SANTIAGO - O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, anunciou nesta sexta-feira, 21, os nomes dos ministros que irão compor o seu gabinete a partir de 11 de março, quando tomará posse. São 24 novos ministros, sendo 14 mulheres. Em discurso, Boric falou de pluralidade política em seu governo e diálogo com todos os setores.
O anúncio foi feito do lado de fora do Museu de História Natural, em Santiago. Em seguida, o futuro líder postou cada cargo no Twitter. Vários dos nomes apontados por Boric são membros de seu círculo mais próximo, que esteve ao seu lado durante o primeiro e segundo turno das campanhas.
Sendo um líder de esquerda, o nome mais aguardado era o do ministro da Fazenda. Em um aceno ao mercado, o nome indicado foi o do presidente do Banco Central Mario Marcel, cargo este que renunciou na última quinta-feira, 20.
Marcel é um independente ligado ao Partido Socialista. Ocupou diversos cargos nos governos de centro-esquerda, entre 1990 e 2008, e foi preferido pelos mercados, que veem em sua nomeação um gesto de moderação nas reformas econômicas que Boric busca implementar.
A médica Izkia Siches foi nomeada como ministra do Interior e Segurança Pública. Ela tem 35 anos, é cirurgiã da Universidade do Chile e em 2017 tornou-se a primeira mulher a chegar à presidência da Faculdade de Medicina. Ela teve uma participação ativa durante a pandemia. Siches se torna a primeira mulher a chefiar o Ministério do Interior.
Para o Ministério das Relações Exteriores, Boric indicou a advogada Antonia Urrejola, que foi vice-presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ela será a segunda mulher a se tornar chanceler do Chile.
O futuro gabinete do novo presidente também incluirá Giorgio Jackson e Camila Vallejo, ex-dirigentes e deputados estudantis, que junto com Gabriel Boric lideraram os protestos de 2011 em busca de uma educação pública gratuita e de qualidade.
A lista também inclui a neta do ex-presidente socialista Salvador Allende (1970-1973) Maya Fernández, que ficará à frente do Ministério da Defesa.
"A nós se juntam nesta equipa de ministros pessoas de diversas origens e formações, um gabinete diversificado, um gabinete com maioria de mulheres, com presença de várias regiões, intergeracional, com pluralidade política, com diversos pontos de e com forte presença também de independentes e militantes de partidos políticos", disse Boric durante a cerimônia.
O presidente eleito afirma que em seu governo prevalecerá o diálogo com todos os setores para promover as mudanças que prometeu ao país, e entre seus últimos encontros com políticos incluiu a futura oposição de centro-direita.
Sobre a presença de mulheres em seu governo, Boric disse que não se tratava de uma inovação do seu governo. “Quero parar por um segundo e enfatizar esse fato. Não estamos inovando, porque alguém já experimentou antes, e quero cumprimentar à distância a ex-presidente Bachelet, que foi pioneira em ter um gabinete conjunto".
Vários futuros ministros estiveram ausentes do ato, por estarem de férias ou acometidos por casos próximos de coronavírus. A idade média dos membros do gabinete apresentado por Boric é de 49 anos. A mais nova, de 32 anos, é Antonia Orellana, que chefiará o Ministério da Mulher.
Boric chegará ao governo com o objetivo de modernizar a saúde pública, na qual 80% dos chilenos são tratados, reformar a previdência e pensões, aumentar o salário mínimo, implementar impostos sobre os mais ricos, criar 500.000 empregos femininos e uma jornada de trabalho de 40 horas, entre outras promessas que despertaram enormes expectativas entre os chilenos.
Sua candidatura foi promovida pela Apruebo Dignidade, uma aliança entre a Frente Amplia (FA) e o Partido Comunista (PC), que carece de pessoas com experiência em tarefas governamentais. Então ele se voltou para a centro-esquerda que governou o Chile nos 24 anos que se seguiram ao retorno da democracia, à qual Boric e a FA foram duramente criticados porque chegaram a acordos com a centro-direita.
Além disso, ele tem apenas 37 dos 155 deputados, então terá que dialogar com a centro-esquerda, apesar de não alcançar a maioria simples necessária para aprovar vários de seus projetos, enquanto o Senado será dividido em metades.
O futuro governo deve lançar um plebiscito obrigatório no qual os chilenos votarão se aprovarem um projeto de Constituição elaborado por uma Convenção Constitucional, que nasceu após os protestos massivos por maior justiça social no final de 2019. Boric, contra a opinião da FA e do PC, assinou o pacto./ AP, AFP e Reuters