Na primeira cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) com a volta do Brasil, o tema principal foi a defesa da democracia e o comprometimento em pensar modelos de desenvolvimento que unam os países da região e englobem a preocupação com meio-ambiente. Os presidentes reunidos expressaram preocupação com o crescimento da extrema direita na região e pediram o fim do bloqueio contra Cuba e Venezuela.
Desde a segunda-feira, a polêmica em torno da cúpula se deve ao convite feito aos líderes de Cuba, Nicarágua e Venezuela, por serem acusados de violar os direitos humanos. “Todos os que estão aqui foram eleitos por seus povos e na diversidade devemos nos respeitar e crescer juntos.”
O presidente da Argentina, que detém a presidência da Celac, Alberto Fernández, voltou a afirmar que todos os convidados foram eleitos democraticamente por seus povos e criticou as sanções, argumentando que “são métodos muito perversos de penalizar, não governos, mas povos”. “Cuba está bloqueada há mais de seis décadas e isso é indesculpável. A Venezuela sofre o mesmo e temos de levantar nossas vozes”, disse Fernández.
O presidente chavista Nicolás Maduro, que foi denunciado perante à Justiça argentina por organizações civis e particulares por violação dos direitos humanos em uma tentativa para que fosse interrogado se visitasse o país, anunciou ainda na segunda-feira que não pisaria em solo argentino e não compareceu à reunião.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, estava presente e afirmou que é preciso fortalecer a Celac como forma de integrar a região e ofereceu solidariedade ao Brasil pelos ataques contra as sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro. “Também expresso minha mais firme solidariedade aos governos legítimos de Venezuela, Nicarágua e Bolívia, submetidos a persistentes tentativas de desestabilização”, completou.
Integração
Em seu discurso de abertura, o presidente Fernández afirmou que os países da Celac precisam “respeitar as diversidades” para “crescerem juntos”. O líder argentino insistiu também falou da necessidade de os países da região trabalharem “unidos” em prol da igualdade e da “justiça social”, porque “é muito mais fácil trabalhar juntos do que continuar trabalhando separadamente”.
Neste ponto, Fernández pediu que se garanta a institucionalidade na América Latina e no Caribe, em um contexto em que a democracia está “definitivamente em risco”.
“Os setores de extrema direita se levantaram e estão ameaçando cada um de nossos povos, e não podemos permitir que essa direita coloque em risco a institucionalidade”, declarou Fernández, citando como exemplos o recente ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília, o “golpe de Estado” na Bolívia e o atentado contra a vice-presidente argentina, Cristina Kirchner.
“Temos de ser categóricos na defesa da democracia e das instituições, é algo que a América Latina se deve e não pode ignorar”, completou o presidente argentino.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, comemorou o retorno do País à Celac e aproveitou o evento para “agradecer a todos” pelo apoio depois do ataque em Brasília. “Somos uma região pacífica, que repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política”, afirmou Lula, que defendeu reforçar o “multilateralismo”.
Crises internas
A cúpula da CELAC ocorre em um contexto de crises internas nos países latino-americanos, incluindo tensões entre vizinhos e parceiros.
O Peru passa por uma crise institucional, com ampla sucessão de presidentes em poucos anos, a maioria deposto, o último deles o professor rural Pedro Castillo, destituído pelo Congresso e preso após tentar dar um golpe de Estado, que não teve o apoio das forças de segurança. Mas os protestos nas ruas do país contra o governo de sua sucessora constitucional, Dina Boluarte, não pararam e já deixaram 46 mortos, sem sinais de uma solução.
Saiba mais sobre a cúpula
Na Nicarágua, dezenas de opositores ao regime de Daniel Ortega - ausente da reunião - continuam presos e há 15 dias a Corte Interamericana de Direitos Humanos pediu “medidas urgentes” para a libertação de alguns, entre eles ex-candidatos à presidência nas eleições de 2021, que foram presos.
A Argentina, por sua vez, passa por uma crise inflacionária em pleno ano eleitoral e o governo de Fernández multiplica medidas para tentar conter a alta dos preços, enquanto tenta cumprir as metas fiscais acordadas com o FMI, ao qual a Argentina deve US$ 44 bilhões (R$ 226 bilhões).
O Chile voltará a lançar o processo para tentar aprovar uma nova Constituição, após o fracasso de sua convenção constituinte, e na Colômbia, o governo acordou discutir a partir de fevereiro um cessar-fogo bilateral com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha ativa do país./ AFP e EFE