Boris Johnson admite que crise de abastecimento é relacionada ao Brexit


Segundo o premiê britânico, problema faz parte de um momento de transição necessário para deixar para trás dependência da União Europeia

Por Redação

MANCHESTER, Reino Unido — O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu pela primeira vez neste domingo que os problemas de escassez generalizada no Reino Unido são relacionados ao Brexit, o divórcio britânico da União Europeia (UE), mas disse que se trata de um “momento de transição” necessário para aumentar a produtividade da economia nacional.

O tema dominou o primeiro dia da conferência anual do Partido Conservador, realizada em Manchester e a primeira presencial desde o início da pandemia. Boris esperava usar a reunião do seu partido para marcar o sucesso da campanha de vacinação, mas teve que responder sobre a perspectiva de faltarem alimentos típicos da ceia de Natal britânica, como perus e frios.

O primeiro-ministro Boris Johnsondeixa um hotel para participar da conferência anual do Partido Conservador, em Manchester. Foto: REUTERS/Toby Melville
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A crise de abastecimento enfrentada pelos supermercados e postos de combustíveis, que se agravou nos últimos 15 dias, é provocada principalmente pela falta de caminhoneiros e de mão de obra em setores como a indústria de processamento de carnes. Esse deficit, por sua vez, é causado em parte pela saída do Reino Unido dos trabalhadores que vinham de nações da União Europeia, já que o Brexit, que começou a vigorar em janeiro deste ano, pôs fim à livre circulação de pessoas entre o país e o bloco.

Boris falou sobre o tema em uma longa entrevista à BBC para marcar o início do congresso partidário, quando foi questionado se os problemas atuais são uma consequência inevitável da separação da UE. Ele reconheceu o vínculo, mas afirmou que não irá retornar à “imigração descontrolada”:

“O caminho em frente para o nosso país não é puxar a alavanca da imigração descontrolada e permitir a entrada de um grande número de pessoas para trabalhar. O que eu não vou fazer é regredir ao modelo antigo e fracassado de salários baixos e pouca especialização sustentado pela imigração descontrolada.”

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Apesar da pressão de vários setores da economia para a concessão de vistos para trabalhadores temporários, Boris indicou que não irá ceder mais: quando os britânicos votaram pelo divórcio no referendo de 2016 e deram aos conservadores a maioria nas eleições legislativas de 2019, afirmou, também optaram pelo fim do “modelo quebrado” e da “baixa produtividade crônica” que vigorava no país.

Descontentamento

A imprensa britânica vem se referindo ao momento atual como o “outono do descontentamento”, metáfora shakespeariana que se popularizou durante o “inverno do descontentamento” de 1978. Na ocasião, escassez de gasolina, greves e alta de preços foram um prelúdio para a chegada de Margaret Thatcher ao poder no ano seguinte e de sua revolução conservadora.

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Desta vez, contudo, são os conservadores que precisam lidar com a crise catalisada por uma separação que seus próprios correligionários, Boris Johnson à frente, lutaram anos para concretizar. Sem as regras europeias, afirmavam os defensores do divórcio, Londres teria mais liberdade para tomar suas próprias decisões econômicas.

Embora o Brexit não seja a única razão de uma crise com ramificações globais, como o aumento do preço do gás, ela tem também causas decorrentes da separação, como a maior burocracia para a importação de alimentos da UE. Do deficit estimado de 100 mil caminhoneiros, cerca de 20 mil são motoristas não britânicos que deixaram o país durante a pandemia e não voltaram por causa de requisitos mais rígidos de visto para trabalhar no país.

Questionado sobre a previsão do seu ministro da Fazenda, Rishi Sunak, de que a escassez pode durar até o Natal, Boris disse que o correligionário está “invariavelmente certo, mas depende de como você interpreta o que ele diz”. A escassez, afirmou, deve-se à indústria de transporte de carga não ter investido em melhores salários e condições de trabalho, tirando proveito da mão de obra europeia, mais barata.

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Diante do risco de ver lojas vazias no Natal, no entanto, o governo britânico disse que permitirá a entrada imediata de 300 motoristas estrangeiros para ajudar na distribuição de combustíveis, além de 200 soldados já mobilizados depois que o atraso e a corrida às compras secarem as bombas nas grandes cidades.

Outros 4,7 mil motoristas vindos do exterior também deverão ajudar na distribuição de alimentos até o Natal, junto com 5,5 mil vistos temporários que serão emitidos para a indústria alimentícia — planos que, para os empresários, são insuficientes. Boris não descartou novas medidas emergenciais, mas disse que a solução permanente cabe ao setor:

“No fim das contas, esses negócios, essas empresas, são os melhores solucionadores de seus próprios problemas de abastecimento. O governo não pode intervir e resolver toda a cadeia de fornecimento.”

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Em paralelo, Boris se recusou a descartar novos aumentos de impostos para ajustar as contas públicas após a pandemia, apesar de afirmar que não deseja fazê-lo. Questionado também sobre o abatimento e incineração inevitável de até 120 mil porcos diante da falta de mão de obra na indústria de processamento de carnes, o premiê foi direto:

“Eu odeio informá-lo, Andrew [Marr, jornalista da BBC], mas a nossa indústria alimentícia envolve matar muitos animais. Essa é a realidade”, disse ele, que completou depois de o jornalista argumentar que, desta vez, os animais não serão transformados em alimentos, e os fazendeiros não terão lucro: “Se você me permite falar, a grande hecatombe de porcos que você está descrevendo ainda não aconteceu. Vamos ver se vai.” / AFP, AP e REUTERS

MANCHESTER, Reino Unido — O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu pela primeira vez neste domingo que os problemas de escassez generalizada no Reino Unido são relacionados ao Brexit, o divórcio britânico da União Europeia (UE), mas disse que se trata de um “momento de transição” necessário para aumentar a produtividade da economia nacional.

O tema dominou o primeiro dia da conferência anual do Partido Conservador, realizada em Manchester e a primeira presencial desde o início da pandemia. Boris esperava usar a reunião do seu partido para marcar o sucesso da campanha de vacinação, mas teve que responder sobre a perspectiva de faltarem alimentos típicos da ceia de Natal britânica, como perus e frios.

O primeiro-ministro Boris Johnsondeixa um hotel para participar da conferência anual do Partido Conservador, em Manchester. Foto: REUTERS/Toby Melville

A crise de abastecimento enfrentada pelos supermercados e postos de combustíveis, que se agravou nos últimos 15 dias, é provocada principalmente pela falta de caminhoneiros e de mão de obra em setores como a indústria de processamento de carnes. Esse deficit, por sua vez, é causado em parte pela saída do Reino Unido dos trabalhadores que vinham de nações da União Europeia, já que o Brexit, que começou a vigorar em janeiro deste ano, pôs fim à livre circulação de pessoas entre o país e o bloco.

Boris falou sobre o tema em uma longa entrevista à BBC para marcar o início do congresso partidário, quando foi questionado se os problemas atuais são uma consequência inevitável da separação da UE. Ele reconheceu o vínculo, mas afirmou que não irá retornar à “imigração descontrolada”:

“O caminho em frente para o nosso país não é puxar a alavanca da imigração descontrolada e permitir a entrada de um grande número de pessoas para trabalhar. O que eu não vou fazer é regredir ao modelo antigo e fracassado de salários baixos e pouca especialização sustentado pela imigração descontrolada.”

Apesar da pressão de vários setores da economia para a concessão de vistos para trabalhadores temporários, Boris indicou que não irá ceder mais: quando os britânicos votaram pelo divórcio no referendo de 2016 e deram aos conservadores a maioria nas eleições legislativas de 2019, afirmou, também optaram pelo fim do “modelo quebrado” e da “baixa produtividade crônica” que vigorava no país.

Descontentamento

A imprensa britânica vem se referindo ao momento atual como o “outono do descontentamento”, metáfora shakespeariana que se popularizou durante o “inverno do descontentamento” de 1978. Na ocasião, escassez de gasolina, greves e alta de preços foram um prelúdio para a chegada de Margaret Thatcher ao poder no ano seguinte e de sua revolução conservadora.

Desta vez, contudo, são os conservadores que precisam lidar com a crise catalisada por uma separação que seus próprios correligionários, Boris Johnson à frente, lutaram anos para concretizar. Sem as regras europeias, afirmavam os defensores do divórcio, Londres teria mais liberdade para tomar suas próprias decisões econômicas.

Embora o Brexit não seja a única razão de uma crise com ramificações globais, como o aumento do preço do gás, ela tem também causas decorrentes da separação, como a maior burocracia para a importação de alimentos da UE. Do deficit estimado de 100 mil caminhoneiros, cerca de 20 mil são motoristas não britânicos que deixaram o país durante a pandemia e não voltaram por causa de requisitos mais rígidos de visto para trabalhar no país.

Questionado sobre a previsão do seu ministro da Fazenda, Rishi Sunak, de que a escassez pode durar até o Natal, Boris disse que o correligionário está “invariavelmente certo, mas depende de como você interpreta o que ele diz”. A escassez, afirmou, deve-se à indústria de transporte de carga não ter investido em melhores salários e condições de trabalho, tirando proveito da mão de obra europeia, mais barata.

Diante do risco de ver lojas vazias no Natal, no entanto, o governo britânico disse que permitirá a entrada imediata de 300 motoristas estrangeiros para ajudar na distribuição de combustíveis, além de 200 soldados já mobilizados depois que o atraso e a corrida às compras secarem as bombas nas grandes cidades.

Outros 4,7 mil motoristas vindos do exterior também deverão ajudar na distribuição de alimentos até o Natal, junto com 5,5 mil vistos temporários que serão emitidos para a indústria alimentícia — planos que, para os empresários, são insuficientes. Boris não descartou novas medidas emergenciais, mas disse que a solução permanente cabe ao setor:

“No fim das contas, esses negócios, essas empresas, são os melhores solucionadores de seus próprios problemas de abastecimento. O governo não pode intervir e resolver toda a cadeia de fornecimento.”

Em paralelo, Boris se recusou a descartar novos aumentos de impostos para ajustar as contas públicas após a pandemia, apesar de afirmar que não deseja fazê-lo. Questionado também sobre o abatimento e incineração inevitável de até 120 mil porcos diante da falta de mão de obra na indústria de processamento de carnes, o premiê foi direto:

“Eu odeio informá-lo, Andrew [Marr, jornalista da BBC], mas a nossa indústria alimentícia envolve matar muitos animais. Essa é a realidade”, disse ele, que completou depois de o jornalista argumentar que, desta vez, os animais não serão transformados em alimentos, e os fazendeiros não terão lucro: “Se você me permite falar, a grande hecatombe de porcos que você está descrevendo ainda não aconteceu. Vamos ver se vai.” / AFP, AP e REUTERS

MANCHESTER, Reino Unido — O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu pela primeira vez neste domingo que os problemas de escassez generalizada no Reino Unido são relacionados ao Brexit, o divórcio britânico da União Europeia (UE), mas disse que se trata de um “momento de transição” necessário para aumentar a produtividade da economia nacional.

O tema dominou o primeiro dia da conferência anual do Partido Conservador, realizada em Manchester e a primeira presencial desde o início da pandemia. Boris esperava usar a reunião do seu partido para marcar o sucesso da campanha de vacinação, mas teve que responder sobre a perspectiva de faltarem alimentos típicos da ceia de Natal britânica, como perus e frios.

O primeiro-ministro Boris Johnsondeixa um hotel para participar da conferência anual do Partido Conservador, em Manchester. Foto: REUTERS/Toby Melville

A crise de abastecimento enfrentada pelos supermercados e postos de combustíveis, que se agravou nos últimos 15 dias, é provocada principalmente pela falta de caminhoneiros e de mão de obra em setores como a indústria de processamento de carnes. Esse deficit, por sua vez, é causado em parte pela saída do Reino Unido dos trabalhadores que vinham de nações da União Europeia, já que o Brexit, que começou a vigorar em janeiro deste ano, pôs fim à livre circulação de pessoas entre o país e o bloco.

Boris falou sobre o tema em uma longa entrevista à BBC para marcar o início do congresso partidário, quando foi questionado se os problemas atuais são uma consequência inevitável da separação da UE. Ele reconheceu o vínculo, mas afirmou que não irá retornar à “imigração descontrolada”:

“O caminho em frente para o nosso país não é puxar a alavanca da imigração descontrolada e permitir a entrada de um grande número de pessoas para trabalhar. O que eu não vou fazer é regredir ao modelo antigo e fracassado de salários baixos e pouca especialização sustentado pela imigração descontrolada.”

Apesar da pressão de vários setores da economia para a concessão de vistos para trabalhadores temporários, Boris indicou que não irá ceder mais: quando os britânicos votaram pelo divórcio no referendo de 2016 e deram aos conservadores a maioria nas eleições legislativas de 2019, afirmou, também optaram pelo fim do “modelo quebrado” e da “baixa produtividade crônica” que vigorava no país.

Descontentamento

A imprensa britânica vem se referindo ao momento atual como o “outono do descontentamento”, metáfora shakespeariana que se popularizou durante o “inverno do descontentamento” de 1978. Na ocasião, escassez de gasolina, greves e alta de preços foram um prelúdio para a chegada de Margaret Thatcher ao poder no ano seguinte e de sua revolução conservadora.

Desta vez, contudo, são os conservadores que precisam lidar com a crise catalisada por uma separação que seus próprios correligionários, Boris Johnson à frente, lutaram anos para concretizar. Sem as regras europeias, afirmavam os defensores do divórcio, Londres teria mais liberdade para tomar suas próprias decisões econômicas.

Embora o Brexit não seja a única razão de uma crise com ramificações globais, como o aumento do preço do gás, ela tem também causas decorrentes da separação, como a maior burocracia para a importação de alimentos da UE. Do deficit estimado de 100 mil caminhoneiros, cerca de 20 mil são motoristas não britânicos que deixaram o país durante a pandemia e não voltaram por causa de requisitos mais rígidos de visto para trabalhar no país.

Questionado sobre a previsão do seu ministro da Fazenda, Rishi Sunak, de que a escassez pode durar até o Natal, Boris disse que o correligionário está “invariavelmente certo, mas depende de como você interpreta o que ele diz”. A escassez, afirmou, deve-se à indústria de transporte de carga não ter investido em melhores salários e condições de trabalho, tirando proveito da mão de obra europeia, mais barata.

Diante do risco de ver lojas vazias no Natal, no entanto, o governo britânico disse que permitirá a entrada imediata de 300 motoristas estrangeiros para ajudar na distribuição de combustíveis, além de 200 soldados já mobilizados depois que o atraso e a corrida às compras secarem as bombas nas grandes cidades.

Outros 4,7 mil motoristas vindos do exterior também deverão ajudar na distribuição de alimentos até o Natal, junto com 5,5 mil vistos temporários que serão emitidos para a indústria alimentícia — planos que, para os empresários, são insuficientes. Boris não descartou novas medidas emergenciais, mas disse que a solução permanente cabe ao setor:

“No fim das contas, esses negócios, essas empresas, são os melhores solucionadores de seus próprios problemas de abastecimento. O governo não pode intervir e resolver toda a cadeia de fornecimento.”

Em paralelo, Boris se recusou a descartar novos aumentos de impostos para ajustar as contas públicas após a pandemia, apesar de afirmar que não deseja fazê-lo. Questionado também sobre o abatimento e incineração inevitável de até 120 mil porcos diante da falta de mão de obra na indústria de processamento de carnes, o premiê foi direto:

“Eu odeio informá-lo, Andrew [Marr, jornalista da BBC], mas a nossa indústria alimentícia envolve matar muitos animais. Essa é a realidade”, disse ele, que completou depois de o jornalista argumentar que, desta vez, os animais não serão transformados em alimentos, e os fazendeiros não terão lucro: “Se você me permite falar, a grande hecatombe de porcos que você está descrevendo ainda não aconteceu. Vamos ver se vai.” / AFP, AP e REUTERS

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