BRASÍLIA - O chanceler Mauro Vieira afirmou nesta quinta-feira, dia 11, que não interessa ao Brasil tomar partido na guerra na Ucrânia. Segundo o ministro, o País busca uma posição construtiva e também não aceita tentativas de isolar Moscou nos fóruns multilaterais.
Segundo Vieira, sanções unilaterais à economia russa e articulações diplomáticas contra Putin diminuem o espaço de diálogo e reduzem as chances de uma solução negociada do conflito.
A declaração do ministro das Relações Exteriores expressa uma resposta a desconfianças de aliados ocidentais e do próprio país invadido pela Rússia. Líderes dessas nações passaram a ver em falas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma repetição de argumentos russos.
“Não estamos interessados em tomar lados, mas em preservar canais de diálogo com todos, única maneira de contribuir efetivamente para a construção de espaços de negociação que conduzam à paz efetiva e sustentável”, disse Vieira na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Mauro Vieira citou em explanação a senadores que o Brasil condenou a violação territorial da Ucrânia, invadida militarmente e ocupada pela Rússia desde 24 de fevereiro do ano passado. O governo tem sido alvo de críticas em razão das equiparações de responsabilidade que o presidente Lula fez em entrevistas, citando os presidentes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodmir Zelenski.
Vieira afirmou que Lula tem sido proativo em diálogo com chefes de Estado e de governo, ao defender a formação de um grupo de países amigos capaz de levar Kiev e Moscou à mesa. O ministro disse considerar a guerra “gravíssima”.
“O Brasil tem credenciais e patrimônio diplomático suficientes para ajudar a buscar soluções para essa crise que diz respeito a toda a comunidade internacional”, afirmou o chanceler.
O governo brasileiro tentar mostrar equilíbrio, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca uma posição de mediador de um acordo de paz. Depois de despachar o assessor especial Celso Amorim a Moscou, para conversas com Vladimir Putin, Lula sofreu pressão internacional e enviou o antigo conselheiro a Kiev, para conhecer as condições de Volodimir Zelenski. A missão foi um aceno na aproximação entre Brasília e Kiev, para criar canais de diálogo e confiança.
Em resposta, o presidente da Ucrânia sugeriu novamente que Lula visite o país em guerra e pediu que Brasília ajude a promover uma cúpula com chefes de Estado latino-americanos. Ele publicou uma declaração no Twitter, enquanto o chanceler brasileiro falava em audiência pública no Senado. Zelenski disse que o único plano de paz possível é o proposto por seu governo.
A Ucrânia exige a retirada completa das tropas russas de seu território e reagiu negativamente a uma sugestão de Lula, segundo quem o país deveria avaliar a possibilidade de ceder a Crimeia, ocupada em 2014 por ordem de Putin.
“Encontrei-me com o assessor especial de Assuntos Internacionais do presidente do Brasil Celso Amorim. Enfatizei que o único plano capaz de acabar com a agressão russa à Ucrânia é a “Fórmula de Paz Ucraniana”. Conversamos sobre a possibilidade de realizar uma Cúpula entre Ucrânia e América Latina. Espero continuar o diálogo com presidente Lula e recebê-lo na Ucrânia.”
Além disso, o Itamaraty anunciou mais cedo que concedeu aval ao novo representante do governo ucraniano em Brasília. Zelenski pediu que o vice-chanceler do país, Andrii Melink, seja credenciado como futuro embaixador da Ucrânia no Brasil. O governo Lula aceitou. Com isso, a Ucrânia elevará seu nível de representação política perante o Palácio do Planalto.
Embaixadores
A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou nesta quinta-feira os nove primeiros embaixadores indicados pelo governo Lula. Eles ainda precisam de aprovação do plenário para assumirem os respectivos cargos.
Os senadores sabatinaram e encaminharam ao plenário com aval as indicações dos embaixadores Maria Luiza Viotti (Washington), Sergio Danese (Nações Unidas), Ricardo Neiva Tavares (Paris), Paulino Franco (Cairo), Julio Bitelli (Buenos Aires), Kenneth Nóbrega (Nova Déli), Christian Vargas (Havana), Everton Vargas (Vaticano) e Michel Arslanian Neto (Organização de Aviação Civil Internacional).
Antes, durante a audiência com o ministro, Mauro Vieira disse que trabalha para reduzir desigualdades de gênero no Itamaraty e que vai encaminhar mais cinco mulheres como embaixadoras nas próximas levas. Ele sofre intensa pressão política para promover mais mulheres diplomatas a postos de prestígio no exterior.
“É preciso fazer mais para corrigir as deficiências estruturais que historicamente penalizaram as colegas diplomatas de diversas gerações”, reconheceu o ministro.
O ministro foi cobrado pelos senadores e senadoras pela baixa representação feminina. Somente uma mulher, entre os nove nomes enviados. Também foi questionado sobre orientação ideológica e falta de contundência de Lula em relação a violação de direitos humanos na América Latina, em regimes autoritários como Venezuela e Nicarágua.
Vieira defendeu a promoção de uma “política externa pragmática, acima de efervescências ideológicas, voltada primordialmente para a defesa dos interesses do Brasil e a promoção do bem-estar de brasileiras e brasileiros”.