Quem é Liz Truss, a nova premiê do Reino Unido que se inspira em Margaret Thatcher


Vitoriosa na eleição para escolha do líder do Partido Conservador, ela pressiona por uma ortodoxia partidária com impostos baixos e governo menor

Por Mark Landler
Atualização:

BIRMINGHAM – Quando um jornalista britânico pediu a Liz Truss na terça-feira, 6, que indicasse a falha de caráter que mais gostaria de consertar, ela confessou: “Acho que alguns de meus amigos diriam que sou meio implacável”.

A resposta provocou risos contidos em uma reunião de membros do Partido Conservador; afinal, essa pergunta é normalmente um convite para um político se fazer de modesto enquanto conta vantagem. Mas, dessa vez, a reposta possuiu uma aura de verdade, após uma campanha na qual Truss, a secretária de Exterior britânica, reuniu apoios renomados, cobertura positiva da imprensa e uma liderança aparentemente inabalável nas pesquisas entre os membros de seu partido.

Perto do fim da corrida pela sucessão do primeiro-ministro Boris Johnson, a marcha de Truss para Downing Street parece de fato implacável. Depois de um início de campanha tumultuado, Truss, de 47 anos, cimentou seu status como favorita absoluta para se tornar a terceira mulher a liderar o Reino Unido, depois de Margaret Thatcher e Theresa May.

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Imagem divulgada pela BBC mostra Liz Truss (à esquerda) em entrevista para a emissora. Caso favoritismo se confirme, Truss será a terceira mulher a comandar o Reino Unido Foto: Jeff Overs / AFP

O resultado da disputa pela liderança do Partido Conservador foi anunciado nesta segunda-feira, 5, depois que as cédulas dos cerca de 160 mil membros pagantes da legenda sejam apuradas. O oponente atrás de Truss, Rishi Sunak, apresentou um desempenho robusto e bem recebido no evento em Birmingham, um lembrete que a sorte pode virar subitamente na política.

“Você está agindo como se isso já tivesse acabado — e não acabou”, afirmou Sunak visivelmente incomodado ao moderador, John Pienaar.

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A campanha transcorreu em meio à turbulência econômica que se acentua rapidamente no país. Contas domésticas de energia estão altas, a inflação atinge dois dígitos, e o Banco da Inglaterra alerta para uma recessão prolongada. E nada disso afeta a aura de inevitabilidade em torno de Truss.

Os jornais britânicos já especulam a respeito de quem ela nomeará para o gabinete de governo e quando ela aprovará um “orçamento de emergência”. A primeira dúvida é mais fácil de responder do que a segunda. Apesar de passar um mês fazendo campanha, Truss deu poucas pistas a respeito da maneira que pretende enfrentar a crise econômica — que muitos especialistas consideram a mais grave em uma geração.

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Em vez disso, ela promete cortar impostos, descartar regulações remanescentes da União Europeia e encolher o tamanho do governo britânico — medidas que agradam o povo e projetadas sob medida para membros do Partido Conservador, que tendem a ser mais velhos, mais ricos e mais de direita do que o eleitorado do partido, sem mencionar o eleitorado britânico mais amplo.

Comparações com Magaret Thatcher

Truss ficou ao lado de Johnson e continua a servir seu governo pato manco. Mas ela vestiu o manto de Thatcher, a guerreira anticomunista, evangelista do livre-mercado e ícone conservadora que chegou a Downing Street em 1979, em um momento de crise econômica comparável ao atual.

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“Os princípios em que ela acreditava eram os princípios corretos”, afirmou Truss, atraindo a maior salva de palmas da noite. “Empreender, assumir responsabilidade pessoal, dar às pessoas controle sobre seu próprio dinheiro, colocar o dinheiro de volta nos bolsos das pessoas.”

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O parlamentar conservador britânico Phillip Lee desertou para as fileiras dos democratas liberais favoráveis à União Europeia. A mudança resulta na perda de maioria do primeiro-ministro britânico Boris Johnson antes de uma votação crucial do Brexit.

Quando o assuntou mudou para segurança nacional, perguntaram a Truss como ela reagiria diante da decisão de acionar o arsenal nuclear do Reino Unido para defender o país. “É um dever importante do premiê”, afirmou ela. “Estou pronta para exercê-lo.”

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Essa dureza reverbera entre os correligionários mais fiéis ao partido, mesmo que Truss ainda não tenha persuadido muitos membros de que é a próxima encarnação da mulher que ficou conhecida como “Dama de Ferro”.

“Ela é a versão barata de Thatcher”, afirmou Tony Clark, membro do Partido Conservador que vive nas imediações de Birmingham. Clark afirmou que, apesar disso, planeja votar em Truss, porque acredita que ela é uma conservadora genuína. Sunak, ainda que “intelectualmente brilhante”, passa uma imagem de “bajulador”, afirmou ele.

Bom humor

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A enfermeira aposentada Jacqueline Naylor, de 79 anos, afirmou que provavelmente também acabará apoiando Truss, apesar do desempenho robusto de Sunak tornar sua decisão mais difícil. Ela o culpa por precipitar a queda de Johnson ao se demitir do cargo de chanceler do Tesouro após escândalos inundarem o governo. Truss, notou ela, ficou ao lado do primeiro-ministro, que continua popular nas bases conservadoras.

“Liz está preenchendo todos os critérios dos membros do partido”, afirmou Edward Tolcher, de 62 anos, diretor financeiro de uma escola de Solihull, um subúrbio próximo. Ele apoia Sunak, mas acha que a disputa basicamente já está definida.

O foco certeiro de Truss nas posições conservadoras ortodoxas teve melhor desempenho do que a estratégia de Sunak, construída dizendo aos eleitores duras verdades, como que o Reino Unido tem de controlar a inflação antes de cortar impostos. Truss também melhorou gradualmente como candidata, exibindo confiança e lampejos de bom humor.

“Muita gente pensou que ela ficaria muito travada, mas ela desempenhou melhor que o esperado”, afirmou Gavin Barwell, ex-chefe de gabinete de May.

Rishi Sunak (à esq.) e Liz Truss (direita) debatem em um programa de TV suas propostas para liderar o Partido Conservador  Foto: Jonathan Hordle / EFE/EPA

Mas ele e outros afirmam que Truss pode estar protelando problemas ao se recusar a ser mais aberta em relação aos seus planos. Seu apelo por um governo menor, acrescentaram eles, poderá atrapalhar a união da coalizão forjada por Johnson em 2019. Sua vitória eleitoral naquele ano foi construía atraindo eleitores trabalhistas desiludidos com o partido, nas regiões industriais das Midlands e do norte, que foram seduzidos por sua promessa de “cumprir logo o Brexit”.

Reduzir impostos, reverter regulações e encolher o governo são políticas menos atraentes para eleitores da classe trabalhadora dessas regiões, chamadas de “muro vermelho”. Muitos deles estão satisfeitos com a generosa rede de seguridade social e consideram o governo um bastião contra o que eles acreditam ser um sistema manipulado contra eles.

“Liz Truss está oferecendo políticas que arriscam não somente alimentar a atual crise econômica, mas que também afrontam os valores desses novos conservadores”, afirmou Matthew Goodwin, professor de ciência política da Universidade de Kent.

Relações com a UE

Truss, que foi secretária do Comércio antes de se tornar secretária do Exterior, gaba-se por ter firmado acordos no pós-Brexit com Japão, Austrália e outros países. Ainda assim, seus instintos pelo livre-mercado poderiam também representar uma faca de dois gumes para tories (conservadores) recém-convertidos, que desejam um governo que defenda a indústria britânica contra concorrentes estrangeiros.

A primeira tarefa de Truss seria unificar um partido que tem sido fendido pelo drama dos anos Johnson e tem perdido apoio entre os eleitores. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto YouGov mostrou os conservadores 15 pontos porcentuais atrás dos trabalhistas, a maior diferença em quase uma década.

Críticos preocupam-se com a possibilidade das relações do Reino Unido com a União Europeia se deteriorarem ainda mais sob um governo de Truss, já que ela conta com apoio da ala pró-Brexit mais ardente do partido. Ela introduziu um projeto de lei que pretende rescindir acordos comerciais adotados na Irlanda do Norte apenas três anos atrás como parte do Brexit — e promete garantir sua aprovação.

“Ela é claramente adepta do antigo jogo de culpar os franceses e, mais genericamente, os europeus para cooptar apoio na base se seu partido”, afirmou Peter Ricketts, ex-embaixador britânico em Paris. “Reconectar-se com a Europa será vital nesta disputa, e Truss é a última pessoa que queremos tratando disso.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BIRMINGHAM – Quando um jornalista britânico pediu a Liz Truss na terça-feira, 6, que indicasse a falha de caráter que mais gostaria de consertar, ela confessou: “Acho que alguns de meus amigos diriam que sou meio implacável”.

A resposta provocou risos contidos em uma reunião de membros do Partido Conservador; afinal, essa pergunta é normalmente um convite para um político se fazer de modesto enquanto conta vantagem. Mas, dessa vez, a reposta possuiu uma aura de verdade, após uma campanha na qual Truss, a secretária de Exterior britânica, reuniu apoios renomados, cobertura positiva da imprensa e uma liderança aparentemente inabalável nas pesquisas entre os membros de seu partido.

Perto do fim da corrida pela sucessão do primeiro-ministro Boris Johnson, a marcha de Truss para Downing Street parece de fato implacável. Depois de um início de campanha tumultuado, Truss, de 47 anos, cimentou seu status como favorita absoluta para se tornar a terceira mulher a liderar o Reino Unido, depois de Margaret Thatcher e Theresa May.

Imagem divulgada pela BBC mostra Liz Truss (à esquerda) em entrevista para a emissora. Caso favoritismo se confirme, Truss será a terceira mulher a comandar o Reino Unido Foto: Jeff Overs / AFP

O resultado da disputa pela liderança do Partido Conservador foi anunciado nesta segunda-feira, 5, depois que as cédulas dos cerca de 160 mil membros pagantes da legenda sejam apuradas. O oponente atrás de Truss, Rishi Sunak, apresentou um desempenho robusto e bem recebido no evento em Birmingham, um lembrete que a sorte pode virar subitamente na política.

“Você está agindo como se isso já tivesse acabado — e não acabou”, afirmou Sunak visivelmente incomodado ao moderador, John Pienaar.

A campanha transcorreu em meio à turbulência econômica que se acentua rapidamente no país. Contas domésticas de energia estão altas, a inflação atinge dois dígitos, e o Banco da Inglaterra alerta para uma recessão prolongada. E nada disso afeta a aura de inevitabilidade em torno de Truss.

Os jornais britânicos já especulam a respeito de quem ela nomeará para o gabinete de governo e quando ela aprovará um “orçamento de emergência”. A primeira dúvida é mais fácil de responder do que a segunda. Apesar de passar um mês fazendo campanha, Truss deu poucas pistas a respeito da maneira que pretende enfrentar a crise econômica — que muitos especialistas consideram a mais grave em uma geração.

Em vez disso, ela promete cortar impostos, descartar regulações remanescentes da União Europeia e encolher o tamanho do governo britânico — medidas que agradam o povo e projetadas sob medida para membros do Partido Conservador, que tendem a ser mais velhos, mais ricos e mais de direita do que o eleitorado do partido, sem mencionar o eleitorado britânico mais amplo.

Comparações com Magaret Thatcher

Truss ficou ao lado de Johnson e continua a servir seu governo pato manco. Mas ela vestiu o manto de Thatcher, a guerreira anticomunista, evangelista do livre-mercado e ícone conservadora que chegou a Downing Street em 1979, em um momento de crise econômica comparável ao atual.

“Os princípios em que ela acreditava eram os princípios corretos”, afirmou Truss, atraindo a maior salva de palmas da noite. “Empreender, assumir responsabilidade pessoal, dar às pessoas controle sobre seu próprio dinheiro, colocar o dinheiro de volta nos bolsos das pessoas.”

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O parlamentar conservador britânico Phillip Lee desertou para as fileiras dos democratas liberais favoráveis à União Europeia. A mudança resulta na perda de maioria do primeiro-ministro britânico Boris Johnson antes de uma votação crucial do Brexit.

Quando o assuntou mudou para segurança nacional, perguntaram a Truss como ela reagiria diante da decisão de acionar o arsenal nuclear do Reino Unido para defender o país. “É um dever importante do premiê”, afirmou ela. “Estou pronta para exercê-lo.”

Essa dureza reverbera entre os correligionários mais fiéis ao partido, mesmo que Truss ainda não tenha persuadido muitos membros de que é a próxima encarnação da mulher que ficou conhecida como “Dama de Ferro”.

“Ela é a versão barata de Thatcher”, afirmou Tony Clark, membro do Partido Conservador que vive nas imediações de Birmingham. Clark afirmou que, apesar disso, planeja votar em Truss, porque acredita que ela é uma conservadora genuína. Sunak, ainda que “intelectualmente brilhante”, passa uma imagem de “bajulador”, afirmou ele.

Bom humor

A enfermeira aposentada Jacqueline Naylor, de 79 anos, afirmou que provavelmente também acabará apoiando Truss, apesar do desempenho robusto de Sunak tornar sua decisão mais difícil. Ela o culpa por precipitar a queda de Johnson ao se demitir do cargo de chanceler do Tesouro após escândalos inundarem o governo. Truss, notou ela, ficou ao lado do primeiro-ministro, que continua popular nas bases conservadoras.

“Liz está preenchendo todos os critérios dos membros do partido”, afirmou Edward Tolcher, de 62 anos, diretor financeiro de uma escola de Solihull, um subúrbio próximo. Ele apoia Sunak, mas acha que a disputa basicamente já está definida.

O foco certeiro de Truss nas posições conservadoras ortodoxas teve melhor desempenho do que a estratégia de Sunak, construída dizendo aos eleitores duras verdades, como que o Reino Unido tem de controlar a inflação antes de cortar impostos. Truss também melhorou gradualmente como candidata, exibindo confiança e lampejos de bom humor.

“Muita gente pensou que ela ficaria muito travada, mas ela desempenhou melhor que o esperado”, afirmou Gavin Barwell, ex-chefe de gabinete de May.

Rishi Sunak (à esq.) e Liz Truss (direita) debatem em um programa de TV suas propostas para liderar o Partido Conservador  Foto: Jonathan Hordle / EFE/EPA

Mas ele e outros afirmam que Truss pode estar protelando problemas ao se recusar a ser mais aberta em relação aos seus planos. Seu apelo por um governo menor, acrescentaram eles, poderá atrapalhar a união da coalizão forjada por Johnson em 2019. Sua vitória eleitoral naquele ano foi construía atraindo eleitores trabalhistas desiludidos com o partido, nas regiões industriais das Midlands e do norte, que foram seduzidos por sua promessa de “cumprir logo o Brexit”.

Reduzir impostos, reverter regulações e encolher o governo são políticas menos atraentes para eleitores da classe trabalhadora dessas regiões, chamadas de “muro vermelho”. Muitos deles estão satisfeitos com a generosa rede de seguridade social e consideram o governo um bastião contra o que eles acreditam ser um sistema manipulado contra eles.

“Liz Truss está oferecendo políticas que arriscam não somente alimentar a atual crise econômica, mas que também afrontam os valores desses novos conservadores”, afirmou Matthew Goodwin, professor de ciência política da Universidade de Kent.

Relações com a UE

Truss, que foi secretária do Comércio antes de se tornar secretária do Exterior, gaba-se por ter firmado acordos no pós-Brexit com Japão, Austrália e outros países. Ainda assim, seus instintos pelo livre-mercado poderiam também representar uma faca de dois gumes para tories (conservadores) recém-convertidos, que desejam um governo que defenda a indústria britânica contra concorrentes estrangeiros.

A primeira tarefa de Truss seria unificar um partido que tem sido fendido pelo drama dos anos Johnson e tem perdido apoio entre os eleitores. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto YouGov mostrou os conservadores 15 pontos porcentuais atrás dos trabalhistas, a maior diferença em quase uma década.

Críticos preocupam-se com a possibilidade das relações do Reino Unido com a União Europeia se deteriorarem ainda mais sob um governo de Truss, já que ela conta com apoio da ala pró-Brexit mais ardente do partido. Ela introduziu um projeto de lei que pretende rescindir acordos comerciais adotados na Irlanda do Norte apenas três anos atrás como parte do Brexit — e promete garantir sua aprovação.

“Ela é claramente adepta do antigo jogo de culpar os franceses e, mais genericamente, os europeus para cooptar apoio na base se seu partido”, afirmou Peter Ricketts, ex-embaixador britânico em Paris. “Reconectar-se com a Europa será vital nesta disputa, e Truss é a última pessoa que queremos tratando disso.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BIRMINGHAM – Quando um jornalista britânico pediu a Liz Truss na terça-feira, 6, que indicasse a falha de caráter que mais gostaria de consertar, ela confessou: “Acho que alguns de meus amigos diriam que sou meio implacável”.

A resposta provocou risos contidos em uma reunião de membros do Partido Conservador; afinal, essa pergunta é normalmente um convite para um político se fazer de modesto enquanto conta vantagem. Mas, dessa vez, a reposta possuiu uma aura de verdade, após uma campanha na qual Truss, a secretária de Exterior britânica, reuniu apoios renomados, cobertura positiva da imprensa e uma liderança aparentemente inabalável nas pesquisas entre os membros de seu partido.

Perto do fim da corrida pela sucessão do primeiro-ministro Boris Johnson, a marcha de Truss para Downing Street parece de fato implacável. Depois de um início de campanha tumultuado, Truss, de 47 anos, cimentou seu status como favorita absoluta para se tornar a terceira mulher a liderar o Reino Unido, depois de Margaret Thatcher e Theresa May.

Imagem divulgada pela BBC mostra Liz Truss (à esquerda) em entrevista para a emissora. Caso favoritismo se confirme, Truss será a terceira mulher a comandar o Reino Unido Foto: Jeff Overs / AFP

O resultado da disputa pela liderança do Partido Conservador foi anunciado nesta segunda-feira, 5, depois que as cédulas dos cerca de 160 mil membros pagantes da legenda sejam apuradas. O oponente atrás de Truss, Rishi Sunak, apresentou um desempenho robusto e bem recebido no evento em Birmingham, um lembrete que a sorte pode virar subitamente na política.

“Você está agindo como se isso já tivesse acabado — e não acabou”, afirmou Sunak visivelmente incomodado ao moderador, John Pienaar.

A campanha transcorreu em meio à turbulência econômica que se acentua rapidamente no país. Contas domésticas de energia estão altas, a inflação atinge dois dígitos, e o Banco da Inglaterra alerta para uma recessão prolongada. E nada disso afeta a aura de inevitabilidade em torno de Truss.

Os jornais britânicos já especulam a respeito de quem ela nomeará para o gabinete de governo e quando ela aprovará um “orçamento de emergência”. A primeira dúvida é mais fácil de responder do que a segunda. Apesar de passar um mês fazendo campanha, Truss deu poucas pistas a respeito da maneira que pretende enfrentar a crise econômica — que muitos especialistas consideram a mais grave em uma geração.

Em vez disso, ela promete cortar impostos, descartar regulações remanescentes da União Europeia e encolher o tamanho do governo britânico — medidas que agradam o povo e projetadas sob medida para membros do Partido Conservador, que tendem a ser mais velhos, mais ricos e mais de direita do que o eleitorado do partido, sem mencionar o eleitorado britânico mais amplo.

Comparações com Magaret Thatcher

Truss ficou ao lado de Johnson e continua a servir seu governo pato manco. Mas ela vestiu o manto de Thatcher, a guerreira anticomunista, evangelista do livre-mercado e ícone conservadora que chegou a Downing Street em 1979, em um momento de crise econômica comparável ao atual.

“Os princípios em que ela acreditava eram os princípios corretos”, afirmou Truss, atraindo a maior salva de palmas da noite. “Empreender, assumir responsabilidade pessoal, dar às pessoas controle sobre seu próprio dinheiro, colocar o dinheiro de volta nos bolsos das pessoas.”

Seu navegador não suporta esse video.

O parlamentar conservador britânico Phillip Lee desertou para as fileiras dos democratas liberais favoráveis à União Europeia. A mudança resulta na perda de maioria do primeiro-ministro britânico Boris Johnson antes de uma votação crucial do Brexit.

Quando o assuntou mudou para segurança nacional, perguntaram a Truss como ela reagiria diante da decisão de acionar o arsenal nuclear do Reino Unido para defender o país. “É um dever importante do premiê”, afirmou ela. “Estou pronta para exercê-lo.”

Essa dureza reverbera entre os correligionários mais fiéis ao partido, mesmo que Truss ainda não tenha persuadido muitos membros de que é a próxima encarnação da mulher que ficou conhecida como “Dama de Ferro”.

“Ela é a versão barata de Thatcher”, afirmou Tony Clark, membro do Partido Conservador que vive nas imediações de Birmingham. Clark afirmou que, apesar disso, planeja votar em Truss, porque acredita que ela é uma conservadora genuína. Sunak, ainda que “intelectualmente brilhante”, passa uma imagem de “bajulador”, afirmou ele.

Bom humor

A enfermeira aposentada Jacqueline Naylor, de 79 anos, afirmou que provavelmente também acabará apoiando Truss, apesar do desempenho robusto de Sunak tornar sua decisão mais difícil. Ela o culpa por precipitar a queda de Johnson ao se demitir do cargo de chanceler do Tesouro após escândalos inundarem o governo. Truss, notou ela, ficou ao lado do primeiro-ministro, que continua popular nas bases conservadoras.

“Liz está preenchendo todos os critérios dos membros do partido”, afirmou Edward Tolcher, de 62 anos, diretor financeiro de uma escola de Solihull, um subúrbio próximo. Ele apoia Sunak, mas acha que a disputa basicamente já está definida.

O foco certeiro de Truss nas posições conservadoras ortodoxas teve melhor desempenho do que a estratégia de Sunak, construída dizendo aos eleitores duras verdades, como que o Reino Unido tem de controlar a inflação antes de cortar impostos. Truss também melhorou gradualmente como candidata, exibindo confiança e lampejos de bom humor.

“Muita gente pensou que ela ficaria muito travada, mas ela desempenhou melhor que o esperado”, afirmou Gavin Barwell, ex-chefe de gabinete de May.

Rishi Sunak (à esq.) e Liz Truss (direita) debatem em um programa de TV suas propostas para liderar o Partido Conservador  Foto: Jonathan Hordle / EFE/EPA

Mas ele e outros afirmam que Truss pode estar protelando problemas ao se recusar a ser mais aberta em relação aos seus planos. Seu apelo por um governo menor, acrescentaram eles, poderá atrapalhar a união da coalizão forjada por Johnson em 2019. Sua vitória eleitoral naquele ano foi construía atraindo eleitores trabalhistas desiludidos com o partido, nas regiões industriais das Midlands e do norte, que foram seduzidos por sua promessa de “cumprir logo o Brexit”.

Reduzir impostos, reverter regulações e encolher o governo são políticas menos atraentes para eleitores da classe trabalhadora dessas regiões, chamadas de “muro vermelho”. Muitos deles estão satisfeitos com a generosa rede de seguridade social e consideram o governo um bastião contra o que eles acreditam ser um sistema manipulado contra eles.

“Liz Truss está oferecendo políticas que arriscam não somente alimentar a atual crise econômica, mas que também afrontam os valores desses novos conservadores”, afirmou Matthew Goodwin, professor de ciência política da Universidade de Kent.

Relações com a UE

Truss, que foi secretária do Comércio antes de se tornar secretária do Exterior, gaba-se por ter firmado acordos no pós-Brexit com Japão, Austrália e outros países. Ainda assim, seus instintos pelo livre-mercado poderiam também representar uma faca de dois gumes para tories (conservadores) recém-convertidos, que desejam um governo que defenda a indústria britânica contra concorrentes estrangeiros.

A primeira tarefa de Truss seria unificar um partido que tem sido fendido pelo drama dos anos Johnson e tem perdido apoio entre os eleitores. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto YouGov mostrou os conservadores 15 pontos porcentuais atrás dos trabalhistas, a maior diferença em quase uma década.

Críticos preocupam-se com a possibilidade das relações do Reino Unido com a União Europeia se deteriorarem ainda mais sob um governo de Truss, já que ela conta com apoio da ala pró-Brexit mais ardente do partido. Ela introduziu um projeto de lei que pretende rescindir acordos comerciais adotados na Irlanda do Norte apenas três anos atrás como parte do Brexit — e promete garantir sua aprovação.

“Ela é claramente adepta do antigo jogo de culpar os franceses e, mais genericamente, os europeus para cooptar apoio na base se seu partido”, afirmou Peter Ricketts, ex-embaixador britânico em Paris. “Reconectar-se com a Europa será vital nesta disputa, e Truss é a última pessoa que queremos tratando disso.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BIRMINGHAM – Quando um jornalista britânico pediu a Liz Truss na terça-feira, 6, que indicasse a falha de caráter que mais gostaria de consertar, ela confessou: “Acho que alguns de meus amigos diriam que sou meio implacável”.

A resposta provocou risos contidos em uma reunião de membros do Partido Conservador; afinal, essa pergunta é normalmente um convite para um político se fazer de modesto enquanto conta vantagem. Mas, dessa vez, a reposta possuiu uma aura de verdade, após uma campanha na qual Truss, a secretária de Exterior britânica, reuniu apoios renomados, cobertura positiva da imprensa e uma liderança aparentemente inabalável nas pesquisas entre os membros de seu partido.

Perto do fim da corrida pela sucessão do primeiro-ministro Boris Johnson, a marcha de Truss para Downing Street parece de fato implacável. Depois de um início de campanha tumultuado, Truss, de 47 anos, cimentou seu status como favorita absoluta para se tornar a terceira mulher a liderar o Reino Unido, depois de Margaret Thatcher e Theresa May.

Imagem divulgada pela BBC mostra Liz Truss (à esquerda) em entrevista para a emissora. Caso favoritismo se confirme, Truss será a terceira mulher a comandar o Reino Unido Foto: Jeff Overs / AFP

O resultado da disputa pela liderança do Partido Conservador foi anunciado nesta segunda-feira, 5, depois que as cédulas dos cerca de 160 mil membros pagantes da legenda sejam apuradas. O oponente atrás de Truss, Rishi Sunak, apresentou um desempenho robusto e bem recebido no evento em Birmingham, um lembrete que a sorte pode virar subitamente na política.

“Você está agindo como se isso já tivesse acabado — e não acabou”, afirmou Sunak visivelmente incomodado ao moderador, John Pienaar.

A campanha transcorreu em meio à turbulência econômica que se acentua rapidamente no país. Contas domésticas de energia estão altas, a inflação atinge dois dígitos, e o Banco da Inglaterra alerta para uma recessão prolongada. E nada disso afeta a aura de inevitabilidade em torno de Truss.

Os jornais britânicos já especulam a respeito de quem ela nomeará para o gabinete de governo e quando ela aprovará um “orçamento de emergência”. A primeira dúvida é mais fácil de responder do que a segunda. Apesar de passar um mês fazendo campanha, Truss deu poucas pistas a respeito da maneira que pretende enfrentar a crise econômica — que muitos especialistas consideram a mais grave em uma geração.

Em vez disso, ela promete cortar impostos, descartar regulações remanescentes da União Europeia e encolher o tamanho do governo britânico — medidas que agradam o povo e projetadas sob medida para membros do Partido Conservador, que tendem a ser mais velhos, mais ricos e mais de direita do que o eleitorado do partido, sem mencionar o eleitorado britânico mais amplo.

Comparações com Magaret Thatcher

Truss ficou ao lado de Johnson e continua a servir seu governo pato manco. Mas ela vestiu o manto de Thatcher, a guerreira anticomunista, evangelista do livre-mercado e ícone conservadora que chegou a Downing Street em 1979, em um momento de crise econômica comparável ao atual.

“Os princípios em que ela acreditava eram os princípios corretos”, afirmou Truss, atraindo a maior salva de palmas da noite. “Empreender, assumir responsabilidade pessoal, dar às pessoas controle sobre seu próprio dinheiro, colocar o dinheiro de volta nos bolsos das pessoas.”

Seu navegador não suporta esse video.

O parlamentar conservador britânico Phillip Lee desertou para as fileiras dos democratas liberais favoráveis à União Europeia. A mudança resulta na perda de maioria do primeiro-ministro britânico Boris Johnson antes de uma votação crucial do Brexit.

Quando o assuntou mudou para segurança nacional, perguntaram a Truss como ela reagiria diante da decisão de acionar o arsenal nuclear do Reino Unido para defender o país. “É um dever importante do premiê”, afirmou ela. “Estou pronta para exercê-lo.”

Essa dureza reverbera entre os correligionários mais fiéis ao partido, mesmo que Truss ainda não tenha persuadido muitos membros de que é a próxima encarnação da mulher que ficou conhecida como “Dama de Ferro”.

“Ela é a versão barata de Thatcher”, afirmou Tony Clark, membro do Partido Conservador que vive nas imediações de Birmingham. Clark afirmou que, apesar disso, planeja votar em Truss, porque acredita que ela é uma conservadora genuína. Sunak, ainda que “intelectualmente brilhante”, passa uma imagem de “bajulador”, afirmou ele.

Bom humor

A enfermeira aposentada Jacqueline Naylor, de 79 anos, afirmou que provavelmente também acabará apoiando Truss, apesar do desempenho robusto de Sunak tornar sua decisão mais difícil. Ela o culpa por precipitar a queda de Johnson ao se demitir do cargo de chanceler do Tesouro após escândalos inundarem o governo. Truss, notou ela, ficou ao lado do primeiro-ministro, que continua popular nas bases conservadoras.

“Liz está preenchendo todos os critérios dos membros do partido”, afirmou Edward Tolcher, de 62 anos, diretor financeiro de uma escola de Solihull, um subúrbio próximo. Ele apoia Sunak, mas acha que a disputa basicamente já está definida.

O foco certeiro de Truss nas posições conservadoras ortodoxas teve melhor desempenho do que a estratégia de Sunak, construída dizendo aos eleitores duras verdades, como que o Reino Unido tem de controlar a inflação antes de cortar impostos. Truss também melhorou gradualmente como candidata, exibindo confiança e lampejos de bom humor.

“Muita gente pensou que ela ficaria muito travada, mas ela desempenhou melhor que o esperado”, afirmou Gavin Barwell, ex-chefe de gabinete de May.

Rishi Sunak (à esq.) e Liz Truss (direita) debatem em um programa de TV suas propostas para liderar o Partido Conservador  Foto: Jonathan Hordle / EFE/EPA

Mas ele e outros afirmam que Truss pode estar protelando problemas ao se recusar a ser mais aberta em relação aos seus planos. Seu apelo por um governo menor, acrescentaram eles, poderá atrapalhar a união da coalizão forjada por Johnson em 2019. Sua vitória eleitoral naquele ano foi construía atraindo eleitores trabalhistas desiludidos com o partido, nas regiões industriais das Midlands e do norte, que foram seduzidos por sua promessa de “cumprir logo o Brexit”.

Reduzir impostos, reverter regulações e encolher o governo são políticas menos atraentes para eleitores da classe trabalhadora dessas regiões, chamadas de “muro vermelho”. Muitos deles estão satisfeitos com a generosa rede de seguridade social e consideram o governo um bastião contra o que eles acreditam ser um sistema manipulado contra eles.

“Liz Truss está oferecendo políticas que arriscam não somente alimentar a atual crise econômica, mas que também afrontam os valores desses novos conservadores”, afirmou Matthew Goodwin, professor de ciência política da Universidade de Kent.

Relações com a UE

Truss, que foi secretária do Comércio antes de se tornar secretária do Exterior, gaba-se por ter firmado acordos no pós-Brexit com Japão, Austrália e outros países. Ainda assim, seus instintos pelo livre-mercado poderiam também representar uma faca de dois gumes para tories (conservadores) recém-convertidos, que desejam um governo que defenda a indústria britânica contra concorrentes estrangeiros.

A primeira tarefa de Truss seria unificar um partido que tem sido fendido pelo drama dos anos Johnson e tem perdido apoio entre os eleitores. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto YouGov mostrou os conservadores 15 pontos porcentuais atrás dos trabalhistas, a maior diferença em quase uma década.

Críticos preocupam-se com a possibilidade das relações do Reino Unido com a União Europeia se deteriorarem ainda mais sob um governo de Truss, já que ela conta com apoio da ala pró-Brexit mais ardente do partido. Ela introduziu um projeto de lei que pretende rescindir acordos comerciais adotados na Irlanda do Norte apenas três anos atrás como parte do Brexit — e promete garantir sua aprovação.

“Ela é claramente adepta do antigo jogo de culpar os franceses e, mais genericamente, os europeus para cooptar apoio na base se seu partido”, afirmou Peter Ricketts, ex-embaixador britânico em Paris. “Reconectar-se com a Europa será vital nesta disputa, e Truss é a última pessoa que queremos tratando disso.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BIRMINGHAM – Quando um jornalista britânico pediu a Liz Truss na terça-feira, 6, que indicasse a falha de caráter que mais gostaria de consertar, ela confessou: “Acho que alguns de meus amigos diriam que sou meio implacável”.

A resposta provocou risos contidos em uma reunião de membros do Partido Conservador; afinal, essa pergunta é normalmente um convite para um político se fazer de modesto enquanto conta vantagem. Mas, dessa vez, a reposta possuiu uma aura de verdade, após uma campanha na qual Truss, a secretária de Exterior britânica, reuniu apoios renomados, cobertura positiva da imprensa e uma liderança aparentemente inabalável nas pesquisas entre os membros de seu partido.

Perto do fim da corrida pela sucessão do primeiro-ministro Boris Johnson, a marcha de Truss para Downing Street parece de fato implacável. Depois de um início de campanha tumultuado, Truss, de 47 anos, cimentou seu status como favorita absoluta para se tornar a terceira mulher a liderar o Reino Unido, depois de Margaret Thatcher e Theresa May.

Imagem divulgada pela BBC mostra Liz Truss (à esquerda) em entrevista para a emissora. Caso favoritismo se confirme, Truss será a terceira mulher a comandar o Reino Unido Foto: Jeff Overs / AFP

O resultado da disputa pela liderança do Partido Conservador foi anunciado nesta segunda-feira, 5, depois que as cédulas dos cerca de 160 mil membros pagantes da legenda sejam apuradas. O oponente atrás de Truss, Rishi Sunak, apresentou um desempenho robusto e bem recebido no evento em Birmingham, um lembrete que a sorte pode virar subitamente na política.

“Você está agindo como se isso já tivesse acabado — e não acabou”, afirmou Sunak visivelmente incomodado ao moderador, John Pienaar.

A campanha transcorreu em meio à turbulência econômica que se acentua rapidamente no país. Contas domésticas de energia estão altas, a inflação atinge dois dígitos, e o Banco da Inglaterra alerta para uma recessão prolongada. E nada disso afeta a aura de inevitabilidade em torno de Truss.

Os jornais britânicos já especulam a respeito de quem ela nomeará para o gabinete de governo e quando ela aprovará um “orçamento de emergência”. A primeira dúvida é mais fácil de responder do que a segunda. Apesar de passar um mês fazendo campanha, Truss deu poucas pistas a respeito da maneira que pretende enfrentar a crise econômica — que muitos especialistas consideram a mais grave em uma geração.

Em vez disso, ela promete cortar impostos, descartar regulações remanescentes da União Europeia e encolher o tamanho do governo britânico — medidas que agradam o povo e projetadas sob medida para membros do Partido Conservador, que tendem a ser mais velhos, mais ricos e mais de direita do que o eleitorado do partido, sem mencionar o eleitorado britânico mais amplo.

Comparações com Magaret Thatcher

Truss ficou ao lado de Johnson e continua a servir seu governo pato manco. Mas ela vestiu o manto de Thatcher, a guerreira anticomunista, evangelista do livre-mercado e ícone conservadora que chegou a Downing Street em 1979, em um momento de crise econômica comparável ao atual.

“Os princípios em que ela acreditava eram os princípios corretos”, afirmou Truss, atraindo a maior salva de palmas da noite. “Empreender, assumir responsabilidade pessoal, dar às pessoas controle sobre seu próprio dinheiro, colocar o dinheiro de volta nos bolsos das pessoas.”

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O parlamentar conservador britânico Phillip Lee desertou para as fileiras dos democratas liberais favoráveis à União Europeia. A mudança resulta na perda de maioria do primeiro-ministro britânico Boris Johnson antes de uma votação crucial do Brexit.

Quando o assuntou mudou para segurança nacional, perguntaram a Truss como ela reagiria diante da decisão de acionar o arsenal nuclear do Reino Unido para defender o país. “É um dever importante do premiê”, afirmou ela. “Estou pronta para exercê-lo.”

Essa dureza reverbera entre os correligionários mais fiéis ao partido, mesmo que Truss ainda não tenha persuadido muitos membros de que é a próxima encarnação da mulher que ficou conhecida como “Dama de Ferro”.

“Ela é a versão barata de Thatcher”, afirmou Tony Clark, membro do Partido Conservador que vive nas imediações de Birmingham. Clark afirmou que, apesar disso, planeja votar em Truss, porque acredita que ela é uma conservadora genuína. Sunak, ainda que “intelectualmente brilhante”, passa uma imagem de “bajulador”, afirmou ele.

Bom humor

A enfermeira aposentada Jacqueline Naylor, de 79 anos, afirmou que provavelmente também acabará apoiando Truss, apesar do desempenho robusto de Sunak tornar sua decisão mais difícil. Ela o culpa por precipitar a queda de Johnson ao se demitir do cargo de chanceler do Tesouro após escândalos inundarem o governo. Truss, notou ela, ficou ao lado do primeiro-ministro, que continua popular nas bases conservadoras.

“Liz está preenchendo todos os critérios dos membros do partido”, afirmou Edward Tolcher, de 62 anos, diretor financeiro de uma escola de Solihull, um subúrbio próximo. Ele apoia Sunak, mas acha que a disputa basicamente já está definida.

O foco certeiro de Truss nas posições conservadoras ortodoxas teve melhor desempenho do que a estratégia de Sunak, construída dizendo aos eleitores duras verdades, como que o Reino Unido tem de controlar a inflação antes de cortar impostos. Truss também melhorou gradualmente como candidata, exibindo confiança e lampejos de bom humor.

“Muita gente pensou que ela ficaria muito travada, mas ela desempenhou melhor que o esperado”, afirmou Gavin Barwell, ex-chefe de gabinete de May.

Rishi Sunak (à esq.) e Liz Truss (direita) debatem em um programa de TV suas propostas para liderar o Partido Conservador  Foto: Jonathan Hordle / EFE/EPA

Mas ele e outros afirmam que Truss pode estar protelando problemas ao se recusar a ser mais aberta em relação aos seus planos. Seu apelo por um governo menor, acrescentaram eles, poderá atrapalhar a união da coalizão forjada por Johnson em 2019. Sua vitória eleitoral naquele ano foi construía atraindo eleitores trabalhistas desiludidos com o partido, nas regiões industriais das Midlands e do norte, que foram seduzidos por sua promessa de “cumprir logo o Brexit”.

Reduzir impostos, reverter regulações e encolher o governo são políticas menos atraentes para eleitores da classe trabalhadora dessas regiões, chamadas de “muro vermelho”. Muitos deles estão satisfeitos com a generosa rede de seguridade social e consideram o governo um bastião contra o que eles acreditam ser um sistema manipulado contra eles.

“Liz Truss está oferecendo políticas que arriscam não somente alimentar a atual crise econômica, mas que também afrontam os valores desses novos conservadores”, afirmou Matthew Goodwin, professor de ciência política da Universidade de Kent.

Relações com a UE

Truss, que foi secretária do Comércio antes de se tornar secretária do Exterior, gaba-se por ter firmado acordos no pós-Brexit com Japão, Austrália e outros países. Ainda assim, seus instintos pelo livre-mercado poderiam também representar uma faca de dois gumes para tories (conservadores) recém-convertidos, que desejam um governo que defenda a indústria britânica contra concorrentes estrangeiros.

A primeira tarefa de Truss seria unificar um partido que tem sido fendido pelo drama dos anos Johnson e tem perdido apoio entre os eleitores. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto YouGov mostrou os conservadores 15 pontos porcentuais atrás dos trabalhistas, a maior diferença em quase uma década.

Críticos preocupam-se com a possibilidade das relações do Reino Unido com a União Europeia se deteriorarem ainda mais sob um governo de Truss, já que ela conta com apoio da ala pró-Brexit mais ardente do partido. Ela introduziu um projeto de lei que pretende rescindir acordos comerciais adotados na Irlanda do Norte apenas três anos atrás como parte do Brexit — e promete garantir sua aprovação.

“Ela é claramente adepta do antigo jogo de culpar os franceses e, mais genericamente, os europeus para cooptar apoio na base se seu partido”, afirmou Peter Ricketts, ex-embaixador britânico em Paris. “Reconectar-se com a Europa será vital nesta disputa, e Truss é a última pessoa que queremos tratando disso.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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