ENVIADOS AO RIO — A fila de obstáculos para o Brasil conseguir progresso em um comunicado final do G-20 não é pequena. A falta de perspectiva para um consenso nos parágrafos geopolíticos que tratam das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio tem sido, certamente, o maior deles. Mas o “fator Trump” se somou ao complexo cenário mundial e tem esvaziado parte das pautas no Brasil, e também complicou a negociação sobre o financiamento climático.
Países ricos não estão dispostos a pagar a conta do processo de descarbonização global e têm cobrado países em desenvolvimento altamente poluentes, como Índia e Indonésia, a serem mais ambiciosos nas suas NDCs (sigla em inglês para meta nacional de redução de emissões de gases do efeito estufa). Eles exigem a entrada do Brasil e da China na lista de pagadores da conta. A cobrança sempre foi considerada pelo governo brasileiro inadmissível.
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Os países em desenvolvimento, por sua vez, não aceitam se comprometer com mais, sem antes ter contrapartida financeira dos desenvolvidos, que se comprometeram a pagar US$ 100 bilhões anuais desde 2015, no Acordo de Paris — mas nunca cumpriram. Diplomatas que lideram a negociação afirmam que o pleito é incoerente.
O debate não é novo. A eleição do americano Donald Trump em 6 de novembro, no entanto, entrou como complicador no cenário. A perspectiva de que o republicano irá retirar novamente os EUA do Acordo de Paris e se recusar a assumir compromissos ambientais, segundo negociadores, esvazia em parte o debate e faz com que a tendência seja a de ter um comunicado de chefes de Estado “anódino” quanto ao financiamento climático.
O Brasil ainda tenta um texto mais ambicioso e busca convencer os países desenvolvidos de que o G-20 é o único fórum restante onde há diálogo entre ricos e subdesenvolvidos — e que avançar na questão climática no último G-20 antes da posse de Trump é particularmente importante.
Eles tentam convencer os europeus que a eleição de Trump gera urgência. A tendência, segundo essa linha de pensamento, é que outros países se tornem mais hostis à pauta, como Itália e Hungria a partir do ano que vem e que esta é a última chance antes disso para avançar no tema.
Segundo negociadores envolvidos nas conversas, os desenvolvidos têm pressionado, também no G-20, que os em desenvolvimento sejam submetidos às mesmas exigências e também cobram que a China compartilhe o compromisso de financiamento climático. É o que tem travado conversas em Baku, no Azerbaijão, onde acontece a COP-29. O debate, segundo diplomatas, foi transportado para o Rio de Janeiro.
“Os países desenvolvidos e os em desenvolvimento querem mandar um recado para Baku. E querem mandar recados opostos, mas o G-20 precisa de consenso”, diz um diplomata, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o G-20 une “os ricos e os nouveau rich”. Mas, na COP, diz ele, os nouveau rich voltam a ser países pobres.
A Argentina, de acordo com esse mesmo negociador, não tem se oposto à posição da diplomacia brasileira sobre a questão climática. Embora tenha aberto frentes de embate no G-20 sobre uma série de outros temas, o governo Javier Milei entende que o financiamento climático por parte dos países ricos tende a beneficiar também a Argentina. De uma forma geral, no entanto, o governo argentino não prioriza esse debate.
O B-20, braço empresarial do G-20, calcula que serão necessários US$ 150 trilhões (R$ 750 trilhões) ao longo das próximas três décadas para viabilizar a transição energética.