WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que tentará a reeleição pelo Partido Democrata nas eleições presidenciais americanas de 2024 em um vídeo postado online na manhã de terça-feira, 25, instando os eleitores a deixá-lo “terminar este trabalho” e revivendo a possibilidade de um novo duelo com o ex-presidente Donald Trump.
Além do rival da última eleição, um dos maiores desafios do presidente americano é sua idade. Aos 80 anos, Biden é o presidente mais velho da história americana, e as pesquisas sugerem que mesmo a maioria dos democratas está preocupada em reeleger um comandante que completaria 86 anos no final de seu segundo mandato.
No vídeo de três minutos e quatro segundos, Biden diz que passou seus primeiros anos no cargo lutando pela democracia e pela liberdade. E adverte que “extremistas do MAGA [Make America Great Again, logo da antiga campanha de Trump]” em todo o país ameaçam essas liberdades.
“Quando concorri à presidência há quatro anos, disse que estávamos em uma batalha pela alma da América. E ainda estamos”, diz Biden no vídeo, acrescentando mais tarde: “É por isso que estou concorrendo à reeleição”.
A declaração formal da candidatura de Biden ocorre quatro anos depois de ele ter dito que buscaria a presidência em 2019 apenas para ser uma “ponte para uma geração mais jovem de lpideres, afirmando na época que era vital impedir que Trump conseguisse um segundo mandato.
“Cada geração de americanos enfrentou um momento em que teve que defender a democracia”, diz Biden. “Defenda nossas liberdades pessoais. Represente acima de tudo o direito de votar e nossos direitos civis. E este é o nosso momento.”
Desafios de Biden
A missão de Biden será mais complicada na segunda vez, pois ele será forçado a defender seu histórico enquanto alerta sobre os perigos do retorno de Trump. Enquanto o ex-presidente continua sendo o principal candidato à indicação republicana, o governador da Flórida, Ron DeSantis, também está se preparando para uma possível candidatura.
Ainda esta semana, alguns de seus principais doadores foram convidados a se reunir em Washington para uma espécie de cúpula financeira que dará início a uma corrida contra o tempo para fortalecer o caixa do presidente. A reunião, prevista para sexta-feira, será um passo inicial necessário em um processo de campanha que permanecerá discreto por até um ano.
Mais sobre o presidente americano
Na escolha de sua equipe, o democrata deverá priorizar as pessoas que ele manteve por perto durante sua primeira candidatura vitoriosa à presidência e seu primeiro mandato. Essa equipe tentará mostrar que as realizações de Biden ajudaram a restaurar a prosperidade, apesar da persistente incerteza econômica e das preocupações com a inflação.
Segundo análise do New York Times, Biden se concentrará na aprovação de legislação para injetar bilhões de dólares em infraestrutura, clima e saúde. E ele buscará o crédito por restaurar alianças no exterior em um momento de tensões globais.
O presidente também buscará estimular as diferenças com o que descreve como um Partido Republicano elitista e intolerante que ameaçará o progresso de seu governo. Ao começar a intensificar sua campanha, ele espera demonstrar que a escolha dos eleitores é entre um presidente competente e um retorno ao caos que Trump abraçou.
“Quando se é um presidente concorrendo à reeleição, você passa a ser o alvo óbvio e justo para qualquer um que esteja desapontado não apenas com a quantidade de progresso, mas também com a velocidade desse progresso durante seu mandato”, afirma Jen Psaki, ex-secretária de imprensa de Biden, em seu programa da MSNBC no domingo, enquanto discutia o iminente anúncio da campanha.
“Concorrer à presidência pela primeira vez é uma aspiração. Você pode fazer todo tipo de promessas grandes e ousadas”, disse ela, prevendo uma campanha de reeleição “incrivelmente difícil” para Biden. “Concorrer à reeleição é quando você realmente recebe sua avaliação do povo americano”.
Essa avaliação incluirá algumas notas baixas dos eleitores que o presidente e sua equipe terão de enfrentar ao construir uma operação de campanha que provavelmente ocorrerá em Wilmington, Delaware, onde o presidente passa quase que regularmente seus fins de semana.
Aos 80 anos, Biden é o presidente mais velho da história americana, e as pesquisas sugerem que mesmo a maioria dos democratas está preocupada em reeleger um comandante que completaria 86 anos no final de seu segundo mandato.
Explicações
O presidente também deve responder pela forma caótica de seu governo em lidar com a retirada dos EUA do Afeganistão após 20 anos de guerra e pela rápida inflação que elevou os custos de tudo, de mantimentos a gasolina, corroendo as fortunas econômicas da maioria dos americanos de renda média.
Mas as pessoas encarregadas de conquistar outra vitória para Biden dentro da Casa Branca e na campanha estão determinadas a tentar manter o foco na alternativa.
O presidente começou a aumentar sua retórica anti-Trump, acusando o Partido Republicano de abraçar uma “agenda radical do Maga”, usando repetidamente o acrônimo para o slogan Make America Great Again (algo como ‘fazer a américa grande de novo’) que o republicano usou durante sua campanha de 2016 e durante sua presidência.
Em um discurso na semana passada em um sindicato em Accokeek, Maryland, Biden usou o termo Maga 21 vezes ao atacar uma proposta republicana no Congresso para cortar gastos em programas domésticos em 22%.
Biden aparentemente conseguiu superar as resistências com relação à sua idade - aos 80 anos, ele já é o presidente americano mais velho da história - e as persistentes dúvidas mantidas por um grande número de eleitores do partido. Os democratas anseiam por um novo rosto em 2024, de acordo com repetidas pesquisas, mas simplesmente não sabem quem seria essa pessoa.
Depois que os democratas venceram mais disputas do que o esperado nas eleições de meio de mandato de 2022, qualquer energia para desafiar internamente Biden se dissipou rapidamente. A esquerda permaneceu alinhada, mesmo quando Biden recentemente fez apelos mais explícitos ao centro.
A entrada antecipada de Trump na corrida imediatamente esclareceu que as apostas em 2024 seriam tão altas para os democratas quanto em 2020. O ex-presidente provou ser a maior força unificadora na política democrata na última década, e os mesmos fatores que levaram o partido a apoiar Biden ainda estão presentes hoje. Acrescente a isso as vantagens de manter a Casa Branca e qualquer desafio à candidatura parecia mais destinado a prejudicar Biden do que a vencê-lo.
“Precisamos de estabilidade”, disse o deputado Jamaal Bowman, de Nova York, um progressista que conquistou sua cadeira em 2020 ao derrotar um titular mais velho e moderado em uma primária. “Biden fornece isso.”
Aclamação quase unânime
Partir para uma segunda indicação nem sempre foi certo. Mas pessoas próximas da Casa Branca ficaram surpresas com a velocidade com que todo o espectro do partido passou da preocupação com Biden à aclamação quase unânime, pelo menos em público.
Por enquanto, os únicos adversários anunciados de Biden são Marianne Williamson, cuja última corrida somou apenas um asterisco na campanha de 2020, e Robert F. Kennedy Jr., que está aproveitando o nome de sua família para promover suas opiniões antivacinas.
Governadores proeminentes e ambiciosos, incluindo Gavin Newsom, da Califórnia, e J.B. Pritzker, de Illinois, deixaram claro que não contestariam a indicação de Biden, assim como a vide de Biden, Kamala Harris.
O deputado Raúl Grijalva, ex-copresidente da Frente Parlamentar Progressista, disse que a esquerda está focada na “luta contra os ismos: fascismo, racismo, sexismo”. Isso ofuscou a idade de Biden, disse Grijalva, de 75 anos: “Acho que o motivo de não ter sido um problema maior é que também não acreditamos no preconceito de idade”.
Os números das pesquisas de Biden entre os democratas permanecem medianos. Uma pesquisa da NBC News neste mês mostra que 70% de todos os americanos - incluindo 51% dos democratas - achavam que Biden não deveria concorrer a um segundo mandato. Se o governador Ron DeSantis, da Flórida, vencer a indicação republicana, a disputa nas eleições gerais pode ser mais difícil para Biden. DeSantis, de 44 anos, tem uma performance melhor do que Trump em uma hipotética disputa em novembro.
Os democratas em geral e a Casa Branca em particular conhecem bem a história moderna das campanhas de reeleição presidencial e que quase todos os recentes representantes a perder enfrentaram sérios desafios nas primárias: George H.W. Bush em 1992, Jimmy Carter em 1980, Gerald Ford em 1976 e, antes de se retirar, Lyndon B. Johnson em 1968, nas eleições perdidas pelos democratas.
Combine esse padrão com o espectro de uma segunda presidência de Trump e os democratas se encaixaram quase uniformemente em uma formação leal. “As pessoas reconheceram que ele era o único candidato que poderia derrotar Donald Trump e proteger a democracia americana”, disse o deputado David Cicilline, um democrata de Rhode Island que anteriormente estava na liderança democrata, sobre a indicação de Biden em 2020. “Ainda é o caso.”
Biden suavizou ainda mais seu caminho ao promover a mudança mais substantiva no calendário das primárias democratas em décadas. Ele pressionou para mudar o status de primeiro na nação no calendário de indicações de Iowa, um estado predominantemente branco com uma tendência progressista (onde Biden terminou em quarto lugar), para a Carolina do Sul, onde os eleitores negros surgiram com força em sua campanha em 2020.
Durante seus primeiros dois anos, Biden desenvolveu considerável boa vontade entre os progressistas, abraçando muitas das prioridades da esquerda, incluindo o cancelamento da dívida do empréstimo estudantil, e mantendo uma linha de comunicação muito mais aberta com o flanco esquerdo do partido do que as duas administrações democráticas anteriores. Ele assinou projetos de lei que têm sido prioridades progressistas, incluindo provisões climáticas na Lei de Redução da Inflação.