Brics maior tira influência do Brasil e cria desafio com caráter ‘antiocidental’ do bloco


Pressão da China para inclusão de novos membros deu certo, mas presença de países autoritários pode minar a credibilidade do Brics no futuro

Por Luiz Henrique Gomes

A ampliação do Brics confirmada na cúpula em Johannesburgo, na África do Sul, nesta quinta-feira, 24, desafia o Brasil a manter a relevância interna em um bloco de alcance geopolítico maior, e cria um problema ao incluir países autocráticos e com uma postura antiocidental declarada que são aliados próximos de China e de Rússia, como é o caso do Irã.

A cúpula decidiu pela entrada de Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia. Com o Irã, os riscos do bloco se tornar uma frente contrária ao Ocidente crescem devido à presença da Rússia, isolada pelos EUA e pela União Europeia por causa da guerra na Ucrânia, e da China, que tem antagonizado uma disputa com os americanos. A adesão do país foi criticada pelo professor honorário de economia da Universidade de Manchester e ex-economista do Goldman Sachs, Jim O’Neill. “Particularmente por causa do Irã, parece que o simbolismo do Brics está ficando mais e mais sem sentido”, declarou.

Para o analista internacional e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel, o caráter de antagonista do Ocidente ficou mais nítido a partir de agora. “Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram”, escreveu Stunkel em sua coluna.

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O Brasil, que atuava como um contraponto às posições antiocidentais de China e Rússia, agora deve ficar mais isolado dentro do próprio bloco, avalia o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador Rubens Barbosa em entrevista ao Estadão. “Fica difícil ver qual o rumo que o Brasil vai tomar. O país tem uma posição de equidistância na tensão entre China e Estados Unidos e uma posição declarada de equidistância na guerra da Ucrânia. Esse grupo claramente é liderado e influenciado pela China e vai tomar posições que necessariamente não estarão em linha com a política externa brasileira”, aponta o ex-embaixador, que tem se manifestado contra a expansão do Brics.

Imagem mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do líder da China, Xi Jinping, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o premiê da Índia, Narendra Modi, durante a Cúpula do Brics em Johannesburgo Foto: Marco Longari/AFP

O Brasil era contrário à ampliação do Brics, mas, assim como a Índia e a África do Sul, cedeu à pressão da China durante a cúpula. Os três países pediram apoio para a reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas como contrapartida. A China, membro permanente do conselho, resiste à reforma pelo risco da entrada do Japão, seu principal rival regional, mas sinalizou o apoio ao assinar a declaração final da cúpula.

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O texto final não significa nenhum compromisso formal da China com a reforma do conselho, que também precisaria do aval dos outros membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França e Rússia), e possível adesão do Brasil. No entanto, a declaração é vista pelo professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, como um passo a mais do Brasil e das outras nações interessadas do bloco na defesa de seus interesses. “É uma acomodação de interesses que significa uma vitória para a diplomacia”, declarou.

Na declaração, os líderes do bloco defendem que o conselho seja reformado pela ONU para “torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente” com o aumento da representação das nações em desenvolvimento. Segundo o texto, a reforma é necessária “para que possa atender adequadamente os desafios globais prevalecentes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento.”

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Segundo Trevisan, por mais que não haja compromisso formal, o texto, que foi assinado por todos os líderes do bloco, demonstra que o Brics é uma plataforma para as nações emergentes participarem de maneira cada vez mais proativa na geopolítica. A ampliação aumentaria ainda mais esse poder pela entrada de nações importantes para a economia mundial, como a Arábia Saudita. “São essas nações afirmando que também querem sentar na mesa de negociações”, disse.

Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram.

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Governos autoritários

Apesar de não ser um grupo de alinhamento político, como a Otan, a entrada de nações com governos autocráticos, como Irã, Egito e Arábia Saudita, também preocupa os analistas com relação à imagem do Brasil e o futuro do bloco.

Segundo o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Casarões, a presença de nações autocráticas pode ser explorada no futuro pelo Ocidente em antagonismo com o Brics e afetar o Brasil. “Sem dúvidas, a dimensão democrática tem peso maior agora, em que países ocidentais deverão reforçar esse aspecto cada vez menos democrático dos membros do bloco para antagonizá-lo”, declarou.

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Por outro lado, Casarões explica que o Brics tem por costume priorizar questões econômicas e cooperação internacional, o que pode evitar o desgaste do Brasil em temas relativos aos direitos humanos e conflitos internacionais. “Olhando as declarações das reuniões de cúpula, temas como democracia, direitos humanos e conflitos internacionais são muito periféricos até porque cada país tem uma visão e uma postura diferente quanto a esses temas”.

Influência diluída

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Para o pesquisador em relações internacionais e professor da Berea College, Carlos Gustavo Poggio, o papel futuro do Brasil em um Brics mais poderoso, mas com influência mais diluída, vai depender do equilíbrio e da independência que caracterizam a diplomacia brasileira de manter diálogo aberto com todos os atores internacionais. O Brasil pode manter o diálogo com o Ocidente, mesmo com a presença de nações párias para os ocidentais, e aproveitar a plataforma mais ampla. “Não cabe ao Brasil reduzir seus laços com o Ocidente por causa do novo perfil do bloco”, afirmou.

À princípio, disse Poggio, o principal prejuízo para o Brasil é a diluição de influência interna causada pela entrada de nações com economias de tamanho semelhante à brasileira. O mesmo fator afeta a Índia e a África do Sul. A China se beneficia por ter uma economia de tamanho maior, o que dá mais condições de exercer influência sobre os países que farão parte do bloco.

O ex-embaixador Marcos Azambuja destacou que o peso da influência dos membros é um problema permanente para todas organizações, incluindo o Brics. “Você tem por um lado o prestígio garantido por poucos membros e por outro a representatividade maior, com um número maior”, explicou.

Para ele, por ora, a ampliação do bloco mantém princípios de sua criação ao dar protagonismo para regiões emergentes (América Latina, Ásia e África) e se manter um corpo de elite, ainda com poucos membros. “Não é um fórum com muitos países. É uma configuração de poder de nações que são importantes em 2023″, disse.

A ampliação do Brics confirmada na cúpula em Johannesburgo, na África do Sul, nesta quinta-feira, 24, desafia o Brasil a manter a relevância interna em um bloco de alcance geopolítico maior, e cria um problema ao incluir países autocráticos e com uma postura antiocidental declarada que são aliados próximos de China e de Rússia, como é o caso do Irã.

A cúpula decidiu pela entrada de Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia. Com o Irã, os riscos do bloco se tornar uma frente contrária ao Ocidente crescem devido à presença da Rússia, isolada pelos EUA e pela União Europeia por causa da guerra na Ucrânia, e da China, que tem antagonizado uma disputa com os americanos. A adesão do país foi criticada pelo professor honorário de economia da Universidade de Manchester e ex-economista do Goldman Sachs, Jim O’Neill. “Particularmente por causa do Irã, parece que o simbolismo do Brics está ficando mais e mais sem sentido”, declarou.

Para o analista internacional e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel, o caráter de antagonista do Ocidente ficou mais nítido a partir de agora. “Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram”, escreveu Stunkel em sua coluna.

O Brasil, que atuava como um contraponto às posições antiocidentais de China e Rússia, agora deve ficar mais isolado dentro do próprio bloco, avalia o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador Rubens Barbosa em entrevista ao Estadão. “Fica difícil ver qual o rumo que o Brasil vai tomar. O país tem uma posição de equidistância na tensão entre China e Estados Unidos e uma posição declarada de equidistância na guerra da Ucrânia. Esse grupo claramente é liderado e influenciado pela China e vai tomar posições que necessariamente não estarão em linha com a política externa brasileira”, aponta o ex-embaixador, que tem se manifestado contra a expansão do Brics.

Imagem mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do líder da China, Xi Jinping, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o premiê da Índia, Narendra Modi, durante a Cúpula do Brics em Johannesburgo Foto: Marco Longari/AFP

O Brasil era contrário à ampliação do Brics, mas, assim como a Índia e a África do Sul, cedeu à pressão da China durante a cúpula. Os três países pediram apoio para a reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas como contrapartida. A China, membro permanente do conselho, resiste à reforma pelo risco da entrada do Japão, seu principal rival regional, mas sinalizou o apoio ao assinar a declaração final da cúpula.

O texto final não significa nenhum compromisso formal da China com a reforma do conselho, que também precisaria do aval dos outros membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França e Rússia), e possível adesão do Brasil. No entanto, a declaração é vista pelo professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, como um passo a mais do Brasil e das outras nações interessadas do bloco na defesa de seus interesses. “É uma acomodação de interesses que significa uma vitória para a diplomacia”, declarou.

Na declaração, os líderes do bloco defendem que o conselho seja reformado pela ONU para “torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente” com o aumento da representação das nações em desenvolvimento. Segundo o texto, a reforma é necessária “para que possa atender adequadamente os desafios globais prevalecentes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento.”

Segundo Trevisan, por mais que não haja compromisso formal, o texto, que foi assinado por todos os líderes do bloco, demonstra que o Brics é uma plataforma para as nações emergentes participarem de maneira cada vez mais proativa na geopolítica. A ampliação aumentaria ainda mais esse poder pela entrada de nações importantes para a economia mundial, como a Arábia Saudita. “São essas nações afirmando que também querem sentar na mesa de negociações”, disse.

Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram.

Governos autoritários

Apesar de não ser um grupo de alinhamento político, como a Otan, a entrada de nações com governos autocráticos, como Irã, Egito e Arábia Saudita, também preocupa os analistas com relação à imagem do Brasil e o futuro do bloco.

Segundo o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Casarões, a presença de nações autocráticas pode ser explorada no futuro pelo Ocidente em antagonismo com o Brics e afetar o Brasil. “Sem dúvidas, a dimensão democrática tem peso maior agora, em que países ocidentais deverão reforçar esse aspecto cada vez menos democrático dos membros do bloco para antagonizá-lo”, declarou.

Por outro lado, Casarões explica que o Brics tem por costume priorizar questões econômicas e cooperação internacional, o que pode evitar o desgaste do Brasil em temas relativos aos direitos humanos e conflitos internacionais. “Olhando as declarações das reuniões de cúpula, temas como democracia, direitos humanos e conflitos internacionais são muito periféricos até porque cada país tem uma visão e uma postura diferente quanto a esses temas”.

Influência diluída

Para o pesquisador em relações internacionais e professor da Berea College, Carlos Gustavo Poggio, o papel futuro do Brasil em um Brics mais poderoso, mas com influência mais diluída, vai depender do equilíbrio e da independência que caracterizam a diplomacia brasileira de manter diálogo aberto com todos os atores internacionais. O Brasil pode manter o diálogo com o Ocidente, mesmo com a presença de nações párias para os ocidentais, e aproveitar a plataforma mais ampla. “Não cabe ao Brasil reduzir seus laços com o Ocidente por causa do novo perfil do bloco”, afirmou.

À princípio, disse Poggio, o principal prejuízo para o Brasil é a diluição de influência interna causada pela entrada de nações com economias de tamanho semelhante à brasileira. O mesmo fator afeta a Índia e a África do Sul. A China se beneficia por ter uma economia de tamanho maior, o que dá mais condições de exercer influência sobre os países que farão parte do bloco.

O ex-embaixador Marcos Azambuja destacou que o peso da influência dos membros é um problema permanente para todas organizações, incluindo o Brics. “Você tem por um lado o prestígio garantido por poucos membros e por outro a representatividade maior, com um número maior”, explicou.

Para ele, por ora, a ampliação do bloco mantém princípios de sua criação ao dar protagonismo para regiões emergentes (América Latina, Ásia e África) e se manter um corpo de elite, ainda com poucos membros. “Não é um fórum com muitos países. É uma configuração de poder de nações que são importantes em 2023″, disse.

A ampliação do Brics confirmada na cúpula em Johannesburgo, na África do Sul, nesta quinta-feira, 24, desafia o Brasil a manter a relevância interna em um bloco de alcance geopolítico maior, e cria um problema ao incluir países autocráticos e com uma postura antiocidental declarada que são aliados próximos de China e de Rússia, como é o caso do Irã.

A cúpula decidiu pela entrada de Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia. Com o Irã, os riscos do bloco se tornar uma frente contrária ao Ocidente crescem devido à presença da Rússia, isolada pelos EUA e pela União Europeia por causa da guerra na Ucrânia, e da China, que tem antagonizado uma disputa com os americanos. A adesão do país foi criticada pelo professor honorário de economia da Universidade de Manchester e ex-economista do Goldman Sachs, Jim O’Neill. “Particularmente por causa do Irã, parece que o simbolismo do Brics está ficando mais e mais sem sentido”, declarou.

Para o analista internacional e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel, o caráter de antagonista do Ocidente ficou mais nítido a partir de agora. “Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram”, escreveu Stunkel em sua coluna.

O Brasil, que atuava como um contraponto às posições antiocidentais de China e Rússia, agora deve ficar mais isolado dentro do próprio bloco, avalia o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador Rubens Barbosa em entrevista ao Estadão. “Fica difícil ver qual o rumo que o Brasil vai tomar. O país tem uma posição de equidistância na tensão entre China e Estados Unidos e uma posição declarada de equidistância na guerra da Ucrânia. Esse grupo claramente é liderado e influenciado pela China e vai tomar posições que necessariamente não estarão em linha com a política externa brasileira”, aponta o ex-embaixador, que tem se manifestado contra a expansão do Brics.

Imagem mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do líder da China, Xi Jinping, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o premiê da Índia, Narendra Modi, durante a Cúpula do Brics em Johannesburgo Foto: Marco Longari/AFP

O Brasil era contrário à ampliação do Brics, mas, assim como a Índia e a África do Sul, cedeu à pressão da China durante a cúpula. Os três países pediram apoio para a reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas como contrapartida. A China, membro permanente do conselho, resiste à reforma pelo risco da entrada do Japão, seu principal rival regional, mas sinalizou o apoio ao assinar a declaração final da cúpula.

O texto final não significa nenhum compromisso formal da China com a reforma do conselho, que também precisaria do aval dos outros membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França e Rússia), e possível adesão do Brasil. No entanto, a declaração é vista pelo professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, como um passo a mais do Brasil e das outras nações interessadas do bloco na defesa de seus interesses. “É uma acomodação de interesses que significa uma vitória para a diplomacia”, declarou.

Na declaração, os líderes do bloco defendem que o conselho seja reformado pela ONU para “torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente” com o aumento da representação das nações em desenvolvimento. Segundo o texto, a reforma é necessária “para que possa atender adequadamente os desafios globais prevalecentes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento.”

Segundo Trevisan, por mais que não haja compromisso formal, o texto, que foi assinado por todos os líderes do bloco, demonstra que o Brics é uma plataforma para as nações emergentes participarem de maneira cada vez mais proativa na geopolítica. A ampliação aumentaria ainda mais esse poder pela entrada de nações importantes para a economia mundial, como a Arábia Saudita. “São essas nações afirmando que também querem sentar na mesa de negociações”, disse.

Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram.

Governos autoritários

Apesar de não ser um grupo de alinhamento político, como a Otan, a entrada de nações com governos autocráticos, como Irã, Egito e Arábia Saudita, também preocupa os analistas com relação à imagem do Brasil e o futuro do bloco.

Segundo o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Casarões, a presença de nações autocráticas pode ser explorada no futuro pelo Ocidente em antagonismo com o Brics e afetar o Brasil. “Sem dúvidas, a dimensão democrática tem peso maior agora, em que países ocidentais deverão reforçar esse aspecto cada vez menos democrático dos membros do bloco para antagonizá-lo”, declarou.

Por outro lado, Casarões explica que o Brics tem por costume priorizar questões econômicas e cooperação internacional, o que pode evitar o desgaste do Brasil em temas relativos aos direitos humanos e conflitos internacionais. “Olhando as declarações das reuniões de cúpula, temas como democracia, direitos humanos e conflitos internacionais são muito periféricos até porque cada país tem uma visão e uma postura diferente quanto a esses temas”.

Influência diluída

Para o pesquisador em relações internacionais e professor da Berea College, Carlos Gustavo Poggio, o papel futuro do Brasil em um Brics mais poderoso, mas com influência mais diluída, vai depender do equilíbrio e da independência que caracterizam a diplomacia brasileira de manter diálogo aberto com todos os atores internacionais. O Brasil pode manter o diálogo com o Ocidente, mesmo com a presença de nações párias para os ocidentais, e aproveitar a plataforma mais ampla. “Não cabe ao Brasil reduzir seus laços com o Ocidente por causa do novo perfil do bloco”, afirmou.

À princípio, disse Poggio, o principal prejuízo para o Brasil é a diluição de influência interna causada pela entrada de nações com economias de tamanho semelhante à brasileira. O mesmo fator afeta a Índia e a África do Sul. A China se beneficia por ter uma economia de tamanho maior, o que dá mais condições de exercer influência sobre os países que farão parte do bloco.

O ex-embaixador Marcos Azambuja destacou que o peso da influência dos membros é um problema permanente para todas organizações, incluindo o Brics. “Você tem por um lado o prestígio garantido por poucos membros e por outro a representatividade maior, com um número maior”, explicou.

Para ele, por ora, a ampliação do bloco mantém princípios de sua criação ao dar protagonismo para regiões emergentes (América Latina, Ásia e África) e se manter um corpo de elite, ainda com poucos membros. “Não é um fórum com muitos países. É uma configuração de poder de nações que são importantes em 2023″, disse.

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