Campanha de Kamala Harris ganha força, sobe nas pesquisas e torna a disputa competitiva


Mais eleitores se sentem motivados a votar depois da saída de Joe Biden da corrida, e pela primeira vez este ano a candidatura democrata ultrapassa Donald Trump nas pesquisas

Por Carolina Marins

Desde que assumiu o lugar de Joe Biden como candidata pelo partido Democrata às eleições dos Estados Unidos, Kamala Harris tem conseguido diminuir a distância com Donald Trump em todas as principais pesquisas de intenção de votos. Se antes o cenário era de uma vitória quase certa de Trump sobre Biden, agora o resultado é cada vez mais incerto e há sondagens que indicam vantagens da democrata que, por enquanto, vive uma “lua de mel” com seus potenciais eleitores.

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Em mais de um agregador de pesquisas, Kamala assumiu a liderança nas intenções de votos, ainda que esteja dentro da margem de erro. Uma posição que Biden nunca teve sobre o republicano. Esse fôlego é muito em razão de um entusiasmo que sua candidatura trouxe a eleitores democratas que não se sentiam engajados o suficiente para votar em Biden. A questão é o se este entusiasmo dura até novembro e se ele vai se traduzir em participação eleitoral.

Apesar de a eleição americana nem sempre ser decidida no voto popular, mas sim no colégio eleitoral, onde vitórias em determinados Estados definem o vencedor, as pesquisas nacionais costumam indicar tendências.

Segundo o site Real Clear Polling, que reúne e tira a média de dez pesquisadoras americanas, Kamala tem hoje 47% contra 46,8% de Trump, uma vantagem de 0,2% percentuais. Até então, apenas Trump despontava na frente, chegando a marcar 3,3 pontos a mais que Biden em 5 de julho, dias depois do debate que enterrou as chances do democrata.

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E outro agregador, o site Thirty Five Eight, Kamala aparece com 45,1% contra 43,4% de Trump, uma vantagem de 1,7 pontos percentuais.

“Já estava claro nas pesquisas que havia uma parcela significativa do eleitorado que era double haters, que não estava satisfeito com nenhum dos dois candidatos”, explica o professor associado do Berea College do Kentucky, Carlos Gustavo Poggio.

“Havia uma diferença muito grande de entusiasmo entre a campanha republicana e a campanha democrata. Os democratas não estavam entusiasmados com o Joe Biden, isso mudou com a substituição pela Kamala Harris. As pesquisas indicam que agora as democratas estão ainda mais entusiasmados que os republicanos estão com o Donald Trump, então isso mexeu bastante com a base”, continua.

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Virada no colégio eleitoral é possível?

Nos Estados-pêndulo, Kamala também dá indícios de reversão de tendência.

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Segundo levantamento da Bloomberg News/Morning Consult publicado em 30 de julho, sobre a média dos principais Estados decisivos, Kamala aparece com 48% contra 47% de Trump. No Arizona a democrata tem 49% contra 47% do republicano. No Michigan ela lidera com 53% contra 42% de Trump. A democrata também aparece à frente em Nevada e Wisconsin.

Já Trump lidera na Pensilvânia com 50% contra 46% de Kamala, e na Carolina do Norte com 48% contra 46% da democrata. Com isso, novamente o Estado-chave para as eleições deste ano pode ser a Geórgia, onde ambos aparecem empatados com 50%. Em 2020, a Geórgia selou a vitória de Biden contra o republicano.

Ainda que esteja mostrando tendência de mudanças, a campanha democrata terá de trabalhar mais para reverter o cenário favorável de Trump no colégio eleitoral. De acordo com o site 270 to win, que faz previsões de votos de delegados, o republicano ainda tem vantagem com 219 delegados dos 270 que necessita para vencer. Kamala tem 208.

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A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu vice, o governador Tim Walz Foto: Joe Lamberti/AP

“O cenário que vemos é um muito parecido com 2016, em que a Kamala ganharia no voto popular, como a Hillary ganhou, mas por conta do colégio eleitoral haveria possibilidade de o Trump vencer, então é realmente uma eleição muito empatada e vai decidir muito na mobilização, quem que vai realmente votar”, afirma a professora de política internacional da Unifesp, Cristina Pecequillo.

Entusiasmo

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Antes mesmo de se tornar oficialmente a substituta de Joe Biden, Kamala já havia caído no gosto dos jovens nas redes sociais. Já nos primeiros dias, a cantora Charli XCX afirmou que “Kamala é ‘brat’”. O termo é uma referência ao nome do álbum da cantora americana, que viralizou nas redes no início de junho, e significa uma pessoa “rebelde”.

Imediatamente a equipe de Kamala adotou o termo e passou a utilizar o “verde brat” nas redes sociais da democrata. Vídeos com montagens de Kamala dançando pipocaram no TikTok e a então possível candidata ganhou apoio de nomes de peso da cultura pop, como Ariana Grande, Cardi B, John Legend e Beyoncé, que chegou a autorizar o uso de sua música na campanha da democrata.

Trump por outro lado ganhou dos democratas o epíteto de “creepy” ou “weirdo”, que significa estranho e bizarro em inglês. O termo foi adotado pelo agora candidato a vice-presidente de Kamala, o governador Tim Walz, e viralizou nas redes, causando preocupação na campanha republicana.

“A Kamala é a primeira candidata em muitos anos que estimula o eleitor mais jovem. Imagina aquele eleitor mais jovem teve nos últimos anos Hillary Clinton e Joe Biden, e isso só falando dos últimos oito anos. O eleitor que tem 18 hoje finalmente tem alguém que ele pode fazer um meme, os demais candidatos não inspiravam isso”, afirma Poggio.

Segundo os analistas, nessas um pouco mais de duas semanas em que Biden desistiu da candidatura, Kamala ainda não cometeu erros na campanha, o que ajuda na maré de sorte da candidata. Ela ainda não deu entrevistas na imprensa e não se viu, ainda, confrontada em seus temas mais sensíveis: migração e comunidade negra.

“Primeiro que houve um alívio muito grande com a saída do Joe Biden dentro do partido democrata, e segundo que não cometeu nenhum erro na campanha até agora, e tem esse fator da lua de mel que ela ainda está vivendo com o eleitorado. Mas ainda estamos esperando se ela vai cometer algum erro na campanha”, continua Poggio.

A vice-presidente dos EUA e candidata a presidente pelo partido Democrata, Kamala Harris Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

Incentivar a participação

O desafio vai ser conseguir manter esse entusiasmo até 5 de novembro e, principalmente, incentivar que o eleitor que se sente engajado agora vá de fato votar. Ao percorrer o país fazendo entrevistas com potenciais candidatas, jornais americanos como The New York Times e The Washington Post identificaram que mulheres e negros estavam mais animados com as eleições agora com Kamala.

Mas essa constatação empírica ainda não se refletiu nas pesquisas e os próprios eleitores falam que têm preocupação com o passado da democrata.

O que de fato as pesquisas identificaram foi um interesse maior do eleitorado geral, mas especialmente do democrata, em ir votar no dia 5. Segundo uma sondagem da YouGov divulgada pela CBS News, 85% dos democratas dizem que “definitivamente vão votar” contra 81% em 18 de julho, antes da desistência de Biden. Já entre os republicamos, 88% dizem que vão votar, contra 90% de julho.

“Isso é justamente a novidade da candidatura, uma energização da base democrata e a possibilidade de que ela esteja trazendo de volta para a eleição alguns grupos que estavam muito descrentes da candidatura de Biden, principalmente uma faixa mais jovem de americanos que vivem na periferia”, explica a professora Cristina Pecequillo.

Entre o eleitorado negro, apenas 58% estavam determinados a votar em 18 de julho. Agora esse percentual subiu para 74%. Esses números por si só não indicam mais votos para Kamala, mas historicamente o voto negro e das mulheres tem favorecido democratas, então entusiasmá-los para votar pode ser boa notícia para ela. Nas últimas eleições, a participação eleitoral tem sido um player importante para os democratas.

“O quanto isso é sustentável? Aí eu acho que a gente só vai conseguir medir depois da convenção democrata”, continua a professora. “Até o início de setembro ela deve manter uma tendência que é ou empatar em algumas pesquisas ou passar, porque aí você tem todo o ritual da campanha. A convenção vai ser o momento em que o partido democrata vai demonstrar a união e vai apostar no ‘nós contra eles’. Mas até o início de setembro eu acho que a coisa vai estar mais favorável a ela”.

“O grande problema da Kamala é se ela perder o eleitor mais velho que é o eleitor que de fato vota, mas as pesquisas que saíram agora tem comprovado que ela tem conseguido manter esse eleitorado mais velho” observa Carlos Gustavo Poggio.

A escolha do vice foi interpretada como uma sinalização a esse eleitorado que tendia a fugir da democrata. Apesar de ser da ala progressista do partido Democrata, Tim Walz é um veterano da Guarda Nacional e proprietário de armas que anteriormente representava um condado rural e conservador. O governador foi quem viralizou ao chamar Trump e seu companheiro de chapa, J.D. Vance de “creepy”. Por outro lado, ele já era governador de Mineapolis durante os protestos após a morte de George Floyd.

Kamala Harris e Tim Walz durante comício na Filadélfia  Foto: Matt Rourke/AP

Os tetos de vidro

Os riscos para Kamala é quando ela começar finalmente a se expor ao público e à imprensa. Os analistas ressaltam que é um erro assumir que ela teria o voto das mulheres e dos negros automaticamente por ser uma mulher negra, especialmente quando este eleitorado acredita que ela poderia ter feito mais por eles quando era promotora e procuradora-geral.

“Ela como procuradora tem toda uma história de encarceramento de jovens negros, além de ser vista como muito elitista para alguns grupos”, afirma Pecequillo. “A questão não é se esses grupos votariam ou não no Trump, eles não vão votar no Trump, a questão é se esses grupos no dia da eleição irão ou não votar”.

Isso também vai depender de como a campanha de Trump vai reagir à democrata a partir de agora. “Quanto mais agressivo Trump for, mais ele afasta um eleitorado feminino que também é decisivo, mesmo que a mulher não goste da Kamala, então isso ele vai ter que administrar”, continua a professora.

Outro momento crucial será quando ela começar a ser confrontada sobre sua política de migração durante a vice-presidência. Depois do enorme fluxo de migrantes na fronteira nos últimos anos, o assunto virou o grande tema dessas eleições e um dos motores da campanha de Trump.

Com Biden, em 2020, o discurso era de ser mais humanista com o tema - visto na verdade como muito liberal para os republicanos. Já Kamala não conseguirá muito ir por esse caminho depois de dizer aos imigrantes, no início do mandato, “não venham”.

“Ela vai ter que ir para a esquerda, falando em esquerda no espectro americano, mas ao mesmo tempo ela vai ter que dar uma sinalizada de que não é essa progressista extrema que os republicanos estão colocando” afirma a professora da Unifesp.

Vale lembrar que, apesar da mudança de tendência agora, Kamala era vista como mais impopular que Biden durante quase toda a presidência.

“Ela é muito mal vista principalmente entre republicanos, se você ver a convenção republicana o pessoal vaiava ela mais do que vaiava o Joe Biden”, observa Poggio. “Mas a questão é se ela vai ser capaz de conquistar a independência e ativar a base democrata”.

Desde que assumiu o lugar de Joe Biden como candidata pelo partido Democrata às eleições dos Estados Unidos, Kamala Harris tem conseguido diminuir a distância com Donald Trump em todas as principais pesquisas de intenção de votos. Se antes o cenário era de uma vitória quase certa de Trump sobre Biden, agora o resultado é cada vez mais incerto e há sondagens que indicam vantagens da democrata que, por enquanto, vive uma “lua de mel” com seus potenciais eleitores.

Em mais de um agregador de pesquisas, Kamala assumiu a liderança nas intenções de votos, ainda que esteja dentro da margem de erro. Uma posição que Biden nunca teve sobre o republicano. Esse fôlego é muito em razão de um entusiasmo que sua candidatura trouxe a eleitores democratas que não se sentiam engajados o suficiente para votar em Biden. A questão é o se este entusiasmo dura até novembro e se ele vai se traduzir em participação eleitoral.

Apesar de a eleição americana nem sempre ser decidida no voto popular, mas sim no colégio eleitoral, onde vitórias em determinados Estados definem o vencedor, as pesquisas nacionais costumam indicar tendências.

Segundo o site Real Clear Polling, que reúne e tira a média de dez pesquisadoras americanas, Kamala tem hoje 47% contra 46,8% de Trump, uma vantagem de 0,2% percentuais. Até então, apenas Trump despontava na frente, chegando a marcar 3,3 pontos a mais que Biden em 5 de julho, dias depois do debate que enterrou as chances do democrata.

E outro agregador, o site Thirty Five Eight, Kamala aparece com 45,1% contra 43,4% de Trump, uma vantagem de 1,7 pontos percentuais.

“Já estava claro nas pesquisas que havia uma parcela significativa do eleitorado que era double haters, que não estava satisfeito com nenhum dos dois candidatos”, explica o professor associado do Berea College do Kentucky, Carlos Gustavo Poggio.

“Havia uma diferença muito grande de entusiasmo entre a campanha republicana e a campanha democrata. Os democratas não estavam entusiasmados com o Joe Biden, isso mudou com a substituição pela Kamala Harris. As pesquisas indicam que agora as democratas estão ainda mais entusiasmados que os republicanos estão com o Donald Trump, então isso mexeu bastante com a base”, continua.

Virada no colégio eleitoral é possível?

Nos Estados-pêndulo, Kamala também dá indícios de reversão de tendência.

Segundo levantamento da Bloomberg News/Morning Consult publicado em 30 de julho, sobre a média dos principais Estados decisivos, Kamala aparece com 48% contra 47% de Trump. No Arizona a democrata tem 49% contra 47% do republicano. No Michigan ela lidera com 53% contra 42% de Trump. A democrata também aparece à frente em Nevada e Wisconsin.

Já Trump lidera na Pensilvânia com 50% contra 46% de Kamala, e na Carolina do Norte com 48% contra 46% da democrata. Com isso, novamente o Estado-chave para as eleições deste ano pode ser a Geórgia, onde ambos aparecem empatados com 50%. Em 2020, a Geórgia selou a vitória de Biden contra o republicano.

Ainda que esteja mostrando tendência de mudanças, a campanha democrata terá de trabalhar mais para reverter o cenário favorável de Trump no colégio eleitoral. De acordo com o site 270 to win, que faz previsões de votos de delegados, o republicano ainda tem vantagem com 219 delegados dos 270 que necessita para vencer. Kamala tem 208.

A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu vice, o governador Tim Walz Foto: Joe Lamberti/AP

“O cenário que vemos é um muito parecido com 2016, em que a Kamala ganharia no voto popular, como a Hillary ganhou, mas por conta do colégio eleitoral haveria possibilidade de o Trump vencer, então é realmente uma eleição muito empatada e vai decidir muito na mobilização, quem que vai realmente votar”, afirma a professora de política internacional da Unifesp, Cristina Pecequillo.

Entusiasmo

Antes mesmo de se tornar oficialmente a substituta de Joe Biden, Kamala já havia caído no gosto dos jovens nas redes sociais. Já nos primeiros dias, a cantora Charli XCX afirmou que “Kamala é ‘brat’”. O termo é uma referência ao nome do álbum da cantora americana, que viralizou nas redes no início de junho, e significa uma pessoa “rebelde”.

Imediatamente a equipe de Kamala adotou o termo e passou a utilizar o “verde brat” nas redes sociais da democrata. Vídeos com montagens de Kamala dançando pipocaram no TikTok e a então possível candidata ganhou apoio de nomes de peso da cultura pop, como Ariana Grande, Cardi B, John Legend e Beyoncé, que chegou a autorizar o uso de sua música na campanha da democrata.

Trump por outro lado ganhou dos democratas o epíteto de “creepy” ou “weirdo”, que significa estranho e bizarro em inglês. O termo foi adotado pelo agora candidato a vice-presidente de Kamala, o governador Tim Walz, e viralizou nas redes, causando preocupação na campanha republicana.

“A Kamala é a primeira candidata em muitos anos que estimula o eleitor mais jovem. Imagina aquele eleitor mais jovem teve nos últimos anos Hillary Clinton e Joe Biden, e isso só falando dos últimos oito anos. O eleitor que tem 18 hoje finalmente tem alguém que ele pode fazer um meme, os demais candidatos não inspiravam isso”, afirma Poggio.

Segundo os analistas, nessas um pouco mais de duas semanas em que Biden desistiu da candidatura, Kamala ainda não cometeu erros na campanha, o que ajuda na maré de sorte da candidata. Ela ainda não deu entrevistas na imprensa e não se viu, ainda, confrontada em seus temas mais sensíveis: migração e comunidade negra.

“Primeiro que houve um alívio muito grande com a saída do Joe Biden dentro do partido democrata, e segundo que não cometeu nenhum erro na campanha até agora, e tem esse fator da lua de mel que ela ainda está vivendo com o eleitorado. Mas ainda estamos esperando se ela vai cometer algum erro na campanha”, continua Poggio.

A vice-presidente dos EUA e candidata a presidente pelo partido Democrata, Kamala Harris Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

Incentivar a participação

O desafio vai ser conseguir manter esse entusiasmo até 5 de novembro e, principalmente, incentivar que o eleitor que se sente engajado agora vá de fato votar. Ao percorrer o país fazendo entrevistas com potenciais candidatas, jornais americanos como The New York Times e The Washington Post identificaram que mulheres e negros estavam mais animados com as eleições agora com Kamala.

Mas essa constatação empírica ainda não se refletiu nas pesquisas e os próprios eleitores falam que têm preocupação com o passado da democrata.

O que de fato as pesquisas identificaram foi um interesse maior do eleitorado geral, mas especialmente do democrata, em ir votar no dia 5. Segundo uma sondagem da YouGov divulgada pela CBS News, 85% dos democratas dizem que “definitivamente vão votar” contra 81% em 18 de julho, antes da desistência de Biden. Já entre os republicamos, 88% dizem que vão votar, contra 90% de julho.

“Isso é justamente a novidade da candidatura, uma energização da base democrata e a possibilidade de que ela esteja trazendo de volta para a eleição alguns grupos que estavam muito descrentes da candidatura de Biden, principalmente uma faixa mais jovem de americanos que vivem na periferia”, explica a professora Cristina Pecequillo.

Entre o eleitorado negro, apenas 58% estavam determinados a votar em 18 de julho. Agora esse percentual subiu para 74%. Esses números por si só não indicam mais votos para Kamala, mas historicamente o voto negro e das mulheres tem favorecido democratas, então entusiasmá-los para votar pode ser boa notícia para ela. Nas últimas eleições, a participação eleitoral tem sido um player importante para os democratas.

“O quanto isso é sustentável? Aí eu acho que a gente só vai conseguir medir depois da convenção democrata”, continua a professora. “Até o início de setembro ela deve manter uma tendência que é ou empatar em algumas pesquisas ou passar, porque aí você tem todo o ritual da campanha. A convenção vai ser o momento em que o partido democrata vai demonstrar a união e vai apostar no ‘nós contra eles’. Mas até o início de setembro eu acho que a coisa vai estar mais favorável a ela”.

“O grande problema da Kamala é se ela perder o eleitor mais velho que é o eleitor que de fato vota, mas as pesquisas que saíram agora tem comprovado que ela tem conseguido manter esse eleitorado mais velho” observa Carlos Gustavo Poggio.

A escolha do vice foi interpretada como uma sinalização a esse eleitorado que tendia a fugir da democrata. Apesar de ser da ala progressista do partido Democrata, Tim Walz é um veterano da Guarda Nacional e proprietário de armas que anteriormente representava um condado rural e conservador. O governador foi quem viralizou ao chamar Trump e seu companheiro de chapa, J.D. Vance de “creepy”. Por outro lado, ele já era governador de Mineapolis durante os protestos após a morte de George Floyd.

Kamala Harris e Tim Walz durante comício na Filadélfia  Foto: Matt Rourke/AP

Os tetos de vidro

Os riscos para Kamala é quando ela começar finalmente a se expor ao público e à imprensa. Os analistas ressaltam que é um erro assumir que ela teria o voto das mulheres e dos negros automaticamente por ser uma mulher negra, especialmente quando este eleitorado acredita que ela poderia ter feito mais por eles quando era promotora e procuradora-geral.

“Ela como procuradora tem toda uma história de encarceramento de jovens negros, além de ser vista como muito elitista para alguns grupos”, afirma Pecequillo. “A questão não é se esses grupos votariam ou não no Trump, eles não vão votar no Trump, a questão é se esses grupos no dia da eleição irão ou não votar”.

Isso também vai depender de como a campanha de Trump vai reagir à democrata a partir de agora. “Quanto mais agressivo Trump for, mais ele afasta um eleitorado feminino que também é decisivo, mesmo que a mulher não goste da Kamala, então isso ele vai ter que administrar”, continua a professora.

Outro momento crucial será quando ela começar a ser confrontada sobre sua política de migração durante a vice-presidência. Depois do enorme fluxo de migrantes na fronteira nos últimos anos, o assunto virou o grande tema dessas eleições e um dos motores da campanha de Trump.

Com Biden, em 2020, o discurso era de ser mais humanista com o tema - visto na verdade como muito liberal para os republicanos. Já Kamala não conseguirá muito ir por esse caminho depois de dizer aos imigrantes, no início do mandato, “não venham”.

“Ela vai ter que ir para a esquerda, falando em esquerda no espectro americano, mas ao mesmo tempo ela vai ter que dar uma sinalizada de que não é essa progressista extrema que os republicanos estão colocando” afirma a professora da Unifesp.

Vale lembrar que, apesar da mudança de tendência agora, Kamala era vista como mais impopular que Biden durante quase toda a presidência.

“Ela é muito mal vista principalmente entre republicanos, se você ver a convenção republicana o pessoal vaiava ela mais do que vaiava o Joe Biden”, observa Poggio. “Mas a questão é se ela vai ser capaz de conquistar a independência e ativar a base democrata”.

Desde que assumiu o lugar de Joe Biden como candidata pelo partido Democrata às eleições dos Estados Unidos, Kamala Harris tem conseguido diminuir a distância com Donald Trump em todas as principais pesquisas de intenção de votos. Se antes o cenário era de uma vitória quase certa de Trump sobre Biden, agora o resultado é cada vez mais incerto e há sondagens que indicam vantagens da democrata que, por enquanto, vive uma “lua de mel” com seus potenciais eleitores.

Em mais de um agregador de pesquisas, Kamala assumiu a liderança nas intenções de votos, ainda que esteja dentro da margem de erro. Uma posição que Biden nunca teve sobre o republicano. Esse fôlego é muito em razão de um entusiasmo que sua candidatura trouxe a eleitores democratas que não se sentiam engajados o suficiente para votar em Biden. A questão é o se este entusiasmo dura até novembro e se ele vai se traduzir em participação eleitoral.

Apesar de a eleição americana nem sempre ser decidida no voto popular, mas sim no colégio eleitoral, onde vitórias em determinados Estados definem o vencedor, as pesquisas nacionais costumam indicar tendências.

Segundo o site Real Clear Polling, que reúne e tira a média de dez pesquisadoras americanas, Kamala tem hoje 47% contra 46,8% de Trump, uma vantagem de 0,2% percentuais. Até então, apenas Trump despontava na frente, chegando a marcar 3,3 pontos a mais que Biden em 5 de julho, dias depois do debate que enterrou as chances do democrata.

E outro agregador, o site Thirty Five Eight, Kamala aparece com 45,1% contra 43,4% de Trump, uma vantagem de 1,7 pontos percentuais.

“Já estava claro nas pesquisas que havia uma parcela significativa do eleitorado que era double haters, que não estava satisfeito com nenhum dos dois candidatos”, explica o professor associado do Berea College do Kentucky, Carlos Gustavo Poggio.

“Havia uma diferença muito grande de entusiasmo entre a campanha republicana e a campanha democrata. Os democratas não estavam entusiasmados com o Joe Biden, isso mudou com a substituição pela Kamala Harris. As pesquisas indicam que agora as democratas estão ainda mais entusiasmados que os republicanos estão com o Donald Trump, então isso mexeu bastante com a base”, continua.

Virada no colégio eleitoral é possível?

Nos Estados-pêndulo, Kamala também dá indícios de reversão de tendência.

Segundo levantamento da Bloomberg News/Morning Consult publicado em 30 de julho, sobre a média dos principais Estados decisivos, Kamala aparece com 48% contra 47% de Trump. No Arizona a democrata tem 49% contra 47% do republicano. No Michigan ela lidera com 53% contra 42% de Trump. A democrata também aparece à frente em Nevada e Wisconsin.

Já Trump lidera na Pensilvânia com 50% contra 46% de Kamala, e na Carolina do Norte com 48% contra 46% da democrata. Com isso, novamente o Estado-chave para as eleições deste ano pode ser a Geórgia, onde ambos aparecem empatados com 50%. Em 2020, a Geórgia selou a vitória de Biden contra o republicano.

Ainda que esteja mostrando tendência de mudanças, a campanha democrata terá de trabalhar mais para reverter o cenário favorável de Trump no colégio eleitoral. De acordo com o site 270 to win, que faz previsões de votos de delegados, o republicano ainda tem vantagem com 219 delegados dos 270 que necessita para vencer. Kamala tem 208.

A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu vice, o governador Tim Walz Foto: Joe Lamberti/AP

“O cenário que vemos é um muito parecido com 2016, em que a Kamala ganharia no voto popular, como a Hillary ganhou, mas por conta do colégio eleitoral haveria possibilidade de o Trump vencer, então é realmente uma eleição muito empatada e vai decidir muito na mobilização, quem que vai realmente votar”, afirma a professora de política internacional da Unifesp, Cristina Pecequillo.

Entusiasmo

Antes mesmo de se tornar oficialmente a substituta de Joe Biden, Kamala já havia caído no gosto dos jovens nas redes sociais. Já nos primeiros dias, a cantora Charli XCX afirmou que “Kamala é ‘brat’”. O termo é uma referência ao nome do álbum da cantora americana, que viralizou nas redes no início de junho, e significa uma pessoa “rebelde”.

Imediatamente a equipe de Kamala adotou o termo e passou a utilizar o “verde brat” nas redes sociais da democrata. Vídeos com montagens de Kamala dançando pipocaram no TikTok e a então possível candidata ganhou apoio de nomes de peso da cultura pop, como Ariana Grande, Cardi B, John Legend e Beyoncé, que chegou a autorizar o uso de sua música na campanha da democrata.

Trump por outro lado ganhou dos democratas o epíteto de “creepy” ou “weirdo”, que significa estranho e bizarro em inglês. O termo foi adotado pelo agora candidato a vice-presidente de Kamala, o governador Tim Walz, e viralizou nas redes, causando preocupação na campanha republicana.

“A Kamala é a primeira candidata em muitos anos que estimula o eleitor mais jovem. Imagina aquele eleitor mais jovem teve nos últimos anos Hillary Clinton e Joe Biden, e isso só falando dos últimos oito anos. O eleitor que tem 18 hoje finalmente tem alguém que ele pode fazer um meme, os demais candidatos não inspiravam isso”, afirma Poggio.

Segundo os analistas, nessas um pouco mais de duas semanas em que Biden desistiu da candidatura, Kamala ainda não cometeu erros na campanha, o que ajuda na maré de sorte da candidata. Ela ainda não deu entrevistas na imprensa e não se viu, ainda, confrontada em seus temas mais sensíveis: migração e comunidade negra.

“Primeiro que houve um alívio muito grande com a saída do Joe Biden dentro do partido democrata, e segundo que não cometeu nenhum erro na campanha até agora, e tem esse fator da lua de mel que ela ainda está vivendo com o eleitorado. Mas ainda estamos esperando se ela vai cometer algum erro na campanha”, continua Poggio.

A vice-presidente dos EUA e candidata a presidente pelo partido Democrata, Kamala Harris Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

Incentivar a participação

O desafio vai ser conseguir manter esse entusiasmo até 5 de novembro e, principalmente, incentivar que o eleitor que se sente engajado agora vá de fato votar. Ao percorrer o país fazendo entrevistas com potenciais candidatas, jornais americanos como The New York Times e The Washington Post identificaram que mulheres e negros estavam mais animados com as eleições agora com Kamala.

Mas essa constatação empírica ainda não se refletiu nas pesquisas e os próprios eleitores falam que têm preocupação com o passado da democrata.

O que de fato as pesquisas identificaram foi um interesse maior do eleitorado geral, mas especialmente do democrata, em ir votar no dia 5. Segundo uma sondagem da YouGov divulgada pela CBS News, 85% dos democratas dizem que “definitivamente vão votar” contra 81% em 18 de julho, antes da desistência de Biden. Já entre os republicamos, 88% dizem que vão votar, contra 90% de julho.

“Isso é justamente a novidade da candidatura, uma energização da base democrata e a possibilidade de que ela esteja trazendo de volta para a eleição alguns grupos que estavam muito descrentes da candidatura de Biden, principalmente uma faixa mais jovem de americanos que vivem na periferia”, explica a professora Cristina Pecequillo.

Entre o eleitorado negro, apenas 58% estavam determinados a votar em 18 de julho. Agora esse percentual subiu para 74%. Esses números por si só não indicam mais votos para Kamala, mas historicamente o voto negro e das mulheres tem favorecido democratas, então entusiasmá-los para votar pode ser boa notícia para ela. Nas últimas eleições, a participação eleitoral tem sido um player importante para os democratas.

“O quanto isso é sustentável? Aí eu acho que a gente só vai conseguir medir depois da convenção democrata”, continua a professora. “Até o início de setembro ela deve manter uma tendência que é ou empatar em algumas pesquisas ou passar, porque aí você tem todo o ritual da campanha. A convenção vai ser o momento em que o partido democrata vai demonstrar a união e vai apostar no ‘nós contra eles’. Mas até o início de setembro eu acho que a coisa vai estar mais favorável a ela”.

“O grande problema da Kamala é se ela perder o eleitor mais velho que é o eleitor que de fato vota, mas as pesquisas que saíram agora tem comprovado que ela tem conseguido manter esse eleitorado mais velho” observa Carlos Gustavo Poggio.

A escolha do vice foi interpretada como uma sinalização a esse eleitorado que tendia a fugir da democrata. Apesar de ser da ala progressista do partido Democrata, Tim Walz é um veterano da Guarda Nacional e proprietário de armas que anteriormente representava um condado rural e conservador. O governador foi quem viralizou ao chamar Trump e seu companheiro de chapa, J.D. Vance de “creepy”. Por outro lado, ele já era governador de Mineapolis durante os protestos após a morte de George Floyd.

Kamala Harris e Tim Walz durante comício na Filadélfia  Foto: Matt Rourke/AP

Os tetos de vidro

Os riscos para Kamala é quando ela começar finalmente a se expor ao público e à imprensa. Os analistas ressaltam que é um erro assumir que ela teria o voto das mulheres e dos negros automaticamente por ser uma mulher negra, especialmente quando este eleitorado acredita que ela poderia ter feito mais por eles quando era promotora e procuradora-geral.

“Ela como procuradora tem toda uma história de encarceramento de jovens negros, além de ser vista como muito elitista para alguns grupos”, afirma Pecequillo. “A questão não é se esses grupos votariam ou não no Trump, eles não vão votar no Trump, a questão é se esses grupos no dia da eleição irão ou não votar”.

Isso também vai depender de como a campanha de Trump vai reagir à democrata a partir de agora. “Quanto mais agressivo Trump for, mais ele afasta um eleitorado feminino que também é decisivo, mesmo que a mulher não goste da Kamala, então isso ele vai ter que administrar”, continua a professora.

Outro momento crucial será quando ela começar a ser confrontada sobre sua política de migração durante a vice-presidência. Depois do enorme fluxo de migrantes na fronteira nos últimos anos, o assunto virou o grande tema dessas eleições e um dos motores da campanha de Trump.

Com Biden, em 2020, o discurso era de ser mais humanista com o tema - visto na verdade como muito liberal para os republicanos. Já Kamala não conseguirá muito ir por esse caminho depois de dizer aos imigrantes, no início do mandato, “não venham”.

“Ela vai ter que ir para a esquerda, falando em esquerda no espectro americano, mas ao mesmo tempo ela vai ter que dar uma sinalizada de que não é essa progressista extrema que os republicanos estão colocando” afirma a professora da Unifesp.

Vale lembrar que, apesar da mudança de tendência agora, Kamala era vista como mais impopular que Biden durante quase toda a presidência.

“Ela é muito mal vista principalmente entre republicanos, se você ver a convenção republicana o pessoal vaiava ela mais do que vaiava o Joe Biden”, observa Poggio. “Mas a questão é se ela vai ser capaz de conquistar a independência e ativar a base democrata”.

Desde que assumiu o lugar de Joe Biden como candidata pelo partido Democrata às eleições dos Estados Unidos, Kamala Harris tem conseguido diminuir a distância com Donald Trump em todas as principais pesquisas de intenção de votos. Se antes o cenário era de uma vitória quase certa de Trump sobre Biden, agora o resultado é cada vez mais incerto e há sondagens que indicam vantagens da democrata que, por enquanto, vive uma “lua de mel” com seus potenciais eleitores.

Em mais de um agregador de pesquisas, Kamala assumiu a liderança nas intenções de votos, ainda que esteja dentro da margem de erro. Uma posição que Biden nunca teve sobre o republicano. Esse fôlego é muito em razão de um entusiasmo que sua candidatura trouxe a eleitores democratas que não se sentiam engajados o suficiente para votar em Biden. A questão é o se este entusiasmo dura até novembro e se ele vai se traduzir em participação eleitoral.

Apesar de a eleição americana nem sempre ser decidida no voto popular, mas sim no colégio eleitoral, onde vitórias em determinados Estados definem o vencedor, as pesquisas nacionais costumam indicar tendências.

Segundo o site Real Clear Polling, que reúne e tira a média de dez pesquisadoras americanas, Kamala tem hoje 47% contra 46,8% de Trump, uma vantagem de 0,2% percentuais. Até então, apenas Trump despontava na frente, chegando a marcar 3,3 pontos a mais que Biden em 5 de julho, dias depois do debate que enterrou as chances do democrata.

E outro agregador, o site Thirty Five Eight, Kamala aparece com 45,1% contra 43,4% de Trump, uma vantagem de 1,7 pontos percentuais.

“Já estava claro nas pesquisas que havia uma parcela significativa do eleitorado que era double haters, que não estava satisfeito com nenhum dos dois candidatos”, explica o professor associado do Berea College do Kentucky, Carlos Gustavo Poggio.

“Havia uma diferença muito grande de entusiasmo entre a campanha republicana e a campanha democrata. Os democratas não estavam entusiasmados com o Joe Biden, isso mudou com a substituição pela Kamala Harris. As pesquisas indicam que agora as democratas estão ainda mais entusiasmados que os republicanos estão com o Donald Trump, então isso mexeu bastante com a base”, continua.

Virada no colégio eleitoral é possível?

Nos Estados-pêndulo, Kamala também dá indícios de reversão de tendência.

Segundo levantamento da Bloomberg News/Morning Consult publicado em 30 de julho, sobre a média dos principais Estados decisivos, Kamala aparece com 48% contra 47% de Trump. No Arizona a democrata tem 49% contra 47% do republicano. No Michigan ela lidera com 53% contra 42% de Trump. A democrata também aparece à frente em Nevada e Wisconsin.

Já Trump lidera na Pensilvânia com 50% contra 46% de Kamala, e na Carolina do Norte com 48% contra 46% da democrata. Com isso, novamente o Estado-chave para as eleições deste ano pode ser a Geórgia, onde ambos aparecem empatados com 50%. Em 2020, a Geórgia selou a vitória de Biden contra o republicano.

Ainda que esteja mostrando tendência de mudanças, a campanha democrata terá de trabalhar mais para reverter o cenário favorável de Trump no colégio eleitoral. De acordo com o site 270 to win, que faz previsões de votos de delegados, o republicano ainda tem vantagem com 219 delegados dos 270 que necessita para vencer. Kamala tem 208.

A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu vice, o governador Tim Walz Foto: Joe Lamberti/AP

“O cenário que vemos é um muito parecido com 2016, em que a Kamala ganharia no voto popular, como a Hillary ganhou, mas por conta do colégio eleitoral haveria possibilidade de o Trump vencer, então é realmente uma eleição muito empatada e vai decidir muito na mobilização, quem que vai realmente votar”, afirma a professora de política internacional da Unifesp, Cristina Pecequillo.

Entusiasmo

Antes mesmo de se tornar oficialmente a substituta de Joe Biden, Kamala já havia caído no gosto dos jovens nas redes sociais. Já nos primeiros dias, a cantora Charli XCX afirmou que “Kamala é ‘brat’”. O termo é uma referência ao nome do álbum da cantora americana, que viralizou nas redes no início de junho, e significa uma pessoa “rebelde”.

Imediatamente a equipe de Kamala adotou o termo e passou a utilizar o “verde brat” nas redes sociais da democrata. Vídeos com montagens de Kamala dançando pipocaram no TikTok e a então possível candidata ganhou apoio de nomes de peso da cultura pop, como Ariana Grande, Cardi B, John Legend e Beyoncé, que chegou a autorizar o uso de sua música na campanha da democrata.

Trump por outro lado ganhou dos democratas o epíteto de “creepy” ou “weirdo”, que significa estranho e bizarro em inglês. O termo foi adotado pelo agora candidato a vice-presidente de Kamala, o governador Tim Walz, e viralizou nas redes, causando preocupação na campanha republicana.

“A Kamala é a primeira candidata em muitos anos que estimula o eleitor mais jovem. Imagina aquele eleitor mais jovem teve nos últimos anos Hillary Clinton e Joe Biden, e isso só falando dos últimos oito anos. O eleitor que tem 18 hoje finalmente tem alguém que ele pode fazer um meme, os demais candidatos não inspiravam isso”, afirma Poggio.

Segundo os analistas, nessas um pouco mais de duas semanas em que Biden desistiu da candidatura, Kamala ainda não cometeu erros na campanha, o que ajuda na maré de sorte da candidata. Ela ainda não deu entrevistas na imprensa e não se viu, ainda, confrontada em seus temas mais sensíveis: migração e comunidade negra.

“Primeiro que houve um alívio muito grande com a saída do Joe Biden dentro do partido democrata, e segundo que não cometeu nenhum erro na campanha até agora, e tem esse fator da lua de mel que ela ainda está vivendo com o eleitorado. Mas ainda estamos esperando se ela vai cometer algum erro na campanha”, continua Poggio.

A vice-presidente dos EUA e candidata a presidente pelo partido Democrata, Kamala Harris Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

Incentivar a participação

O desafio vai ser conseguir manter esse entusiasmo até 5 de novembro e, principalmente, incentivar que o eleitor que se sente engajado agora vá de fato votar. Ao percorrer o país fazendo entrevistas com potenciais candidatas, jornais americanos como The New York Times e The Washington Post identificaram que mulheres e negros estavam mais animados com as eleições agora com Kamala.

Mas essa constatação empírica ainda não se refletiu nas pesquisas e os próprios eleitores falam que têm preocupação com o passado da democrata.

O que de fato as pesquisas identificaram foi um interesse maior do eleitorado geral, mas especialmente do democrata, em ir votar no dia 5. Segundo uma sondagem da YouGov divulgada pela CBS News, 85% dos democratas dizem que “definitivamente vão votar” contra 81% em 18 de julho, antes da desistência de Biden. Já entre os republicamos, 88% dizem que vão votar, contra 90% de julho.

“Isso é justamente a novidade da candidatura, uma energização da base democrata e a possibilidade de que ela esteja trazendo de volta para a eleição alguns grupos que estavam muito descrentes da candidatura de Biden, principalmente uma faixa mais jovem de americanos que vivem na periferia”, explica a professora Cristina Pecequillo.

Entre o eleitorado negro, apenas 58% estavam determinados a votar em 18 de julho. Agora esse percentual subiu para 74%. Esses números por si só não indicam mais votos para Kamala, mas historicamente o voto negro e das mulheres tem favorecido democratas, então entusiasmá-los para votar pode ser boa notícia para ela. Nas últimas eleições, a participação eleitoral tem sido um player importante para os democratas.

“O quanto isso é sustentável? Aí eu acho que a gente só vai conseguir medir depois da convenção democrata”, continua a professora. “Até o início de setembro ela deve manter uma tendência que é ou empatar em algumas pesquisas ou passar, porque aí você tem todo o ritual da campanha. A convenção vai ser o momento em que o partido democrata vai demonstrar a união e vai apostar no ‘nós contra eles’. Mas até o início de setembro eu acho que a coisa vai estar mais favorável a ela”.

“O grande problema da Kamala é se ela perder o eleitor mais velho que é o eleitor que de fato vota, mas as pesquisas que saíram agora tem comprovado que ela tem conseguido manter esse eleitorado mais velho” observa Carlos Gustavo Poggio.

A escolha do vice foi interpretada como uma sinalização a esse eleitorado que tendia a fugir da democrata. Apesar de ser da ala progressista do partido Democrata, Tim Walz é um veterano da Guarda Nacional e proprietário de armas que anteriormente representava um condado rural e conservador. O governador foi quem viralizou ao chamar Trump e seu companheiro de chapa, J.D. Vance de “creepy”. Por outro lado, ele já era governador de Mineapolis durante os protestos após a morte de George Floyd.

Kamala Harris e Tim Walz durante comício na Filadélfia  Foto: Matt Rourke/AP

Os tetos de vidro

Os riscos para Kamala é quando ela começar finalmente a se expor ao público e à imprensa. Os analistas ressaltam que é um erro assumir que ela teria o voto das mulheres e dos negros automaticamente por ser uma mulher negra, especialmente quando este eleitorado acredita que ela poderia ter feito mais por eles quando era promotora e procuradora-geral.

“Ela como procuradora tem toda uma história de encarceramento de jovens negros, além de ser vista como muito elitista para alguns grupos”, afirma Pecequillo. “A questão não é se esses grupos votariam ou não no Trump, eles não vão votar no Trump, a questão é se esses grupos no dia da eleição irão ou não votar”.

Isso também vai depender de como a campanha de Trump vai reagir à democrata a partir de agora. “Quanto mais agressivo Trump for, mais ele afasta um eleitorado feminino que também é decisivo, mesmo que a mulher não goste da Kamala, então isso ele vai ter que administrar”, continua a professora.

Outro momento crucial será quando ela começar a ser confrontada sobre sua política de migração durante a vice-presidência. Depois do enorme fluxo de migrantes na fronteira nos últimos anos, o assunto virou o grande tema dessas eleições e um dos motores da campanha de Trump.

Com Biden, em 2020, o discurso era de ser mais humanista com o tema - visto na verdade como muito liberal para os republicanos. Já Kamala não conseguirá muito ir por esse caminho depois de dizer aos imigrantes, no início do mandato, “não venham”.

“Ela vai ter que ir para a esquerda, falando em esquerda no espectro americano, mas ao mesmo tempo ela vai ter que dar uma sinalizada de que não é essa progressista extrema que os republicanos estão colocando” afirma a professora da Unifesp.

Vale lembrar que, apesar da mudança de tendência agora, Kamala era vista como mais impopular que Biden durante quase toda a presidência.

“Ela é muito mal vista principalmente entre republicanos, se você ver a convenção republicana o pessoal vaiava ela mais do que vaiava o Joe Biden”, observa Poggio. “Mas a questão é se ela vai ser capaz de conquistar a independência e ativar a base democrata”.

Desde que assumiu o lugar de Joe Biden como candidata pelo partido Democrata às eleições dos Estados Unidos, Kamala Harris tem conseguido diminuir a distância com Donald Trump em todas as principais pesquisas de intenção de votos. Se antes o cenário era de uma vitória quase certa de Trump sobre Biden, agora o resultado é cada vez mais incerto e há sondagens que indicam vantagens da democrata que, por enquanto, vive uma “lua de mel” com seus potenciais eleitores.

Em mais de um agregador de pesquisas, Kamala assumiu a liderança nas intenções de votos, ainda que esteja dentro da margem de erro. Uma posição que Biden nunca teve sobre o republicano. Esse fôlego é muito em razão de um entusiasmo que sua candidatura trouxe a eleitores democratas que não se sentiam engajados o suficiente para votar em Biden. A questão é o se este entusiasmo dura até novembro e se ele vai se traduzir em participação eleitoral.

Apesar de a eleição americana nem sempre ser decidida no voto popular, mas sim no colégio eleitoral, onde vitórias em determinados Estados definem o vencedor, as pesquisas nacionais costumam indicar tendências.

Segundo o site Real Clear Polling, que reúne e tira a média de dez pesquisadoras americanas, Kamala tem hoje 47% contra 46,8% de Trump, uma vantagem de 0,2% percentuais. Até então, apenas Trump despontava na frente, chegando a marcar 3,3 pontos a mais que Biden em 5 de julho, dias depois do debate que enterrou as chances do democrata.

E outro agregador, o site Thirty Five Eight, Kamala aparece com 45,1% contra 43,4% de Trump, uma vantagem de 1,7 pontos percentuais.

“Já estava claro nas pesquisas que havia uma parcela significativa do eleitorado que era double haters, que não estava satisfeito com nenhum dos dois candidatos”, explica o professor associado do Berea College do Kentucky, Carlos Gustavo Poggio.

“Havia uma diferença muito grande de entusiasmo entre a campanha republicana e a campanha democrata. Os democratas não estavam entusiasmados com o Joe Biden, isso mudou com a substituição pela Kamala Harris. As pesquisas indicam que agora as democratas estão ainda mais entusiasmados que os republicanos estão com o Donald Trump, então isso mexeu bastante com a base”, continua.

Virada no colégio eleitoral é possível?

Nos Estados-pêndulo, Kamala também dá indícios de reversão de tendência.

Segundo levantamento da Bloomberg News/Morning Consult publicado em 30 de julho, sobre a média dos principais Estados decisivos, Kamala aparece com 48% contra 47% de Trump. No Arizona a democrata tem 49% contra 47% do republicano. No Michigan ela lidera com 53% contra 42% de Trump. A democrata também aparece à frente em Nevada e Wisconsin.

Já Trump lidera na Pensilvânia com 50% contra 46% de Kamala, e na Carolina do Norte com 48% contra 46% da democrata. Com isso, novamente o Estado-chave para as eleições deste ano pode ser a Geórgia, onde ambos aparecem empatados com 50%. Em 2020, a Geórgia selou a vitória de Biden contra o republicano.

Ainda que esteja mostrando tendência de mudanças, a campanha democrata terá de trabalhar mais para reverter o cenário favorável de Trump no colégio eleitoral. De acordo com o site 270 to win, que faz previsões de votos de delegados, o republicano ainda tem vantagem com 219 delegados dos 270 que necessita para vencer. Kamala tem 208.

A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e seu vice, o governador Tim Walz Foto: Joe Lamberti/AP

“O cenário que vemos é um muito parecido com 2016, em que a Kamala ganharia no voto popular, como a Hillary ganhou, mas por conta do colégio eleitoral haveria possibilidade de o Trump vencer, então é realmente uma eleição muito empatada e vai decidir muito na mobilização, quem que vai realmente votar”, afirma a professora de política internacional da Unifesp, Cristina Pecequillo.

Entusiasmo

Antes mesmo de se tornar oficialmente a substituta de Joe Biden, Kamala já havia caído no gosto dos jovens nas redes sociais. Já nos primeiros dias, a cantora Charli XCX afirmou que “Kamala é ‘brat’”. O termo é uma referência ao nome do álbum da cantora americana, que viralizou nas redes no início de junho, e significa uma pessoa “rebelde”.

Imediatamente a equipe de Kamala adotou o termo e passou a utilizar o “verde brat” nas redes sociais da democrata. Vídeos com montagens de Kamala dançando pipocaram no TikTok e a então possível candidata ganhou apoio de nomes de peso da cultura pop, como Ariana Grande, Cardi B, John Legend e Beyoncé, que chegou a autorizar o uso de sua música na campanha da democrata.

Trump por outro lado ganhou dos democratas o epíteto de “creepy” ou “weirdo”, que significa estranho e bizarro em inglês. O termo foi adotado pelo agora candidato a vice-presidente de Kamala, o governador Tim Walz, e viralizou nas redes, causando preocupação na campanha republicana.

“A Kamala é a primeira candidata em muitos anos que estimula o eleitor mais jovem. Imagina aquele eleitor mais jovem teve nos últimos anos Hillary Clinton e Joe Biden, e isso só falando dos últimos oito anos. O eleitor que tem 18 hoje finalmente tem alguém que ele pode fazer um meme, os demais candidatos não inspiravam isso”, afirma Poggio.

Segundo os analistas, nessas um pouco mais de duas semanas em que Biden desistiu da candidatura, Kamala ainda não cometeu erros na campanha, o que ajuda na maré de sorte da candidata. Ela ainda não deu entrevistas na imprensa e não se viu, ainda, confrontada em seus temas mais sensíveis: migração e comunidade negra.

“Primeiro que houve um alívio muito grande com a saída do Joe Biden dentro do partido democrata, e segundo que não cometeu nenhum erro na campanha até agora, e tem esse fator da lua de mel que ela ainda está vivendo com o eleitorado. Mas ainda estamos esperando se ela vai cometer algum erro na campanha”, continua Poggio.

A vice-presidente dos EUA e candidata a presidente pelo partido Democrata, Kamala Harris Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

Incentivar a participação

O desafio vai ser conseguir manter esse entusiasmo até 5 de novembro e, principalmente, incentivar que o eleitor que se sente engajado agora vá de fato votar. Ao percorrer o país fazendo entrevistas com potenciais candidatas, jornais americanos como The New York Times e The Washington Post identificaram que mulheres e negros estavam mais animados com as eleições agora com Kamala.

Mas essa constatação empírica ainda não se refletiu nas pesquisas e os próprios eleitores falam que têm preocupação com o passado da democrata.

O que de fato as pesquisas identificaram foi um interesse maior do eleitorado geral, mas especialmente do democrata, em ir votar no dia 5. Segundo uma sondagem da YouGov divulgada pela CBS News, 85% dos democratas dizem que “definitivamente vão votar” contra 81% em 18 de julho, antes da desistência de Biden. Já entre os republicamos, 88% dizem que vão votar, contra 90% de julho.

“Isso é justamente a novidade da candidatura, uma energização da base democrata e a possibilidade de que ela esteja trazendo de volta para a eleição alguns grupos que estavam muito descrentes da candidatura de Biden, principalmente uma faixa mais jovem de americanos que vivem na periferia”, explica a professora Cristina Pecequillo.

Entre o eleitorado negro, apenas 58% estavam determinados a votar em 18 de julho. Agora esse percentual subiu para 74%. Esses números por si só não indicam mais votos para Kamala, mas historicamente o voto negro e das mulheres tem favorecido democratas, então entusiasmá-los para votar pode ser boa notícia para ela. Nas últimas eleições, a participação eleitoral tem sido um player importante para os democratas.

“O quanto isso é sustentável? Aí eu acho que a gente só vai conseguir medir depois da convenção democrata”, continua a professora. “Até o início de setembro ela deve manter uma tendência que é ou empatar em algumas pesquisas ou passar, porque aí você tem todo o ritual da campanha. A convenção vai ser o momento em que o partido democrata vai demonstrar a união e vai apostar no ‘nós contra eles’. Mas até o início de setembro eu acho que a coisa vai estar mais favorável a ela”.

“O grande problema da Kamala é se ela perder o eleitor mais velho que é o eleitor que de fato vota, mas as pesquisas que saíram agora tem comprovado que ela tem conseguido manter esse eleitorado mais velho” observa Carlos Gustavo Poggio.

A escolha do vice foi interpretada como uma sinalização a esse eleitorado que tendia a fugir da democrata. Apesar de ser da ala progressista do partido Democrata, Tim Walz é um veterano da Guarda Nacional e proprietário de armas que anteriormente representava um condado rural e conservador. O governador foi quem viralizou ao chamar Trump e seu companheiro de chapa, J.D. Vance de “creepy”. Por outro lado, ele já era governador de Mineapolis durante os protestos após a morte de George Floyd.

Kamala Harris e Tim Walz durante comício na Filadélfia  Foto: Matt Rourke/AP

Os tetos de vidro

Os riscos para Kamala é quando ela começar finalmente a se expor ao público e à imprensa. Os analistas ressaltam que é um erro assumir que ela teria o voto das mulheres e dos negros automaticamente por ser uma mulher negra, especialmente quando este eleitorado acredita que ela poderia ter feito mais por eles quando era promotora e procuradora-geral.

“Ela como procuradora tem toda uma história de encarceramento de jovens negros, além de ser vista como muito elitista para alguns grupos”, afirma Pecequillo. “A questão não é se esses grupos votariam ou não no Trump, eles não vão votar no Trump, a questão é se esses grupos no dia da eleição irão ou não votar”.

Isso também vai depender de como a campanha de Trump vai reagir à democrata a partir de agora. “Quanto mais agressivo Trump for, mais ele afasta um eleitorado feminino que também é decisivo, mesmo que a mulher não goste da Kamala, então isso ele vai ter que administrar”, continua a professora.

Outro momento crucial será quando ela começar a ser confrontada sobre sua política de migração durante a vice-presidência. Depois do enorme fluxo de migrantes na fronteira nos últimos anos, o assunto virou o grande tema dessas eleições e um dos motores da campanha de Trump.

Com Biden, em 2020, o discurso era de ser mais humanista com o tema - visto na verdade como muito liberal para os republicanos. Já Kamala não conseguirá muito ir por esse caminho depois de dizer aos imigrantes, no início do mandato, “não venham”.

“Ela vai ter que ir para a esquerda, falando em esquerda no espectro americano, mas ao mesmo tempo ela vai ter que dar uma sinalizada de que não é essa progressista extrema que os republicanos estão colocando” afirma a professora da Unifesp.

Vale lembrar que, apesar da mudança de tendência agora, Kamala era vista como mais impopular que Biden durante quase toda a presidência.

“Ela é muito mal vista principalmente entre republicanos, se você ver a convenção republicana o pessoal vaiava ela mais do que vaiava o Joe Biden”, observa Poggio. “Mas a questão é se ela vai ser capaz de conquistar a independência e ativar a base democrata”.

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