O candidato a presidente da Colômbia, Rodolfo Hernández, decidiu cancelar a campanha pública dez dias antes do segundo turno da eleição porque estaria com a vida em risco. Hernández, um político populista que surpreendeu nestas eleições, declarou que recebeu um “aviso” de que querem matá-lo.
Segundo a polícia colombiana, não há informações concretas sobre ameaças contra Hernández até o momento e as declarações do candidato serão investigadas. O empresário enfrenta uma disputa equilibrada com o esquerdista Gustavo Petro pela presidência da Colômbia, que também já denunciou ter recebido ameaças.
A decisão de cancelar a campanha pública foi anunciada por Hernández no Twitter nesta quinta-feira, 9. “Para minha segurança e para garantir a possibilidade de eleições democráticas em 19 de junho, tomei a decisão de cancelar todas as minhas aparições públicas entre agora e as eleições”, escreveu.
Segundo o candidato, ele teve acesso a vídeos “onde Petro e os políticos ao seu redor mostram que são uma quadrilha criminosa”. O conteúdo destes vídeos, segundo a agência EFE, mostra uma reunião de estratégia de campanha de Gustavo Petro, na qual são feitos planos para difamar os possíveis adversários da campanha. Hernández não é citado nos vídeos, gravados em um momento em que ele não era considerado forte para as eleições.
Em Miami, Hernández foi questionado pela imprensa sobre a decisão e respondeu que soube de supostas ameaças contra a sua vida. “Não com chumbo, mas com facas”, disse, ao falar sobre a dificuldade garantir segurança contra facadas em meio a multidão -- um ataque que lembaria o acontecimento sofrido pelo presidente Jair Bolsonaro no Brasil durante a campanha eleitoral de 2018. “Neste momento, tenho certeza que a minha vida tá em risco”, acrescentou o empresário.
Um comício de Hernández marcado para Bogotá no sábado vai ser mantido, mas o candidato vai participar virtualmente. O restante será cancelado, segundo a direção da sua campanha.
No primeiro turno, o candidato Gustavo Petro também afirmou ter sofrido ameaças e cancelou eventos no centro do país. O governo colombiano eventualmente forneceu segurança à Petro segurança e a polícia -- que inicialmente disse não ter informações sobre as ameaças -- disse que iria investigar.
Quem é Rodolfo Hernández
Rodolfo Hernández, 77, empresário e ex-prefeito de Bucaramanga, cidade no norte da Colômbia, é um candidato que ganhou fôlego no final da corrida eleitoral da Colômbia. Ele ultrapassou o então segundo lugar nas pesquisas, o direitista Federico Gutiérrez, e garantiu um lugar no segundo turno contra Gustavo Preto, da esquerda.
Considerado uma espécie de “Donald Trump” colombiano, Hernández surpreendeu ao fazer uma campanha com características populistas e financiada pela própria fortuna, se apresentando como outsider para vencer as eleições no país.
Rodolfo Hernández Suárez nasceu em Piedecuesta, em 1945, e é um empresário da região de Santander, no nordeste da Colômbia. O empresário é um magnata da construção civil com uma fortuna avaliada em US$ 100 milhões.
Durante a campanha, o empresário encampou o discurso anticorrupção e tentou se mostrar como uma “terceira via”, mas com ideias conservadores radicais e um discurso populista de direita.
Ele propôs recompensar os cidadãos por denunciar corrupção, nomeando colombianos que já vivem no exterior para cargos diplomáticos, o que, segundo ele, renderá economias em viagens e outras despesas, e proibindo festas desnecessárias nas embaixadas.
Daniel García-Peña, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia, chamou Hernández de “candidato curinga”, porque se conectou com eleitores frustrados concentrando-se em uma única mensagem: acabar com a corrupção.
“A campanha de Rodolfo é: Prendam os corruptos. Ponto final”, disse García-Peña. “Isso é ser conectado. Há muita raiva contra a classe política.” /EFE, REUTERS