Um bombardeio no centro da cidade fronteiriça russa de Belgorod neste sábado matou 21 pessoas, incluindo três crianças, informaram as autoridades locais.
Outras 110 pessoas ficaram feridas no ataque, disse o governador regional Vyacheslav Gladkov, tornando-o um dos ataques mais mortais em solo russo desde o início da invasão da Ucrânia por Moscou, há 22 meses.
As autoridades russas acusaram Kiev de realizar o ataque, que ocorreu no dia seguinte a um bombardeio aéreo de 18 horas em toda a Ucrânia, que matou pelo menos 41 civis.
O Ministério da Defesa da Rússia disse em um comunicado que a Ucrânia havia atingido Belgorod - um centro regional com cerca de 330 mil habitantes a cerca 40 km ao norte da fronteira ucraniana - com dois mísseis e vários foguetes, acrescentando que o ataque foi “indiscriminado”.
O órgão disse que a maioria dos foguetes foi abatida, mas que alguns destroços caíram na cidade. A munição usada foi identificada como foguetes Vampire de fabricação tcheca e mísseis Olkha equipados com ogivas de munição de fragmentação. O governo ucraniano não comentou oficialmente sobre o ataque a Belgorod, e as alegações russas não puderam ser verificadas de forma independente.
O ataque pareceu ser a resposta da Ucrânia a um ataque aéreo russo maciço e mortal contra seu território um dia antes, e outro sinal da determinação de Kiev de levar a guerra até a porta de Moscou. Em seu discurso durante a noite de sexta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse que seu país continuaria a “trabalhar para empurrar a guerra de volta” para “onde ela veio - para a Rússia”.
Imagens de Belgorod nas mídias sociais mostraram carros em chamas e nuvens de fumaça preta subindo entre os prédios danificados enquanto as sirenes de ataque aéreo soavam. Um dos ataques ocorreu próximo a uma pista de patinação no gelo no coração da cidade, que fica a 40 quilômetros ao norte da fronteira ucraniana e a 670 quilômetros ao sul de Moscou. Embora ataques anteriores tenham atingido a cidade, eles raramente ocorreram à luz do dia e causaram menos mortes.
O ataque de sábado a Belgorod foi rapidamente seguido pelo que as autoridades ucranianas disseram ser vários ataques russos contra a cidade ucraniana de Kharkiv, a cerca de 64 km de Belgorod, em aparente retaliação transfronteiriça.
Os ataques consecutivos enfatizaram como Moscou e Kiev continuam dispostos a intensificar uma guerra que provavelmente completará dois anos em fevereiro, apesar dos problemas da Ucrânia em garantir o financiamento ocidental, do aumento da sensação de cansaço da guerra na Rússia e das enormes baixas em ambos os lados.
“Sempre haverá uma resposta para todos os crimes”, escreveu Andriy Yermak, chefe do gabinete do presidente ucraniano, nas mídias sociais no sábado, enquanto o Ministério da Defesa da Rússia disse que o ataque contra Belgorod “não ficaria impune”.
Embora os detalhes do ataque de sábado à Rússia não tenham ficado imediatamente claros, o número de mortos por si só já o tornou digno de nota. Muitos russos mantiveram um senso de relativa normalidade apesar da guerra, mas a violência em Belgorod - que foi abalada por explosões repetidas vezes nos últimos dois anos - abalou essa estabilidade.
Para muitos ucranianos, os ataques trazem para a Rússia o tipo de sofrimento que eles têm suportado quase que diariamente por quase dois anos; para muitos russos pró-guerra, eles são a prova de que Moscou deve usar táticas ainda mais agressivas na Ucrânia.
O Ministério de Situações de Emergência da Rússia publicou um vídeo das consequências do bombardeio que mostrava carros em chamas, pessoas feridas sendo carregadas para abrigos e vidros quebrados nos prédios da cidade. E a televisão estatal russa transmitiu vídeos postados por moradores de Belgorod que mostravam nuvens de fumaça sobre a cidade, vidros quebrados perto de edifícios residenciais e pessoas deitadas nas calçadas - em um eco impressionante das cenas que se desenrolaram no dia anterior em cidades ucranianas como Kiev, Lviv e Dnipro.
Vyacheslav Gladkov, o governador da região de Belgorod, disse que três crianças estavam entre os mortos no sábado e uma área residencial no centro da cidade havia sido atingida.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU seria convocada para discutir o ataque. Na sexta-feira, o mesmo Conselho se reuniu para tratar do ataque da Rússia contra as cidades ucranianas, com os Estados Unidos, a França e a Grã-Bretanha condenando veementemente o ataque.
A Ucrânia já disse várias vezes que não teme levar a guerra para o território russo e, anteriormente, já havia atacado a região de Belgorod com ataques transfronteiriços e até mesmo com breves ataques terrestres de combatentes russos anti-Kremlin apoiados por Kiev.
Até o momento, esses ataques resultaram em pelo menos 50 mortes na Rússia, segundo as Nações Unidas, bem como na evacuação de alguns milhares de civis e em pequenos confrontos com os militares russos.
O ataque de sábado em Belgorod foi em resposta ao ataque aéreo da Rússia na sexta-feira contra a Ucrânia, disse uma autoridade dos serviços de inteligência da Ucrânia, que falou sob condição de anonimato para discutir o assunto, acrescentando que apenas as instalações militares foram alvo. O ataque à Ucrânia - um dos maiores da guerra - matou pelo menos 39 pessoas, feriu cerca de 160 outras e atingiu a infraestrutura civil e militar.
No sábado, as equipes de resgate ucranianas ainda estavam retirando corpos dos escombros de uma fábrica atingida no centro de Kiev, a capital, conforme as autoridades locais.
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E na noite de sábado, segundo as autoridades ucranianas, a Rússia lançou um ataque a Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, no que parecia ser a resposta da própria Rússia ao ataque ucraniano.
Os promotores ucranianos da região de Kharkiv disseram que os mísseis russos disparados da região de Belgorod atingiram a cidade do leste ucraniano e que pelo menos 21 pessoas ficaram feridas no ataque. As autoridades locais acrescentaram que os militares russos atingiram o centro da cidade seis vezes e relataram danos a prédios residenciais, lojas e um centro médico.
Vídeos e imagens não verificados compartilhados nas mídias sociais também mostraram que o Kharkiv Palace Hotel, um dos hotéis mais populares da cidade e um local frequente para jornalistas estrangeiros, foi atingido. Fotos das consequências do ataque mostraram a fachada do edifício perfurada por um enorme buraco do tamanho de vários andares.
Os ataques aéreos consecutivos na sexta-feira e no sábado ocorrem em um momento em que as tropas ucranianas e russas estão atoladas em terra em combates sangrentos e, em sua maioria, inconclusivos. Moscou fez vários avanços em toda a frente de batalha nas últimas semanas, mas especialistas militares afirmam que seus ganhos são graduais e não devem levar a um avanço em um futuro próximo./AP e NYT