Brics vale mais para a China do que o G-20; leia a coluna de Lourival Sant’Anna


Ausência de Xi Jinping no G-20 não surpreende; a China e sua aliada, a Rússia, torpedearam todas as tentativas de acordo sobre os assuntos que mais afligem o mundo

Por Lourival Sant'Anna

Duas semanas atrás, escrevi aqui: “Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA”. A ausência de Xi Jinping na cúpula do G-20 prova a predileção da China por um mundo bipolar. O G20 é a instância multipolar por excelência. Reúne os 20 maiores PIBs do mundo, independentemente de disputas geopolíticas.

O G-7, em contraste, agrupa as maiores economias de países democráticos. Em 1997, a Rússia passou a fazer parte, formando o G-8, até ser expulsa em 2014, ao invadir a Ucrânia. A Índia, sexta economia, e o Brasil, décima, participam como convidados. A China é a segunda economia, mas não é uma democracia.

No FMI e no Banco Mundial, o peso do voto de cada participante é proporcional ao aporte de capital. Na Assembleia Geral da ONU, o voto de cada país vale o mesmo. Mas a instância mandatária, o Conselho de Segurança, está subordinada ao poder de veto dos membros permanentes.

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O Presidente da China, Xi Jinping, assiste ao Diálogo da Mesa Redonda de Líderes China-África no último dia da Cimeira dos BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, a 24 de agosto de 2023.  Foto: Alet Pretorius / Reuters

Portanto, Xi contestou silenciosamente — conforme preconiza a cultura chinesa — a única instância multilateral até aqui efetiva. O primeiro-ministro Li Qiang representou a China. Mas não foi ele, e sim Xi, quem representou o país na cúpula do Brics há apenas duas semanas, em Johannesburgo, quando a China impôs a expansão do bloco à revelia de Brasil e Índia.

A ausência de Xi não surpreendeu os negociadores: a China e sua aliada, a Rússia, torpedearam todas as tentativas de acordo sobre o que aflige o mundo: a guerra na Ucrânia e suas consequências econômicas. A Rússia é a causadora desse flagelo, e age em cumplicidade com a China.

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Outro tema crucial, a dívida dos países pobres, também divide o grupo entre a China e o resto. A China não é parte do Clube de Paris, que desde 1956, quando se reuniu pela primeira vez para salvar a Argentina, busca soluções para países ultra-endividados.

Boa parte do endividamento de hoje é contraído com a China, que pratica juros altos, não inclui compliance nos contratos, eivados de vícios, e executa as garantias dos inadimplentes, apossando-se das obras de infraestrutura da Nova Rota da Seda (BRI).

Outra motivação para a ausência de Xi é o fato de o G-20 estar sob presidência da Índia, portanto a anfitriã da cúpula. Os dois países têm disputas de fronteira e de projeção de poder. Na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em julho, a Índia foi a única a recusar apoio formal à BRI, frustrando Xi, que participou remotamente como os demais.

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Em contrapartida, tanto o Brics quanto a SCO convidaram o Irã, adversário do Ocidente e fornecedor de armas da Rússia. Xi não consegue impor sua vontade ao G20, como faz no Brics e na SCO. Então, tenta esvaziá-lo.

Duas semanas atrás, escrevi aqui: “Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA”. A ausência de Xi Jinping na cúpula do G-20 prova a predileção da China por um mundo bipolar. O G20 é a instância multipolar por excelência. Reúne os 20 maiores PIBs do mundo, independentemente de disputas geopolíticas.

O G-7, em contraste, agrupa as maiores economias de países democráticos. Em 1997, a Rússia passou a fazer parte, formando o G-8, até ser expulsa em 2014, ao invadir a Ucrânia. A Índia, sexta economia, e o Brasil, décima, participam como convidados. A China é a segunda economia, mas não é uma democracia.

No FMI e no Banco Mundial, o peso do voto de cada participante é proporcional ao aporte de capital. Na Assembleia Geral da ONU, o voto de cada país vale o mesmo. Mas a instância mandatária, o Conselho de Segurança, está subordinada ao poder de veto dos membros permanentes.

O Presidente da China, Xi Jinping, assiste ao Diálogo da Mesa Redonda de Líderes China-África no último dia da Cimeira dos BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, a 24 de agosto de 2023.  Foto: Alet Pretorius / Reuters

Portanto, Xi contestou silenciosamente — conforme preconiza a cultura chinesa — a única instância multilateral até aqui efetiva. O primeiro-ministro Li Qiang representou a China. Mas não foi ele, e sim Xi, quem representou o país na cúpula do Brics há apenas duas semanas, em Johannesburgo, quando a China impôs a expansão do bloco à revelia de Brasil e Índia.

A ausência de Xi não surpreendeu os negociadores: a China e sua aliada, a Rússia, torpedearam todas as tentativas de acordo sobre o que aflige o mundo: a guerra na Ucrânia e suas consequências econômicas. A Rússia é a causadora desse flagelo, e age em cumplicidade com a China.

Outro tema crucial, a dívida dos países pobres, também divide o grupo entre a China e o resto. A China não é parte do Clube de Paris, que desde 1956, quando se reuniu pela primeira vez para salvar a Argentina, busca soluções para países ultra-endividados.

Boa parte do endividamento de hoje é contraído com a China, que pratica juros altos, não inclui compliance nos contratos, eivados de vícios, e executa as garantias dos inadimplentes, apossando-se das obras de infraestrutura da Nova Rota da Seda (BRI).

Outra motivação para a ausência de Xi é o fato de o G-20 estar sob presidência da Índia, portanto a anfitriã da cúpula. Os dois países têm disputas de fronteira e de projeção de poder. Na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em julho, a Índia foi a única a recusar apoio formal à BRI, frustrando Xi, que participou remotamente como os demais.

Em contrapartida, tanto o Brics quanto a SCO convidaram o Irã, adversário do Ocidente e fornecedor de armas da Rússia. Xi não consegue impor sua vontade ao G20, como faz no Brics e na SCO. Então, tenta esvaziá-lo.

Duas semanas atrás, escrevi aqui: “Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA”. A ausência de Xi Jinping na cúpula do G-20 prova a predileção da China por um mundo bipolar. O G20 é a instância multipolar por excelência. Reúne os 20 maiores PIBs do mundo, independentemente de disputas geopolíticas.

O G-7, em contraste, agrupa as maiores economias de países democráticos. Em 1997, a Rússia passou a fazer parte, formando o G-8, até ser expulsa em 2014, ao invadir a Ucrânia. A Índia, sexta economia, e o Brasil, décima, participam como convidados. A China é a segunda economia, mas não é uma democracia.

No FMI e no Banco Mundial, o peso do voto de cada participante é proporcional ao aporte de capital. Na Assembleia Geral da ONU, o voto de cada país vale o mesmo. Mas a instância mandatária, o Conselho de Segurança, está subordinada ao poder de veto dos membros permanentes.

O Presidente da China, Xi Jinping, assiste ao Diálogo da Mesa Redonda de Líderes China-África no último dia da Cimeira dos BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, a 24 de agosto de 2023.  Foto: Alet Pretorius / Reuters

Portanto, Xi contestou silenciosamente — conforme preconiza a cultura chinesa — a única instância multilateral até aqui efetiva. O primeiro-ministro Li Qiang representou a China. Mas não foi ele, e sim Xi, quem representou o país na cúpula do Brics há apenas duas semanas, em Johannesburgo, quando a China impôs a expansão do bloco à revelia de Brasil e Índia.

A ausência de Xi não surpreendeu os negociadores: a China e sua aliada, a Rússia, torpedearam todas as tentativas de acordo sobre o que aflige o mundo: a guerra na Ucrânia e suas consequências econômicas. A Rússia é a causadora desse flagelo, e age em cumplicidade com a China.

Outro tema crucial, a dívida dos países pobres, também divide o grupo entre a China e o resto. A China não é parte do Clube de Paris, que desde 1956, quando se reuniu pela primeira vez para salvar a Argentina, busca soluções para países ultra-endividados.

Boa parte do endividamento de hoje é contraído com a China, que pratica juros altos, não inclui compliance nos contratos, eivados de vícios, e executa as garantias dos inadimplentes, apossando-se das obras de infraestrutura da Nova Rota da Seda (BRI).

Outra motivação para a ausência de Xi é o fato de o G-20 estar sob presidência da Índia, portanto a anfitriã da cúpula. Os dois países têm disputas de fronteira e de projeção de poder. Na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em julho, a Índia foi a única a recusar apoio formal à BRI, frustrando Xi, que participou remotamente como os demais.

Em contrapartida, tanto o Brics quanto a SCO convidaram o Irã, adversário do Ocidente e fornecedor de armas da Rússia. Xi não consegue impor sua vontade ao G20, como faz no Brics e na SCO. Então, tenta esvaziá-lo.

Duas semanas atrás, escrevi aqui: “Os entusiastas do Brics sonham com um mundo multipolar. Com 70% do PIB do bloco, a China o transformou em sua plataforma na disputa bipolar com os EUA”. A ausência de Xi Jinping na cúpula do G-20 prova a predileção da China por um mundo bipolar. O G20 é a instância multipolar por excelência. Reúne os 20 maiores PIBs do mundo, independentemente de disputas geopolíticas.

O G-7, em contraste, agrupa as maiores economias de países democráticos. Em 1997, a Rússia passou a fazer parte, formando o G-8, até ser expulsa em 2014, ao invadir a Ucrânia. A Índia, sexta economia, e o Brasil, décima, participam como convidados. A China é a segunda economia, mas não é uma democracia.

No FMI e no Banco Mundial, o peso do voto de cada participante é proporcional ao aporte de capital. Na Assembleia Geral da ONU, o voto de cada país vale o mesmo. Mas a instância mandatária, o Conselho de Segurança, está subordinada ao poder de veto dos membros permanentes.

O Presidente da China, Xi Jinping, assiste ao Diálogo da Mesa Redonda de Líderes China-África no último dia da Cimeira dos BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, a 24 de agosto de 2023.  Foto: Alet Pretorius / Reuters

Portanto, Xi contestou silenciosamente — conforme preconiza a cultura chinesa — a única instância multilateral até aqui efetiva. O primeiro-ministro Li Qiang representou a China. Mas não foi ele, e sim Xi, quem representou o país na cúpula do Brics há apenas duas semanas, em Johannesburgo, quando a China impôs a expansão do bloco à revelia de Brasil e Índia.

A ausência de Xi não surpreendeu os negociadores: a China e sua aliada, a Rússia, torpedearam todas as tentativas de acordo sobre o que aflige o mundo: a guerra na Ucrânia e suas consequências econômicas. A Rússia é a causadora desse flagelo, e age em cumplicidade com a China.

Outro tema crucial, a dívida dos países pobres, também divide o grupo entre a China e o resto. A China não é parte do Clube de Paris, que desde 1956, quando se reuniu pela primeira vez para salvar a Argentina, busca soluções para países ultra-endividados.

Boa parte do endividamento de hoje é contraído com a China, que pratica juros altos, não inclui compliance nos contratos, eivados de vícios, e executa as garantias dos inadimplentes, apossando-se das obras de infraestrutura da Nova Rota da Seda (BRI).

Outra motivação para a ausência de Xi é o fato de o G-20 estar sob presidência da Índia, portanto a anfitriã da cúpula. Os dois países têm disputas de fronteira e de projeção de poder. Na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), em julho, a Índia foi a única a recusar apoio formal à BRI, frustrando Xi, que participou remotamente como os demais.

Em contrapartida, tanto o Brics quanto a SCO convidaram o Irã, adversário do Ocidente e fornecedor de armas da Rússia. Xi não consegue impor sua vontade ao G20, como faz no Brics e na SCO. Então, tenta esvaziá-lo.

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