Ao encerrar a Cúpula de Líderes sobre o Clima nesta sexta-feira, 23, o presidente Joe Biden expressou esperança de que mesmo adversários políticos podem trabalhar juntos para conter a mudança climática e citou a Rússia. “O presidente (Vladimir) Putin e eu temos nossas desavenças, mas essas duas nações podem cooperar para que algo seja feito. Estamos muito animados com o apelo dele de ontem (quinta) para que o mundo colabore na redução de carbono.”
Biden afirmou que os EUA esperam trabalhar com a Rússia e "outros países", mas não fez menção a seu outro rival, a China. No lugar, citou seus "grandes amigos" Yoshihide Suga, primeir-ministro do Japão, e Justin Trudeau, premiê canadense.
Articulador da cúpula, Biden classificou como “encorajadores” os anúncios feitos na quinta-feira, 22, pelo presidente Jair Bolsonaro. Após dizer que o evento trouxe "progresso" para o debate sobre os desafios para conter a emergência climática, Biden disse: "também ouvimos notícias encorajadoras de Argentina, Brasil, África do Sul e Coreia do Sul".
Na avaliação do americano, no entanto, o encontro simboliza um "começo" para que os compromissos sejam concretizados até a COP-26, a ser realizada em novembro, em Glasgow, na Escócia.
Mais de 40 líderes mundiais participaram da cúpula convocada por Biden e fizeram promessas para melhorar suas políticas ambientais. Jair Bolsonaro adotou um tom conciliador e tentou passar a imagem de um governo comprometido com a preservação das florestas e das comunidades indígenas. Apesar de ter ignorado os recordes atuais de desmatamento, ele propôs novidades, como antecipar para 2050 o prazo para o Brasil zerar as emissões de gases do efeito estufa – a meta anterior era 2060.
O discurso de Bolsonaro foi recebido com ceticismo por especialistas e diplomatas, que desconfiam da súbita conversão do presidente brasileiro ao ativismo ambiental, mas chegou a ser comemorado pela equipe americana na quinta-feira. O governo Biden considerou que o tom do presidente Bolsonaro na cúpula foi "positivo e construtivo".
Empregos
No encerramento da cúpula, Biden destacou ainda a “oportunidade de criação de milhões de empregos bem remunerados” se houver o investimento necessário em energias renováveis e infraestrutura sustentável para frear a mudança climática. “É uma oportunidade para se criar milhões de empregos bem remunerados em todo o mundo por meio de setores inovadores. Esse desafio será enfrentado por trabalhadores de todas as nações”, afirmou o presidente americano.
Como exemplo do impulso econômico, Biden citou seu plano de infraestrutura no valor de US$ 2,25 bilhões que deve ser aprovado pelo Congresso. “Se trata de criar melhores economias para nossos filhos e netos”, disse o democrata.
Entre os participantes do segundo dia da cúpula, estiveram presentes Bill Gates, co-fundador da Fundação Bill e Melinda Gates, Michael Bloomberg, enviado especial da ONU para o Clima, e Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia.
Na quinta-feira, o presidente americano anunciou uma nova meta ousada de reduzir pela metade a emissão de gases do efeito estufa até 2030. O objetivo era pressionar outros países a replicar o gesto. Conseguiu concessões de alguns aliados, como Japão e União Europeia, mas ficou no vácuo com relação a outros. Índia e China, grandes poluidores e consumidores de energia, por exemplo, não assumiram nenhum compromisso novo.
Este segundo dia da cúpula foi pautado por discussões sobre tecnologias verdes e oportunidades econômicas, mas sem deixar de lado o debate iniciado na quinta-feira sobre o que será necessário para implementar políticas ambientais mais ecológicas e ambiciosas para os próximos anos.
"Nós tivemos um grande progresso, do meu ponto de vista, até agora. Estou grato por todos os líderes que anunciaram novos compromissos para nos ajudar a enfrentar a ameaça das mudanças climáticas", disse Biden no início do discurso.
Na sequência, o presidente americano deu a tônica do segundo dia do evento, que foi marcado por falas sobre as oportunidades econômicas do desafio para conter a emergência climática. Entre elas, Biden citou o aumento da qualidade de vida, a geração de empregos e a modernização da rede elétrica, por exemplo.
O presidente americano destacou que esse é um momento em que todos os setores da economia precisam de investir em inovação e que todos os países precisam investir em energias limpas para que seja possível alcançar o objetivo de zerar as emissões de gases de efeito estufa.
Questionado por um repórter sobre como avaliou o discurso do presidente Jair Bolsonaro no primeiro dia da cúpula, Biden ficou em silêncio. Mais tarde, em seu discurso de encerramento, Biden disse que as iniciativas anunciadas pelo governo brasileiro para contra-atacar a crise climática são "notícias encorajadoras", assim como as anunciadas pela Argentina e África do Sul.
Casa Branca
Outros nomes da Casa Branca também participaram do evento nesta manhã. Mais cedo, a secretária de Comércio americana, Gina Raimondo, falou sobre a necessidade de colaborações de governos com setores público, privado e com a academia.
Já o secretário de Transporte dos EUA, Pete Buttigieg, reconheceu que, atualmente, o setor é o maior responsável pela emissão de gases causadores de efeito estufa no país. O que correspondeu, em 2019, a 29% do total.
Alinhado ao discurso de Biden, Buttigieg destacou o plano da Casa Branca para criar mais vagas de empregos, o que com investimentos em veículos elétricos, ferrovias e outras fontes sustentáveis, irá ajudar o país a atingir sua meta de cortar as emissões americanas entre 50 e 52% até 2030.
A secretária de Energia, Jennifer Granholm, também acompanhou o presidente ao destacar os planos dos americanos de incentivar energias limpas. Segundo ela, deve ser abrir um mercado de US$ 23 trilhões na transição energética até 2030. "A tecnologia limpa é o voo para a lua de nossos tempos", disse.
Tecnologias limpas
O fundador da Microsoft, Bill Gates, iniciou seu discurso ressaltando a necessidade de engajamento da juventude no debate climático e defendeu que apesar de caras, as inovações tecnológicas são a chave para conter a crise climática. “Apenas usar as tecnologias de hoje não vai permitir que cheguemos às nossas metas ambiciosas”, afirmou o bilionário.
A seguir, o que de principal falaram alguns líderes no evento:
Pedro Sánchez (ESPANHA)
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, deu destaque em seu discurso sobre a necessidade de diálogo entre sindicatos e empresas para aumentar as ações para conter as mudanças climáticas. “É preciso colocar as pessoas no centro da discussão”, pregou.
Erna Solberg (NORUEGA)
A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, falou sobre a importância de buscar soluções climáticas baseadas no oceano, ressaltando que planeja cortar pela metade, até o fim da década, as emissões da pesca e do setor marítimo. Segundo Solberg, o país planeja aumentar os investimentos em energia eólica e na captura e armazenamento de carbono.
Binyamin Netanyahu (ISRAEL)
O premier de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentou uma previsão ambiciosa: até o final da década, um terço da energia israelense virá de fontes sustentáveis.
Mette Frederiksen (DINAMARCA)
Ambiciosa também foi a promessa feita pela primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen: o país vai construir uma ilha de energia limpa no Mar do Norte. O local, que terá uma área correspondente a cerca de 18 campos de futebol, servirá como plataforma flutuante para 200 turbinas eólicas offshore gigantes e será capaz de fornecer energia para 10 milhões de residências./ WASHINGTON POST e AP