Cartéis do tráfico no México escolhem candidatos e matam rivais perto da eleição


Mais de duas dúzias de postulantes foram mortos durante a campanha para as eleições de 2 de junho; outras centenas abandonaram suas disputas

Por Mary Beth Sheridan
Atualização:

VILLA LAS ROSAS, México — Daquela vez, Willy Ochoa tinha trazido reforço.

Daquela vez, ao contrário da anterior, ele estava preparado para ataques de cartéis. Ia acompanhado de três caminhões cheios de soldados da guarda nacional e dois carros da Polícia Estadual com sirenes acesas. Ochoa viajava em seu próprio SUV à prova de balas e protegido ainda por seu próprio grupo de agentes de seguranças musculosos — um deles sentado na carroceria de uma picape, olhando para o céu.

“Ele está vigiando para evitar que soltem uma bomba de algum drone”, explicou Ochoa. Fazer campanha para o Senado do México é assim hoje em dia. “A gente se arrisca o tempo todo”, afirmou o candidato.

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Candidato ao Senado Willy Ochoa caminha com integrantes do Partido Revolucionário Institucional antes de comício em San Juan Chamula. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Grupos de crime organizado estão transformando a campanha para as eleições de 2 de junho no México em um campo de batalha, tornando o atual período eleitoral o mais mortífero na história moderna do país. Mais de duas dúzias de candidatos foram mortos; outras centenas abandonaram suas disputas. Mais de 400 postulantes solicitaram esquemas de segurança para o governo federal. A campanha de intimidações e assassinatos está colocando em risco a própria democracia.

O objetivo dos grupos armados é instaurar líderes amigáveis em cargos eletivos locais, para que possam explorar melhor as comunidades mexicanas. Anteriormente com foco principal em traficar drogas para os Estados Unidos, os cartéis passaram a traficar também imigrantes, extorquir empresas e obter contratos para firmas que controlam. Os criminosos querem nomear chefes de polícias municipais e diretores de serviços públicos.

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O que torna crucial controlar gabinetes de prefeituras. Mas candidatos a governos estaduais e ao Congresso também correm risco. Em algumas regiões, os cartéis detêm tanto poder que conseguem decidir quem pode entrar nas cidades — ou o que as pessoas podem dizer em voz alta.

Ochoa cumprimenta apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/ The Washington Post
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Equipe do candidato reforça segurança durante a campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

“Eles não gostam quando a gente fala sobre a violência do crime organizado, as extorsões, as pessoas expulsas de suas comunidades”, afirmou Ochoa, que concorre pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI) para representar o Estado de Chiapas no Senado. Quando sua campanha anuncia visitas a regiões tensas, afirmou ele, “nós recebemos ameaças e avisos para não ir”.

Ochoa viu o perigo de perto em fevereiro, quando motoqueiros armados o perseguiram após seu comboio de campanha parar em uma cidade tensa. Ele decidiu que jamais ficaria tão vulnerável novamente.

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O presidente Andrés Manuel López Obrador acusa a oposição e os meios de comunicação de exagerarem o grau de violência que acomete lugares como Chiapas. Mas mesmo a protegida de López Obrador, a candidata presidencial em primeiro lugar nas pesquisas, Claudia Sheinbaum, foi parada por homens mascarados no mês passado em uma região do Estado controlada pelo Cartel de Sinaloa. Os homens disseram para a candidata “se lembrar dos pobres” e liberaram sua passagem por seu posto de controle.

Altar à espera do político visitante. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Assassinos mataram candidatos de todos os principais partidos mexicanos. Em Maravatio, uma cidade de 80 mil habitantes no Estado de Michoacán, na região central do México, três candidatos a prefeito foram mortos — dois do partido Morena, de López Obrador, e um do opositor Partido da Ação Nacional, ou PAN.

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Carlos Palomeque, presidente do PAN em Chiapas, afirma que cerca de duas dúzias de candidatos a prefeito de seu partido abandonaram suas disputas. Antes os cartéis compravam os eleitores, afirma ele. Agora, “expulsam candidatos da eleição. É mais barato”.

Cartaz de Ochoa promete "a paz de antes e os apoiadores de agora". Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Uma campanha diferente este ano

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Ochoa, de 45 anos, cresceu cercado de política. Seu pai, ativista em defesa de agricultores e outras causas sociais, foi congressista. Ochoa adorava ir aos seus comícios, viajando de cidade em cidade, suando e vibrando junto com as massas.

Seus dois filhos pequenos não estão experimentando isso. Ochoa tirou-os do Estado, juntamente com sua mulher, anteriormente este ano. “Quero mantê-los em segurança”, afirmou ele, conforme seu comboio atravessava uma região rural. E mostrou à reportagem os vídeos mais recentes dos filhos em seu iPhone.

“Papai, acabo de rezar por você”, disse o menino de 7 anos. “Só mais 30 dias até você voltar”, comemorou o de 9, sorrindo para a câmera. “Espero que você ganhe a eleição!”

“Meus filhos são adoráveis”, afirmou Ochoa. Sua voz ficou trêmula, e ele deu um gole d’água.

Candidatos cumprimentam apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homens levantam chapéus em saudação. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Ochoa foi legislador estadual, congressista federal e autoridade graduada no PRI. Está acostumado com o jogo duro da política e o antigo histórico dos laços entre os políticos mexicanos e os cartéis. Mas no início a atual campanha ele percebeu que a disputa seria diferente. Em fevereiro, Ochoa discursou em Villa Las Rosas, uma das cidades próximas à fronteira com a Guatemala usadas por traficantes para armazenar drogas.

Ele afirmou que, quando desceu do palanque, foi cercado por mais de 20 homens, alguns armados. “Temos instruções para levá-lo ao homem que controla esta praça”, ou distrito criminal, afirmou um deles. Ochoa conseguiu escapar.

Mas cerca de 45 minutos depois, quando parou para almoçar, o candidato viu uma linha de motoqueiros armados acelerando na direção do estacionamento do restaurante. Atrás dele. Os guarda-costas de Ochoa engatilharam seus fuzis automáticos. Os motoqueiros pararam, talvez aguardando reforços, e o candidato e seu comboio fugiram a toda velocidade.

Segurança no restaurante em que de Ochoa foi alvo de uma tentativa de sequestro em fevereiro. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homem armado vigia restaurante em que Ochoa come em San Francisco Pujiltic. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Agora, três meses depois, Ochoa estava voltando a Villa Las Rosas. O walkie-talkie instalado no banco de trás começou a falar.

“O veículo na nossa frente está agindo como vigia de cartel”, disse um guarda-costas.

“Aquele cara de boné branco está nos observando.”

“Você vê uma moto? Está 60 ou 70 metros adiante.”

“Estão mandando mensagens.”

Ochoa fala com apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Eles deixam cartéis diferentes entrar’

Chiapas, o Estado mais pobre do México, ganhou as manchetes em 1994, quando agricultores indígenas lançaram uma insurreição armada exigindo justiça e reparação. Liderados pelo subcomandante Marcos, um intelectual fotogênico, sempre com o cachimbo na boca, os rebeldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) conquistaram simpatia internacional.

Chiapas não era conhecido por violência de cartéis. A escassamente policiada fronteira sul do México funciona há muito tempo como ponto de entrada para a cocaína a caminho dos EUA, e as matas verdejantes do Estado dão cobertura para pistas de avião clandestinas. Mas o Cartel de Sinaloa monopolizava o tráfico de drogas — e mantinha o ambiente tranquilo.

Mulher e segurança observam visita de Ochoa a casas e comércios na Villa Las Rosas.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Tropa da Guarda Nacional do México reforça segurança do comboio de Ochoa em visita a Villa Las Rosas. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Isso mudou nos últimos anos. Emergiram cisões no cartel. A democracia trouxe novos partidos políticos, que supostamente estabeleceram laços com outros grupos de traficantes. E a quantidade de migrantes atravessando o México foi às alturas, alimentando uma lucrativa indústria de tráfico de pessoas no Estado fronteiriço.

Ochoa, cujo partido governou o México por sete décadas no século passado, atribui a culpa da atual violência a políticos incompetentes.

“Eles deixam cartéis diferentes entrar”, afirmou ele. “Não estabelecem um limite.”

Atualmente, cerca de uma dúzia de cartéis mantém atividades em Chiapas. Entre eles, as duas organizações criminosas mais poderosas do México: os Cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração. Homicídios e desaparecimentos dispararam. Seis candidatos a cargos eletivos foram mortos nos meses recentes.

Mas muitos moradores têm medo até de falar sobre a alta na criminalidade. Um professor que organizava uma marcha contra a violência do narcotráfico na cidade de Chicomuselo foi torturado e morto diante de sua mulher e seus filhos.

Ochoa é contundente ao condenar a violência. Certamente é uma boa plataforma política — e tema principal da campanha de Xóchitl Gálvez, a candidata à presidência apoiada pelo PAN e pelo PRI, principal rival de Sheinbaum. Mas há outro motivo para sua determinação, afirma Ochoa.

“Eu amo Chiapas. Você nem imagina o quanto.”

Ochoa distribui camisetas da campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Segurança armado acompanha Ochoa.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Isto, meus amigos, não é viver’

Ochoa tinha começado o dia na comunidade indígena de San Juan Chamula. Percorreu a estreita rua principal de Villa Las Rosas distribuindo apertos de mão e conversando com donos de comércios.

Depois esperou dentro de seu SUV diante de um centro comunitário enquanto sua equipe de segurança inspecionava o local. Centenas de pessoas o aguardavam dentro. Muitas de pé. Tinha sido quase impossível alugar os assentos.

Um dos assessores de Ochoa entrou no SUV e tocou um áudio de um dos organizadores do evento recusando-se a fornecer cadeiras. Ele poderia ter ganhado “alguns pesos”, afirmou o candidato, mas isso “complicaria a minha vida”.

Ochoa entrou no recinto enquanto uma música de festa típica das campanhas mexicanas bombava nas caixas de som. Quando pegou o microfone, denunciou a epidemia de extorsões, assassinatos e roubos nas estradas.

“Isto, meus amigos, não é viver”, afirmou ele. “Eu digo isso a todas as pessoas ruins, aos partidos políticos, aos nossos adversários: Willy Ochoa não vai desistir e não vai desaparecer.”

Mas um imprevisto em sua campanha naquele dia demonstrou a escala do desafio. Em Villa Las Rosas, a candidata à prefeitura da coalizão opositora teve de abandonar a disputa. Ela foi substituída por um novato de 28 anos. Na parada seguinte de Ochoa, a cidade de Socoltenango, o candidato a prefeito da coalizão apareceria ao seu lado, desafiando alertas recomendando-lhe a ficar longe. Foi um como cruzar um limite. O candidato, Arturo Navarro, acabou ameaçado de morte e partiu para um esconderijo./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

VILLA LAS ROSAS, México — Daquela vez, Willy Ochoa tinha trazido reforço.

Daquela vez, ao contrário da anterior, ele estava preparado para ataques de cartéis. Ia acompanhado de três caminhões cheios de soldados da guarda nacional e dois carros da Polícia Estadual com sirenes acesas. Ochoa viajava em seu próprio SUV à prova de balas e protegido ainda por seu próprio grupo de agentes de seguranças musculosos — um deles sentado na carroceria de uma picape, olhando para o céu.

“Ele está vigiando para evitar que soltem uma bomba de algum drone”, explicou Ochoa. Fazer campanha para o Senado do México é assim hoje em dia. “A gente se arrisca o tempo todo”, afirmou o candidato.

Candidato ao Senado Willy Ochoa caminha com integrantes do Partido Revolucionário Institucional antes de comício em San Juan Chamula. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Grupos de crime organizado estão transformando a campanha para as eleições de 2 de junho no México em um campo de batalha, tornando o atual período eleitoral o mais mortífero na história moderna do país. Mais de duas dúzias de candidatos foram mortos; outras centenas abandonaram suas disputas. Mais de 400 postulantes solicitaram esquemas de segurança para o governo federal. A campanha de intimidações e assassinatos está colocando em risco a própria democracia.

O objetivo dos grupos armados é instaurar líderes amigáveis em cargos eletivos locais, para que possam explorar melhor as comunidades mexicanas. Anteriormente com foco principal em traficar drogas para os Estados Unidos, os cartéis passaram a traficar também imigrantes, extorquir empresas e obter contratos para firmas que controlam. Os criminosos querem nomear chefes de polícias municipais e diretores de serviços públicos.

O que torna crucial controlar gabinetes de prefeituras. Mas candidatos a governos estaduais e ao Congresso também correm risco. Em algumas regiões, os cartéis detêm tanto poder que conseguem decidir quem pode entrar nas cidades — ou o que as pessoas podem dizer em voz alta.

Ochoa cumprimenta apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/ The Washington Post
Equipe do candidato reforça segurança durante a campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

“Eles não gostam quando a gente fala sobre a violência do crime organizado, as extorsões, as pessoas expulsas de suas comunidades”, afirmou Ochoa, que concorre pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI) para representar o Estado de Chiapas no Senado. Quando sua campanha anuncia visitas a regiões tensas, afirmou ele, “nós recebemos ameaças e avisos para não ir”.

Ochoa viu o perigo de perto em fevereiro, quando motoqueiros armados o perseguiram após seu comboio de campanha parar em uma cidade tensa. Ele decidiu que jamais ficaria tão vulnerável novamente.

O presidente Andrés Manuel López Obrador acusa a oposição e os meios de comunicação de exagerarem o grau de violência que acomete lugares como Chiapas. Mas mesmo a protegida de López Obrador, a candidata presidencial em primeiro lugar nas pesquisas, Claudia Sheinbaum, foi parada por homens mascarados no mês passado em uma região do Estado controlada pelo Cartel de Sinaloa. Os homens disseram para a candidata “se lembrar dos pobres” e liberaram sua passagem por seu posto de controle.

Altar à espera do político visitante. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Assassinos mataram candidatos de todos os principais partidos mexicanos. Em Maravatio, uma cidade de 80 mil habitantes no Estado de Michoacán, na região central do México, três candidatos a prefeito foram mortos — dois do partido Morena, de López Obrador, e um do opositor Partido da Ação Nacional, ou PAN.

Carlos Palomeque, presidente do PAN em Chiapas, afirma que cerca de duas dúzias de candidatos a prefeito de seu partido abandonaram suas disputas. Antes os cartéis compravam os eleitores, afirma ele. Agora, “expulsam candidatos da eleição. É mais barato”.

Cartaz de Ochoa promete "a paz de antes e os apoiadores de agora". Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Uma campanha diferente este ano

Ochoa, de 45 anos, cresceu cercado de política. Seu pai, ativista em defesa de agricultores e outras causas sociais, foi congressista. Ochoa adorava ir aos seus comícios, viajando de cidade em cidade, suando e vibrando junto com as massas.

Seus dois filhos pequenos não estão experimentando isso. Ochoa tirou-os do Estado, juntamente com sua mulher, anteriormente este ano. “Quero mantê-los em segurança”, afirmou ele, conforme seu comboio atravessava uma região rural. E mostrou à reportagem os vídeos mais recentes dos filhos em seu iPhone.

“Papai, acabo de rezar por você”, disse o menino de 7 anos. “Só mais 30 dias até você voltar”, comemorou o de 9, sorrindo para a câmera. “Espero que você ganhe a eleição!”

“Meus filhos são adoráveis”, afirmou Ochoa. Sua voz ficou trêmula, e ele deu um gole d’água.

Candidatos cumprimentam apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homens levantam chapéus em saudação. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Ochoa foi legislador estadual, congressista federal e autoridade graduada no PRI. Está acostumado com o jogo duro da política e o antigo histórico dos laços entre os políticos mexicanos e os cartéis. Mas no início a atual campanha ele percebeu que a disputa seria diferente. Em fevereiro, Ochoa discursou em Villa Las Rosas, uma das cidades próximas à fronteira com a Guatemala usadas por traficantes para armazenar drogas.

Ele afirmou que, quando desceu do palanque, foi cercado por mais de 20 homens, alguns armados. “Temos instruções para levá-lo ao homem que controla esta praça”, ou distrito criminal, afirmou um deles. Ochoa conseguiu escapar.

Mas cerca de 45 minutos depois, quando parou para almoçar, o candidato viu uma linha de motoqueiros armados acelerando na direção do estacionamento do restaurante. Atrás dele. Os guarda-costas de Ochoa engatilharam seus fuzis automáticos. Os motoqueiros pararam, talvez aguardando reforços, e o candidato e seu comboio fugiram a toda velocidade.

Segurança no restaurante em que de Ochoa foi alvo de uma tentativa de sequestro em fevereiro. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homem armado vigia restaurante em que Ochoa come em San Francisco Pujiltic. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Agora, três meses depois, Ochoa estava voltando a Villa Las Rosas. O walkie-talkie instalado no banco de trás começou a falar.

“O veículo na nossa frente está agindo como vigia de cartel”, disse um guarda-costas.

“Aquele cara de boné branco está nos observando.”

“Você vê uma moto? Está 60 ou 70 metros adiante.”

“Estão mandando mensagens.”

Ochoa fala com apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Eles deixam cartéis diferentes entrar’

Chiapas, o Estado mais pobre do México, ganhou as manchetes em 1994, quando agricultores indígenas lançaram uma insurreição armada exigindo justiça e reparação. Liderados pelo subcomandante Marcos, um intelectual fotogênico, sempre com o cachimbo na boca, os rebeldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) conquistaram simpatia internacional.

Chiapas não era conhecido por violência de cartéis. A escassamente policiada fronteira sul do México funciona há muito tempo como ponto de entrada para a cocaína a caminho dos EUA, e as matas verdejantes do Estado dão cobertura para pistas de avião clandestinas. Mas o Cartel de Sinaloa monopolizava o tráfico de drogas — e mantinha o ambiente tranquilo.

Mulher e segurança observam visita de Ochoa a casas e comércios na Villa Las Rosas.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Tropa da Guarda Nacional do México reforça segurança do comboio de Ochoa em visita a Villa Las Rosas. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Isso mudou nos últimos anos. Emergiram cisões no cartel. A democracia trouxe novos partidos políticos, que supostamente estabeleceram laços com outros grupos de traficantes. E a quantidade de migrantes atravessando o México foi às alturas, alimentando uma lucrativa indústria de tráfico de pessoas no Estado fronteiriço.

Ochoa, cujo partido governou o México por sete décadas no século passado, atribui a culpa da atual violência a políticos incompetentes.

“Eles deixam cartéis diferentes entrar”, afirmou ele. “Não estabelecem um limite.”

Atualmente, cerca de uma dúzia de cartéis mantém atividades em Chiapas. Entre eles, as duas organizações criminosas mais poderosas do México: os Cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração. Homicídios e desaparecimentos dispararam. Seis candidatos a cargos eletivos foram mortos nos meses recentes.

Mas muitos moradores têm medo até de falar sobre a alta na criminalidade. Um professor que organizava uma marcha contra a violência do narcotráfico na cidade de Chicomuselo foi torturado e morto diante de sua mulher e seus filhos.

Ochoa é contundente ao condenar a violência. Certamente é uma boa plataforma política — e tema principal da campanha de Xóchitl Gálvez, a candidata à presidência apoiada pelo PAN e pelo PRI, principal rival de Sheinbaum. Mas há outro motivo para sua determinação, afirma Ochoa.

“Eu amo Chiapas. Você nem imagina o quanto.”

Ochoa distribui camisetas da campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Segurança armado acompanha Ochoa.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Isto, meus amigos, não é viver’

Ochoa tinha começado o dia na comunidade indígena de San Juan Chamula. Percorreu a estreita rua principal de Villa Las Rosas distribuindo apertos de mão e conversando com donos de comércios.

Depois esperou dentro de seu SUV diante de um centro comunitário enquanto sua equipe de segurança inspecionava o local. Centenas de pessoas o aguardavam dentro. Muitas de pé. Tinha sido quase impossível alugar os assentos.

Um dos assessores de Ochoa entrou no SUV e tocou um áudio de um dos organizadores do evento recusando-se a fornecer cadeiras. Ele poderia ter ganhado “alguns pesos”, afirmou o candidato, mas isso “complicaria a minha vida”.

Ochoa entrou no recinto enquanto uma música de festa típica das campanhas mexicanas bombava nas caixas de som. Quando pegou o microfone, denunciou a epidemia de extorsões, assassinatos e roubos nas estradas.

“Isto, meus amigos, não é viver”, afirmou ele. “Eu digo isso a todas as pessoas ruins, aos partidos políticos, aos nossos adversários: Willy Ochoa não vai desistir e não vai desaparecer.”

Mas um imprevisto em sua campanha naquele dia demonstrou a escala do desafio. Em Villa Las Rosas, a candidata à prefeitura da coalizão opositora teve de abandonar a disputa. Ela foi substituída por um novato de 28 anos. Na parada seguinte de Ochoa, a cidade de Socoltenango, o candidato a prefeito da coalizão apareceria ao seu lado, desafiando alertas recomendando-lhe a ficar longe. Foi um como cruzar um limite. O candidato, Arturo Navarro, acabou ameaçado de morte e partiu para um esconderijo./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

VILLA LAS ROSAS, México — Daquela vez, Willy Ochoa tinha trazido reforço.

Daquela vez, ao contrário da anterior, ele estava preparado para ataques de cartéis. Ia acompanhado de três caminhões cheios de soldados da guarda nacional e dois carros da Polícia Estadual com sirenes acesas. Ochoa viajava em seu próprio SUV à prova de balas e protegido ainda por seu próprio grupo de agentes de seguranças musculosos — um deles sentado na carroceria de uma picape, olhando para o céu.

“Ele está vigiando para evitar que soltem uma bomba de algum drone”, explicou Ochoa. Fazer campanha para o Senado do México é assim hoje em dia. “A gente se arrisca o tempo todo”, afirmou o candidato.

Candidato ao Senado Willy Ochoa caminha com integrantes do Partido Revolucionário Institucional antes de comício em San Juan Chamula. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Grupos de crime organizado estão transformando a campanha para as eleições de 2 de junho no México em um campo de batalha, tornando o atual período eleitoral o mais mortífero na história moderna do país. Mais de duas dúzias de candidatos foram mortos; outras centenas abandonaram suas disputas. Mais de 400 postulantes solicitaram esquemas de segurança para o governo federal. A campanha de intimidações e assassinatos está colocando em risco a própria democracia.

O objetivo dos grupos armados é instaurar líderes amigáveis em cargos eletivos locais, para que possam explorar melhor as comunidades mexicanas. Anteriormente com foco principal em traficar drogas para os Estados Unidos, os cartéis passaram a traficar também imigrantes, extorquir empresas e obter contratos para firmas que controlam. Os criminosos querem nomear chefes de polícias municipais e diretores de serviços públicos.

O que torna crucial controlar gabinetes de prefeituras. Mas candidatos a governos estaduais e ao Congresso também correm risco. Em algumas regiões, os cartéis detêm tanto poder que conseguem decidir quem pode entrar nas cidades — ou o que as pessoas podem dizer em voz alta.

Ochoa cumprimenta apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/ The Washington Post
Equipe do candidato reforça segurança durante a campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

“Eles não gostam quando a gente fala sobre a violência do crime organizado, as extorsões, as pessoas expulsas de suas comunidades”, afirmou Ochoa, que concorre pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI) para representar o Estado de Chiapas no Senado. Quando sua campanha anuncia visitas a regiões tensas, afirmou ele, “nós recebemos ameaças e avisos para não ir”.

Ochoa viu o perigo de perto em fevereiro, quando motoqueiros armados o perseguiram após seu comboio de campanha parar em uma cidade tensa. Ele decidiu que jamais ficaria tão vulnerável novamente.

O presidente Andrés Manuel López Obrador acusa a oposição e os meios de comunicação de exagerarem o grau de violência que acomete lugares como Chiapas. Mas mesmo a protegida de López Obrador, a candidata presidencial em primeiro lugar nas pesquisas, Claudia Sheinbaum, foi parada por homens mascarados no mês passado em uma região do Estado controlada pelo Cartel de Sinaloa. Os homens disseram para a candidata “se lembrar dos pobres” e liberaram sua passagem por seu posto de controle.

Altar à espera do político visitante. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Assassinos mataram candidatos de todos os principais partidos mexicanos. Em Maravatio, uma cidade de 80 mil habitantes no Estado de Michoacán, na região central do México, três candidatos a prefeito foram mortos — dois do partido Morena, de López Obrador, e um do opositor Partido da Ação Nacional, ou PAN.

Carlos Palomeque, presidente do PAN em Chiapas, afirma que cerca de duas dúzias de candidatos a prefeito de seu partido abandonaram suas disputas. Antes os cartéis compravam os eleitores, afirma ele. Agora, “expulsam candidatos da eleição. É mais barato”.

Cartaz de Ochoa promete "a paz de antes e os apoiadores de agora". Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Uma campanha diferente este ano

Ochoa, de 45 anos, cresceu cercado de política. Seu pai, ativista em defesa de agricultores e outras causas sociais, foi congressista. Ochoa adorava ir aos seus comícios, viajando de cidade em cidade, suando e vibrando junto com as massas.

Seus dois filhos pequenos não estão experimentando isso. Ochoa tirou-os do Estado, juntamente com sua mulher, anteriormente este ano. “Quero mantê-los em segurança”, afirmou ele, conforme seu comboio atravessava uma região rural. E mostrou à reportagem os vídeos mais recentes dos filhos em seu iPhone.

“Papai, acabo de rezar por você”, disse o menino de 7 anos. “Só mais 30 dias até você voltar”, comemorou o de 9, sorrindo para a câmera. “Espero que você ganhe a eleição!”

“Meus filhos são adoráveis”, afirmou Ochoa. Sua voz ficou trêmula, e ele deu um gole d’água.

Candidatos cumprimentam apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homens levantam chapéus em saudação. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Ochoa foi legislador estadual, congressista federal e autoridade graduada no PRI. Está acostumado com o jogo duro da política e o antigo histórico dos laços entre os políticos mexicanos e os cartéis. Mas no início a atual campanha ele percebeu que a disputa seria diferente. Em fevereiro, Ochoa discursou em Villa Las Rosas, uma das cidades próximas à fronteira com a Guatemala usadas por traficantes para armazenar drogas.

Ele afirmou que, quando desceu do palanque, foi cercado por mais de 20 homens, alguns armados. “Temos instruções para levá-lo ao homem que controla esta praça”, ou distrito criminal, afirmou um deles. Ochoa conseguiu escapar.

Mas cerca de 45 minutos depois, quando parou para almoçar, o candidato viu uma linha de motoqueiros armados acelerando na direção do estacionamento do restaurante. Atrás dele. Os guarda-costas de Ochoa engatilharam seus fuzis automáticos. Os motoqueiros pararam, talvez aguardando reforços, e o candidato e seu comboio fugiram a toda velocidade.

Segurança no restaurante em que de Ochoa foi alvo de uma tentativa de sequestro em fevereiro. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homem armado vigia restaurante em que Ochoa come em San Francisco Pujiltic. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Agora, três meses depois, Ochoa estava voltando a Villa Las Rosas. O walkie-talkie instalado no banco de trás começou a falar.

“O veículo na nossa frente está agindo como vigia de cartel”, disse um guarda-costas.

“Aquele cara de boné branco está nos observando.”

“Você vê uma moto? Está 60 ou 70 metros adiante.”

“Estão mandando mensagens.”

Ochoa fala com apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Eles deixam cartéis diferentes entrar’

Chiapas, o Estado mais pobre do México, ganhou as manchetes em 1994, quando agricultores indígenas lançaram uma insurreição armada exigindo justiça e reparação. Liderados pelo subcomandante Marcos, um intelectual fotogênico, sempre com o cachimbo na boca, os rebeldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) conquistaram simpatia internacional.

Chiapas não era conhecido por violência de cartéis. A escassamente policiada fronteira sul do México funciona há muito tempo como ponto de entrada para a cocaína a caminho dos EUA, e as matas verdejantes do Estado dão cobertura para pistas de avião clandestinas. Mas o Cartel de Sinaloa monopolizava o tráfico de drogas — e mantinha o ambiente tranquilo.

Mulher e segurança observam visita de Ochoa a casas e comércios na Villa Las Rosas.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Tropa da Guarda Nacional do México reforça segurança do comboio de Ochoa em visita a Villa Las Rosas. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Isso mudou nos últimos anos. Emergiram cisões no cartel. A democracia trouxe novos partidos políticos, que supostamente estabeleceram laços com outros grupos de traficantes. E a quantidade de migrantes atravessando o México foi às alturas, alimentando uma lucrativa indústria de tráfico de pessoas no Estado fronteiriço.

Ochoa, cujo partido governou o México por sete décadas no século passado, atribui a culpa da atual violência a políticos incompetentes.

“Eles deixam cartéis diferentes entrar”, afirmou ele. “Não estabelecem um limite.”

Atualmente, cerca de uma dúzia de cartéis mantém atividades em Chiapas. Entre eles, as duas organizações criminosas mais poderosas do México: os Cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração. Homicídios e desaparecimentos dispararam. Seis candidatos a cargos eletivos foram mortos nos meses recentes.

Mas muitos moradores têm medo até de falar sobre a alta na criminalidade. Um professor que organizava uma marcha contra a violência do narcotráfico na cidade de Chicomuselo foi torturado e morto diante de sua mulher e seus filhos.

Ochoa é contundente ao condenar a violência. Certamente é uma boa plataforma política — e tema principal da campanha de Xóchitl Gálvez, a candidata à presidência apoiada pelo PAN e pelo PRI, principal rival de Sheinbaum. Mas há outro motivo para sua determinação, afirma Ochoa.

“Eu amo Chiapas. Você nem imagina o quanto.”

Ochoa distribui camisetas da campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Segurança armado acompanha Ochoa.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Isto, meus amigos, não é viver’

Ochoa tinha começado o dia na comunidade indígena de San Juan Chamula. Percorreu a estreita rua principal de Villa Las Rosas distribuindo apertos de mão e conversando com donos de comércios.

Depois esperou dentro de seu SUV diante de um centro comunitário enquanto sua equipe de segurança inspecionava o local. Centenas de pessoas o aguardavam dentro. Muitas de pé. Tinha sido quase impossível alugar os assentos.

Um dos assessores de Ochoa entrou no SUV e tocou um áudio de um dos organizadores do evento recusando-se a fornecer cadeiras. Ele poderia ter ganhado “alguns pesos”, afirmou o candidato, mas isso “complicaria a minha vida”.

Ochoa entrou no recinto enquanto uma música de festa típica das campanhas mexicanas bombava nas caixas de som. Quando pegou o microfone, denunciou a epidemia de extorsões, assassinatos e roubos nas estradas.

“Isto, meus amigos, não é viver”, afirmou ele. “Eu digo isso a todas as pessoas ruins, aos partidos políticos, aos nossos adversários: Willy Ochoa não vai desistir e não vai desaparecer.”

Mas um imprevisto em sua campanha naquele dia demonstrou a escala do desafio. Em Villa Las Rosas, a candidata à prefeitura da coalizão opositora teve de abandonar a disputa. Ela foi substituída por um novato de 28 anos. Na parada seguinte de Ochoa, a cidade de Socoltenango, o candidato a prefeito da coalizão apareceria ao seu lado, desafiando alertas recomendando-lhe a ficar longe. Foi um como cruzar um limite. O candidato, Arturo Navarro, acabou ameaçado de morte e partiu para um esconderijo./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

VILLA LAS ROSAS, México — Daquela vez, Willy Ochoa tinha trazido reforço.

Daquela vez, ao contrário da anterior, ele estava preparado para ataques de cartéis. Ia acompanhado de três caminhões cheios de soldados da guarda nacional e dois carros da Polícia Estadual com sirenes acesas. Ochoa viajava em seu próprio SUV à prova de balas e protegido ainda por seu próprio grupo de agentes de seguranças musculosos — um deles sentado na carroceria de uma picape, olhando para o céu.

“Ele está vigiando para evitar que soltem uma bomba de algum drone”, explicou Ochoa. Fazer campanha para o Senado do México é assim hoje em dia. “A gente se arrisca o tempo todo”, afirmou o candidato.

Candidato ao Senado Willy Ochoa caminha com integrantes do Partido Revolucionário Institucional antes de comício em San Juan Chamula. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Grupos de crime organizado estão transformando a campanha para as eleições de 2 de junho no México em um campo de batalha, tornando o atual período eleitoral o mais mortífero na história moderna do país. Mais de duas dúzias de candidatos foram mortos; outras centenas abandonaram suas disputas. Mais de 400 postulantes solicitaram esquemas de segurança para o governo federal. A campanha de intimidações e assassinatos está colocando em risco a própria democracia.

O objetivo dos grupos armados é instaurar líderes amigáveis em cargos eletivos locais, para que possam explorar melhor as comunidades mexicanas. Anteriormente com foco principal em traficar drogas para os Estados Unidos, os cartéis passaram a traficar também imigrantes, extorquir empresas e obter contratos para firmas que controlam. Os criminosos querem nomear chefes de polícias municipais e diretores de serviços públicos.

O que torna crucial controlar gabinetes de prefeituras. Mas candidatos a governos estaduais e ao Congresso também correm risco. Em algumas regiões, os cartéis detêm tanto poder que conseguem decidir quem pode entrar nas cidades — ou o que as pessoas podem dizer em voz alta.

Ochoa cumprimenta apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/ The Washington Post
Equipe do candidato reforça segurança durante a campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

“Eles não gostam quando a gente fala sobre a violência do crime organizado, as extorsões, as pessoas expulsas de suas comunidades”, afirmou Ochoa, que concorre pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI) para representar o Estado de Chiapas no Senado. Quando sua campanha anuncia visitas a regiões tensas, afirmou ele, “nós recebemos ameaças e avisos para não ir”.

Ochoa viu o perigo de perto em fevereiro, quando motoqueiros armados o perseguiram após seu comboio de campanha parar em uma cidade tensa. Ele decidiu que jamais ficaria tão vulnerável novamente.

O presidente Andrés Manuel López Obrador acusa a oposição e os meios de comunicação de exagerarem o grau de violência que acomete lugares como Chiapas. Mas mesmo a protegida de López Obrador, a candidata presidencial em primeiro lugar nas pesquisas, Claudia Sheinbaum, foi parada por homens mascarados no mês passado em uma região do Estado controlada pelo Cartel de Sinaloa. Os homens disseram para a candidata “se lembrar dos pobres” e liberaram sua passagem por seu posto de controle.

Altar à espera do político visitante. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Assassinos mataram candidatos de todos os principais partidos mexicanos. Em Maravatio, uma cidade de 80 mil habitantes no Estado de Michoacán, na região central do México, três candidatos a prefeito foram mortos — dois do partido Morena, de López Obrador, e um do opositor Partido da Ação Nacional, ou PAN.

Carlos Palomeque, presidente do PAN em Chiapas, afirma que cerca de duas dúzias de candidatos a prefeito de seu partido abandonaram suas disputas. Antes os cartéis compravam os eleitores, afirma ele. Agora, “expulsam candidatos da eleição. É mais barato”.

Cartaz de Ochoa promete "a paz de antes e os apoiadores de agora". Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Uma campanha diferente este ano

Ochoa, de 45 anos, cresceu cercado de política. Seu pai, ativista em defesa de agricultores e outras causas sociais, foi congressista. Ochoa adorava ir aos seus comícios, viajando de cidade em cidade, suando e vibrando junto com as massas.

Seus dois filhos pequenos não estão experimentando isso. Ochoa tirou-os do Estado, juntamente com sua mulher, anteriormente este ano. “Quero mantê-los em segurança”, afirmou ele, conforme seu comboio atravessava uma região rural. E mostrou à reportagem os vídeos mais recentes dos filhos em seu iPhone.

“Papai, acabo de rezar por você”, disse o menino de 7 anos. “Só mais 30 dias até você voltar”, comemorou o de 9, sorrindo para a câmera. “Espero que você ganhe a eleição!”

“Meus filhos são adoráveis”, afirmou Ochoa. Sua voz ficou trêmula, e ele deu um gole d’água.

Candidatos cumprimentam apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homens levantam chapéus em saudação. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Ochoa foi legislador estadual, congressista federal e autoridade graduada no PRI. Está acostumado com o jogo duro da política e o antigo histórico dos laços entre os políticos mexicanos e os cartéis. Mas no início a atual campanha ele percebeu que a disputa seria diferente. Em fevereiro, Ochoa discursou em Villa Las Rosas, uma das cidades próximas à fronteira com a Guatemala usadas por traficantes para armazenar drogas.

Ele afirmou que, quando desceu do palanque, foi cercado por mais de 20 homens, alguns armados. “Temos instruções para levá-lo ao homem que controla esta praça”, ou distrito criminal, afirmou um deles. Ochoa conseguiu escapar.

Mas cerca de 45 minutos depois, quando parou para almoçar, o candidato viu uma linha de motoqueiros armados acelerando na direção do estacionamento do restaurante. Atrás dele. Os guarda-costas de Ochoa engatilharam seus fuzis automáticos. Os motoqueiros pararam, talvez aguardando reforços, e o candidato e seu comboio fugiram a toda velocidade.

Segurança no restaurante em que de Ochoa foi alvo de uma tentativa de sequestro em fevereiro. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Homem armado vigia restaurante em que Ochoa come em San Francisco Pujiltic. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Agora, três meses depois, Ochoa estava voltando a Villa Las Rosas. O walkie-talkie instalado no banco de trás começou a falar.

“O veículo na nossa frente está agindo como vigia de cartel”, disse um guarda-costas.

“Aquele cara de boné branco está nos observando.”

“Você vê uma moto? Está 60 ou 70 metros adiante.”

“Estão mandando mensagens.”

Ochoa fala com apoiadores em San Juan Chamula.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Eles deixam cartéis diferentes entrar’

Chiapas, o Estado mais pobre do México, ganhou as manchetes em 1994, quando agricultores indígenas lançaram uma insurreição armada exigindo justiça e reparação. Liderados pelo subcomandante Marcos, um intelectual fotogênico, sempre com o cachimbo na boca, os rebeldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) conquistaram simpatia internacional.

Chiapas não era conhecido por violência de cartéis. A escassamente policiada fronteira sul do México funciona há muito tempo como ponto de entrada para a cocaína a caminho dos EUA, e as matas verdejantes do Estado dão cobertura para pistas de avião clandestinas. Mas o Cartel de Sinaloa monopolizava o tráfico de drogas — e mantinha o ambiente tranquilo.

Mulher e segurança observam visita de Ochoa a casas e comércios na Villa Las Rosas.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Tropa da Guarda Nacional do México reforça segurança do comboio de Ochoa em visita a Villa Las Rosas. Foto: Victoria Razo/The Washington Post

Isso mudou nos últimos anos. Emergiram cisões no cartel. A democracia trouxe novos partidos políticos, que supostamente estabeleceram laços com outros grupos de traficantes. E a quantidade de migrantes atravessando o México foi às alturas, alimentando uma lucrativa indústria de tráfico de pessoas no Estado fronteiriço.

Ochoa, cujo partido governou o México por sete décadas no século passado, atribui a culpa da atual violência a políticos incompetentes.

“Eles deixam cartéis diferentes entrar”, afirmou ele. “Não estabelecem um limite.”

Atualmente, cerca de uma dúzia de cartéis mantém atividades em Chiapas. Entre eles, as duas organizações criminosas mais poderosas do México: os Cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração. Homicídios e desaparecimentos dispararam. Seis candidatos a cargos eletivos foram mortos nos meses recentes.

Mas muitos moradores têm medo até de falar sobre a alta na criminalidade. Um professor que organizava uma marcha contra a violência do narcotráfico na cidade de Chicomuselo foi torturado e morto diante de sua mulher e seus filhos.

Ochoa é contundente ao condenar a violência. Certamente é uma boa plataforma política — e tema principal da campanha de Xóchitl Gálvez, a candidata à presidência apoiada pelo PAN e pelo PRI, principal rival de Sheinbaum. Mas há outro motivo para sua determinação, afirma Ochoa.

“Eu amo Chiapas. Você nem imagina o quanto.”

Ochoa distribui camisetas da campanha. Foto: Victoria Razo/The Washington Post
Segurança armado acompanha Ochoa.  Foto: Victoria Razo/The Washington Post

‘Isto, meus amigos, não é viver’

Ochoa tinha começado o dia na comunidade indígena de San Juan Chamula. Percorreu a estreita rua principal de Villa Las Rosas distribuindo apertos de mão e conversando com donos de comércios.

Depois esperou dentro de seu SUV diante de um centro comunitário enquanto sua equipe de segurança inspecionava o local. Centenas de pessoas o aguardavam dentro. Muitas de pé. Tinha sido quase impossível alugar os assentos.

Um dos assessores de Ochoa entrou no SUV e tocou um áudio de um dos organizadores do evento recusando-se a fornecer cadeiras. Ele poderia ter ganhado “alguns pesos”, afirmou o candidato, mas isso “complicaria a minha vida”.

Ochoa entrou no recinto enquanto uma música de festa típica das campanhas mexicanas bombava nas caixas de som. Quando pegou o microfone, denunciou a epidemia de extorsões, assassinatos e roubos nas estradas.

“Isto, meus amigos, não é viver”, afirmou ele. “Eu digo isso a todas as pessoas ruins, aos partidos políticos, aos nossos adversários: Willy Ochoa não vai desistir e não vai desaparecer.”

Mas um imprevisto em sua campanha naquele dia demonstrou a escala do desafio. Em Villa Las Rosas, a candidata à prefeitura da coalizão opositora teve de abandonar a disputa. Ela foi substituída por um novato de 28 anos. Na parada seguinte de Ochoa, a cidade de Socoltenango, o candidato a prefeito da coalizão apareceria ao seu lado, desafiando alertas recomendando-lhe a ficar longe. Foi um como cruzar um limite. O candidato, Arturo Navarro, acabou ameaçado de morte e partiu para um esconderijo./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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