CARACAS - A Venezuela começou nesta sexta-feira, 3, a fazer um censo dos proprietários de veículos, uma medida que, segundo o governo, ajudará a determinar o consumo “racional” de combustível. No fim de semana, o governo anunciou que o subsídio ao combustível mais barato do mundo, que não seguiria no nível atual, estaria ligados a uma adesão à “carteira da pátria”. Hoje, com US$ 1 é possível abastecer 60 mil vezes um tanque de 50 litros.
A “carteira da pátria” é um documento de identificação paralelo, usado pelo chavismo para controlar a fidelidade de sua militância, por exemplo em votações. Quem já tem a carteira, ganha bonificações em dinheiro e subsídios em comida. Os políticos anti-Maduro dizem que a medida marginalizará opositores do governo, que se recusaram a obter a carteira.
O petróleo é responsável por 96% das divisas que entram na Venezuela, país que detém as maiores reservas do mundo e cuja crise combina hiperinflação e escassez de bens básicos. A empresa Ecoanalítica estima que a Venezuela poderá fechar o ano com uma produção de 1,2 milhão de barris por dia. Em 1970, o país atingiu sua produção máxima, com 3,78 milhões de barris diários.
A falta de combustível é frequente na Venezuela, onde uma brutal recessão que já dura cinco anos levou à interrupção do funcionamento de refinarias e à queda brusca na produção.
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O presidente Nicolás Maduro disse que a Venezuela necessita de um uso “racional” da gasolina e o censo é a “resposta para isso”.
Um funcionário de alto escalão também propôs o aumento do preço de combustível. O Ministério de Comunicações não respondeu a um pedido de esclarecimentos, mas venezuelanos acreditam que o censo possa levar à restrição da venda de gasolina.
“Eu me registrei, pois tenho medo de que se eu não estiver no censo eles não queiram me vender gasolina”, disse o taxista Juan Suárez, de 45 anos, que ficou hoje seis horas na fila em Caracas para comprar gasolina. Suárez e outros motoristas na fila disseram esperar que o registro no censo lhes garanta gasolina mais barata.
Dezenas de motoristas de caminhões bloquearam ruas em Caracas para rejeitar o censo, argumentando que ele não resolverá a escassez crônica, que levou à redução de ônibus nas ruas e forçou muitos venezuelanos a depender de precários caminhões para se locomover. “Não recebemos os pneus e os lubrificantes necessários para trabalhar. Os problemas dos trabalhadores da área de transporte não serão resolvidos com o censo”, disse José Luis Trocel, líder do principal sindicato dos trabalhadores da área de transporte, enquanto seguia para o Ministério dos Transportes para participar de um protesto contra a medida.
No censo, os proprietários de veículos incluem na “carteira da pátria” detalhes de seus veículos e o consumo de gasolina. Então, eles devem ir a escritórios do governo para escanear a carteira. Os venezuelanos que não têm o documento não poderão participar do censo.
“Eles arruinaram a Venezuela. Destruíram a PDVSA (estatal do petróleo) e agora querem tentar racionar a venda de combustível por meio da ‘carteira da pátria’ em um país com uma das maiores reservas de petróleo do Hemisfério Ocidental. Digam não ao ‘mercado negro’”, disse o economista e deputado opositor José Guerra.
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O presidente Nicolás Maduro admitiu o fracasso do modelo de produção aplicado por seu governo na Venezuela, que enfrenta hiperinflação e quatro anos de recessão.
Enquanto a população da Venezuela enfrenta escassez de comida e remédios, a petrolífera estatal PDVSA comprou US$ 440 milhões em petróleo, entre janeiro de 2017 e maio deste ano, para enviá-lo subsidiado a Cuba. Segundo relatórios da empresa, aos quais a agência Reuters teve acesso, é a primeira vez que documentos mostram que o chavismo teve de importar o produto para abastecer um aliado regional, em vez de fornecê-lo com as próprias reservas. Segundo os documentos, a PDVSA pagou até US$ 12 por barril, mas não deve ver o dinheiro, porque a Venezuela sempre aceitou receber em bens e serviços em troca do produto subsidiado.
O carregamento representa cerca de 30% do total de importações de Cuba, mas aumenta ainda mais as já elevadas dívidas da Venezuela com as empresas estatais russas e chinesas que, juntas, cederam ao governo chavista mais de US$ 60 bilhões no último ano. / REUTERS