NAIRÓBI, Quênia - O candidato à presidência rebolou e encolheu os ombros dançando ao som do reggae que bombava em seu ônibus de campanha. Enquanto George Wajackoyah dançava, uma plateia entoava em volume cada vez mais alto um verso da canção que se tornou o hino de sua campanha. “Sim, sou plantador de maconha”, reverberava a canção de sucesso de Marlon Asher, “Ganja Farmer”. “Chamem-me de plantador de maconha.”
Quando Wajackoyah, de 62 anos, pegou o microfone em Tala, uma cidade próxima a Nairóbi, ele falou sobre acabar com a corrupção nos organismos públicos do Quênia, consertar a economia do país e corrigir sua dependência excessiva em relação à China. Mas a promessa mais aplaudida — que está no coração da campanha de Wajackoyah e que transformou o candidato outsider em sensação viral — foi a mais simples.
“Maconha, maconha, maconha”, gritou Wajackoyah — usando a palavra “bhangi”, que define a erva na língua suaíli. A plateia levantou punhos cerrados e pelo menos uma baforada de fumaça se elevou ao céu. Milhares de pessoas berraram em resposta: “Maconha, maconha, maconha”.
A eleição no Quênia, na terça-feira, 9, será em última instância uma disputa entre dois dos políticos mais tradicionais do país — o ex-primeiro-ministro Raila Odinga e o vice-presidente, William Ruto — que, segundo pesquisas, estão praticamente empatados. Wajackoyah poderia ser capaz, no máximo, de garantir votos suficientes para forçar um segundo turno entre Odinga e Ruto, afirmam analistas políticos.
Críticos desprezam Wajackoyah, professor-adjunto veterano de direito e advogado especializado em imigração, qualificando-o como insano ou imoral, ou de ambas as formas. Mas durante uma campanha eleitoral que, de muitas maneiras, se caracterizou pela desilusão com o status quo, até mesmo os críticos de Wajackoyah concordam que ele está agitando a disputa — e alimentando uma discussão mais ampla a respeito da maconha, no Quênia e em todo o continente africano.
“O que Wajackoyah fez foi trazer a discussão sobre a legalização da maconha para o primeiro plano”, afirmou Macharia Munene, professor de história e relações internacionais da Universidade Internacional Estados Unidos, em Nairóbi. “Se a maconha for legalizada no Quênia, há a possibilidade de que a região também possa começar a discutir isso seriamente (…) então, o efeito é grande, e outros países estão observando esse bufão.”
Na África, meia dúzia de países — primeiro Lesoto, em 2017, e mais recentemente o Marrocos, no ano passado — legalizaram a maconha para fins médicos e comerciais, mas não para uso recreativo. Na África do Sul, adultos podem portar, cultivar e usar maconha privadamente, mas não em público.
Da maneira que Wajackoyah vê a coisa, a criminalização da maconha reflete um dos muitos valores ocidentais que há muito são impostos sobre o Quênia. A legalização da erva para fins industriais e médicos, afirma ele, ajudaria o Quênia a romper com seu passado colonial e permitiria ao país pagar sua dívida, de aproximadamente US$ 71 bilhões. Especialistas afirmam que os cálculos de Wajackoyah são absurdamente exagerados. Jeffrey Miron, professor de economia da Universidade Harvard, estimou que a renda anual para o Quênia com o comércio de maconha seria mais próxima a US$ 60 milhões.
Apesar das declarações de Wajackoyah parecerem disparatadas — ele também fala em exportar testículos de hienas e carne de cachorro — sua proposta de usar a legalização da maconha para impulsionar a economia inflamou a discussão, afirmou o senador Ledama Olekina, que representa o condado queniano de Narok e tem pressionado pela legalização nos anos recentes.
“Quando a gente visita expatriados que vivem em Nairóbi, todos eles estão fumando maconha”, afirmou o senador. “Por que a eles lhes é permitido fumar e os pobres não podem fumar?”
A sociedade queniana ainda é conservadora e religiosa demais para a candidatura de Wajackoyah ganhar tração verdadeiramente, afirmou Olekina, e Wajackoyah não tentou de nenhuma maneira obter a experiência e formar as alianças necessárias para ser bem-sucedido na política do Quênia. Mas Olekina afirmou estar confiante de que, no futuro, a maré poderá mudar.
“A maconha vai acabar sendo legalizada no Quênia”, afirmou ele. “Só precisamos de mais malucos como George Wacjackoyah, eu mesmo e outras pessoas falando sobre isso.”
Apesar da garganta, Wajackoyah afirma que não fuma maconha e de fato não advoga pela legalização do uso recreativo da erva. O foco dele, em vez disso, é sobre o cânhamo industrial e a canábis medicinal. Mas ele se apressa em afirmar que não vê nenhum problema no uso recreativo da maconha: “O que há de errado em fumar? Nossos avós já fumavam esse bagulho”. Wajackoyah promete que, se vencer, fumará o primeiro baseado de sua vida dentro do gabinete presidencial.
Certa manhã, na semana passada, Wajackoyah estacionou seu Lexus branco em um posto de gasolina na periferia de Nairóbi. Ele usava sandálias Adidas, calças de agasalho e uma camiseta amarelo-neon estampada com o nome de seu partido: “Raízes”. Abaixando um pouco os óculos escuros, o político de barba grisalha sinalizou para dois jornalistas do Washington Post entrarem no carro, rapidamente.
Wajackoyah explicou que a estrutura de sua campanha é modesta e que não gosta que as pessoas saibam onde ele está antes dos eventos políticos, pois as multidões têm sido grandes demais. Seu carro serve como escritório, afirmou ele, e o surrado ônibus de campanha — recondicionado para incluir um palco improvisado e uma cabine de DJ — ele pegou emprestado de um amigo.
Wajackoyah sacou o telefone e mostrou vídeos das enormes multidões que ele havia atraído no oeste do Quênia dias antes. “Esta”, afirmou Wajackoyah, “é a primeira vez que temos uma revolução deste tipo na África”. Nos meses recentes, suas entrevistas à TV têm alcançado centenas de milhares de visualizações, e discussões sobre sua mensagem — favoráveis ou contrárias — têm se espalhado rapidamente no TikTok. Sentado no banco da frente do carro, Wajackoyah fez uma pausa, ouvindo o crescente número de jovens que se aglomeravam em torno do veículo, gritando seu nome.
“Fomos descobertos”, afirmou Wajackoyah, sacudindo a cabeça.
Ele saiu do veículo e fez um discurso improvisado. Disse aos jovens que o carrinho de mão, um dos símbolos da campanha de Ruto, seu rival, deveria ser usado para carregar maconha. A multidão deu risada. Quando ele encerrou sua fala com o tradicional “macooonha!”, a plateia vibrou em resposta, levantando punhos cerrados.
Entre eles estava Jack Juma, um mototaxista que fuma maconha depois do café da manhã e do almoço. Juma, de 26 anos, disse acreditar que Wajackoyah poderia ser “uma voz para os jovens”.
Adotado por hare-krishnas quando criança, depois de viver anos nas ruas de Nairóbi, Wajackoyah afirma que não bebe álcool nem come carne. Ele virou policial depois de se formar no ensino médio e acabou se juntando à unidade de inteligência. Wajackoyah afirmou que foi forçado a se exilar depois que levantou informações sobre o assassinato de um ministro de governo, em 1990, e fugiu para o Reino Unido — onde trabalhou como coveiro e guarda particular — e depois para os Estados Unidos. No caminho, ele adquiriu uma lista tão grande de habilidades que essa história virou chacota durante a campanha.
Wajackoyah voltou para o Quênia em 2012, disse que sentiu um chamado para retornar. Em 2015, ele se graduou na Escola de Direito do Quênia, em Nairóbi, matriculando-se, segundo ele, depois da legitimidade de seus diplomas anteriores terem sido questionados. Em Nairóbi, ele abriu sua própria firma de advocacia, representando personalidades como a ativista ugandense Stella Nyanzi, crítica do presidente Yoweri Museveni. Wajackoyah afirmou que, mais recentemente, trabalhou como professor-adjunto da Universidade Internacional Estados Unidos.
Conforme o ônibus da campanha de Wajackoyah atravessava o tráfego de Nairóbi, chacoalhando pelas vias da periferia da cidade, ele conversava com sua companheira de chapa, Justina Wamae, uma empresária de 35 anos que cresceu em uma favela de Kibera, e dançava sozinho enquanto o DJ tocava um stream de reggae com canções de Lucky Dube e Bob Marley. Ocasionalmente, ele se agarrava a uma barra de apoio em torno do ônibus e rebolava se agachando.
Wajackoyah se inclinou para cumprimentar com o punho um grupo de açougueiros que se aproximou, jogou beijos para estudantes de cabeleireiro que subiram em um telhado para vê-lo, abraçou jovens que usavam camisetas e protetores de celular com desenho de plantas de maconha e dançou com mulheres que o pegaram pela mão. Ele atraiu uma enorme multidão em Grogan, uma das favelas de Nairóbi onde ele pedia esmola quando era criança, e disse à plateia em êxtase: “Eu vivi na beira desse rio assim como vocês (…). Alguém cujo pai é um zé-ninguém, da mesma maneira que vocês são percebidos, pode virar presidente do Quênia”.
Mesmo quando o ônibus era cercado de jovens — muitos parecendo estar chapados, alguns tentando tomar o microfone dele em certos momentos — Wajackoyah permanecia calmo. Com frequência, um pequeno sorriso aparecia em seu rosto. Wajackoyah afirmou que está satisfeito porque as multidões demonstram o impacto que ele já surtiu, independentemente dos resultados da eleição. O objetivo, disse ele, é transformar mentes, e nesse sentido: “Nós já vencemos”. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO