CARACAS - A Justiça da Venezuela autorizou nesta terça-feira, 29, a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) a participar de eleições estaduais e municipais deste ano. A decisão põe fim a um veto à aliança opositora que vigorava desde 2018 e ocorre em meio à promessa de Estados Unidos e União Europeia de aliviarem as sanções econômicas ao país em troca de avanço nas negociações por eleições transparentes e justas.
“Hoje, por unanimidade, aprovamos um total de 20 novas denominações de organizações com fins políticos, que entrarão em vigor para participar das próximas eleições em 21 de novembro” disse Pedro Calzadilla, presidente do Conselho Nacional Eleitoral. Ele acrescentou que cerca de 106 organizações políticas poderão participar da votação.
O grupo foi formado em 2008 como uma aliança de oposição que reunia cerca de 30 organizações políticas. Em 2012, a MUD foi inscrita como partido para se apresentar às eleições legislativas de 2015, nas quais o chavismo perdeu o Congresso pela primeira vez em 15 anos. A coalizão opositora obteve nas urnas uma vitória esmagadora, conquistando 112 dos 167 assentos na Assembleia Nacional, tornando-se a chapa com mais votos na história da Venezuela."Este passo é uma oportunidade para reagrupar a oposição e reconstruir uma alternativa para mudança política", disse o opositor venezuelano Stalin González.
Apesar do anúncio, ainda não está claro se os maiores partidos da oposição, como a Ação Democrática, o Vontade Popular e o Primeira Justiça voltarão a se unir sob o guarda-chuva da MUD. Os principais líderes opositores, como Juan Guaidó, Henrique Capriles e Leopoldo López, não deram indícios de que pretendem aceitar a oferta. Nos últimos anos, o chavismo tem recorrido à tática de oferecer pequenos acenos à oposição sem se comprometer com concessões significativas.
Sob pressão diplomática e econômica, Maduro tem feito estendido a mão aos opositores. No mês passado, o Parlamento controlado pelos chavistas nomeou juristas ligados à oposição para o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), uma medida rara no chavismo.
Na semana passada, Estados Unidos, a União Europeia e o Canadá disseram nesta sexta-feira, 25, que estariam dispostos a revisar suas políticas de sanções se o governo e a oposição da Venezuela conseguirem fazer "progressos significativos" em qualquer negociação para realizar eleições transparentes no país.
A declaração do Alto Representante da UE para as Relações Exteriores, Josep Borrell, do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e do Ministro das Relações Exteriores do Canadá, Marc Garneau, veio após aliados de Guaidó se reunirem com autoridades americanas em Washington para discutir um possível diálogo com o governo do presidente Nicolás Maduro.
“Um processo de negociação abrangente e com prazo determinado deve restaurar as instituições do país e permitir que todos os venezuelanos se expressem politicamente por meio de eleições locais, parlamentares e presidenciais credíveis, inclusivas e transparentes”, diz a declaração conjunta.
A oposição venezuelana restabeleceu contato com autoridades norueguesas nas últimas semanas para facilitar uma negociação com o governo, depois que um esforço anterior em meados de 2019 não obteve sucesso.
A decisão de 2018 abriu caminho para o boicote de grande parte da oposição à eleição que reelegeu o presidente Nicolás Maduro naquele ano, em meio a sanções impostas pelo governo Trump e seguidas pela decisão do líder opositor Juan Guaidó de se declarar presidente interino do país. As eleições legislativas de 2020 ocorreram também sem a participação da MUD.
Com a chegada da pandemia, a já combalida economia venezuelana foi duramente afetada. O país sofreu com casos de covid-19 por já ter o sistema de saúde bastante debilitado pela má gestão chavista. Hoje, a Venezuela sofre para acelerar o processo de vacinação da população. / REUTERS e AP