Biden enaltece legado e passa tocha para Kamala Harris na primeira noite da Convenção Democrata


Presidente americano fez uma fala enérgica, diferente de suas últimas aparições públicas, e deu tom de despedida, estando a poucos meses de encerrar seu mandato presidencial

Por Isabel Gomes
Atualização:

Um esperado discurso de Joe Biden, um mês após desistir da corrida presidencial dos Estados Unidos, marcou a primeira noite da Convenção Democrata nesta segunda-feira, 18. Em uma fala com enérgica, mas com tom de despedida, o presidente americano exaltou o legado de seu mandato, dividindo os créditos de seus feitos com sua vice-presidente Kamala Harris, para quem oficialmente passou a tocha da corrida presidencial.

Após ser apresentado pela sua esposa, Jill Biden, e pela sua filha Ashley, Biden repetiu “obrigado” dezenas de vezes ao subir ao palco da convenção, sendo recebido por gritos incessantes de “Thank you, Joe” (”Obrigada, Joe”, em português) e “We love Joe” (”Amamos Joe”). Com uma fala firme e sem aparentes confusões, o democrata demonstrou uma postura diferente das dos últimos discursos e entrevistas, nos quais chegou a chamar Trump de seu vice-presidente.

“Tivemos um dos quatro anos de progresso mais extraordinários de todos os tempos, ponto final”, disse Biden. “A covid não controla mais nossas vidas. Saímos da crise econômica para a economia mais forte do mundo inteiro... recorde de 16 milhões de novos empregos, crescimento recorde de pequenas empresas, mercado de ações recorde... salários em alta, inflação em baixa, muito em baixa, e continuando a cair”, declarou. A multidão começou novamente a gritar “obrigado Joe!”, ao que o democrata respondeu: “Obrigado, Kamala”.

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Biden discursou na primeira noite da Convenção Democrata na madrugada desta terça-feira, 19. Foto: Brandon Bell/AFP

Biden declarou a apoiadores entusiasmados que eles têm uma “escolha fundamental” para fazer nas urnas em 5 de novembro, citando o que chamou de “uma agenda perigosa” de Donald Trump que ataca a liberdade e a democracia. “Trump diz que os Estados Unidos está perdendo, mas quem está perdendo é ele”, afirmou.

O democrata chamou Kamala de “amiga próxima” e disse que escolhê-la como sua companheira de chapa foi a melhor decisão que ele já tomou. Ele também se comprometeu a ajudar a eleger a nova chapa democrática, prometendo ser o “melhor voluntário” que Kamala e Walz já viram.

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Ele também usou seu discurso para falar sobre a guerra em Gaza, um assunto que poucos democratas mencionaram ao longo da noite. Biden prometeu “acabar com o sofrifmento civil do povo palestino”, e se referiu aos manifestantes que se reuniram em frente ao prédio onde está ocorrendo a convenção, para protestar contra o apoio dos EUA a Israel, afirmando que eles “têm um ponto”.

Biden encerrou seu discurso ao tom de quem já está vislumbrando o fim de seu mandato, afirmando que cometeu muitos erros ao longo de sua carreira, “mas dei o meu melhor a vocês por 50 anos”, declarou. “Como muitos de vocês, dei meu coração e alma à nossa nação, e fui abençoado um milhão de vezes em troca no apoio ao povo americano”, disse o presidente.

Participação surpresa de Kamala

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Com discursos de Biden e de Hillary Clinton — os dois últimos democratas indicados para a presidência —, a noite simbolizou uma passagem de bastão da velha guarda para uma nova geração de democratas, em um momento que a idade de Biden foi o principal fator para retirá-lo da corrida presidencial.

Kamala, que estava prevista para discursar somente na quinta-feira, 22, provocou uma reação acalorada do público ao fazer uma aparição surpresa no palco ao som de “Freedom”, de Beyoncé. A vice-presidente antecipou a fala de Biden, a quem agradeceu por uma “liderança histórica, por sua vida de serviço à nação e por tudo que continua fazendo”.

“Ao olhar para todos esta noite, vejo a beleza de nossa grande nação. Pessoas de todos os cantos do nosso país e de todas as esferas da vida estão aqui, unidas por nossa visão compartilhada para o futuro de nosso país”, disse a candidata, durante a rápida aparição. “Vamos lutar pelos ideais que prezamos, e lembremos sempre, quando lutamos, vencemos”, reproduzindo o já conhecido slogan do partido.

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A candidata Kamala Harris, prevista para discursar somente na quinta-feira, subiu ao palco no primeiro dia de convenção e surpreendeu público.  Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Na primeira noite da convenção democrata, os convidados tocaram em todos os principais temas que devem ser explorados ao longo da semana e que permeiam a eleição, como direitos trabalhistas, economia, direitos reprodutivos, diversidade, imigração e a crise de covid-19.

Foco na diversidade

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Em uma eleição que hispânicos, negros e jovens são segmentos cruciais do eleitorado democrata, a diversidade ganhou destaque entre os participantes que subiram ao palco da convenção na primeira metade da noite. Na abertura, Jaime Harrison, que lidera o Comitê Nacional Democrata, destacou a diversidade da liderança do Partido Democrata, ao lado de Minyon Moore, presidente da convenção.

“É momento transformador quando um presidente de convenção negro e uma presidente negra da Convenção Nacional Democrata nos lideram na nomeação de uma mulher negra e A.A.P.I. (sigla em inglês para americanos de origem asiática e ilhas do Pacífico) para ser a próxima presidente dos Estados Unidos.”

Jaime Harrison, presidente do Comitê Nacional Democrata, e Minyon Moore, presidente do Comitê da Convenção Nacional Democrata de 2024, na abertura do primeiro dia do evento. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP
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Derrick Johnson, o presidente da NAACP, uma organização que luta pela equidade racial, começou seu discurso na convenção afirmando que estava lá para “fazer seu trabalho de negro”, em referência a comentários que Donald Trump fez sobre imigrantes durante o debate presidencial contra Biden em junho.

“Eles estão assumindo empregos de negros e empregos de hispânicos, e vocês ainda não viram, mas verão algo que será o pior da nossa história”. O termo foi repetido pelo republicano em uma entrevista coletiva com jornalistas negros, na qual Trump questionou a identidade racial de Kamala.

Um dos pontos marcantes da noite foi uma homenagem ao reverendo Jesse Jackson, um nome importante na luta pelos direitos civis nos EUA, que subiu ao palco acompanhado de sua família. Jackson, de 82 anos, acenou ao público de uma cadeira de rodas, sem discursar. A convenção exibiu um vídeo que creditou sua candidatura presidencial de 1984 como uma abertura de caminho para Obama se tornar o primeiro presidente negro em 2008.

Jesse Jackson, ativista dos direitos civis nos EUA, subiu ao palco da Convenção Democrata junto de sua família, após receber uma homenagem em vídeo. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Os imigrantes, por sua vez, apresentaram uma visão de patriotismo, diferente da promovida pelo Partido Republicano em sua convenção, quando palestrantes concentraram-se nas implicações da imigração para a segurança americana.

“Sou um imigrante orgulhoso que veio para os Estados Unidos ainda criança. Crescemos pobres, o inglês era nossa segunda língua e muitas vezes, como muitas famílias de imigrantes, lutamos para sobreviver”, disse o deputado da Califórnia Robert Garcia, nascido no Peru, que chamou o dia em que se tornou cidadão de “o dia mais orgulhoso da minha vida.”

A lista de palestrantes também incluiu mulheres de todas as gerações e raças, em uma referência clara ao “teto de vidro” de Hillary que Kamala está buscando quebrar.

Paralelos com Trump

Muito tempo da convenção foi dedicado a criticar Donald Trump, traçando paralelos entre políticas do republicano e dos democratas. Um dos alvos foi o Projeto 2025, um plano da ala direita para a próxima administração republicana, do qual Trump tentou se distanciar, embora tenha sido elaborado por muitos de seus aliados.

A senadora estadual Mallory McMorrow, de Michigan, subiu ao palco e bateu em um livro gigante que representava o documento de mais de 900 páginas, e disse à multidão que as políticas descritas permitiriam a Trump usar o governo federal para perseguir seus inimigos. “Isso não é como funciona na América”, disse McMorrow. “É assim que funciona nas ditaduras.”

Mallory McMorrow falou sobre o Projeto 2025 de Donald Trump, afirmando que projeto permitirá que Trump 'se torne um ditador'. Foto: Ruth Fremson/NYT

Críticas sobre a forma Trump lidou com a pandemia do coronavírus em 2020, no seu último ano de governo, tiveram protagonismo ao longo da noite. Para os democratas, o assunto é uma vantagem na corrida presidencial, usando o negacionismo do republicano como uma arma contra ele e tentando vincular a crise à sua presidência.

“Meu irmão Ron foi a segunda pessoa a morrer de Covid no estado do Tennessee. Não pudemos vê-lo. Não pudemos ter um memorial. E milhões de famílias americanas passaram pela mesma coisa. Nossas comunidades estavam sofrendo, nossa economia estava em dificuldades, e Donald Trump estava brincando”, disse a vice-governadora de Minnesota, Peggy Flanagan.

Representantes de sindicatos também subiram ao palco e foram firmes em defender o projeto econômico de Kamala diante de Trump. Liz Shuler, presidente da federação sindical AFL-CIO, disse que os americanos escolheriam entre “duas visões econômicas”.

“Esta eleição envolve duas visões econômicas: uma em que as famílias vivem de salário em salário, em que as pessoas não têm o direito de se filiar a um sindicato — o sonho de um CEO, mas o pesadelo de um trabalhador”, disse ela. A outra é “uma economia de oportunidades, onde reduzimos os custos de alimentos, receitas e moradia; onde perseguimos as grandes empresas farmacêuticas, os proprietários corporativos e os especuladores de preços”, disse.

Democratas ainda fizeram um apelo emocional aos eleitores sobre a necessidade do direito ao aborto. Hadley Duvall relatou ter engravidado aos 12 anos após ter sido vítima de um abuso sexual e disse que na época descobriu que tinha outras opções além de manter a gravidez.

O ex-presidente Trump chama as proibições do aborto de “uma coisa linda”, disse Hadley. “O que há de tão lindo em uma criança ter que carregar o filho de seus pais?”.

A convenção se estenderá até quinta-feira, 22, quando Kamala deve discursar e aceitar a indicação. O evento é considerado um teste para a vice-presidente, diante de um país dividido que ainda está se decidindo sobre ela./Com informações de NYT e AP.

Um esperado discurso de Joe Biden, um mês após desistir da corrida presidencial dos Estados Unidos, marcou a primeira noite da Convenção Democrata nesta segunda-feira, 18. Em uma fala com enérgica, mas com tom de despedida, o presidente americano exaltou o legado de seu mandato, dividindo os créditos de seus feitos com sua vice-presidente Kamala Harris, para quem oficialmente passou a tocha da corrida presidencial.

Após ser apresentado pela sua esposa, Jill Biden, e pela sua filha Ashley, Biden repetiu “obrigado” dezenas de vezes ao subir ao palco da convenção, sendo recebido por gritos incessantes de “Thank you, Joe” (”Obrigada, Joe”, em português) e “We love Joe” (”Amamos Joe”). Com uma fala firme e sem aparentes confusões, o democrata demonstrou uma postura diferente das dos últimos discursos e entrevistas, nos quais chegou a chamar Trump de seu vice-presidente.

“Tivemos um dos quatro anos de progresso mais extraordinários de todos os tempos, ponto final”, disse Biden. “A covid não controla mais nossas vidas. Saímos da crise econômica para a economia mais forte do mundo inteiro... recorde de 16 milhões de novos empregos, crescimento recorde de pequenas empresas, mercado de ações recorde... salários em alta, inflação em baixa, muito em baixa, e continuando a cair”, declarou. A multidão começou novamente a gritar “obrigado Joe!”, ao que o democrata respondeu: “Obrigado, Kamala”.

Biden discursou na primeira noite da Convenção Democrata na madrugada desta terça-feira, 19. Foto: Brandon Bell/AFP

Biden declarou a apoiadores entusiasmados que eles têm uma “escolha fundamental” para fazer nas urnas em 5 de novembro, citando o que chamou de “uma agenda perigosa” de Donald Trump que ataca a liberdade e a democracia. “Trump diz que os Estados Unidos está perdendo, mas quem está perdendo é ele”, afirmou.

O democrata chamou Kamala de “amiga próxima” e disse que escolhê-la como sua companheira de chapa foi a melhor decisão que ele já tomou. Ele também se comprometeu a ajudar a eleger a nova chapa democrática, prometendo ser o “melhor voluntário” que Kamala e Walz já viram.

Ele também usou seu discurso para falar sobre a guerra em Gaza, um assunto que poucos democratas mencionaram ao longo da noite. Biden prometeu “acabar com o sofrifmento civil do povo palestino”, e se referiu aos manifestantes que se reuniram em frente ao prédio onde está ocorrendo a convenção, para protestar contra o apoio dos EUA a Israel, afirmando que eles “têm um ponto”.

Biden encerrou seu discurso ao tom de quem já está vislumbrando o fim de seu mandato, afirmando que cometeu muitos erros ao longo de sua carreira, “mas dei o meu melhor a vocês por 50 anos”, declarou. “Como muitos de vocês, dei meu coração e alma à nossa nação, e fui abençoado um milhão de vezes em troca no apoio ao povo americano”, disse o presidente.

Participação surpresa de Kamala

Com discursos de Biden e de Hillary Clinton — os dois últimos democratas indicados para a presidência —, a noite simbolizou uma passagem de bastão da velha guarda para uma nova geração de democratas, em um momento que a idade de Biden foi o principal fator para retirá-lo da corrida presidencial.

Kamala, que estava prevista para discursar somente na quinta-feira, 22, provocou uma reação acalorada do público ao fazer uma aparição surpresa no palco ao som de “Freedom”, de Beyoncé. A vice-presidente antecipou a fala de Biden, a quem agradeceu por uma “liderança histórica, por sua vida de serviço à nação e por tudo que continua fazendo”.

“Ao olhar para todos esta noite, vejo a beleza de nossa grande nação. Pessoas de todos os cantos do nosso país e de todas as esferas da vida estão aqui, unidas por nossa visão compartilhada para o futuro de nosso país”, disse a candidata, durante a rápida aparição. “Vamos lutar pelos ideais que prezamos, e lembremos sempre, quando lutamos, vencemos”, reproduzindo o já conhecido slogan do partido.

A candidata Kamala Harris, prevista para discursar somente na quinta-feira, subiu ao palco no primeiro dia de convenção e surpreendeu público.  Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Na primeira noite da convenção democrata, os convidados tocaram em todos os principais temas que devem ser explorados ao longo da semana e que permeiam a eleição, como direitos trabalhistas, economia, direitos reprodutivos, diversidade, imigração e a crise de covid-19.

Foco na diversidade

Em uma eleição que hispânicos, negros e jovens são segmentos cruciais do eleitorado democrata, a diversidade ganhou destaque entre os participantes que subiram ao palco da convenção na primeira metade da noite. Na abertura, Jaime Harrison, que lidera o Comitê Nacional Democrata, destacou a diversidade da liderança do Partido Democrata, ao lado de Minyon Moore, presidente da convenção.

“É momento transformador quando um presidente de convenção negro e uma presidente negra da Convenção Nacional Democrata nos lideram na nomeação de uma mulher negra e A.A.P.I. (sigla em inglês para americanos de origem asiática e ilhas do Pacífico) para ser a próxima presidente dos Estados Unidos.”

Jaime Harrison, presidente do Comitê Nacional Democrata, e Minyon Moore, presidente do Comitê da Convenção Nacional Democrata de 2024, na abertura do primeiro dia do evento. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Derrick Johnson, o presidente da NAACP, uma organização que luta pela equidade racial, começou seu discurso na convenção afirmando que estava lá para “fazer seu trabalho de negro”, em referência a comentários que Donald Trump fez sobre imigrantes durante o debate presidencial contra Biden em junho.

“Eles estão assumindo empregos de negros e empregos de hispânicos, e vocês ainda não viram, mas verão algo que será o pior da nossa história”. O termo foi repetido pelo republicano em uma entrevista coletiva com jornalistas negros, na qual Trump questionou a identidade racial de Kamala.

Um dos pontos marcantes da noite foi uma homenagem ao reverendo Jesse Jackson, um nome importante na luta pelos direitos civis nos EUA, que subiu ao palco acompanhado de sua família. Jackson, de 82 anos, acenou ao público de uma cadeira de rodas, sem discursar. A convenção exibiu um vídeo que creditou sua candidatura presidencial de 1984 como uma abertura de caminho para Obama se tornar o primeiro presidente negro em 2008.

Jesse Jackson, ativista dos direitos civis nos EUA, subiu ao palco da Convenção Democrata junto de sua família, após receber uma homenagem em vídeo. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Os imigrantes, por sua vez, apresentaram uma visão de patriotismo, diferente da promovida pelo Partido Republicano em sua convenção, quando palestrantes concentraram-se nas implicações da imigração para a segurança americana.

“Sou um imigrante orgulhoso que veio para os Estados Unidos ainda criança. Crescemos pobres, o inglês era nossa segunda língua e muitas vezes, como muitas famílias de imigrantes, lutamos para sobreviver”, disse o deputado da Califórnia Robert Garcia, nascido no Peru, que chamou o dia em que se tornou cidadão de “o dia mais orgulhoso da minha vida.”

A lista de palestrantes também incluiu mulheres de todas as gerações e raças, em uma referência clara ao “teto de vidro” de Hillary que Kamala está buscando quebrar.

Paralelos com Trump

Muito tempo da convenção foi dedicado a criticar Donald Trump, traçando paralelos entre políticas do republicano e dos democratas. Um dos alvos foi o Projeto 2025, um plano da ala direita para a próxima administração republicana, do qual Trump tentou se distanciar, embora tenha sido elaborado por muitos de seus aliados.

A senadora estadual Mallory McMorrow, de Michigan, subiu ao palco e bateu em um livro gigante que representava o documento de mais de 900 páginas, e disse à multidão que as políticas descritas permitiriam a Trump usar o governo federal para perseguir seus inimigos. “Isso não é como funciona na América”, disse McMorrow. “É assim que funciona nas ditaduras.”

Mallory McMorrow falou sobre o Projeto 2025 de Donald Trump, afirmando que projeto permitirá que Trump 'se torne um ditador'. Foto: Ruth Fremson/NYT

Críticas sobre a forma Trump lidou com a pandemia do coronavírus em 2020, no seu último ano de governo, tiveram protagonismo ao longo da noite. Para os democratas, o assunto é uma vantagem na corrida presidencial, usando o negacionismo do republicano como uma arma contra ele e tentando vincular a crise à sua presidência.

“Meu irmão Ron foi a segunda pessoa a morrer de Covid no estado do Tennessee. Não pudemos vê-lo. Não pudemos ter um memorial. E milhões de famílias americanas passaram pela mesma coisa. Nossas comunidades estavam sofrendo, nossa economia estava em dificuldades, e Donald Trump estava brincando”, disse a vice-governadora de Minnesota, Peggy Flanagan.

Representantes de sindicatos também subiram ao palco e foram firmes em defender o projeto econômico de Kamala diante de Trump. Liz Shuler, presidente da federação sindical AFL-CIO, disse que os americanos escolheriam entre “duas visões econômicas”.

“Esta eleição envolve duas visões econômicas: uma em que as famílias vivem de salário em salário, em que as pessoas não têm o direito de se filiar a um sindicato — o sonho de um CEO, mas o pesadelo de um trabalhador”, disse ela. A outra é “uma economia de oportunidades, onde reduzimos os custos de alimentos, receitas e moradia; onde perseguimos as grandes empresas farmacêuticas, os proprietários corporativos e os especuladores de preços”, disse.

Democratas ainda fizeram um apelo emocional aos eleitores sobre a necessidade do direito ao aborto. Hadley Duvall relatou ter engravidado aos 12 anos após ter sido vítima de um abuso sexual e disse que na época descobriu que tinha outras opções além de manter a gravidez.

O ex-presidente Trump chama as proibições do aborto de “uma coisa linda”, disse Hadley. “O que há de tão lindo em uma criança ter que carregar o filho de seus pais?”.

A convenção se estenderá até quinta-feira, 22, quando Kamala deve discursar e aceitar a indicação. O evento é considerado um teste para a vice-presidente, diante de um país dividido que ainda está se decidindo sobre ela./Com informações de NYT e AP.

Um esperado discurso de Joe Biden, um mês após desistir da corrida presidencial dos Estados Unidos, marcou a primeira noite da Convenção Democrata nesta segunda-feira, 18. Em uma fala com enérgica, mas com tom de despedida, o presidente americano exaltou o legado de seu mandato, dividindo os créditos de seus feitos com sua vice-presidente Kamala Harris, para quem oficialmente passou a tocha da corrida presidencial.

Após ser apresentado pela sua esposa, Jill Biden, e pela sua filha Ashley, Biden repetiu “obrigado” dezenas de vezes ao subir ao palco da convenção, sendo recebido por gritos incessantes de “Thank you, Joe” (”Obrigada, Joe”, em português) e “We love Joe” (”Amamos Joe”). Com uma fala firme e sem aparentes confusões, o democrata demonstrou uma postura diferente das dos últimos discursos e entrevistas, nos quais chegou a chamar Trump de seu vice-presidente.

“Tivemos um dos quatro anos de progresso mais extraordinários de todos os tempos, ponto final”, disse Biden. “A covid não controla mais nossas vidas. Saímos da crise econômica para a economia mais forte do mundo inteiro... recorde de 16 milhões de novos empregos, crescimento recorde de pequenas empresas, mercado de ações recorde... salários em alta, inflação em baixa, muito em baixa, e continuando a cair”, declarou. A multidão começou novamente a gritar “obrigado Joe!”, ao que o democrata respondeu: “Obrigado, Kamala”.

Biden discursou na primeira noite da Convenção Democrata na madrugada desta terça-feira, 19. Foto: Brandon Bell/AFP

Biden declarou a apoiadores entusiasmados que eles têm uma “escolha fundamental” para fazer nas urnas em 5 de novembro, citando o que chamou de “uma agenda perigosa” de Donald Trump que ataca a liberdade e a democracia. “Trump diz que os Estados Unidos está perdendo, mas quem está perdendo é ele”, afirmou.

O democrata chamou Kamala de “amiga próxima” e disse que escolhê-la como sua companheira de chapa foi a melhor decisão que ele já tomou. Ele também se comprometeu a ajudar a eleger a nova chapa democrática, prometendo ser o “melhor voluntário” que Kamala e Walz já viram.

Ele também usou seu discurso para falar sobre a guerra em Gaza, um assunto que poucos democratas mencionaram ao longo da noite. Biden prometeu “acabar com o sofrifmento civil do povo palestino”, e se referiu aos manifestantes que se reuniram em frente ao prédio onde está ocorrendo a convenção, para protestar contra o apoio dos EUA a Israel, afirmando que eles “têm um ponto”.

Biden encerrou seu discurso ao tom de quem já está vislumbrando o fim de seu mandato, afirmando que cometeu muitos erros ao longo de sua carreira, “mas dei o meu melhor a vocês por 50 anos”, declarou. “Como muitos de vocês, dei meu coração e alma à nossa nação, e fui abençoado um milhão de vezes em troca no apoio ao povo americano”, disse o presidente.

Participação surpresa de Kamala

Com discursos de Biden e de Hillary Clinton — os dois últimos democratas indicados para a presidência —, a noite simbolizou uma passagem de bastão da velha guarda para uma nova geração de democratas, em um momento que a idade de Biden foi o principal fator para retirá-lo da corrida presidencial.

Kamala, que estava prevista para discursar somente na quinta-feira, 22, provocou uma reação acalorada do público ao fazer uma aparição surpresa no palco ao som de “Freedom”, de Beyoncé. A vice-presidente antecipou a fala de Biden, a quem agradeceu por uma “liderança histórica, por sua vida de serviço à nação e por tudo que continua fazendo”.

“Ao olhar para todos esta noite, vejo a beleza de nossa grande nação. Pessoas de todos os cantos do nosso país e de todas as esferas da vida estão aqui, unidas por nossa visão compartilhada para o futuro de nosso país”, disse a candidata, durante a rápida aparição. “Vamos lutar pelos ideais que prezamos, e lembremos sempre, quando lutamos, vencemos”, reproduzindo o já conhecido slogan do partido.

A candidata Kamala Harris, prevista para discursar somente na quinta-feira, subiu ao palco no primeiro dia de convenção e surpreendeu público.  Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Na primeira noite da convenção democrata, os convidados tocaram em todos os principais temas que devem ser explorados ao longo da semana e que permeiam a eleição, como direitos trabalhistas, economia, direitos reprodutivos, diversidade, imigração e a crise de covid-19.

Foco na diversidade

Em uma eleição que hispânicos, negros e jovens são segmentos cruciais do eleitorado democrata, a diversidade ganhou destaque entre os participantes que subiram ao palco da convenção na primeira metade da noite. Na abertura, Jaime Harrison, que lidera o Comitê Nacional Democrata, destacou a diversidade da liderança do Partido Democrata, ao lado de Minyon Moore, presidente da convenção.

“É momento transformador quando um presidente de convenção negro e uma presidente negra da Convenção Nacional Democrata nos lideram na nomeação de uma mulher negra e A.A.P.I. (sigla em inglês para americanos de origem asiática e ilhas do Pacífico) para ser a próxima presidente dos Estados Unidos.”

Jaime Harrison, presidente do Comitê Nacional Democrata, e Minyon Moore, presidente do Comitê da Convenção Nacional Democrata de 2024, na abertura do primeiro dia do evento. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Derrick Johnson, o presidente da NAACP, uma organização que luta pela equidade racial, começou seu discurso na convenção afirmando que estava lá para “fazer seu trabalho de negro”, em referência a comentários que Donald Trump fez sobre imigrantes durante o debate presidencial contra Biden em junho.

“Eles estão assumindo empregos de negros e empregos de hispânicos, e vocês ainda não viram, mas verão algo que será o pior da nossa história”. O termo foi repetido pelo republicano em uma entrevista coletiva com jornalistas negros, na qual Trump questionou a identidade racial de Kamala.

Um dos pontos marcantes da noite foi uma homenagem ao reverendo Jesse Jackson, um nome importante na luta pelos direitos civis nos EUA, que subiu ao palco acompanhado de sua família. Jackson, de 82 anos, acenou ao público de uma cadeira de rodas, sem discursar. A convenção exibiu um vídeo que creditou sua candidatura presidencial de 1984 como uma abertura de caminho para Obama se tornar o primeiro presidente negro em 2008.

Jesse Jackson, ativista dos direitos civis nos EUA, subiu ao palco da Convenção Democrata junto de sua família, após receber uma homenagem em vídeo. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Os imigrantes, por sua vez, apresentaram uma visão de patriotismo, diferente da promovida pelo Partido Republicano em sua convenção, quando palestrantes concentraram-se nas implicações da imigração para a segurança americana.

“Sou um imigrante orgulhoso que veio para os Estados Unidos ainda criança. Crescemos pobres, o inglês era nossa segunda língua e muitas vezes, como muitas famílias de imigrantes, lutamos para sobreviver”, disse o deputado da Califórnia Robert Garcia, nascido no Peru, que chamou o dia em que se tornou cidadão de “o dia mais orgulhoso da minha vida.”

A lista de palestrantes também incluiu mulheres de todas as gerações e raças, em uma referência clara ao “teto de vidro” de Hillary que Kamala está buscando quebrar.

Paralelos com Trump

Muito tempo da convenção foi dedicado a criticar Donald Trump, traçando paralelos entre políticas do republicano e dos democratas. Um dos alvos foi o Projeto 2025, um plano da ala direita para a próxima administração republicana, do qual Trump tentou se distanciar, embora tenha sido elaborado por muitos de seus aliados.

A senadora estadual Mallory McMorrow, de Michigan, subiu ao palco e bateu em um livro gigante que representava o documento de mais de 900 páginas, e disse à multidão que as políticas descritas permitiriam a Trump usar o governo federal para perseguir seus inimigos. “Isso não é como funciona na América”, disse McMorrow. “É assim que funciona nas ditaduras.”

Mallory McMorrow falou sobre o Projeto 2025 de Donald Trump, afirmando que projeto permitirá que Trump 'se torne um ditador'. Foto: Ruth Fremson/NYT

Críticas sobre a forma Trump lidou com a pandemia do coronavírus em 2020, no seu último ano de governo, tiveram protagonismo ao longo da noite. Para os democratas, o assunto é uma vantagem na corrida presidencial, usando o negacionismo do republicano como uma arma contra ele e tentando vincular a crise à sua presidência.

“Meu irmão Ron foi a segunda pessoa a morrer de Covid no estado do Tennessee. Não pudemos vê-lo. Não pudemos ter um memorial. E milhões de famílias americanas passaram pela mesma coisa. Nossas comunidades estavam sofrendo, nossa economia estava em dificuldades, e Donald Trump estava brincando”, disse a vice-governadora de Minnesota, Peggy Flanagan.

Representantes de sindicatos também subiram ao palco e foram firmes em defender o projeto econômico de Kamala diante de Trump. Liz Shuler, presidente da federação sindical AFL-CIO, disse que os americanos escolheriam entre “duas visões econômicas”.

“Esta eleição envolve duas visões econômicas: uma em que as famílias vivem de salário em salário, em que as pessoas não têm o direito de se filiar a um sindicato — o sonho de um CEO, mas o pesadelo de um trabalhador”, disse ela. A outra é “uma economia de oportunidades, onde reduzimos os custos de alimentos, receitas e moradia; onde perseguimos as grandes empresas farmacêuticas, os proprietários corporativos e os especuladores de preços”, disse.

Democratas ainda fizeram um apelo emocional aos eleitores sobre a necessidade do direito ao aborto. Hadley Duvall relatou ter engravidado aos 12 anos após ter sido vítima de um abuso sexual e disse que na época descobriu que tinha outras opções além de manter a gravidez.

O ex-presidente Trump chama as proibições do aborto de “uma coisa linda”, disse Hadley. “O que há de tão lindo em uma criança ter que carregar o filho de seus pais?”.

A convenção se estenderá até quinta-feira, 22, quando Kamala deve discursar e aceitar a indicação. O evento é considerado um teste para a vice-presidente, diante de um país dividido que ainda está se decidindo sobre ela./Com informações de NYT e AP.

Um esperado discurso de Joe Biden, um mês após desistir da corrida presidencial dos Estados Unidos, marcou a primeira noite da Convenção Democrata nesta segunda-feira, 18. Em uma fala com enérgica, mas com tom de despedida, o presidente americano exaltou o legado de seu mandato, dividindo os créditos de seus feitos com sua vice-presidente Kamala Harris, para quem oficialmente passou a tocha da corrida presidencial.

Após ser apresentado pela sua esposa, Jill Biden, e pela sua filha Ashley, Biden repetiu “obrigado” dezenas de vezes ao subir ao palco da convenção, sendo recebido por gritos incessantes de “Thank you, Joe” (”Obrigada, Joe”, em português) e “We love Joe” (”Amamos Joe”). Com uma fala firme e sem aparentes confusões, o democrata demonstrou uma postura diferente das dos últimos discursos e entrevistas, nos quais chegou a chamar Trump de seu vice-presidente.

“Tivemos um dos quatro anos de progresso mais extraordinários de todos os tempos, ponto final”, disse Biden. “A covid não controla mais nossas vidas. Saímos da crise econômica para a economia mais forte do mundo inteiro... recorde de 16 milhões de novos empregos, crescimento recorde de pequenas empresas, mercado de ações recorde... salários em alta, inflação em baixa, muito em baixa, e continuando a cair”, declarou. A multidão começou novamente a gritar “obrigado Joe!”, ao que o democrata respondeu: “Obrigado, Kamala”.

Biden discursou na primeira noite da Convenção Democrata na madrugada desta terça-feira, 19. Foto: Brandon Bell/AFP

Biden declarou a apoiadores entusiasmados que eles têm uma “escolha fundamental” para fazer nas urnas em 5 de novembro, citando o que chamou de “uma agenda perigosa” de Donald Trump que ataca a liberdade e a democracia. “Trump diz que os Estados Unidos está perdendo, mas quem está perdendo é ele”, afirmou.

O democrata chamou Kamala de “amiga próxima” e disse que escolhê-la como sua companheira de chapa foi a melhor decisão que ele já tomou. Ele também se comprometeu a ajudar a eleger a nova chapa democrática, prometendo ser o “melhor voluntário” que Kamala e Walz já viram.

Ele também usou seu discurso para falar sobre a guerra em Gaza, um assunto que poucos democratas mencionaram ao longo da noite. Biden prometeu “acabar com o sofrifmento civil do povo palestino”, e se referiu aos manifestantes que se reuniram em frente ao prédio onde está ocorrendo a convenção, para protestar contra o apoio dos EUA a Israel, afirmando que eles “têm um ponto”.

Biden encerrou seu discurso ao tom de quem já está vislumbrando o fim de seu mandato, afirmando que cometeu muitos erros ao longo de sua carreira, “mas dei o meu melhor a vocês por 50 anos”, declarou. “Como muitos de vocês, dei meu coração e alma à nossa nação, e fui abençoado um milhão de vezes em troca no apoio ao povo americano”, disse o presidente.

Participação surpresa de Kamala

Com discursos de Biden e de Hillary Clinton — os dois últimos democratas indicados para a presidência —, a noite simbolizou uma passagem de bastão da velha guarda para uma nova geração de democratas, em um momento que a idade de Biden foi o principal fator para retirá-lo da corrida presidencial.

Kamala, que estava prevista para discursar somente na quinta-feira, 22, provocou uma reação acalorada do público ao fazer uma aparição surpresa no palco ao som de “Freedom”, de Beyoncé. A vice-presidente antecipou a fala de Biden, a quem agradeceu por uma “liderança histórica, por sua vida de serviço à nação e por tudo que continua fazendo”.

“Ao olhar para todos esta noite, vejo a beleza de nossa grande nação. Pessoas de todos os cantos do nosso país e de todas as esferas da vida estão aqui, unidas por nossa visão compartilhada para o futuro de nosso país”, disse a candidata, durante a rápida aparição. “Vamos lutar pelos ideais que prezamos, e lembremos sempre, quando lutamos, vencemos”, reproduzindo o já conhecido slogan do partido.

A candidata Kamala Harris, prevista para discursar somente na quinta-feira, subiu ao palco no primeiro dia de convenção e surpreendeu público.  Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Na primeira noite da convenção democrata, os convidados tocaram em todos os principais temas que devem ser explorados ao longo da semana e que permeiam a eleição, como direitos trabalhistas, economia, direitos reprodutivos, diversidade, imigração e a crise de covid-19.

Foco na diversidade

Em uma eleição que hispânicos, negros e jovens são segmentos cruciais do eleitorado democrata, a diversidade ganhou destaque entre os participantes que subiram ao palco da convenção na primeira metade da noite. Na abertura, Jaime Harrison, que lidera o Comitê Nacional Democrata, destacou a diversidade da liderança do Partido Democrata, ao lado de Minyon Moore, presidente da convenção.

“É momento transformador quando um presidente de convenção negro e uma presidente negra da Convenção Nacional Democrata nos lideram na nomeação de uma mulher negra e A.A.P.I. (sigla em inglês para americanos de origem asiática e ilhas do Pacífico) para ser a próxima presidente dos Estados Unidos.”

Jaime Harrison, presidente do Comitê Nacional Democrata, e Minyon Moore, presidente do Comitê da Convenção Nacional Democrata de 2024, na abertura do primeiro dia do evento. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Derrick Johnson, o presidente da NAACP, uma organização que luta pela equidade racial, começou seu discurso na convenção afirmando que estava lá para “fazer seu trabalho de negro”, em referência a comentários que Donald Trump fez sobre imigrantes durante o debate presidencial contra Biden em junho.

“Eles estão assumindo empregos de negros e empregos de hispânicos, e vocês ainda não viram, mas verão algo que será o pior da nossa história”. O termo foi repetido pelo republicano em uma entrevista coletiva com jornalistas negros, na qual Trump questionou a identidade racial de Kamala.

Um dos pontos marcantes da noite foi uma homenagem ao reverendo Jesse Jackson, um nome importante na luta pelos direitos civis nos EUA, que subiu ao palco acompanhado de sua família. Jackson, de 82 anos, acenou ao público de uma cadeira de rodas, sem discursar. A convenção exibiu um vídeo que creditou sua candidatura presidencial de 1984 como uma abertura de caminho para Obama se tornar o primeiro presidente negro em 2008.

Jesse Jackson, ativista dos direitos civis nos EUA, subiu ao palco da Convenção Democrata junto de sua família, após receber uma homenagem em vídeo. Foto: Andrew Harnik/Getty Images via AFP

Os imigrantes, por sua vez, apresentaram uma visão de patriotismo, diferente da promovida pelo Partido Republicano em sua convenção, quando palestrantes concentraram-se nas implicações da imigração para a segurança americana.

“Sou um imigrante orgulhoso que veio para os Estados Unidos ainda criança. Crescemos pobres, o inglês era nossa segunda língua e muitas vezes, como muitas famílias de imigrantes, lutamos para sobreviver”, disse o deputado da Califórnia Robert Garcia, nascido no Peru, que chamou o dia em que se tornou cidadão de “o dia mais orgulhoso da minha vida.”

A lista de palestrantes também incluiu mulheres de todas as gerações e raças, em uma referência clara ao “teto de vidro” de Hillary que Kamala está buscando quebrar.

Paralelos com Trump

Muito tempo da convenção foi dedicado a criticar Donald Trump, traçando paralelos entre políticas do republicano e dos democratas. Um dos alvos foi o Projeto 2025, um plano da ala direita para a próxima administração republicana, do qual Trump tentou se distanciar, embora tenha sido elaborado por muitos de seus aliados.

A senadora estadual Mallory McMorrow, de Michigan, subiu ao palco e bateu em um livro gigante que representava o documento de mais de 900 páginas, e disse à multidão que as políticas descritas permitiriam a Trump usar o governo federal para perseguir seus inimigos. “Isso não é como funciona na América”, disse McMorrow. “É assim que funciona nas ditaduras.”

Mallory McMorrow falou sobre o Projeto 2025 de Donald Trump, afirmando que projeto permitirá que Trump 'se torne um ditador'. Foto: Ruth Fremson/NYT

Críticas sobre a forma Trump lidou com a pandemia do coronavírus em 2020, no seu último ano de governo, tiveram protagonismo ao longo da noite. Para os democratas, o assunto é uma vantagem na corrida presidencial, usando o negacionismo do republicano como uma arma contra ele e tentando vincular a crise à sua presidência.

“Meu irmão Ron foi a segunda pessoa a morrer de Covid no estado do Tennessee. Não pudemos vê-lo. Não pudemos ter um memorial. E milhões de famílias americanas passaram pela mesma coisa. Nossas comunidades estavam sofrendo, nossa economia estava em dificuldades, e Donald Trump estava brincando”, disse a vice-governadora de Minnesota, Peggy Flanagan.

Representantes de sindicatos também subiram ao palco e foram firmes em defender o projeto econômico de Kamala diante de Trump. Liz Shuler, presidente da federação sindical AFL-CIO, disse que os americanos escolheriam entre “duas visões econômicas”.

“Esta eleição envolve duas visões econômicas: uma em que as famílias vivem de salário em salário, em que as pessoas não têm o direito de se filiar a um sindicato — o sonho de um CEO, mas o pesadelo de um trabalhador”, disse ela. A outra é “uma economia de oportunidades, onde reduzimos os custos de alimentos, receitas e moradia; onde perseguimos as grandes empresas farmacêuticas, os proprietários corporativos e os especuladores de preços”, disse.

Democratas ainda fizeram um apelo emocional aos eleitores sobre a necessidade do direito ao aborto. Hadley Duvall relatou ter engravidado aos 12 anos após ter sido vítima de um abuso sexual e disse que na época descobriu que tinha outras opções além de manter a gravidez.

O ex-presidente Trump chama as proibições do aborto de “uma coisa linda”, disse Hadley. “O que há de tão lindo em uma criança ter que carregar o filho de seus pais?”.

A convenção se estenderá até quinta-feira, 22, quando Kamala deve discursar e aceitar a indicação. O evento é considerado um teste para a vice-presidente, diante de um país dividido que ainda está se decidindo sobre ela./Com informações de NYT e AP.

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