Brasil alerta para ‘graves consequências’ de anunciada incursão israelense em Rafah


Cidade na fronteira com o Egito abriga cerca de um milhão de palestinos; Tel-Aviv afirma que ação é necessária para derrotar o Hamas e promete proteger civis

Por Jéssica Petrovna

O governo brasileiro afirma ter recebido com grande preocupação o anúncio da incursão terrestre que Israel prepara em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Em nota divulgada nesta terça-feira, 13, o ministério das Relações Exteriores alerta para “graves consequências” da operação e volta a pedir por cessar-fogo.

“Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito”, afirma o comunicado.

“Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses”, diz a nota, citando dados da ONU de deslocados pelo conflito.

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O sul de Gaza abriga o grupo com 19 brasileiros que ainda espera para deixar o enclave e fugir da guerra. Eles estão concentrados perto da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde os ataques aéreos se intensificaram à espera da ofensiva por terra.

Ataques aéreos em Rafah, sul da Faixa de Gaza, 13 de fevereiro de 2024. Foto: SAID KHATIB / AFP
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No texto, o governo brasileiro também reafirma o pedido por cessar-fogo ao que Israel se opõe. Isso porque, na visão de Tel-Aviv, a trégua prolongada permitiria a reorganização do grupo terrorista Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e levou mais 240 como reféns no ataque de 7 de outubro, o estopim para a guerra.

Sem mencionar diretamente o ataque terrorista, o governo defende ainda a liberação dos reféns em poder do Hamas como um dos passos para superar a crise em Gaza.

Pressão internacional contra operação em Rafah

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Com a posição, o Brasil se soma à crescente pressão internacional contra operação terrestre em Rafah. A cidade, na fronteira com o Egito, é a última ao sul do enclave e hoje abriga cerca de metade dos dois milhões de habitantes de Gaza. Muitos, são deslocados pelo conflito, que passaram a viver em abrigos improvisados.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, o ex-premiê David Cameron já se disse “profundamente preocupado” com a perspectiva de uma ofensiva em Rafah ao defender uma pausa imediata nos combates.

Na mesma linha, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, o primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, alertaram que a ofensiva em Rafah seria uma catástrofe humanitária.

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Já os Estados Unidos, principal aliado de Israel, tem alertado repetidamente que os civis devem ser protegidos na possível operação em Rafah.

Campo improvisado abrigada palestinos deslocados em Rafah, 13 de fevereiro de 2024. Foto: REUTERS/Bassam Masoud

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, por outro lado, justifica que a incursão terrestre no sul de Gaza é necessária para cumprir o objetivo declarado da guerra: “eliminar” o Hamas. Netanyahu promete que os civis terão passagem segura, mas ainda não está claro para onde eles iriam já que o enclave está sitiado e o Egito resiste em abrir a fronteira.

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Cairo teme a instabilidade no Sinai, uma zona militar sensível, e não quer ser visto como cúmplice do deslocamento forçado de palestinos. Diante do impasse, o país tem alertado que a operação em Rafah pode levar ao rompimento do acordo de paz de 1979, quando o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel.

Polêmicas envolvendo a guerra em Gaza

O governo Luiz Inácio Lula da Silva já foi duramente criticado por posições consideradas contraditórias com a tradição da política externa brasileira no conflito árabe-israelense. O petista já acusou Israel de “terrorismo” e usou a palavra “genocídio” ao falar sobrea a guerra em Gaza.

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Mais recentemente, o Brasil decidiu apoiar a ação da África do Sul, que denunciou Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça. O endosso foi rebatido pela comunidade israelense e por uma centena de empresários que, em manifesto direcionado ao presidente Lula, pediram que a posição fosse revista;

O ex-chanceler Celso Lafer, chegou a escrever uma carta ao ministro das Relações Exteriores de Lula, Mauro Vieira. No texto, o diplomata afirmava que o apoio à ação é incoerente com a tradição brasileira.

Em entrevista ao Estadão, ele explicou que é leviano acusar Israel de cometer genocídio e alertou que a decisão poderia arranhar a imagem do Brasil lá fora. “Essa decisão compromete a credibilidade internacional do Brasil em muitas instâncias. E complica a presença do Brasil no mundo. É um entre outros equívocos da diplomacia do governo Lula”, disse Lafer.

A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - um trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense.

Ao julgar as medidas cautelares pedidas pela África do Sul, a Corte rejeitou a ordem para que Israel parasse a guerra em Gaza, mas pediu o cumprimento da Convenção da ONU contra Genocídio.

Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque aéreo em Rafah, 12 de fevereiro de 2024. Foto: AP / Fatima Shbair

Leia nota na íntegra

O governo brasileiro recebe, com grande preocupação, o recente anúncio, por parte de autoridades israelenses, de preparação de nova operação militar terrestre em Gaza, desta vez no Sul, na região de Rafah, na fronteira com o Egito. Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito.

O início dos deslocamentos forçados, primeiramente do Norte para o Sul de Gaza, a partir de 8 de outubro, é elemento indissociável da dramática crise humanitária vivida há quatro meses pela população de Gaza, e mereceu a condenação do Brasil e de boa parte dos países, à luz do direito internacional e do direito internacional humanitário. Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses.

O governo brasileiro reitera sua conclamação em favor da cessação das hostilidades e da libertação dos reféns em poder do Hamas como passos para a superação da crise humanitária em Gaza. E reafirma seu compromisso com uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como sua capital.

O governo brasileiro afirma ter recebido com grande preocupação o anúncio da incursão terrestre que Israel prepara em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Em nota divulgada nesta terça-feira, 13, o ministério das Relações Exteriores alerta para “graves consequências” da operação e volta a pedir por cessar-fogo.

“Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito”, afirma o comunicado.

“Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses”, diz a nota, citando dados da ONU de deslocados pelo conflito.

O sul de Gaza abriga o grupo com 19 brasileiros que ainda espera para deixar o enclave e fugir da guerra. Eles estão concentrados perto da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde os ataques aéreos se intensificaram à espera da ofensiva por terra.

Ataques aéreos em Rafah, sul da Faixa de Gaza, 13 de fevereiro de 2024. Foto: SAID KHATIB / AFP

No texto, o governo brasileiro também reafirma o pedido por cessar-fogo ao que Israel se opõe. Isso porque, na visão de Tel-Aviv, a trégua prolongada permitiria a reorganização do grupo terrorista Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e levou mais 240 como reféns no ataque de 7 de outubro, o estopim para a guerra.

Sem mencionar diretamente o ataque terrorista, o governo defende ainda a liberação dos reféns em poder do Hamas como um dos passos para superar a crise em Gaza.

Pressão internacional contra operação em Rafah

Com a posição, o Brasil se soma à crescente pressão internacional contra operação terrestre em Rafah. A cidade, na fronteira com o Egito, é a última ao sul do enclave e hoje abriga cerca de metade dos dois milhões de habitantes de Gaza. Muitos, são deslocados pelo conflito, que passaram a viver em abrigos improvisados.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, o ex-premiê David Cameron já se disse “profundamente preocupado” com a perspectiva de uma ofensiva em Rafah ao defender uma pausa imediata nos combates.

Na mesma linha, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, o primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, alertaram que a ofensiva em Rafah seria uma catástrofe humanitária.

Já os Estados Unidos, principal aliado de Israel, tem alertado repetidamente que os civis devem ser protegidos na possível operação em Rafah.

Campo improvisado abrigada palestinos deslocados em Rafah, 13 de fevereiro de 2024. Foto: REUTERS/Bassam Masoud

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, por outro lado, justifica que a incursão terrestre no sul de Gaza é necessária para cumprir o objetivo declarado da guerra: “eliminar” o Hamas. Netanyahu promete que os civis terão passagem segura, mas ainda não está claro para onde eles iriam já que o enclave está sitiado e o Egito resiste em abrir a fronteira.

Cairo teme a instabilidade no Sinai, uma zona militar sensível, e não quer ser visto como cúmplice do deslocamento forçado de palestinos. Diante do impasse, o país tem alertado que a operação em Rafah pode levar ao rompimento do acordo de paz de 1979, quando o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel.

Polêmicas envolvendo a guerra em Gaza

O governo Luiz Inácio Lula da Silva já foi duramente criticado por posições consideradas contraditórias com a tradição da política externa brasileira no conflito árabe-israelense. O petista já acusou Israel de “terrorismo” e usou a palavra “genocídio” ao falar sobrea a guerra em Gaza.

Mais recentemente, o Brasil decidiu apoiar a ação da África do Sul, que denunciou Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça. O endosso foi rebatido pela comunidade israelense e por uma centena de empresários que, em manifesto direcionado ao presidente Lula, pediram que a posição fosse revista;

O ex-chanceler Celso Lafer, chegou a escrever uma carta ao ministro das Relações Exteriores de Lula, Mauro Vieira. No texto, o diplomata afirmava que o apoio à ação é incoerente com a tradição brasileira.

Em entrevista ao Estadão, ele explicou que é leviano acusar Israel de cometer genocídio e alertou que a decisão poderia arranhar a imagem do Brasil lá fora. “Essa decisão compromete a credibilidade internacional do Brasil em muitas instâncias. E complica a presença do Brasil no mundo. É um entre outros equívocos da diplomacia do governo Lula”, disse Lafer.

A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - um trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense.

Ao julgar as medidas cautelares pedidas pela África do Sul, a Corte rejeitou a ordem para que Israel parasse a guerra em Gaza, mas pediu o cumprimento da Convenção da ONU contra Genocídio.

Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque aéreo em Rafah, 12 de fevereiro de 2024. Foto: AP / Fatima Shbair

Leia nota na íntegra

O governo brasileiro recebe, com grande preocupação, o recente anúncio, por parte de autoridades israelenses, de preparação de nova operação militar terrestre em Gaza, desta vez no Sul, na região de Rafah, na fronteira com o Egito. Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito.

O início dos deslocamentos forçados, primeiramente do Norte para o Sul de Gaza, a partir de 8 de outubro, é elemento indissociável da dramática crise humanitária vivida há quatro meses pela população de Gaza, e mereceu a condenação do Brasil e de boa parte dos países, à luz do direito internacional e do direito internacional humanitário. Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses.

O governo brasileiro reitera sua conclamação em favor da cessação das hostilidades e da libertação dos reféns em poder do Hamas como passos para a superação da crise humanitária em Gaza. E reafirma seu compromisso com uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como sua capital.

O governo brasileiro afirma ter recebido com grande preocupação o anúncio da incursão terrestre que Israel prepara em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Em nota divulgada nesta terça-feira, 13, o ministério das Relações Exteriores alerta para “graves consequências” da operação e volta a pedir por cessar-fogo.

“Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito”, afirma o comunicado.

“Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses”, diz a nota, citando dados da ONU de deslocados pelo conflito.

O sul de Gaza abriga o grupo com 19 brasileiros que ainda espera para deixar o enclave e fugir da guerra. Eles estão concentrados perto da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde os ataques aéreos se intensificaram à espera da ofensiva por terra.

Ataques aéreos em Rafah, sul da Faixa de Gaza, 13 de fevereiro de 2024. Foto: SAID KHATIB / AFP

No texto, o governo brasileiro também reafirma o pedido por cessar-fogo ao que Israel se opõe. Isso porque, na visão de Tel-Aviv, a trégua prolongada permitiria a reorganização do grupo terrorista Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e levou mais 240 como reféns no ataque de 7 de outubro, o estopim para a guerra.

Sem mencionar diretamente o ataque terrorista, o governo defende ainda a liberação dos reféns em poder do Hamas como um dos passos para superar a crise em Gaza.

Pressão internacional contra operação em Rafah

Com a posição, o Brasil se soma à crescente pressão internacional contra operação terrestre em Rafah. A cidade, na fronteira com o Egito, é a última ao sul do enclave e hoje abriga cerca de metade dos dois milhões de habitantes de Gaza. Muitos, são deslocados pelo conflito, que passaram a viver em abrigos improvisados.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, o ex-premiê David Cameron já se disse “profundamente preocupado” com a perspectiva de uma ofensiva em Rafah ao defender uma pausa imediata nos combates.

Na mesma linha, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, o primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, alertaram que a ofensiva em Rafah seria uma catástrofe humanitária.

Já os Estados Unidos, principal aliado de Israel, tem alertado repetidamente que os civis devem ser protegidos na possível operação em Rafah.

Campo improvisado abrigada palestinos deslocados em Rafah, 13 de fevereiro de 2024. Foto: REUTERS/Bassam Masoud

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, por outro lado, justifica que a incursão terrestre no sul de Gaza é necessária para cumprir o objetivo declarado da guerra: “eliminar” o Hamas. Netanyahu promete que os civis terão passagem segura, mas ainda não está claro para onde eles iriam já que o enclave está sitiado e o Egito resiste em abrir a fronteira.

Cairo teme a instabilidade no Sinai, uma zona militar sensível, e não quer ser visto como cúmplice do deslocamento forçado de palestinos. Diante do impasse, o país tem alertado que a operação em Rafah pode levar ao rompimento do acordo de paz de 1979, quando o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel.

Polêmicas envolvendo a guerra em Gaza

O governo Luiz Inácio Lula da Silva já foi duramente criticado por posições consideradas contraditórias com a tradição da política externa brasileira no conflito árabe-israelense. O petista já acusou Israel de “terrorismo” e usou a palavra “genocídio” ao falar sobrea a guerra em Gaza.

Mais recentemente, o Brasil decidiu apoiar a ação da África do Sul, que denunciou Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça. O endosso foi rebatido pela comunidade israelense e por uma centena de empresários que, em manifesto direcionado ao presidente Lula, pediram que a posição fosse revista;

O ex-chanceler Celso Lafer, chegou a escrever uma carta ao ministro das Relações Exteriores de Lula, Mauro Vieira. No texto, o diplomata afirmava que o apoio à ação é incoerente com a tradição brasileira.

Em entrevista ao Estadão, ele explicou que é leviano acusar Israel de cometer genocídio e alertou que a decisão poderia arranhar a imagem do Brasil lá fora. “Essa decisão compromete a credibilidade internacional do Brasil em muitas instâncias. E complica a presença do Brasil no mundo. É um entre outros equívocos da diplomacia do governo Lula”, disse Lafer.

A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - um trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense.

Ao julgar as medidas cautelares pedidas pela África do Sul, a Corte rejeitou a ordem para que Israel parasse a guerra em Gaza, mas pediu o cumprimento da Convenção da ONU contra Genocídio.

Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque aéreo em Rafah, 12 de fevereiro de 2024. Foto: AP / Fatima Shbair

Leia nota na íntegra

O governo brasileiro recebe, com grande preocupação, o recente anúncio, por parte de autoridades israelenses, de preparação de nova operação militar terrestre em Gaza, desta vez no Sul, na região de Rafah, na fronteira com o Egito. Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito.

O início dos deslocamentos forçados, primeiramente do Norte para o Sul de Gaza, a partir de 8 de outubro, é elemento indissociável da dramática crise humanitária vivida há quatro meses pela população de Gaza, e mereceu a condenação do Brasil e de boa parte dos países, à luz do direito internacional e do direito internacional humanitário. Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses.

O governo brasileiro reitera sua conclamação em favor da cessação das hostilidades e da libertação dos reféns em poder do Hamas como passos para a superação da crise humanitária em Gaza. E reafirma seu compromisso com uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como sua capital.

O governo brasileiro afirma ter recebido com grande preocupação o anúncio da incursão terrestre que Israel prepara em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Em nota divulgada nesta terça-feira, 13, o ministério das Relações Exteriores alerta para “graves consequências” da operação e volta a pedir por cessar-fogo.

“Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito”, afirma o comunicado.

“Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses”, diz a nota, citando dados da ONU de deslocados pelo conflito.

O sul de Gaza abriga o grupo com 19 brasileiros que ainda espera para deixar o enclave e fugir da guerra. Eles estão concentrados perto da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde os ataques aéreos se intensificaram à espera da ofensiva por terra.

Ataques aéreos em Rafah, sul da Faixa de Gaza, 13 de fevereiro de 2024. Foto: SAID KHATIB / AFP

No texto, o governo brasileiro também reafirma o pedido por cessar-fogo ao que Israel se opõe. Isso porque, na visão de Tel-Aviv, a trégua prolongada permitiria a reorganização do grupo terrorista Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e levou mais 240 como reféns no ataque de 7 de outubro, o estopim para a guerra.

Sem mencionar diretamente o ataque terrorista, o governo defende ainda a liberação dos reféns em poder do Hamas como um dos passos para superar a crise em Gaza.

Pressão internacional contra operação em Rafah

Com a posição, o Brasil se soma à crescente pressão internacional contra operação terrestre em Rafah. A cidade, na fronteira com o Egito, é a última ao sul do enclave e hoje abriga cerca de metade dos dois milhões de habitantes de Gaza. Muitos, são deslocados pelo conflito, que passaram a viver em abrigos improvisados.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, o ex-premiê David Cameron já se disse “profundamente preocupado” com a perspectiva de uma ofensiva em Rafah ao defender uma pausa imediata nos combates.

Na mesma linha, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, o primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, alertaram que a ofensiva em Rafah seria uma catástrofe humanitária.

Já os Estados Unidos, principal aliado de Israel, tem alertado repetidamente que os civis devem ser protegidos na possível operação em Rafah.

Campo improvisado abrigada palestinos deslocados em Rafah, 13 de fevereiro de 2024. Foto: REUTERS/Bassam Masoud

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, por outro lado, justifica que a incursão terrestre no sul de Gaza é necessária para cumprir o objetivo declarado da guerra: “eliminar” o Hamas. Netanyahu promete que os civis terão passagem segura, mas ainda não está claro para onde eles iriam já que o enclave está sitiado e o Egito resiste em abrir a fronteira.

Cairo teme a instabilidade no Sinai, uma zona militar sensível, e não quer ser visto como cúmplice do deslocamento forçado de palestinos. Diante do impasse, o país tem alertado que a operação em Rafah pode levar ao rompimento do acordo de paz de 1979, quando o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel.

Polêmicas envolvendo a guerra em Gaza

O governo Luiz Inácio Lula da Silva já foi duramente criticado por posições consideradas contraditórias com a tradição da política externa brasileira no conflito árabe-israelense. O petista já acusou Israel de “terrorismo” e usou a palavra “genocídio” ao falar sobrea a guerra em Gaza.

Mais recentemente, o Brasil decidiu apoiar a ação da África do Sul, que denunciou Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça. O endosso foi rebatido pela comunidade israelense e por uma centena de empresários que, em manifesto direcionado ao presidente Lula, pediram que a posição fosse revista;

O ex-chanceler Celso Lafer, chegou a escrever uma carta ao ministro das Relações Exteriores de Lula, Mauro Vieira. No texto, o diplomata afirmava que o apoio à ação é incoerente com a tradição brasileira.

Em entrevista ao Estadão, ele explicou que é leviano acusar Israel de cometer genocídio e alertou que a decisão poderia arranhar a imagem do Brasil lá fora. “Essa decisão compromete a credibilidade internacional do Brasil em muitas instâncias. E complica a presença do Brasil no mundo. É um entre outros equívocos da diplomacia do governo Lula”, disse Lafer.

A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - um trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense.

Ao julgar as medidas cautelares pedidas pela África do Sul, a Corte rejeitou a ordem para que Israel parasse a guerra em Gaza, mas pediu o cumprimento da Convenção da ONU contra Genocídio.

Palestinos buscam nos escombros de prédio destruído por ataque aéreo em Rafah, 12 de fevereiro de 2024. Foto: AP / Fatima Shbair

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O governo brasileiro recebe, com grande preocupação, o recente anúncio, por parte de autoridades israelenses, de preparação de nova operação militar terrestre em Gaza, desta vez no Sul, na região de Rafah, na fronteira com o Egito. Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito.

O início dos deslocamentos forçados, primeiramente do Norte para o Sul de Gaza, a partir de 8 de outubro, é elemento indissociável da dramática crise humanitária vivida há quatro meses pela população de Gaza, e mereceu a condenação do Brasil e de boa parte dos países, à luz do direito internacional e do direito internacional humanitário. Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses.

O governo brasileiro reitera sua conclamação em favor da cessação das hostilidades e da libertação dos reféns em poder do Hamas como passos para a superação da crise humanitária em Gaza. E reafirma seu compromisso com uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como sua capital.

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