O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou os aumentos de taxas que o Panamá impôs para usar o Canal do Panamá como “ridículos”. Ele afirma que se as coisas não mudarem depois que ele assumir o cargo no próximo mês, “exigiremos que o Canal do Panamá seja devolvido aos Estados Unidos, integralmente, rapidamente e sem questionamentos”
O Canal do Panamá é uma via aquática artificial que usa uma série de eclusas e reservatórios ao longo de 82 quilômetros para cortar pelo meio o Panamá e conectar o Atlântico e o Pacífico. Isso poupa aos navios ter que navegar por cerca de 11 mil quilômetros para contornar o Cabo Horn na ponta sul da América do Sul. A via economiza tempo, combustível e possibilita entrega mais rápida de mercadorias.
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O Estadão, que completará 150 anos em 2025, acompanhou de perto os acontecimentos envolvendo o Canal do Panamá, passando pela sua construção, inauguração, protestos e a transferência de poder sobre o Canal do EUA ao Panamá.
Abaixo, veja como o Estadão cobriu a história do Canal do Panamá, com imagens das páginas do jornal.
Início da construção
O projeto do Canal do Panamá começou em 1880 sob a liderança do engenheiro francês Ferdinand de Lesseps, que havia concluído o Canal de Suez, no Egito.
O Estadão acompanhou as discussões e planejamentos anteriores à construção. Em 12 de agosto de 1879, o jornal noticiou que Lesseps disse, em um banquete em Rouen (França), que a construção do Canal começaria o quanto antes e que levaria 10 anos. Em 8 de março de 1880, o jornal colocou que Lesseps preparava uma expedição para levantar as plantas do Canal do Panamá.
Desde o início, o Estados Unidos já estava preocupado com a construção do canal. Em 12 de março de 1880, o Estadão escreveu que o então presidente Rutherford Birchard Hayes disse, em mensagem, que era necessário que a construção fosse realizada “sob o exame dos Estados Unidos”.
Em 29 de dezembro de 1880, o Estadão publicou na primeira página do jornal a reportagem “Abertura do ishtmo de Panamá”, explicando como o empreendimento aconteceria, o seu histórico e as vantagens comerciais da construção. O istmo, uma faixa estreita de terra que conecta duas grandes massas de terra, seria cortado para conectar o Oceano Atlântico ao Pacífico.
“Sua perfuração, comunicando as águas dos dois oceanos, é uma empresa talvez superior em resultados comerciais à do Canal de Suez, e desde épocas remotíssimas preocupa a atenção comercial do mundo”, escreveu o Estadão.
A reportagem traz um breve histórico de propostas e iniciativas de abertura de um canal na região, que já era pensada há muito tempo como forma de reduzir a jornada entre os dois oceanos. A construção deveria levar oito anos e custar 813 milhões de francos, segundo a reportagem.
“Aquilo que não há muito tempo se afigurava ser uma utopia é já uma realidade em execução, dando lugar a uma especulação sem limites”, escreveu o jornal. O Estadão também expressou preocupação com os prejuízos que a obra traria ao Brasil, já que o porto do Rio de Janeiro pararia de ser escala de navegação entre a Europa e o Pacífico.
Doenças como malária e febre amarela, erros de planejamento e falta de tecnologia adequada levaram a muitas mortes e à falência financeira da empresa, reportada pelo Estadão de 8 de fevereiro de 1889. Assim, o projeto foi abandonado.
Assinatura do Tratado Hay-Bunau-Varilla
Logo após a independência do Panamá da Colômbia, o Tratado Hay-Bunau-Varilla foi firmado entre os EUA e o Panamá em 18 de novembro de 1903. O documento determinou que os EUA obtivessem os direitos para construir e controlar o Canal do Panamá.
O Estadão publicou sobre o acontecimento na primeira página da edição de 23 de novembro de 1903, com o título “A Semana Extrangeira”. A independência do Panamá foi apoiada pelos EUA, que por sua vez tinha interesse em construir o canal que havia sido abandonado.
“Este documento, que ficará conhecido pela designação de tratado Hay-Varilla, concede aos americanos do Norte tudo quanto queriam e os colombianos lhes negavam: o território por onde será aberto o canal ficará sob a soberania absoluta dos Estados Unidos; os Estados Unidos e o Panamá têm iguais direitos no que toca à passagem do canal”, escreveu o Estado de S. Paulo.
“A compensação que a nova república [o Panamá] teve foi a independência”, diz a publicação.
Inauguração do Canal do Panamá
A inauguração do Canal do Panamá ocorreu em 15 de agosto de 1914. O Estadão noticiou o acontecimento no dia seguinte.
“O primeiro vapor que o atravessou foi ‘Ancon’, que transpoz as eclusas de Gatum, seguido de outros navios. A abertura do canal foi celebrada por toda parte com grandes festas”.
Protestos e Tratado Torrijos-Carter (1964–1977)
Em 9 de janeiro de 1964, estudantes panamenhos realizaram protestos em relação ao controle dos Estados Unidos sobre a Zona do Canal. O conflito começou depois que uma bandeira panamenha foi rasgada na área. Estudantes foram mortos em conflito com policiais.
No dia 14, o Estadão reportou que o Itamaraty era favorável a uma Comissão Mista de Cooperação entre os Estados Unidos e o Panamá para resolver pacificamente as tensões.
Os protestos e conflitos perduraram por mais diversos anos. Em 7 de setembro de 1977, o presidente panamenho Omar Torrijos e o presidente dos EUA, Jimmy Carter, assinaram os Tratados Torrijos-Carter, que garantiram a transferência do controle do Canal do Panamá para o Panamá em 31 de dezembro de 1999, ou seja, mais de 22 anos depois.
“Acordo é símbolo de cooperação, diz Carter” foi o título do Estadão para matéria especial sobre os tratados, publicada no dia 8 de setembro. A reportagem ocupou três páginas daquela edição e apresentou os discursos dos presidentes, negociações paralelas e manifestações contrárias e favoráveis ao acordo.
A cobertura refletiu a grandiosidade do evento, que contou com representantes de 27 países na cerimônia de assinatura dos tratados.
Transferência completa do canal ao Panamá
Sob os termos dos Tratados Torrijos-Carter, o controle total do canal foi transferido aos panamenhos em 31 de dezembro de 1999.
“85 anos depois, canal é devolvido ao Panamá”, é o título da reportagem sobre o tema na edição do Estadão do dia 15 de dezembro de 1999. No dia anterior, a então presidente do país, Mireya Moscoso, recebia simbolicamente o controle do canal em uma cerimônia.