China busca Exército de excelência até 2050 


Mísseis de precisão, foguetes antissatélites, armas carregadas eletromagneticamente e cargueiros não tripulados ameaçam a hegemonia americana

Por The Economist
Atualização:

Na década passada, o Exército de Libertação Popular recebeu recursos generosos. Os gastos militares da China cresceram 83% entre 2009 e 2018 – aumento maior que o observado em qualquer outro país. Esses gastos permitiram à China se armar de mísseis de precisão e de foguetes antissatélite que desafiam a supremacia americana no Pacífico.

Soldados da guarda de honra do exército chinês durante cerimônia de boas-vindas ao Presidente de Camarões, Paul Biya, no Grande Salão do Povo em Pequim. Foto: Roman Pilipey / EFE 

O líder chinês, Xi Jinping, diz que seu “sonho” inclui Forças Armadas fortes. E isso, afirma ele, requer um Exército “modernizado” em 2035, uma força de nível mundial. Em outras palavras – uma força que desbancará os EUA em meados do século. E ele já avançou muito.

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As reformas chamam menos atenção do que os mísseis lançados em 5 de março, os aviões cargueiros não tripulados e as superarmas carregadas eletromagneticamente – tudo testado no ano passado. Mas Xi entendeu que colocar armas sofisticadas nas mãos de uma força anacrônica não tem sentido. 

Durante a Guerra Fria, o Exército evoluiu, chegando a repelir a União Soviética e os EUA em guerras terrestres em solo chinês. Uma infantaria maciça pulverizou o inimigo em batalhas de exaustão. Na década de 90, os líderes chineses, alarmados com as proezas americanas na Guerra do Golfo, decidiram fortalecer a capacidade do Exército de travar “guerras locais que implicassem em uso de alta tecnologia”. 

Eles pensavam em conflitos curtos e intensos na periferia da China, como em Taiwan, em que o poder aéreo e naval seria tão importante quanto as forças terrestres. Xi decidiu que para vencer esse tipo de guerra era preciso mudar a estrutura do Exército e, nos últimos três anos, ele fez mais para reformar as Forças Armadas do que qualquer outro líder desde Deng Xiaoping.

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O principal objetivo de Xi é reforçar a “articulação”. Este termo, emprestado do jargão militar ocidental, refere-se à habilidade de forças distintas – Exército, Marinha e Aérea – cooperarem rápida e ininterruptamente. A articulação é importante no caso de guerras no exterior. É difícil para os comandantes nos quartéis nacionais coordenarem as operações de soldados, marinheiros e pilotos a partir de uma grande distância. 

O modelo adotado pela China é o dos EUA, que reformaram drasticamente suas próprias Forças Armadas para alcançar esse objetivo. O Pentágono repartiu o globo em “comandos combatentes”. Todos os soldados, marinheiros e pilotos de uma determinada área, como o Golfo Pérsico ou o Pacífico, recebem ordens de um único comando. Xi seguiu o exemplo. Antes das suas reformas, os comandantes do Exército e da Marinha nas sete regiões militares do país se reportavam a seu quartel respectivo, com pouca ou nenhuma coordenação.

Em 2016, ele substituiu as regiões por cinco “teatros”, cada um sob um único comando. Um no leste, com base em Nanquim, se prepararia para a guerra com Taiwan e Japão. Outro, a oeste, em Chengdu, se encarregaria da Índia. E o comando do teatro no sul, com base em Guangzhou, cuidaria do Mar do Sul da China. Outros dois comandos foram formados em 2015, cada um tendo por alvo uma vulnerabilidade americana. As forças dos EUA dependem de comunicações via satélite, computador e outros canais de alta tecnologia. Por isso, Xi criou uma força de apoio estratégico que tem por alvo esses sistemas. Ela comanda as guerras espacial, cibernética, eletrônica e psicológica. 

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Xi também enxugou as Forças Armadas, embora elas ainda tenham mais de 2 milhões de soldados. Desde 2015, o Exército cortou 300 mil homens, a maioria servindo na infantaria, que perdeu um terço dos oficiais e reduziu de 70% da força total para menos da metade. Os marines, pelo contrário, triplicaram. Oficiais da Força Aérea e da Marinha ganharam postos com mais poder, incluindo a liderança de dois comandos. Isso reflete a inclinação dos militares no sentido dos mares e dos céus.

É difícil dizer se esse novo Exército será mais competente no campo de batalha. A China não trava uma guerra há quatro décadas. Os últimos soldados com experiência em um conflito em grande escala – a guerra contra o Vietnã, em 1979 – em breve se aposentarão.

Mas há evidências de que sua articulação está melhor. Algumas das incursões da China além das suas fronteiras, notadamente os voos de bombardeiros em torno de Taiwan e sobre o Mar do Sul da China, indicam uma maior coordenação entre as forças navais e aéreas. “Vemos muitos exercícios conjuntos que têm por objetivo sanar problemas no sistema e habituar os serviços a trabalhar um com o outro”, disse Phillip Saunders, da National Defense University, de Washington. “Antes, os jogos de guerra chineses eram planejados com base num roteiro. Hoje, os oficiais são avaliados com base no realismo do treinamento”, diz Meia Nouwens, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

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Antes das reformas de Xi, o “blue team”, que faz o papel de adversário, sempre era derrotado nos exercícios. Hoje, eles normalmente vencem. No entanto, as tropas ainda estão mal preparadas para uma guerra complexa. Nos EUA, as promoções dependem da competência. Seus colegas chineses, com frequência, passam a carreira inteira em um único serviço, na mesma região, executando a mesma tarefa. 

A cultura política é outro problema. “As estruturas que a China tenta copiar estão baseadas na abertura, na delegação de poderes e na colaboração”, afirma o almirante Scott Swift, do MIT, ex-comandante da frota americana no Pacífico. Segundo ele, a guerra moderna exige uma tomada de decisões descentralizada, porque numa guerra eletrônica e cibernética a comunicação entre comandantes e unidades pode ser rompida. “Exércitos com base em princípios democráticos estão mais aptos a se adaptar a esse ambiente”, diz Swift.

“Xi é um dirigente autoritário que ambiciona o controle centralizado. Seu predecessor, Hu Jintao, não tinha essa mão de ferro sobre o Exército”, diz Saunders. Isso porque o próprio antecessor de Hu, Jiang Zemin, nomeou os dois vice-presidentes da Comissão Militar Central, que supervisiona as Forças Armadas. Eles permaneceram ativos durante o mandato de Hu, frustrando os esforços para reformar o Exército e frear sua corrupção e a falta de disciplina.

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Sãomais de 12 mil soldados, 200 aviões e tanques para comemorar o fim da 2ª Guerra

Xi está determinado a não ter a mesma sorte. Seus expurgos no combate à corrupção atingiram mais de 13 mil oficiais. Xi reduziu o número de membros da comissão militar de 11 para 7, despedindo chefes de serviço e acrescentando um oficial para combater a corrupção. O órgão passou a controlar também a Polícia Armada Popular, entidade paramilitar que absorveu a Guarda Costeira.

Previsivelmente, a reestruturação criou ressentimentos. Oficiais do alto escalão estão irritados com a perda de privilégios. Soldados desmobilizados, às vezes, levam suas queixas para as ruas. Esta é uma razão pela qual Xi fundou um ministério de assuntos relativos aos veteranos, em 2016. No entanto, as fileiras mais jovens se beneficiam do sistema de promoção com base no mérito, têm orgulho da crescente importância das Forças Armadas e admiram “o grande rejuvenescimento do país” sob o comando de Xi. 

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Eles terão a oportunidade de aparecer, no dia 1.º de outubro, quando um enorme desfile militar será realizado em Pequim para marcar o 70.º aniversário do regime comunista. Será a primeira exibição das Forças Armadas na capital desde que Xi iniciou suas reformas. A expectativa é a de que seja uma apresentação de excelência mundial. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

© 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER  LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO  ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Na década passada, o Exército de Libertação Popular recebeu recursos generosos. Os gastos militares da China cresceram 83% entre 2009 e 2018 – aumento maior que o observado em qualquer outro país. Esses gastos permitiram à China se armar de mísseis de precisão e de foguetes antissatélite que desafiam a supremacia americana no Pacífico.

Soldados da guarda de honra do exército chinês durante cerimônia de boas-vindas ao Presidente de Camarões, Paul Biya, no Grande Salão do Povo em Pequim. Foto: Roman Pilipey / EFE 

O líder chinês, Xi Jinping, diz que seu “sonho” inclui Forças Armadas fortes. E isso, afirma ele, requer um Exército “modernizado” em 2035, uma força de nível mundial. Em outras palavras – uma força que desbancará os EUA em meados do século. E ele já avançou muito.

As reformas chamam menos atenção do que os mísseis lançados em 5 de março, os aviões cargueiros não tripulados e as superarmas carregadas eletromagneticamente – tudo testado no ano passado. Mas Xi entendeu que colocar armas sofisticadas nas mãos de uma força anacrônica não tem sentido. 

Durante a Guerra Fria, o Exército evoluiu, chegando a repelir a União Soviética e os EUA em guerras terrestres em solo chinês. Uma infantaria maciça pulverizou o inimigo em batalhas de exaustão. Na década de 90, os líderes chineses, alarmados com as proezas americanas na Guerra do Golfo, decidiram fortalecer a capacidade do Exército de travar “guerras locais que implicassem em uso de alta tecnologia”. 

Eles pensavam em conflitos curtos e intensos na periferia da China, como em Taiwan, em que o poder aéreo e naval seria tão importante quanto as forças terrestres. Xi decidiu que para vencer esse tipo de guerra era preciso mudar a estrutura do Exército e, nos últimos três anos, ele fez mais para reformar as Forças Armadas do que qualquer outro líder desde Deng Xiaoping.

O principal objetivo de Xi é reforçar a “articulação”. Este termo, emprestado do jargão militar ocidental, refere-se à habilidade de forças distintas – Exército, Marinha e Aérea – cooperarem rápida e ininterruptamente. A articulação é importante no caso de guerras no exterior. É difícil para os comandantes nos quartéis nacionais coordenarem as operações de soldados, marinheiros e pilotos a partir de uma grande distância. 

O modelo adotado pela China é o dos EUA, que reformaram drasticamente suas próprias Forças Armadas para alcançar esse objetivo. O Pentágono repartiu o globo em “comandos combatentes”. Todos os soldados, marinheiros e pilotos de uma determinada área, como o Golfo Pérsico ou o Pacífico, recebem ordens de um único comando. Xi seguiu o exemplo. Antes das suas reformas, os comandantes do Exército e da Marinha nas sete regiões militares do país se reportavam a seu quartel respectivo, com pouca ou nenhuma coordenação.

Em 2016, ele substituiu as regiões por cinco “teatros”, cada um sob um único comando. Um no leste, com base em Nanquim, se prepararia para a guerra com Taiwan e Japão. Outro, a oeste, em Chengdu, se encarregaria da Índia. E o comando do teatro no sul, com base em Guangzhou, cuidaria do Mar do Sul da China. Outros dois comandos foram formados em 2015, cada um tendo por alvo uma vulnerabilidade americana. As forças dos EUA dependem de comunicações via satélite, computador e outros canais de alta tecnologia. Por isso, Xi criou uma força de apoio estratégico que tem por alvo esses sistemas. Ela comanda as guerras espacial, cibernética, eletrônica e psicológica. 

Xi também enxugou as Forças Armadas, embora elas ainda tenham mais de 2 milhões de soldados. Desde 2015, o Exército cortou 300 mil homens, a maioria servindo na infantaria, que perdeu um terço dos oficiais e reduziu de 70% da força total para menos da metade. Os marines, pelo contrário, triplicaram. Oficiais da Força Aérea e da Marinha ganharam postos com mais poder, incluindo a liderança de dois comandos. Isso reflete a inclinação dos militares no sentido dos mares e dos céus.

É difícil dizer se esse novo Exército será mais competente no campo de batalha. A China não trava uma guerra há quatro décadas. Os últimos soldados com experiência em um conflito em grande escala – a guerra contra o Vietnã, em 1979 – em breve se aposentarão.

Mas há evidências de que sua articulação está melhor. Algumas das incursões da China além das suas fronteiras, notadamente os voos de bombardeiros em torno de Taiwan e sobre o Mar do Sul da China, indicam uma maior coordenação entre as forças navais e aéreas. “Vemos muitos exercícios conjuntos que têm por objetivo sanar problemas no sistema e habituar os serviços a trabalhar um com o outro”, disse Phillip Saunders, da National Defense University, de Washington. “Antes, os jogos de guerra chineses eram planejados com base num roteiro. Hoje, os oficiais são avaliados com base no realismo do treinamento”, diz Meia Nouwens, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

Antes das reformas de Xi, o “blue team”, que faz o papel de adversário, sempre era derrotado nos exercícios. Hoje, eles normalmente vencem. No entanto, as tropas ainda estão mal preparadas para uma guerra complexa. Nos EUA, as promoções dependem da competência. Seus colegas chineses, com frequência, passam a carreira inteira em um único serviço, na mesma região, executando a mesma tarefa. 

A cultura política é outro problema. “As estruturas que a China tenta copiar estão baseadas na abertura, na delegação de poderes e na colaboração”, afirma o almirante Scott Swift, do MIT, ex-comandante da frota americana no Pacífico. Segundo ele, a guerra moderna exige uma tomada de decisões descentralizada, porque numa guerra eletrônica e cibernética a comunicação entre comandantes e unidades pode ser rompida. “Exércitos com base em princípios democráticos estão mais aptos a se adaptar a esse ambiente”, diz Swift.

“Xi é um dirigente autoritário que ambiciona o controle centralizado. Seu predecessor, Hu Jintao, não tinha essa mão de ferro sobre o Exército”, diz Saunders. Isso porque o próprio antecessor de Hu, Jiang Zemin, nomeou os dois vice-presidentes da Comissão Militar Central, que supervisiona as Forças Armadas. Eles permaneceram ativos durante o mandato de Hu, frustrando os esforços para reformar o Exército e frear sua corrupção e a falta de disciplina.

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Sãomais de 12 mil soldados, 200 aviões e tanques para comemorar o fim da 2ª Guerra

Xi está determinado a não ter a mesma sorte. Seus expurgos no combate à corrupção atingiram mais de 13 mil oficiais. Xi reduziu o número de membros da comissão militar de 11 para 7, despedindo chefes de serviço e acrescentando um oficial para combater a corrupção. O órgão passou a controlar também a Polícia Armada Popular, entidade paramilitar que absorveu a Guarda Costeira.

Previsivelmente, a reestruturação criou ressentimentos. Oficiais do alto escalão estão irritados com a perda de privilégios. Soldados desmobilizados, às vezes, levam suas queixas para as ruas. Esta é uma razão pela qual Xi fundou um ministério de assuntos relativos aos veteranos, em 2016. No entanto, as fileiras mais jovens se beneficiam do sistema de promoção com base no mérito, têm orgulho da crescente importância das Forças Armadas e admiram “o grande rejuvenescimento do país” sob o comando de Xi. 

Eles terão a oportunidade de aparecer, no dia 1.º de outubro, quando um enorme desfile militar será realizado em Pequim para marcar o 70.º aniversário do regime comunista. Será a primeira exibição das Forças Armadas na capital desde que Xi iniciou suas reformas. A expectativa é a de que seja uma apresentação de excelência mundial. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

© 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER  LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO  ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Na década passada, o Exército de Libertação Popular recebeu recursos generosos. Os gastos militares da China cresceram 83% entre 2009 e 2018 – aumento maior que o observado em qualquer outro país. Esses gastos permitiram à China se armar de mísseis de precisão e de foguetes antissatélite que desafiam a supremacia americana no Pacífico.

Soldados da guarda de honra do exército chinês durante cerimônia de boas-vindas ao Presidente de Camarões, Paul Biya, no Grande Salão do Povo em Pequim. Foto: Roman Pilipey / EFE 

O líder chinês, Xi Jinping, diz que seu “sonho” inclui Forças Armadas fortes. E isso, afirma ele, requer um Exército “modernizado” em 2035, uma força de nível mundial. Em outras palavras – uma força que desbancará os EUA em meados do século. E ele já avançou muito.

As reformas chamam menos atenção do que os mísseis lançados em 5 de março, os aviões cargueiros não tripulados e as superarmas carregadas eletromagneticamente – tudo testado no ano passado. Mas Xi entendeu que colocar armas sofisticadas nas mãos de uma força anacrônica não tem sentido. 

Durante a Guerra Fria, o Exército evoluiu, chegando a repelir a União Soviética e os EUA em guerras terrestres em solo chinês. Uma infantaria maciça pulverizou o inimigo em batalhas de exaustão. Na década de 90, os líderes chineses, alarmados com as proezas americanas na Guerra do Golfo, decidiram fortalecer a capacidade do Exército de travar “guerras locais que implicassem em uso de alta tecnologia”. 

Eles pensavam em conflitos curtos e intensos na periferia da China, como em Taiwan, em que o poder aéreo e naval seria tão importante quanto as forças terrestres. Xi decidiu que para vencer esse tipo de guerra era preciso mudar a estrutura do Exército e, nos últimos três anos, ele fez mais para reformar as Forças Armadas do que qualquer outro líder desde Deng Xiaoping.

O principal objetivo de Xi é reforçar a “articulação”. Este termo, emprestado do jargão militar ocidental, refere-se à habilidade de forças distintas – Exército, Marinha e Aérea – cooperarem rápida e ininterruptamente. A articulação é importante no caso de guerras no exterior. É difícil para os comandantes nos quartéis nacionais coordenarem as operações de soldados, marinheiros e pilotos a partir de uma grande distância. 

O modelo adotado pela China é o dos EUA, que reformaram drasticamente suas próprias Forças Armadas para alcançar esse objetivo. O Pentágono repartiu o globo em “comandos combatentes”. Todos os soldados, marinheiros e pilotos de uma determinada área, como o Golfo Pérsico ou o Pacífico, recebem ordens de um único comando. Xi seguiu o exemplo. Antes das suas reformas, os comandantes do Exército e da Marinha nas sete regiões militares do país se reportavam a seu quartel respectivo, com pouca ou nenhuma coordenação.

Em 2016, ele substituiu as regiões por cinco “teatros”, cada um sob um único comando. Um no leste, com base em Nanquim, se prepararia para a guerra com Taiwan e Japão. Outro, a oeste, em Chengdu, se encarregaria da Índia. E o comando do teatro no sul, com base em Guangzhou, cuidaria do Mar do Sul da China. Outros dois comandos foram formados em 2015, cada um tendo por alvo uma vulnerabilidade americana. As forças dos EUA dependem de comunicações via satélite, computador e outros canais de alta tecnologia. Por isso, Xi criou uma força de apoio estratégico que tem por alvo esses sistemas. Ela comanda as guerras espacial, cibernética, eletrônica e psicológica. 

Xi também enxugou as Forças Armadas, embora elas ainda tenham mais de 2 milhões de soldados. Desde 2015, o Exército cortou 300 mil homens, a maioria servindo na infantaria, que perdeu um terço dos oficiais e reduziu de 70% da força total para menos da metade. Os marines, pelo contrário, triplicaram. Oficiais da Força Aérea e da Marinha ganharam postos com mais poder, incluindo a liderança de dois comandos. Isso reflete a inclinação dos militares no sentido dos mares e dos céus.

É difícil dizer se esse novo Exército será mais competente no campo de batalha. A China não trava uma guerra há quatro décadas. Os últimos soldados com experiência em um conflito em grande escala – a guerra contra o Vietnã, em 1979 – em breve se aposentarão.

Mas há evidências de que sua articulação está melhor. Algumas das incursões da China além das suas fronteiras, notadamente os voos de bombardeiros em torno de Taiwan e sobre o Mar do Sul da China, indicam uma maior coordenação entre as forças navais e aéreas. “Vemos muitos exercícios conjuntos que têm por objetivo sanar problemas no sistema e habituar os serviços a trabalhar um com o outro”, disse Phillip Saunders, da National Defense University, de Washington. “Antes, os jogos de guerra chineses eram planejados com base num roteiro. Hoje, os oficiais são avaliados com base no realismo do treinamento”, diz Meia Nouwens, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

Antes das reformas de Xi, o “blue team”, que faz o papel de adversário, sempre era derrotado nos exercícios. Hoje, eles normalmente vencem. No entanto, as tropas ainda estão mal preparadas para uma guerra complexa. Nos EUA, as promoções dependem da competência. Seus colegas chineses, com frequência, passam a carreira inteira em um único serviço, na mesma região, executando a mesma tarefa. 

A cultura política é outro problema. “As estruturas que a China tenta copiar estão baseadas na abertura, na delegação de poderes e na colaboração”, afirma o almirante Scott Swift, do MIT, ex-comandante da frota americana no Pacífico. Segundo ele, a guerra moderna exige uma tomada de decisões descentralizada, porque numa guerra eletrônica e cibernética a comunicação entre comandantes e unidades pode ser rompida. “Exércitos com base em princípios democráticos estão mais aptos a se adaptar a esse ambiente”, diz Swift.

“Xi é um dirigente autoritário que ambiciona o controle centralizado. Seu predecessor, Hu Jintao, não tinha essa mão de ferro sobre o Exército”, diz Saunders. Isso porque o próprio antecessor de Hu, Jiang Zemin, nomeou os dois vice-presidentes da Comissão Militar Central, que supervisiona as Forças Armadas. Eles permaneceram ativos durante o mandato de Hu, frustrando os esforços para reformar o Exército e frear sua corrupção e a falta de disciplina.

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Sãomais de 12 mil soldados, 200 aviões e tanques para comemorar o fim da 2ª Guerra

Xi está determinado a não ter a mesma sorte. Seus expurgos no combate à corrupção atingiram mais de 13 mil oficiais. Xi reduziu o número de membros da comissão militar de 11 para 7, despedindo chefes de serviço e acrescentando um oficial para combater a corrupção. O órgão passou a controlar também a Polícia Armada Popular, entidade paramilitar que absorveu a Guarda Costeira.

Previsivelmente, a reestruturação criou ressentimentos. Oficiais do alto escalão estão irritados com a perda de privilégios. Soldados desmobilizados, às vezes, levam suas queixas para as ruas. Esta é uma razão pela qual Xi fundou um ministério de assuntos relativos aos veteranos, em 2016. No entanto, as fileiras mais jovens se beneficiam do sistema de promoção com base no mérito, têm orgulho da crescente importância das Forças Armadas e admiram “o grande rejuvenescimento do país” sob o comando de Xi. 

Eles terão a oportunidade de aparecer, no dia 1.º de outubro, quando um enorme desfile militar será realizado em Pequim para marcar o 70.º aniversário do regime comunista. Será a primeira exibição das Forças Armadas na capital desde que Xi iniciou suas reformas. A expectativa é a de que seja uma apresentação de excelência mundial. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

© 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER  LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO  ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Na década passada, o Exército de Libertação Popular recebeu recursos generosos. Os gastos militares da China cresceram 83% entre 2009 e 2018 – aumento maior que o observado em qualquer outro país. Esses gastos permitiram à China se armar de mísseis de precisão e de foguetes antissatélite que desafiam a supremacia americana no Pacífico.

Soldados da guarda de honra do exército chinês durante cerimônia de boas-vindas ao Presidente de Camarões, Paul Biya, no Grande Salão do Povo em Pequim. Foto: Roman Pilipey / EFE 

O líder chinês, Xi Jinping, diz que seu “sonho” inclui Forças Armadas fortes. E isso, afirma ele, requer um Exército “modernizado” em 2035, uma força de nível mundial. Em outras palavras – uma força que desbancará os EUA em meados do século. E ele já avançou muito.

As reformas chamam menos atenção do que os mísseis lançados em 5 de março, os aviões cargueiros não tripulados e as superarmas carregadas eletromagneticamente – tudo testado no ano passado. Mas Xi entendeu que colocar armas sofisticadas nas mãos de uma força anacrônica não tem sentido. 

Durante a Guerra Fria, o Exército evoluiu, chegando a repelir a União Soviética e os EUA em guerras terrestres em solo chinês. Uma infantaria maciça pulverizou o inimigo em batalhas de exaustão. Na década de 90, os líderes chineses, alarmados com as proezas americanas na Guerra do Golfo, decidiram fortalecer a capacidade do Exército de travar “guerras locais que implicassem em uso de alta tecnologia”. 

Eles pensavam em conflitos curtos e intensos na periferia da China, como em Taiwan, em que o poder aéreo e naval seria tão importante quanto as forças terrestres. Xi decidiu que para vencer esse tipo de guerra era preciso mudar a estrutura do Exército e, nos últimos três anos, ele fez mais para reformar as Forças Armadas do que qualquer outro líder desde Deng Xiaoping.

O principal objetivo de Xi é reforçar a “articulação”. Este termo, emprestado do jargão militar ocidental, refere-se à habilidade de forças distintas – Exército, Marinha e Aérea – cooperarem rápida e ininterruptamente. A articulação é importante no caso de guerras no exterior. É difícil para os comandantes nos quartéis nacionais coordenarem as operações de soldados, marinheiros e pilotos a partir de uma grande distância. 

O modelo adotado pela China é o dos EUA, que reformaram drasticamente suas próprias Forças Armadas para alcançar esse objetivo. O Pentágono repartiu o globo em “comandos combatentes”. Todos os soldados, marinheiros e pilotos de uma determinada área, como o Golfo Pérsico ou o Pacífico, recebem ordens de um único comando. Xi seguiu o exemplo. Antes das suas reformas, os comandantes do Exército e da Marinha nas sete regiões militares do país se reportavam a seu quartel respectivo, com pouca ou nenhuma coordenação.

Em 2016, ele substituiu as regiões por cinco “teatros”, cada um sob um único comando. Um no leste, com base em Nanquim, se prepararia para a guerra com Taiwan e Japão. Outro, a oeste, em Chengdu, se encarregaria da Índia. E o comando do teatro no sul, com base em Guangzhou, cuidaria do Mar do Sul da China. Outros dois comandos foram formados em 2015, cada um tendo por alvo uma vulnerabilidade americana. As forças dos EUA dependem de comunicações via satélite, computador e outros canais de alta tecnologia. Por isso, Xi criou uma força de apoio estratégico que tem por alvo esses sistemas. Ela comanda as guerras espacial, cibernética, eletrônica e psicológica. 

Xi também enxugou as Forças Armadas, embora elas ainda tenham mais de 2 milhões de soldados. Desde 2015, o Exército cortou 300 mil homens, a maioria servindo na infantaria, que perdeu um terço dos oficiais e reduziu de 70% da força total para menos da metade. Os marines, pelo contrário, triplicaram. Oficiais da Força Aérea e da Marinha ganharam postos com mais poder, incluindo a liderança de dois comandos. Isso reflete a inclinação dos militares no sentido dos mares e dos céus.

É difícil dizer se esse novo Exército será mais competente no campo de batalha. A China não trava uma guerra há quatro décadas. Os últimos soldados com experiência em um conflito em grande escala – a guerra contra o Vietnã, em 1979 – em breve se aposentarão.

Mas há evidências de que sua articulação está melhor. Algumas das incursões da China além das suas fronteiras, notadamente os voos de bombardeiros em torno de Taiwan e sobre o Mar do Sul da China, indicam uma maior coordenação entre as forças navais e aéreas. “Vemos muitos exercícios conjuntos que têm por objetivo sanar problemas no sistema e habituar os serviços a trabalhar um com o outro”, disse Phillip Saunders, da National Defense University, de Washington. “Antes, os jogos de guerra chineses eram planejados com base num roteiro. Hoje, os oficiais são avaliados com base no realismo do treinamento”, diz Meia Nouwens, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

Antes das reformas de Xi, o “blue team”, que faz o papel de adversário, sempre era derrotado nos exercícios. Hoje, eles normalmente vencem. No entanto, as tropas ainda estão mal preparadas para uma guerra complexa. Nos EUA, as promoções dependem da competência. Seus colegas chineses, com frequência, passam a carreira inteira em um único serviço, na mesma região, executando a mesma tarefa. 

A cultura política é outro problema. “As estruturas que a China tenta copiar estão baseadas na abertura, na delegação de poderes e na colaboração”, afirma o almirante Scott Swift, do MIT, ex-comandante da frota americana no Pacífico. Segundo ele, a guerra moderna exige uma tomada de decisões descentralizada, porque numa guerra eletrônica e cibernética a comunicação entre comandantes e unidades pode ser rompida. “Exércitos com base em princípios democráticos estão mais aptos a se adaptar a esse ambiente”, diz Swift.

“Xi é um dirigente autoritário que ambiciona o controle centralizado. Seu predecessor, Hu Jintao, não tinha essa mão de ferro sobre o Exército”, diz Saunders. Isso porque o próprio antecessor de Hu, Jiang Zemin, nomeou os dois vice-presidentes da Comissão Militar Central, que supervisiona as Forças Armadas. Eles permaneceram ativos durante o mandato de Hu, frustrando os esforços para reformar o Exército e frear sua corrupção e a falta de disciplina.

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Sãomais de 12 mil soldados, 200 aviões e tanques para comemorar o fim da 2ª Guerra

Xi está determinado a não ter a mesma sorte. Seus expurgos no combate à corrupção atingiram mais de 13 mil oficiais. Xi reduziu o número de membros da comissão militar de 11 para 7, despedindo chefes de serviço e acrescentando um oficial para combater a corrupção. O órgão passou a controlar também a Polícia Armada Popular, entidade paramilitar que absorveu a Guarda Costeira.

Previsivelmente, a reestruturação criou ressentimentos. Oficiais do alto escalão estão irritados com a perda de privilégios. Soldados desmobilizados, às vezes, levam suas queixas para as ruas. Esta é uma razão pela qual Xi fundou um ministério de assuntos relativos aos veteranos, em 2016. No entanto, as fileiras mais jovens se beneficiam do sistema de promoção com base no mérito, têm orgulho da crescente importância das Forças Armadas e admiram “o grande rejuvenescimento do país” sob o comando de Xi. 

Eles terão a oportunidade de aparecer, no dia 1.º de outubro, quando um enorme desfile militar será realizado em Pequim para marcar o 70.º aniversário do regime comunista. Será a primeira exibição das Forças Armadas na capital desde que Xi iniciou suas reformas. A expectativa é a de que seja uma apresentação de excelência mundial. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

© 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER  LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO  ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Na década passada, o Exército de Libertação Popular recebeu recursos generosos. Os gastos militares da China cresceram 83% entre 2009 e 2018 – aumento maior que o observado em qualquer outro país. Esses gastos permitiram à China se armar de mísseis de precisão e de foguetes antissatélite que desafiam a supremacia americana no Pacífico.

Soldados da guarda de honra do exército chinês durante cerimônia de boas-vindas ao Presidente de Camarões, Paul Biya, no Grande Salão do Povo em Pequim. Foto: Roman Pilipey / EFE 

O líder chinês, Xi Jinping, diz que seu “sonho” inclui Forças Armadas fortes. E isso, afirma ele, requer um Exército “modernizado” em 2035, uma força de nível mundial. Em outras palavras – uma força que desbancará os EUA em meados do século. E ele já avançou muito.

As reformas chamam menos atenção do que os mísseis lançados em 5 de março, os aviões cargueiros não tripulados e as superarmas carregadas eletromagneticamente – tudo testado no ano passado. Mas Xi entendeu que colocar armas sofisticadas nas mãos de uma força anacrônica não tem sentido. 

Durante a Guerra Fria, o Exército evoluiu, chegando a repelir a União Soviética e os EUA em guerras terrestres em solo chinês. Uma infantaria maciça pulverizou o inimigo em batalhas de exaustão. Na década de 90, os líderes chineses, alarmados com as proezas americanas na Guerra do Golfo, decidiram fortalecer a capacidade do Exército de travar “guerras locais que implicassem em uso de alta tecnologia”. 

Eles pensavam em conflitos curtos e intensos na periferia da China, como em Taiwan, em que o poder aéreo e naval seria tão importante quanto as forças terrestres. Xi decidiu que para vencer esse tipo de guerra era preciso mudar a estrutura do Exército e, nos últimos três anos, ele fez mais para reformar as Forças Armadas do que qualquer outro líder desde Deng Xiaoping.

O principal objetivo de Xi é reforçar a “articulação”. Este termo, emprestado do jargão militar ocidental, refere-se à habilidade de forças distintas – Exército, Marinha e Aérea – cooperarem rápida e ininterruptamente. A articulação é importante no caso de guerras no exterior. É difícil para os comandantes nos quartéis nacionais coordenarem as operações de soldados, marinheiros e pilotos a partir de uma grande distância. 

O modelo adotado pela China é o dos EUA, que reformaram drasticamente suas próprias Forças Armadas para alcançar esse objetivo. O Pentágono repartiu o globo em “comandos combatentes”. Todos os soldados, marinheiros e pilotos de uma determinada área, como o Golfo Pérsico ou o Pacífico, recebem ordens de um único comando. Xi seguiu o exemplo. Antes das suas reformas, os comandantes do Exército e da Marinha nas sete regiões militares do país se reportavam a seu quartel respectivo, com pouca ou nenhuma coordenação.

Em 2016, ele substituiu as regiões por cinco “teatros”, cada um sob um único comando. Um no leste, com base em Nanquim, se prepararia para a guerra com Taiwan e Japão. Outro, a oeste, em Chengdu, se encarregaria da Índia. E o comando do teatro no sul, com base em Guangzhou, cuidaria do Mar do Sul da China. Outros dois comandos foram formados em 2015, cada um tendo por alvo uma vulnerabilidade americana. As forças dos EUA dependem de comunicações via satélite, computador e outros canais de alta tecnologia. Por isso, Xi criou uma força de apoio estratégico que tem por alvo esses sistemas. Ela comanda as guerras espacial, cibernética, eletrônica e psicológica. 

Xi também enxugou as Forças Armadas, embora elas ainda tenham mais de 2 milhões de soldados. Desde 2015, o Exército cortou 300 mil homens, a maioria servindo na infantaria, que perdeu um terço dos oficiais e reduziu de 70% da força total para menos da metade. Os marines, pelo contrário, triplicaram. Oficiais da Força Aérea e da Marinha ganharam postos com mais poder, incluindo a liderança de dois comandos. Isso reflete a inclinação dos militares no sentido dos mares e dos céus.

É difícil dizer se esse novo Exército será mais competente no campo de batalha. A China não trava uma guerra há quatro décadas. Os últimos soldados com experiência em um conflito em grande escala – a guerra contra o Vietnã, em 1979 – em breve se aposentarão.

Mas há evidências de que sua articulação está melhor. Algumas das incursões da China além das suas fronteiras, notadamente os voos de bombardeiros em torno de Taiwan e sobre o Mar do Sul da China, indicam uma maior coordenação entre as forças navais e aéreas. “Vemos muitos exercícios conjuntos que têm por objetivo sanar problemas no sistema e habituar os serviços a trabalhar um com o outro”, disse Phillip Saunders, da National Defense University, de Washington. “Antes, os jogos de guerra chineses eram planejados com base num roteiro. Hoje, os oficiais são avaliados com base no realismo do treinamento”, diz Meia Nouwens, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

Antes das reformas de Xi, o “blue team”, que faz o papel de adversário, sempre era derrotado nos exercícios. Hoje, eles normalmente vencem. No entanto, as tropas ainda estão mal preparadas para uma guerra complexa. Nos EUA, as promoções dependem da competência. Seus colegas chineses, com frequência, passam a carreira inteira em um único serviço, na mesma região, executando a mesma tarefa. 

A cultura política é outro problema. “As estruturas que a China tenta copiar estão baseadas na abertura, na delegação de poderes e na colaboração”, afirma o almirante Scott Swift, do MIT, ex-comandante da frota americana no Pacífico. Segundo ele, a guerra moderna exige uma tomada de decisões descentralizada, porque numa guerra eletrônica e cibernética a comunicação entre comandantes e unidades pode ser rompida. “Exércitos com base em princípios democráticos estão mais aptos a se adaptar a esse ambiente”, diz Swift.

“Xi é um dirigente autoritário que ambiciona o controle centralizado. Seu predecessor, Hu Jintao, não tinha essa mão de ferro sobre o Exército”, diz Saunders. Isso porque o próprio antecessor de Hu, Jiang Zemin, nomeou os dois vice-presidentes da Comissão Militar Central, que supervisiona as Forças Armadas. Eles permaneceram ativos durante o mandato de Hu, frustrando os esforços para reformar o Exército e frear sua corrupção e a falta de disciplina.

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Sãomais de 12 mil soldados, 200 aviões e tanques para comemorar o fim da 2ª Guerra

Xi está determinado a não ter a mesma sorte. Seus expurgos no combate à corrupção atingiram mais de 13 mil oficiais. Xi reduziu o número de membros da comissão militar de 11 para 7, despedindo chefes de serviço e acrescentando um oficial para combater a corrupção. O órgão passou a controlar também a Polícia Armada Popular, entidade paramilitar que absorveu a Guarda Costeira.

Previsivelmente, a reestruturação criou ressentimentos. Oficiais do alto escalão estão irritados com a perda de privilégios. Soldados desmobilizados, às vezes, levam suas queixas para as ruas. Esta é uma razão pela qual Xi fundou um ministério de assuntos relativos aos veteranos, em 2016. No entanto, as fileiras mais jovens se beneficiam do sistema de promoção com base no mérito, têm orgulho da crescente importância das Forças Armadas e admiram “o grande rejuvenescimento do país” sob o comando de Xi. 

Eles terão a oportunidade de aparecer, no dia 1.º de outubro, quando um enorme desfile militar será realizado em Pequim para marcar o 70.º aniversário do regime comunista. Será a primeira exibição das Forças Armadas na capital desde que Xi iniciou suas reformas. A expectativa é a de que seja uma apresentação de excelência mundial. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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