Cenário: Trump contaminou o debate sobre a origem do coronavírus


Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, ex-presidente viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas; por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores

Por Beatriz Bulla

Nos três primeiros meses da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não fez comícios eleitorais. Em junho de 2020, ele voltou aos palcos com uma estreia na cidade de Tulsa, em Oklahoma. Entre aplausos de seus apoiadores, chamou pela primeira vez a covid-19 de “kung-flu”, uma associação da doença à China que foi repetida à exaustão até o fim de sua campanha. No mesmo evento, ele propagou desinformação sobre a pandemia e disse que tinha ordenado ao governo fazer menos testes de covid, para reduzir os números de infectados.

Não que Trump precisasse da arena político-partidária para isso. No pódio da sala de imprensa da própria Casa Branca, o presidente e candidato à reeleição entrava em contradição frequente com seu time de especialistas e contrariava orientações de saúde do mundo inteiro. Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, Trump viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas. Por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores.

Em maio de 2020, o então presidente americano afirmou ter um “alto nível de confiança” para dizer que o vírus havia surgido em um laboratório chinês – e não transmitido naturalmente de um animal para humanos. Questionado, Trump disse que não poderia dar evidências.

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Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, ex-presidente viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas; por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores Foto: Evan Vucci/AP

No entanto, o seu entorno, como o assessor econômico Peter Navarro, começou a propagar a ideia de que o vazamento do vírus do laboratório havia sido deliberado – Navarro chegou a sugerir que o objetivo da China seria usá-lo como arma biológica.

Na época, a maioria dos eleitores republicanos dizia, de acordo com pesquisas de opinião, que os EUA deveriam punir a China pela forma como lidou com o vírus. Pesquisa do Pew Research Center apontou que 23% dos americanos acreditavam que o vírus tinha sido intencionalmente criado, uma teoria amplamente presente nos eventos trumpistas, tanto virtuais quanto presenciais.

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Ao mesmo tempo, Trump começava uma escalada na retórica contra a China para culpar o país asiático pela tragédia que dizimava centenas de milhares de americanos – e eleitores. Memorandos da campanha republicana orientavam os políticos a culpar a China pela pandemia e traçar relações entre os democratas e o governo chinês, para evitar entrar em discussões sobre o manejo da crise pelo próprio presidente americano. A despeito de estremecer – ainda mais – as relações diplomáticas com Pequim e de receber alertas de vários assessores e conselheiros, Trump passou a chamar a covid-19 de “vírus chinês”. Ataques racistas contra americanos de origem asiática cresceram nos EUA depois disso. 

Um ano depois, o relatório de inteligência americano ainda não é conclusivo sobre a origem do coronavírus. A menos que não tenha revelado informações que tinha à época, Trump tinha a seu dispor as mesmas conclusões que o governo de Joe Biden possui: ainda não é possível indicar com segurança a origem da pandemia. Ao misturar desinformação e discurso eleitoral com o trato da saúde pública, Trump acabou contaminando o debate.* É CORRESPONDENTE EM WASHINGTON

Nos três primeiros meses da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não fez comícios eleitorais. Em junho de 2020, ele voltou aos palcos com uma estreia na cidade de Tulsa, em Oklahoma. Entre aplausos de seus apoiadores, chamou pela primeira vez a covid-19 de “kung-flu”, uma associação da doença à China que foi repetida à exaustão até o fim de sua campanha. No mesmo evento, ele propagou desinformação sobre a pandemia e disse que tinha ordenado ao governo fazer menos testes de covid, para reduzir os números de infectados.

Não que Trump precisasse da arena político-partidária para isso. No pódio da sala de imprensa da própria Casa Branca, o presidente e candidato à reeleição entrava em contradição frequente com seu time de especialistas e contrariava orientações de saúde do mundo inteiro. Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, Trump viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas. Por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores.

Em maio de 2020, o então presidente americano afirmou ter um “alto nível de confiança” para dizer que o vírus havia surgido em um laboratório chinês – e não transmitido naturalmente de um animal para humanos. Questionado, Trump disse que não poderia dar evidências.

Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, ex-presidente viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas; por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores Foto: Evan Vucci/AP

No entanto, o seu entorno, como o assessor econômico Peter Navarro, começou a propagar a ideia de que o vazamento do vírus do laboratório havia sido deliberado – Navarro chegou a sugerir que o objetivo da China seria usá-lo como arma biológica.

Na época, a maioria dos eleitores republicanos dizia, de acordo com pesquisas de opinião, que os EUA deveriam punir a China pela forma como lidou com o vírus. Pesquisa do Pew Research Center apontou que 23% dos americanos acreditavam que o vírus tinha sido intencionalmente criado, uma teoria amplamente presente nos eventos trumpistas, tanto virtuais quanto presenciais.

Ao mesmo tempo, Trump começava uma escalada na retórica contra a China para culpar o país asiático pela tragédia que dizimava centenas de milhares de americanos – e eleitores. Memorandos da campanha republicana orientavam os políticos a culpar a China pela pandemia e traçar relações entre os democratas e o governo chinês, para evitar entrar em discussões sobre o manejo da crise pelo próprio presidente americano. A despeito de estremecer – ainda mais – as relações diplomáticas com Pequim e de receber alertas de vários assessores e conselheiros, Trump passou a chamar a covid-19 de “vírus chinês”. Ataques racistas contra americanos de origem asiática cresceram nos EUA depois disso. 

Um ano depois, o relatório de inteligência americano ainda não é conclusivo sobre a origem do coronavírus. A menos que não tenha revelado informações que tinha à época, Trump tinha a seu dispor as mesmas conclusões que o governo de Joe Biden possui: ainda não é possível indicar com segurança a origem da pandemia. Ao misturar desinformação e discurso eleitoral com o trato da saúde pública, Trump acabou contaminando o debate.* É CORRESPONDENTE EM WASHINGTON

Nos três primeiros meses da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não fez comícios eleitorais. Em junho de 2020, ele voltou aos palcos com uma estreia na cidade de Tulsa, em Oklahoma. Entre aplausos de seus apoiadores, chamou pela primeira vez a covid-19 de “kung-flu”, uma associação da doença à China que foi repetida à exaustão até o fim de sua campanha. No mesmo evento, ele propagou desinformação sobre a pandemia e disse que tinha ordenado ao governo fazer menos testes de covid, para reduzir os números de infectados.

Não que Trump precisasse da arena político-partidária para isso. No pódio da sala de imprensa da própria Casa Branca, o presidente e candidato à reeleição entrava em contradição frequente com seu time de especialistas e contrariava orientações de saúde do mundo inteiro. Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, Trump viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas. Por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores.

Em maio de 2020, o então presidente americano afirmou ter um “alto nível de confiança” para dizer que o vírus havia surgido em um laboratório chinês – e não transmitido naturalmente de um animal para humanos. Questionado, Trump disse que não poderia dar evidências.

Diante da explosão de casos de covid-19 e da recessão que veio com a pandemia, ex-presidente viu sua popularidade e campanha à reeleição ameaçadas; por isso, passou a buscar culpados para justificar o cenário trágico a seus eleitores Foto: Evan Vucci/AP

No entanto, o seu entorno, como o assessor econômico Peter Navarro, começou a propagar a ideia de que o vazamento do vírus do laboratório havia sido deliberado – Navarro chegou a sugerir que o objetivo da China seria usá-lo como arma biológica.

Na época, a maioria dos eleitores republicanos dizia, de acordo com pesquisas de opinião, que os EUA deveriam punir a China pela forma como lidou com o vírus. Pesquisa do Pew Research Center apontou que 23% dos americanos acreditavam que o vírus tinha sido intencionalmente criado, uma teoria amplamente presente nos eventos trumpistas, tanto virtuais quanto presenciais.

Ao mesmo tempo, Trump começava uma escalada na retórica contra a China para culpar o país asiático pela tragédia que dizimava centenas de milhares de americanos – e eleitores. Memorandos da campanha republicana orientavam os políticos a culpar a China pela pandemia e traçar relações entre os democratas e o governo chinês, para evitar entrar em discussões sobre o manejo da crise pelo próprio presidente americano. A despeito de estremecer – ainda mais – as relações diplomáticas com Pequim e de receber alertas de vários assessores e conselheiros, Trump passou a chamar a covid-19 de “vírus chinês”. Ataques racistas contra americanos de origem asiática cresceram nos EUA depois disso. 

Um ano depois, o relatório de inteligência americano ainda não é conclusivo sobre a origem do coronavírus. A menos que não tenha revelado informações que tinha à época, Trump tinha a seu dispor as mesmas conclusões que o governo de Joe Biden possui: ainda não é possível indicar com segurança a origem da pandemia. Ao misturar desinformação e discurso eleitoral com o trato da saúde pública, Trump acabou contaminando o debate.* É CORRESPONDENTE EM WASHINGTON

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