O governo de Joe Biden anunciou nesta segunda-feira, 2, a criação de novas sanções comerciais dos Estados Unidos contra a China. Consequência da competição tecnológica entre os dois países, as medidas visam impedir que os chineses desenvolvam tecnologia própria de chips semicondutores, que podem ser utilizados em equipamentos militares e na inteligência artificial.
As restrições proíbem as empresas americanas de vender chips avançados e máquinas para a China e e banem mais de uma centena de empresas chinesas de fazer negócios com empresas dos EUA. Com isso, o governo americano tenta isolar a China de ter acesso às tecnologias mais avançadas do mundo.
Nos últimos três anos, essa é terceira vez que o governo Biden muda as regras comerciais com a China por causa da competição tecnológica entre as duas superpotências. As novas imposições devem ser as últimas do governo do democrata antes do retorno de Donald Trump à Casa Branca, em janeiro, e entram em vigor em 31 de dezembro.
Segundo a secretária de Comércio, Gina Raimondo, as medidas são as mais rígidas da história dos EUA contra a China nessa área. Ela disse que as regras visam proteger a segurança nacional americana. Para autoridades da segurança americana, a capacidade tecnológica da China representa uma ameaça.
Os chips sancionados são cruciais para desenvolver inteligência artificial e supercomputadores que podem ser usados para ataques cibernéticos, projetar novas armas, erguer sistemas de vigilância e aumentar a capacidade dos militares de responder com precisão e rapidez a ataques estrangeiros.
Relembre
Histórico
O governo Biden emitiu as primeiras restrições abrangentes à China em outubro de 2022. O primeiro pacote proibiu as vendas para Pequim de chips avançados de Inteligência Artificial e máquinas de fabricação de chips. Em outubro de 2023, Biden ampliou os tipos de chips proibidos.
As novas regras adicionam 140 empresas chinesas, muitas fabricantes de ferramentas e maquinários necessários para a fabricação de chips, a uma lista de empresas restritas. Elas também estabelecem restrições contra os chips avançados de memória, duas dúzias de equipamentos semicondutores e diversos programas utilizados para desenvolver os chips. Esses componentes ficam proibidos de ser enviados à China.
As empresas chinesas também devem cumprir novos requisitos para negociar com os EUA. Dentre elas, está o aumento da fiscalização para garantir que a tecnologia não seja desviada para alguma das empresas restritas.
Para evitar que as empresas americanas contornem as sanções, as regras valem para qualquer lugar em que elas estejam sediadas. Segundo um funcionário do alto escalão do governo americano, no entanto, em alguns países que tem condições de impor as próprias regras as empresas não serão atingidas – o que abre um caminho para que nações aliadas dos EUA sejam pressionadas a impor os próprios controles.
O Japão e a Holanda, que abrigam grandes empresas que fabricam equipamentos de fabricação de chips, concordaram há meses em seguir as regras dos EUA e emitiram as próprias restrições a algumas exportações. Não está claro, no entanto, quando as regras entrarão em vigor nesses países.
Parte das autoridades e analistas criticaram as regras, dizendo que elas foram moldadas pelo lobby de empresas de chips e que contêm exceções favorecidas pela indústria. Eles afirmam, por exemplo, que o governo poderia ter mirado os principais fabricantes de chips chineses de forma mais agressiva.
Resposta de Pequim
Ainda não está claro se ou como o governo chinês responderá. Nos últimos anos, a China expandiu as próprias leis de controle de exportação, o que lhe deu mais capacidade de interromper as exportações de produtos como minerais de terras raras, e criou uma “lista de entidades não confiáveis” para penalizar empresas que prejudicam os interesses nacionais chineses.
Na semana passada, o porta-voz da chancelaria da China, Mao Ning, declarou que Pequim “se opõe firmemente” ao “abuso de medidas de controle de exportação e bloqueio e supressão maliciosos da China”.
Nos últimos anos, essa disputa divide cada vez mais o mundo em duas esferas quando se trata de tecnologias avançadas. As empresas globais lutam para superar essa divisão. Para muitas delas, a China continua sendo um parceiro econômico essencial, por ter a maioria das fábricas de eletrônicos do mundo e um enorme mercado consumidor.
Entretanto, Pequim também é cada vez mais reconhecida como o maior rival dos EUA e o único outro governo com a capacidade e a intenção de desafiar os americanos no cenário mundial. A China usou descaradamente tecnologia estrangeira e se apoiou em empresas privadas para fortalecer suas forças armadas, uma situação que as autoridades dos EUA agora veem como insustentável. /NYT