder brasileiro é um antigo trabalhador e aliado vocal do movimento sindical do país. Três dos mais importantes líderes sindicais do Brasil juntaram-se à delegação de Lula em Nova Iorque e participaram numa reunião ao lado do presidente com representantes do sindicato United Auto Workers, cujos milhares de trabalhadores americanos estão atualmente em greve contra os três grandes fabricantes de automóveis dos Estados Unidos. Na quarta-feira estão previstas “ações solidárias” dirigidas a fábricas ou concessionárias afiliadas a estas empresas.

A iniciativa conjunta Biden-Lula em torno do trabalho parece ser bastante vaga, uma espécie de convocação de um grupo focal empenhado em pensar como poderá ser o futuro da classe trabalhadora numa era de automação, digitalização e precariedade crescente.

Mas num momento de crescente radicalização na direita – e depois da experiência turbulenta, especialmente no Brasil, de um presidente ideologicamente determinado a esmagar o trabalho organizado – os seus proponentes vêem um interesse partilhado vital.

Os líderes das duas maiores democracias do hemisfério ocidental deram início a um dia de discursos na Assembleia-Geral da ONU na terça-feira, 19. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou ao palco pela primeira vez desde 2009, quando o esquerdista esteve no poder pela última vez. A volta de Lula reflete a volta do Brasil ao cenário mundial após quatro anos de nacionalismo imprevisível e perturbador sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, cujas aparições nas Nações Unidas foram uma fonte de constrangimento para muitos dos seus compatriotas.

“O Brasil está se reencontrando, com a região, com o mundo e com o multilateralismo”, disse Lula, ao mesmo tempo em que atacava os flagelos da desigualdade econômica e das mudanças climáticas. “Como não me canso de dizer, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar a devida contribuição para enfrentar os principais desafios do mundo”.

Esta não é uma retórica estranha ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que fez uma proposta semelhante nas Nações Unidas quase um ano após o seu triunfo eleitoral sobre Donald Trump. Os processos de tomada de posse de ambos os líderes foram marcados por insurreições antidemocráticas. Biden imediatamente seguiu Lula na ordem de discursos de terça-feira e divulgou uma mensagem que era, entre outras coisas, um repúdio inequívoco à agenda “America Frist” de Trump.

“Os Estados Unidos procuram um mundo mais seguro, mais próspero e mais equitativo para todas as pessoas porque sabemos que o nosso futuro está ligado ao de vocês”, disse Biden. “E nenhuma nação pode enfrentar os desafios de hoje sozinha.”

Mas também havia diferenças claras entre eles: Lula criticou o bloqueio de décadas dos Estados Unidos a Cuba, país que visitou antes de viajar para Nova Iorque. Também lamentou como uma era de competição entre grandes potências parece ter apenas exacerbado as desigualdades sociais e econômicas no mundo e estabeleceu mais uma vez a sua posição como o inveterado campeão do “Sul Global”, especialmente diante da sempre presente crise climática.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Seth Wenig / AP

“Bate à nossa porta, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe sofrimento e perdas aos nossos irmãos”, disse Lula. “São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pelas alterações climáticas.”

Biden também falou de desafios comuns como o de um planeta em aquecimento, mas passou uma parte significativa do seu discurso condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia e apelou à comunidade internacional para se levantar em defesa de Kiev. “Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de qualquer nação estará segura? Eu respeitosamente sugeriria que a resposta é não”, disse Biden. “Devemos enfrentar esta agressão flagrante hoje e dissuadir outros possíveis agressores amanhã.”

Isso está muito longe de Lula, que certa vez disse a jornalistas que o envolvimento dos EUA na guerra alimentava ainda mais o conflito, e instou “as partes em guerra” a iniciarem conversações. “Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, disse Lula na terça-feira.

O Brasil descartou oferecer apoio militar à Ucrânia, mas condenou a invasão da Rússia. “Os conflitos armados são uma ofensa à racionalidade humana”, disse Lula na Assembleia-Geral. “Conhecemos os horrores e o sofrimento produzidos por todas as guerras. Promover uma cultura de paz é um dever de todos nós.”

Cultura de paz

Para alguns interlocutores ocidentais, tal retórica é fantasiosa. Não existe qualquer evidência do interesse russo na construção dessa “cultura de paz” e, tal como Biden fez na terça-feira, muitos apontam o Kremlin como o único responsável pela carnificina e destruição desencadeadas na Ucrânia. Ao enquadrar os seus argumentos em torno da necessidade de paz, fica claro que Lula e alguns dos seus aliados mais próximos veem a situação sob uma luz diferente.

“Esta não é apenas uma guerra da Rússia contra a Ucrânia, ou entre a Rússia e a Ucrânia”, me disse Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Lula, “mas também reflete um conflito mais amplo entre a Rússia e o Ocidente”. Amorim alertou contra as potências da Otan que procuram o “objetivo de uma derrota” russa, apontando para as duras condições impostas à Alemanha após a 1ª Guerra Mundial e para o ressentimento nacional que mais tarde estimularia a ascensão do nazismo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversa com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington  Foto: Alex Brandon / AP

Quaisquer que sejam os méritos desta analogia histórica específica (e ela tem os seus críticos), Amorim sublinhou a importância de ser capaz de dialogar com todas as partes num mundo moldado por múltiplas grandes potências. “Gostaríamos de ter um mundo ‘multipolar’, mas também, na medida do possível, um mundo multipolar benigno, em que haja competição, mas não necessariamente confronto”, disse Amorim. Nesse contexto, acrescentou, “nos consideramos bons amigos dos Estados Unidos”, mas “não precisamos concordar em tudo”.

Nesta quarta-feira, Biden e Lula deverão destacar conjuntamente um ponto de convergência ideológica: os direitos dos trabalhadores. O líder brasileiro é um antigo trabalhador e aliado vocal do movimento sindical do país. Três dos mais importantes líderes sindicais do Brasil juntaram-se à delegação de Lula em Nova Iorque e participaram numa reunião ao lado do presidente com representantes do sindicato United Auto Workers, cujos milhares de trabalhadores americanos estão atualmente em greve contra os três grandes fabricantes de automóveis dos Estados Unidos. Na quarta-feira estão previstas “ações solidárias” dirigidas a fábricas ou concessionárias afiliadas a estas empresas.

A iniciativa conjunta Biden-Lula em torno do trabalho parece ser bastante vaga, uma espécie de convocação de um grupo focal empenhado em pensar como poderá ser o futuro da classe trabalhadora numa era de automação, digitalização e precariedade crescente.

Mas num momento de crescente radicalização na direita – e depois da experiência turbulenta, especialmente no Brasil, de um presidente ideologicamente determinado a esmagar o trabalho organizado – os seus proponentes vêem um interesse partilhado vital.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.