Alemanha quer adotar a sesta, antes alvo de chacota, para combater calor extremo


Prática a que parte da Europa creditou dificuldade da Espanha para superar crise econômica agora é defendida na região

Por Constant Méheut
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Uma década atrás, uma crise financeira pareceu ameaçar seriamente a sagrada “siesta”, ou sesta, dos espanhóis. Críticos de toda a Europa afirmavam que o desaquecimento da economia do país era, em parte, decorrente do longo descanso tirado pelos trabalhadores à tarde. Com medo de ser estigmatizada como um país sonolento e ocioso, a Espanha prometeu abolir a soneca para elevar sua produtividade.

A sesta, porém, persistiu. E agora, com as ondas de calor cada vez mais frequentes e longas na Europa, outros países começam a enxergar as vantagens do costume —a começar pela Alemanha, onde a ética de trabalho incansável é valorizada a ponto de às vezes virar alvo de zombaria.

Os jornais germânicos foram alguns dos que ridicularizaram o hábito espanhol durante a crise econômica espanhola. Neste verão, porém, autoridades e especialistas em trabalho no país começaram a defender os benefícios de um descanso no meio do dia.

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Homem tira uma "siesta" em um parque em Toledo, Espanha. A prática é sagrada na Espanha e foi alvo de chacota de outros países por ser considerada preguiçosa, mas está sendo adotada por países como a Alemanha  Foto: Samuel Aranda/ NYT

“Tirar uma sesta no calor não é má sugestão”, afirmou recentemente o ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach. Ele comentava uma recomendação das autoridades de saúde divulgada no início do mês para que a população seguisse o exemplo da Espanha, onde as ruas ficam vazias das 14h às 16h e, em muitas cidades, as lojas ainda fecham as portas no período.

A temperatura na Alemanha ficou em torno de 32°C nesta semana. O calor tem levado as pessoas a repensar seu modo de vida e a olhar para outros países como exemplos de como se adaptar às altas temperaturas.

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“Devemos seguir as práticas de trabalho dos países do sul durante o calor”, disse Johannes Niessen, presidente da principal associação nacional de médicos do país, em entrevista ao site RND esta semana. “Levantar cedo, trabalhar produtivamente de manhã e fazer uma sesta ao meio-dia é um conceito que deveríamos adotar nos meses do verão.”

Origem

Há explicações diversas sobre as origens da célebre sesta espanhola. Alguns dizem que a prática se originou nas regiões rurais do país, onde os agricultores descansavam nas horas mais quentes do dia e retornavam aos campos quando o clima estava mais fresco. Outra explicação é que o dia interrompido teria emergido no pós-Guerra Civil espanhola, quando muitas pessoas tinham dois empregos, um no turno da manhã e outro iniciado no final da tarde.

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Fato é que a sesta é um elemento tradicional do cotidiano espanhol há décadas. Hoje, a prática é menos comum nas grandes cidades —ainda que, numa tarde recente em Granada, no sul do país, muitas das lojas estivessem fechadas e os moradores, em casa, enquanto as ruas de paralelepípedos ardiam sob um calor de mais de 32°C.

Em 2015, por exemplo, o prefeito de uma cidadezinha próxima à Valência divulgou um decreto em que pedia silêncio durante o período da sesta para garantir o repouso de todos e a população, assim, enfrentar “melhor os rigores do verão”.

Cavalos descansam sob uma árvore em Wehrheim, perto de Frankfurt, Alemanha, em 16 de julho de 2023. Os alemães devem imitar o costume da Espanha de praticar uma "siesta" durante ondas frequentes de calor, aponta uma associação de autoridades de saúde pública Foto: Michael Probst / AP
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Mas a tradição —que permite aos espanhóis descansar, dormir, recarregar as baterias e, é claro, almoçar— também tem sido alvo de comentários irônicos e críticas, em especial depois das dificuldades da Espanha para se recuperar de uma devastadora crise econômica na década de 2010.

Após a crise, um movimento em defesa da eficiência chamado Comissão Nacional para a Racionalização dos Cronogramas Espanhóis ganhou força. O grupo defendia que o país seria mais produtivo se eliminasse a sesta, o que deixaria seus horários de trabalho mais alinhados com os do resto da Europa. Em 2016, assim, o então primeiro-ministro Mariano Rajoy tentou reduzir o tempo autorizado para a sesta.

Agora que a Europa central e do norte enfrentam as mesmas temperaturas extremas que atingem a Espanha há anos, no entanto, a prática começou a parecer uma boa ideia. “As pessoas não são tão eficientes debaixo de sol forte quanto seriam normalmente”, disse Niessen, representante dos médicos alemães.

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Nos últimos anos, sindicatos de trabalhadores na Alemanha e de outros países do norte da Europa também têm reivindicado que o exemplo espanhol seja seguido.

Anja Piel, uma das líderes de um sindicato que representa 6 milhões de trabalhadores alemães, afirmou à imprensa alemã esta semana que, quando a temperatura passa dos 35°C, as empresas deveriam fechar os escritórios. “Os empregadores precisam reduzir a pressão sobre os funcionários”, disse

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Vários estudos científicos, incluindo um do renomado MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, constataram que tirar uma soneca beneficia a produtividade. O benefício da sesta para a saúde humana também já foi reconhecido.

Pesquisadores da University College of London demonstraram, em estudo publicado no mês passado, que a prática também pode trazer vantagens para a saúde do cérebro ao longo da vida. “A diferença média de volume cerebral entre aqueles acostumados à sesta e os que não o são equivale a de 2,6 a 6,5 anos de envelhecimento”, diz a pesquisa.

THE NEW YORK TIMES - Uma década atrás, uma crise financeira pareceu ameaçar seriamente a sagrada “siesta”, ou sesta, dos espanhóis. Críticos de toda a Europa afirmavam que o desaquecimento da economia do país era, em parte, decorrente do longo descanso tirado pelos trabalhadores à tarde. Com medo de ser estigmatizada como um país sonolento e ocioso, a Espanha prometeu abolir a soneca para elevar sua produtividade.

A sesta, porém, persistiu. E agora, com as ondas de calor cada vez mais frequentes e longas na Europa, outros países começam a enxergar as vantagens do costume —a começar pela Alemanha, onde a ética de trabalho incansável é valorizada a ponto de às vezes virar alvo de zombaria.

Os jornais germânicos foram alguns dos que ridicularizaram o hábito espanhol durante a crise econômica espanhola. Neste verão, porém, autoridades e especialistas em trabalho no país começaram a defender os benefícios de um descanso no meio do dia.

Homem tira uma "siesta" em um parque em Toledo, Espanha. A prática é sagrada na Espanha e foi alvo de chacota de outros países por ser considerada preguiçosa, mas está sendo adotada por países como a Alemanha  Foto: Samuel Aranda/ NYT

“Tirar uma sesta no calor não é má sugestão”, afirmou recentemente o ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach. Ele comentava uma recomendação das autoridades de saúde divulgada no início do mês para que a população seguisse o exemplo da Espanha, onde as ruas ficam vazias das 14h às 16h e, em muitas cidades, as lojas ainda fecham as portas no período.

A temperatura na Alemanha ficou em torno de 32°C nesta semana. O calor tem levado as pessoas a repensar seu modo de vida e a olhar para outros países como exemplos de como se adaptar às altas temperaturas.

“Devemos seguir as práticas de trabalho dos países do sul durante o calor”, disse Johannes Niessen, presidente da principal associação nacional de médicos do país, em entrevista ao site RND esta semana. “Levantar cedo, trabalhar produtivamente de manhã e fazer uma sesta ao meio-dia é um conceito que deveríamos adotar nos meses do verão.”

Origem

Há explicações diversas sobre as origens da célebre sesta espanhola. Alguns dizem que a prática se originou nas regiões rurais do país, onde os agricultores descansavam nas horas mais quentes do dia e retornavam aos campos quando o clima estava mais fresco. Outra explicação é que o dia interrompido teria emergido no pós-Guerra Civil espanhola, quando muitas pessoas tinham dois empregos, um no turno da manhã e outro iniciado no final da tarde.

Fato é que a sesta é um elemento tradicional do cotidiano espanhol há décadas. Hoje, a prática é menos comum nas grandes cidades —ainda que, numa tarde recente em Granada, no sul do país, muitas das lojas estivessem fechadas e os moradores, em casa, enquanto as ruas de paralelepípedos ardiam sob um calor de mais de 32°C.

Em 2015, por exemplo, o prefeito de uma cidadezinha próxima à Valência divulgou um decreto em que pedia silêncio durante o período da sesta para garantir o repouso de todos e a população, assim, enfrentar “melhor os rigores do verão”.

Cavalos descansam sob uma árvore em Wehrheim, perto de Frankfurt, Alemanha, em 16 de julho de 2023. Os alemães devem imitar o costume da Espanha de praticar uma "siesta" durante ondas frequentes de calor, aponta uma associação de autoridades de saúde pública Foto: Michael Probst / AP

Mas a tradição —que permite aos espanhóis descansar, dormir, recarregar as baterias e, é claro, almoçar— também tem sido alvo de comentários irônicos e críticas, em especial depois das dificuldades da Espanha para se recuperar de uma devastadora crise econômica na década de 2010.

Após a crise, um movimento em defesa da eficiência chamado Comissão Nacional para a Racionalização dos Cronogramas Espanhóis ganhou força. O grupo defendia que o país seria mais produtivo se eliminasse a sesta, o que deixaria seus horários de trabalho mais alinhados com os do resto da Europa. Em 2016, assim, o então primeiro-ministro Mariano Rajoy tentou reduzir o tempo autorizado para a sesta.

Agora que a Europa central e do norte enfrentam as mesmas temperaturas extremas que atingem a Espanha há anos, no entanto, a prática começou a parecer uma boa ideia. “As pessoas não são tão eficientes debaixo de sol forte quanto seriam normalmente”, disse Niessen, representante dos médicos alemães.

Nos últimos anos, sindicatos de trabalhadores na Alemanha e de outros países do norte da Europa também têm reivindicado que o exemplo espanhol seja seguido.

Anja Piel, uma das líderes de um sindicato que representa 6 milhões de trabalhadores alemães, afirmou à imprensa alemã esta semana que, quando a temperatura passa dos 35°C, as empresas deveriam fechar os escritórios. “Os empregadores precisam reduzir a pressão sobre os funcionários”, disse

Vários estudos científicos, incluindo um do renomado MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, constataram que tirar uma soneca beneficia a produtividade. O benefício da sesta para a saúde humana também já foi reconhecido.

Pesquisadores da University College of London demonstraram, em estudo publicado no mês passado, que a prática também pode trazer vantagens para a saúde do cérebro ao longo da vida. “A diferença média de volume cerebral entre aqueles acostumados à sesta e os que não o são equivale a de 2,6 a 6,5 anos de envelhecimento”, diz a pesquisa.

THE NEW YORK TIMES - Uma década atrás, uma crise financeira pareceu ameaçar seriamente a sagrada “siesta”, ou sesta, dos espanhóis. Críticos de toda a Europa afirmavam que o desaquecimento da economia do país era, em parte, decorrente do longo descanso tirado pelos trabalhadores à tarde. Com medo de ser estigmatizada como um país sonolento e ocioso, a Espanha prometeu abolir a soneca para elevar sua produtividade.

A sesta, porém, persistiu. E agora, com as ondas de calor cada vez mais frequentes e longas na Europa, outros países começam a enxergar as vantagens do costume —a começar pela Alemanha, onde a ética de trabalho incansável é valorizada a ponto de às vezes virar alvo de zombaria.

Os jornais germânicos foram alguns dos que ridicularizaram o hábito espanhol durante a crise econômica espanhola. Neste verão, porém, autoridades e especialistas em trabalho no país começaram a defender os benefícios de um descanso no meio do dia.

Homem tira uma "siesta" em um parque em Toledo, Espanha. A prática é sagrada na Espanha e foi alvo de chacota de outros países por ser considerada preguiçosa, mas está sendo adotada por países como a Alemanha  Foto: Samuel Aranda/ NYT

“Tirar uma sesta no calor não é má sugestão”, afirmou recentemente o ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach. Ele comentava uma recomendação das autoridades de saúde divulgada no início do mês para que a população seguisse o exemplo da Espanha, onde as ruas ficam vazias das 14h às 16h e, em muitas cidades, as lojas ainda fecham as portas no período.

A temperatura na Alemanha ficou em torno de 32°C nesta semana. O calor tem levado as pessoas a repensar seu modo de vida e a olhar para outros países como exemplos de como se adaptar às altas temperaturas.

“Devemos seguir as práticas de trabalho dos países do sul durante o calor”, disse Johannes Niessen, presidente da principal associação nacional de médicos do país, em entrevista ao site RND esta semana. “Levantar cedo, trabalhar produtivamente de manhã e fazer uma sesta ao meio-dia é um conceito que deveríamos adotar nos meses do verão.”

Origem

Há explicações diversas sobre as origens da célebre sesta espanhola. Alguns dizem que a prática se originou nas regiões rurais do país, onde os agricultores descansavam nas horas mais quentes do dia e retornavam aos campos quando o clima estava mais fresco. Outra explicação é que o dia interrompido teria emergido no pós-Guerra Civil espanhola, quando muitas pessoas tinham dois empregos, um no turno da manhã e outro iniciado no final da tarde.

Fato é que a sesta é um elemento tradicional do cotidiano espanhol há décadas. Hoje, a prática é menos comum nas grandes cidades —ainda que, numa tarde recente em Granada, no sul do país, muitas das lojas estivessem fechadas e os moradores, em casa, enquanto as ruas de paralelepípedos ardiam sob um calor de mais de 32°C.

Em 2015, por exemplo, o prefeito de uma cidadezinha próxima à Valência divulgou um decreto em que pedia silêncio durante o período da sesta para garantir o repouso de todos e a população, assim, enfrentar “melhor os rigores do verão”.

Cavalos descansam sob uma árvore em Wehrheim, perto de Frankfurt, Alemanha, em 16 de julho de 2023. Os alemães devem imitar o costume da Espanha de praticar uma "siesta" durante ondas frequentes de calor, aponta uma associação de autoridades de saúde pública Foto: Michael Probst / AP

Mas a tradição —que permite aos espanhóis descansar, dormir, recarregar as baterias e, é claro, almoçar— também tem sido alvo de comentários irônicos e críticas, em especial depois das dificuldades da Espanha para se recuperar de uma devastadora crise econômica na década de 2010.

Após a crise, um movimento em defesa da eficiência chamado Comissão Nacional para a Racionalização dos Cronogramas Espanhóis ganhou força. O grupo defendia que o país seria mais produtivo se eliminasse a sesta, o que deixaria seus horários de trabalho mais alinhados com os do resto da Europa. Em 2016, assim, o então primeiro-ministro Mariano Rajoy tentou reduzir o tempo autorizado para a sesta.

Agora que a Europa central e do norte enfrentam as mesmas temperaturas extremas que atingem a Espanha há anos, no entanto, a prática começou a parecer uma boa ideia. “As pessoas não são tão eficientes debaixo de sol forte quanto seriam normalmente”, disse Niessen, representante dos médicos alemães.

Nos últimos anos, sindicatos de trabalhadores na Alemanha e de outros países do norte da Europa também têm reivindicado que o exemplo espanhol seja seguido.

Anja Piel, uma das líderes de um sindicato que representa 6 milhões de trabalhadores alemães, afirmou à imprensa alemã esta semana que, quando a temperatura passa dos 35°C, as empresas deveriam fechar os escritórios. “Os empregadores precisam reduzir a pressão sobre os funcionários”, disse

Vários estudos científicos, incluindo um do renomado MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, constataram que tirar uma soneca beneficia a produtividade. O benefício da sesta para a saúde humana também já foi reconhecido.

Pesquisadores da University College of London demonstraram, em estudo publicado no mês passado, que a prática também pode trazer vantagens para a saúde do cérebro ao longo da vida. “A diferença média de volume cerebral entre aqueles acostumados à sesta e os que não o são equivale a de 2,6 a 6,5 anos de envelhecimento”, diz a pesquisa.

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