ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO - Diplomatas do Brasil e de países europeus tentam convencer a Argentina a assinar o texto final da cúpula do G-20 no Rio, apesar da resistência do presidente Javier Milei a endossar temas debatidos pelos chefes de Estado na reunião, como a taxação de grandes fortunas e a igualdade de gênero. A meta é fazer com que os argentinos aceitem assinar o documento final em nome do consenso do grupo em troca de objeções públicas aos temas com os quais não concordam. Nos bastidores, diplomatas dizem que “tudo depende do espírito” do argentino nesta cúpula.
Outra saída seria fazer um comunicado fragmentado, como já ocorreu nos anos de presidência do americano Donald Trump, onde o país aponta os trechos sobre os quais se opõe. Este, no entanto, seria considerado um fracasso diplomático.
Para convencer os argentinos, o governo Lula tem argumentado com os representantes da Casa Rosada que há um peso político em ficar isolado perante consensos criados entre os outros 20 integrantes do grupo.
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Os europeus querem usar como mecanismo de convencimento os frequentes avais a empréstimos internacionais dados à Argentina, com quem possuem laços econômicos. Em linha com o esforço de Lula, o presidente francês Emmanuel Macron tenta convencer Milei.
Depois de bloquear uma declaração ministerial em outubro do grupo de Empoderamento Feminino no G-20, agora a delegação de Milei negocia para amenizar os termos usados no rascunho do comunicado final dos líderes. Os temas de gênero serão mantidos, mas o teor deve ser desidratado.
Segundo diplomatas europeus, mesmo países do G-20 em que a igualdade de gênero é um tema atrasado - como Arábia Saudita e Egito - têm se mostrado mais abertos a debater o direito das mulheres que a Argentina.
Como o Estadão antecipou, os argentinos pretendiam retirar menções a “violência sexual” e feminicídios, segundo um embaixador. O Brasil e os demais países, no entanto, não aceitaram recuar neste tema.
A grande surpresa dos últimos dias, no entanto, foi a oposição argentina à taxação de super-ricos. O governo Milei havia concordado com a proposta do governo Lula sobre o assunto, em julho, quando os ministros de Finanças do G-20 assinaram a proposta de taxação. A objeção só foi apresentada no Rio, enquanto Milei se encontrava com o presidente americano Donald Trump, nos Estados Unidos.
Brasil pressionado sobre Ucrânia
Não é só o argentino Javier Milei que ameaça a chance de sucesso do G-20 brasileiro. Integrantes do G-7 têm pressionado o Brasil a reabrir as negociações no capítulo geopolítico, para incluir uma condenação a ataques à infraestrutura de energia ucraniana feitos pela Rússia. Eles também não estão satisfeitos com a forma como ficou a redação do trecho que trata sobre clima.
No caso da guerra na Ucrânia, França e Reino Unido argumentam que há um fato novo que surgiu no final de semana, após ataque massivo russo aos ucranianos. O ataque aconteceu depois que os diplomatas dos países do G-20 já haviam fechado o rascunho do texto final, que depende da concordância dos chefes de Estado e de governo.
O Brasil tenta convencer as nações desenvolvidas de que incluir a menção aos ataques à infraestrutura da Ucrânia fará com que Rússia e nações árabes peçam que seja usado o trecho também para se referir aos ataques a Gaza. Até o momento, segundo apurou o Estadão, o governo americano não endossa a iniciativa de europeus e britânicos para endurecer o trecho do texto sobre a Rússia.