Quebrando um silêncio de mais de quatro dias, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, criticou Israel pelo cerco imposto ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, em seu quartel-general em Ramallah, na Cisjordânia, e pediu na Organização das Nações Unidas (ONU) que o Estado judeu recue os soldados. Declarações divulgadas nesta segunda-feira pelos porta-vozes da Casa Branca e do Departamento de Estado dos EUA disseram que Israel atrapalhou os esforços norte-americanos para melhorar a segurança e a execução de uma reforma administrativa na ANP. Num telefonema na noite de sábado, o secretário norte-americano de Estado, Colin Powell, disse ao primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, que o cerco contraria o objetivo de Bush de obter a paz no Oriente Médio e reformar a hierarquia da Autoridade Palestina, declarou em Washington o porta-voz Richard Boucher. Powell quis manifestar a "profunda preocupação" de Bush com a situação em Ramallah, prosseguiu Boucher. No entanto, o porta-voz do Departamento de Estado recusou-se a afirmar se o governo norte-americano queria que Israel encerrasse o mais recente cerco ao QG de Arafat, iniciado na última quinta-feira em retaliação a um atentado suicida que deixou sete mortos em Tel Aviv após seis semanas de relativa calma na região. "Deixem-me dizer apenas que estamos trabalhando justa e intensivamente com ambos os lados e outras partes internacionais para tentar acalmar a situação, para ajudar a resolvê-la", disse Boucher. "Pedimos a Israel que analise cuidadosamente as conseqüências de suas recentes ações e seus efeitos nos objetivos de obtenção da cooperação palestina em segurança e as reformas nas instituições palestinas." Bush criticou Israel por intermédio de Ari Fleischer, o porta-voz da Casa Branca. Segundo ele, o presidente norte-americano considera o cerco prejudicial à paz e às reformas procuradas por ele. No Conselho de Segurança (CS) da ONU, a delegação palestina procurava hoje uma condenação do CS a Israel pelo cerco, mas os Estados Unidos apareceram com uma resolução que pedia o fim do cerco e punição aos palestinos que organizam atentados contra Israel. Israel diz ser contra qualquer resolução da ONU sobre o conflito com os palestinos, independentemente do texto. "Qualquer resolução aqui adotada será percebida como uma recompensa ao terrorismo", acredita Aaron Jacob, embaixador de Israel nas Nações Unidas. Sob condição de anonimato, funcionários do alto escalão do governo Bush comentaram que o cerco a Arafat é constrangedor e ocorre após alguns progressos com relação à segurança e às reformas. Israel exige que suspeitos de terrorismo cercados no QG de Arafat sejam entregues. O líder palestino rejeitou a exigência. Em junho, Bush pediu a derrubada de Arafat. A pressão imposta por Israel ao destruir a maior parte de seu QG pode ter o objetivo de forçar Arafat a exilar-se. Bush nunca declarou publicamente como acha que Arafat deve ser substituído.