O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou a jornalistas nesta sexta-feira, 13, que os brasileiros que estão na Faixa de Gaza sairão da região por meio do Egito. O Brasil negociava um corredor para tirar cidadãos da região, marcada pelo conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
“O governo brasileiro negociou para que os brasileiros que se encontram em Gaza, possam sair pelo Egito. É a única forma de sair. Sairão neste ônibus que sai amanhã e serão levados até um aeroporto em uma localidade próximo à fronteira, onde um avião da Força Aérea Brasileira está esperando em Roma para poder levá-los de volta”, afirmou Vieira, após reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Vieira reforçou ainda que a posição do Brasil em relação ao Oriente Médio é de dois Estados independentes em paz. “Presidente Lula manifestou necessidade de corredores humanitários. A vocação pacifista do Brasil foi emitida pelo presidente”, afirmou o chanceler.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU convocada pelo chanceler brasileiro terminou sem nenhuma resolução sobre o conflito entre o grupo terrorista Hamas e Israel. O encontro aconteceu nesta sexta-feira, em Nova York, e é a segunda reunião chamada para a situação. Atualmente, o Brasil é presidente rotativo do Conselho de Segurança.
Cerco a Gaza
A Faixa de Gaza foi isolada por Israel depois de um ataque terrorista do grupo Hamas, no sábado, 9. Pelo menos 130 reféns foram capturados pelos terroristas. Na quinta-feira, 12, Israel Katz, ministro da Energia israelense, escreveu em suas redes sociais que a região não receberia combustível, água ou eletricidade até que os reféns fossem libertados.
“Ajuda humanitária para Gaza? Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhum hidrante de água será aberto e nenhum caminhão de combustível entrará até que os reféns israelenses sejam devolvidos para suas casas. Humanitário por humanitário. E ninguém deve nos pregar moral”, afirmou.
Desde então, o exército israelense tem se preparado para uma grande operação militar de invasão por terra na Faixa de Gaza. Com pelo menos 1,2 mil mortos em Israel, e 2,7 mil feridos na mais letal incursão ao território israelense da história, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, está sob enorme pressão para mandar tropas ao enclave. Ele já respondeu com bombardeios aéreos que mataram pelo menos 1,9 mil palestinos. Cerca de 7.696 palestinos ficaram feridos.
A região registra o deslocamento de milhares de pessoas após as Forças Armadas de Israel ordenarem na madrugada desta sexta-feira, 13, pelo horário de Brasília, que toda a população vivendo na porção norte da Faixa de Gaza se retire da região em direção ao sul do território para “preservar vidas civis”. Ao menos 1,1 milhão de pessoas moram na área indicada.
Milhares de civis já começaram a deixar Gaza a pé, de carro, em motos e caminhões. O movimento em massa é caótico e perigoso, já que é feito por apenas uma estrada, em uma das regiões mais densamente povoadas da Cidade de Gaza. O Hamas rejeitou o ultimato e pediu para que os palestinos “se mantenham firmes”.
“As Nações Unidas consideram impossível que tal movimento ocorra sem consequências humanitárias devastadoras”, disse em comunicado o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric. “A ONU apela veementemente para que qualquer ordem desse tipo, se confirmada, seja revogada, evitando o que poderia transformar a atual tragédia em uma situação calamitosa.”
Incursões terrestres
O exército israelense realizou as primeiras incursões pontuais dentro da Faixa de Gaza na tentativa de encontrar os reféns e atacar terroristas do Hamas na região, informou nesta sexta-feira, 13, um porta-voz militar israelense, segundo informações da agência de notícias Efe.
As primeiras incursões são menores e visam “desmantelar células e infraestruturas terroristas na área” e resgatar reféns sequestrados — não foram especificadas a quantidade nem as tropas envolvidas. Terroristas do Hamas dispararam mísseis anti-tanque em direção ao território israelense em resposta e foram atacados pela aviação de Israel.
“No último dia, o exército realizou operações na Faixa de Gaza para eliminar a ameaça de terroristas e armas na região e localizar os reféns”, disse a fonte, acrescentando que as tropas israelenses atacaram terroristas do Hamas e sua infraestrutura, e também receberam disparos de mísseis anti-tanque, enquanto os aviões de combate israelenses bombardeavam a área.
Segundo ele, os soldados “buscaram e reuniram informações” que podem ajudar nas atividades de localização dos reféns.
Brasileiros refugiados em escola
Com o ultimato israelense e uma iminente invasão da Faixa de Gaza, o Itamaraty decidiu remover os 13 brasileiros que estão refugiados em uma escola no Sudoeste da Cidade de Gaza. Eles demonstraram interesse em ser repatriados e, desde então, o governo brasileiro tenta retirá-los do território palestino por uma passagem terrestre pelo Egito.
A previsão é que um ônibus leve os brasileiros para a cidade de Khan Yunis, no Sul da Faixa de Gaza e a cerca de 10 quilômetros da cidade de Rafah, no Egito. O comboio tem previsão de sair da escola na manhã de sábado, 14, no horário local.
Em Khan Yunis, eles deverão se reunir aos cerca de 12 brasileiros que estão na cidade e também aguardam a repatriação. Ao todo, o governo brasileiro estima que 30 brasileiros possam ser repatriados, mas esse número está variando a todo momento, em meio à escalada do conflito em Gaza. A documentação de 28 deles foi entregue ao governo do Egito.
Antes da confirmação de Vieira, o governo brasileiro ainda aguardava a autorização do Egito para fazer a remoção dos brasileiros com segurança. Um avião cedido pela Presidência da República com capacidade para 40 passageiros está em Roma, na Itália, aguardando o sinal verde para o resgate. Mesmo que autoridades brasileiras tenham obtido sinalizações positivas, o governo egípcio alega que as estradas estão danificadas em razão de bombardeios israelenses.
Além disso, há o temor do Egito em abrir a fronteira e permitir que terroristas passem junto com refugiados — o país tenta manter distância do conflito entre Israel e o Hamas, autor dos atentados terroristas em Israel no fim de semana passado e que controla a Faixa de Gaza.