SUVA, Fiji — Quando quatro policiais chineses apareceram nesta delegacia, no meio de 2017, rapidamente ficou claro que eles não estavam na capital de Fiji apenas para colaborar em alguma investigação local. Em vez disso, os policiais planejavam conduzir sua própria investigação — a respeito de chineses suspeitos de dar golpes na internet a partir da ilha do Pacífico Sul — como se estivessem dentro da China.
“Tudo era feito por eles”, afirmou um ex-policial fijiano que trabalhava nesta delegacia de Suva na época, sob condição de anonimato porque não tem autorização para falar publicamente. “A polícia de Fiji só estava lá para ajudar nas prisões, e nada mais. Todos os depoimentos, gravações e levantamentos de todas as provas eram realizados pelos chineses.”
Este caso foi um prenúncio das ambições da China no Pacífico, assim como de sua disposição para conduzir investigações e projetar poderes policiais no exterior, às vezes com pouco respeito às autoridades locais. Mas o caso também tornou-se um catalisador para Fiji fazer face a Pequim e afirmar sua própria soberania.
Semanas depois dos primeiros quatro policiais chineses aterrissarem em Fiji, muitos outros chegaram à ilha, e 77 suspeitos, muitos deles jovens mulheres, foram conduzidos algemados e encapuzados pela pista de um aeroporto local para embarcar em um avião destinado a Pequim. Nenhum preso passou por audiência de extradição. Não há nenhuma documentação específica e nenhum envolvimento da Interpol, afirmou o ex-policial fijiano.
“Eles simplesmente entraram e fizeram o que bem entenderam”, afirmou outro ex-policial, mais graduado.
O papel dominante da China na investigação, seguida de prisões que ativistas defensores de direitos humanos e líderes de oposição fijianos comparadas a sequestros em massa, foi a culminação da mais extensa cooperação em segurança de Pequim no Pacífico, que teve como base um memorando de entendimento secreto sobre cooperação em policiamento entre Pequim e o governo do então primeiro-ministro, Frank Bainimarama.
Era também um momento em que começavam a azedar as opiniões de alguns fijianos a respeito das crescentes atividades de autoridades chinesas em Fiji, um exemplo de como Pequim pode exagerar em suas tentativas de construir influência global.
“Nós nem sabíamos que havia um acordo”, afirmou o advogado Aman Ravindra-Singh, uma das poucas figuras públicas em Fiji a denunciar as prisões da época, a respeito do memorando. “E logo nós soubemos que tinha gente batendo nas portas de residências de Nadi e chineses uniformados prendendo pessoas. Algo sem precedentes. Era quase como se estivéssemos sendo invadidos.”
A cooperação em policiamento entre China e Fiji iniciada em 2011 com o memorando de entendimento de seis páginas continuaria por mais de uma década. Mais de 100 policiais fijianos treinaram ou estudaram em cidades de toda a China. Quase duas dúzias de policiais chineses fizeram a jornada oposta, trabalhando com a polícia fijiana em ciclos que duravam meses.
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O acordo em policiamento funcionou como teste para a China transformar sua presença de segurança em Fiji, a 9 mil quilômetros de distância, de um poder brando exercido em intercâmbios pessoais em um poder coercitivo envolvendo prisões, deportações extrajudiciais e transferências de equipamentos de alta tecnologia, como câmeras de circuito interno, equipamentos de vigilância e drones.
O memorando de entendimento também serviu de modelo para outros esforços chineses no Pacífico. No ano passado, a China tentou — mas não conseguiu — forjar um amplo pacto de segurança com 10 nações insulares do Pacífico.
Os chineses alcançaram seu maior sucesso nas Ilhas Salomão, onde Pequim intensificou a assistência policial recentemente — apesar de queixas da Austrália e da Nova Zelândia. No ano passado, um acordo de segurança entre China e Ilhas Salomão inflamou temores de que Pequim pretende estabelecer uma base militar no arquipélago importante estrategicamente e, mais amplamente, se tornar uma potência hegemônica na região.
Paralelamente, a China tem intensificado sua presença de segurança em outros países, incluindo por meio da instalação de delegacias de polícia não oficiais na América do Norte e na Europa para monitorar cidadãos chineses no exterior.
Mas suas ações têm sido particularmente perceptíveis nesta parte do planeta.
“A China busca criar uma rede alternativa de segurança em todo o Pacífico”, afirmou Anna Powles, especialista na região do Pacífico da Universidade Massey, na Nova Zelândia, notando que, em uma parte do mundo em que poucos países possuem Exércitos, as polícias são vias críticas de influência. “O primeiro memorando de entendimento, assinado em Fiji em 2011, pavimentou o caminho nesse sentido.”
O esforço chinês sobre a região — a China está interessada nesses minúsculos e subdesenvolvidos países do Pacífico não apenas por seus votos nas Nações Unidas, mas também por suas amplas águas territoriais — parece ter surpreendido os Estados Unidos, ocasionando um súbito impulso de envolvimento americano.
EUA e Austrália, sua aliada próxima, estão incrementando ajudas e diplomacia — ao mesmo tempo que celebram seus próprios acordos de segurança — no Pacífico.
O presidente Joe Biden, que recebeu líderes de ilhas do Pacífico na Casa Branca no ano passado, cancelou abruptamente o que teria sido uma histórica viagem à região em maio, para lidar com as negociações sobre o teto de endividamento, mas marcou uma segunda cúpula em Washington neste outono (Hemisfério Norte).
O momento pode ser oportuno à medida que muitos nas ilhas do Pacífico questionam a natureza de suas relações com Pequim.
O acordo de policiamento em Fiji, particularmente, coincidiu com um endurecimento por parte do governo Bainimarama.
Nas eleições de dezembro, contudo, Bainimarama perdeu o cargo de primeiro-ministro para Sitiveni Rabuka, um antigo rival que fez campanha criticando a China. E em janeiro, em um de seus primeiros atos na função, Rabuka anunciou intenção de pôr fim ao acordo com Pequim.
Em entrevista ao Post, Rabuka afirmou que tomou a decisão por temer que o memorando de entendimento “ameace os direitos individuais das pessoas”. Ele também sugeriu que as relações próximas de seu antecessor com a China minaram a soberania de Fiji e fizeram aumentar a corrupção. “Nós éramos tão fracos e queríamos tanto ser amigos deles”, afirmou, “que fizemos vistas grossas a muitas coisas erradas que estavam acontecendo”.
Trocas e abusos
Quando foi oferecida ao policial fijiano Fisi Nasario a chance de estudar na China, ele sentiu que não podia recusar. Em condições normais, Nasario não conseguiria pagar por um mestrado nem em Fiji, quem dirá no exterior. Mas Pequim se ofereceu para bancar sua passagem, seu curso e outros gastos da estadia por dois anos. Ao retornar para Fiji, ele seria promovido. O intercâmbio era resultado da colaboração em policiamento com a China.
Fiji era pária internacional quando assinou o memorando de entendimento, em abril de 2011. EUA, Austrália e Nova Zelândia tinham imposto sanções após Bainimarama protagonizar um golpe de Estado armado cinco anos antes.
Isolado por aliados tradicionais, Bainimarama voltou-se para um país que não se importava muito com seu golpe: a China. (Rabuka também tomou o poder à força, em 1987, e se desculpou posteriormente.)
Hoje, as marcas da influência de Pequim são evidentes em Suva. A política “Mire o Norte” de Bainimarama trouxe quase US$ 300 milhões em ajuda chinesa entre 2011 e 2018, apesar de grande parte desse montante ter chegado por meio de empréstimos em condições preferenciais que amarraram a nação insular a dívidas. Quando o líder máximo da China, Xi Jinping, visitou Suva, em 2014, Fiji tinha embarcado totalmente no que Xi chamava de “expresso chinês para o desenvolvimento”.
A China construiu uma enorme embaixada e um Instituto Confúcio na universidade para lecionar língua e cultura chinesa; reformou o centro cívico de Suva; e construiu o que deveria ser um hospital com equipamentos de última geração. Em único dia de 2018, Pequim inaugurou não uma, mas duas grandes pontes na capital.
Mas o memorando de entendimento chamou pouca atenção da imprensa em 2011, quando foi assinado pelo poderoso ministério chinês de Segurança Pública e o ministério fijiano da Defesa, Segurança Nacional e Imigração. Apenas uma versão preliminar, em língua chinesa, parece ter sido postada online.
Mas uma cópia da versão final em inglês, obtida pelo Washington Post, mostra que o acordo foi mais detalhado do que muitos outros memorandos de entendimento da China com países em desenvolvimento, em sua maioria africanos.
Autoridades chinesas e fijianas concordaram em cooperar em sete áreas, incluindo “prisão de fugitivos e recuperação de dinheiro e itens ilícitos” e “prevenção e repressão” a crimes econômicos e cibernéticos, terrorismo e tráfico humano. As duas nações também concordaram em trocar informações de inteligência, visitas, treinamentos e equipamentos. O memorando de entendimento chega a listar linhas diretas de telefone e fax para comunicações imediatas entre os dois países.
Em 2013, pares de policiais chineses tinham começado a integrar a força policial de Fiji em ciclos de três a seis meses, e policiais fijianos, como Nasario, viajavam na direção oposta.
Em agosto de 2017, no mesmo momento em que policiais chineses investigavam 77 suspeitos em Fiji, Nasario acabou na China, estudando juntamente com policiais de todo o Pacífico e Sudeste Asiático na Faculdade de Polícia de Yunnan. Lá, eles aprenderam noções básicas de língua chinesa e frequentaram palestras sobre narcóticos e técnicas forenses e de interrogatório.
A experiência pareceu projetada não apenas para educar, mas também para impressionar. Os estudantes internacionais visitaram modernos centros de comando policial na China e se maravilharam com os drones altamente tecnológicos da força. E conheceram destinos turísticos, como a Grande Muralha nas proximidades de Pequim e a Disney Xangai.
“Não era a China que eu tinha na mente antes de viajar”
, disse Nasario, hoje diretor de indiciamentos da polícia de Fiji.
Por quase uma década, dezenas de policiais fijianos viajaram à China anualmente para treinar ou estudar. Os intercâmbios pararam apenas durante a pandemia de coronavírus, quando a China fechou suas fronteiras. Mas mesmo nesse período Pequim enviou a Suva um policial para agir como contato e continuar a colaboração.
“Foi a relação entre polícias mais destacada que a China manteve no Pacífico”, afirmou o ex-oficial do Exército australiano Peter Connolly, que pesquisa detalhadamente os interesses chineses na região.
“Houve um nível de intercâmbio e relação que não ocorria em nenhum outro lugar”, afirmou ele, acrescentando, contudo, que a relação logo seria superada pela crescente presença em segurança de Pequim nas Ilhas Salomão.
O arranjo ocasionou impulsos de relações públicas em ambos os países. Autoridades fijianas — muitas instruídas na Austrália ou na Nova Zelândia — passaram a elogiar o policiamento chinês como ninguém.
Para Fiji, as imagens propagandísticas produzidas na China ajudavam a distrair a atenção das pessoas de abusos de direitos humanos na nação insular.
“Sob o governo Bainimarama, nós testemunhamos um aumento dramático em casos de prisões arbitrárias, tortura e abusos processuais”, afirmou Kate Schuetze, pesquisadora que estuda a região do Pacífico na ONG Anistia Internacional.
Os problemas pioraram com a nomeação a comissário de polícia de Fiji do ex-comandante militar Sitiveni Qiliho, em 2015, conforme a linha que distinguia a polícia das Forças Armadas ia se apagando, acrescentou ela. Não é claro se o treinamento chinês contribuiu, mas certamente não ajudou, afirmaram ativistas defensores dos direitos humanos.
Ainda assim, Schuetze ficou chocado em 2017 quando emergiram fotos dos 77 suspeitos chineses sendo obrigados a embarcar num avião.
Ravindra-Singh, o advogado, que fugiu de Fiji no ano passado depois de ser sentenciado a 10 meses na prisão por criticar Bainimarama e outras autoridades no Facebook, afirmou que não se sabe o que aconteceu aos presos, nem se eles tinham cometido algum delito.
A polícia de Fiji negou que o memorando de entendimento com a China ocasionou abusos ou que alguma irregularidade ocorreu nas prisões em massa de 2017. A Embaixada da China em Suva, similarmente, defendeu a relação, qualificando-a como “profissional, aberta e transparente”.
A representação chinesa recusou-se a fornecer informações sobre os presos, incluindo suas acusações e os desfechos dos processos a que eles foram submetidos. Em vez disso, afirmou que a operação de 2017 foi um “bom exemplo” de cooperação internacional entre polícias e ocorreu “em pleno acordo com relevantes leis domésticas e internacionais”.
‘Quem mais eles estão vigiando?’
A China forneceu a Fiji vários milhões de dólares em equipamentos enquanto seu memorando de entendimento vigorou, incluindo carros de polícia e motocicletas, uniformes e instrumentos para bandas marciais.
Quando, em 2014, Bainimarama preparava-se para organizar uma eleição que, ele esperava, legitimaria seu governo, a China enviou à polícia fijiana “equipamento de vigilância e antidistúrbio” que, segundo afirmou posteriormente a embaixada chinesa, surtiu “grande impacto no sucesso da eleição”. Bainimarama ganhou de lavada.
A tecnologia impressionou Nasario, que se descreve como um “ilhéu”. Quando ele visitou um centro de comando da polícia em Kunming, os policiais chineses digitaram os dados de um ônibus em um computador e conectaram a máquina a imagens captadas dentro do veículo e transmitidas em tempo real, recordou-se ele. A polícia chinesa mostrou ao grupo do intercâmbio como tinha resolvido um caso de roubo usando gravações de imagens em alta definição captadas dentro de uma casa noturna. E Nasario ficou de queixo caído com os drones avançados que alguns cadetes da polícia chinesa estavam aprendendo a pilotar.
“A gente vê drones em toda a parte e pensa, ‘Que bom seria se Fiji pudesse ter tudo isso’”, recordou-se o policial. Logo seu desejo se tornou realidade.
Em 2021, dois anos após Nasario retornar de sua excursão, a tecnologia chinesa disponível estava ainda mais sofisticada. Naquele ano, a China forneceu a Fiji US$ 700 mil em equipamentos, incluindo drones de vigilância, câmeras de circuito interno e servidores, possibilitando à polícia fijiana monitorar imagens, de acordo com reportagens da imprensa local e comunicados do governo.
Nasario afirmou que a polícia fijiana passou a usar drones para localizar fazendas ilegais de maconha em regiões remotas.
Blake Johnson, analista do Instituto Australiano de Política Estratégica, afirmou que o memorando de entendimento Fiji-China começou pequeno, mas cresceu ao longo do tempo e se tornou sério o suficiente para incomodar autoridades australianas.
“Praticamente desde o início Fiji estava interessada não apenas em obter veículos, o que é muito comum no Pacífico, mas também em ter acesso a equipamentos de vigilância e antidistúrbio. E a coisa foi evoluindo”, afirmou ele.
O fornecimento de drones e equipamentos de captação e registro de imagens foi particularmente preocupante, segundo Johnson, “em razão da maneira que a China usa essa tecnologia contra sua própria população, o que ocasiona receios sobre encorajar outros países a fazer o mesmo”.
Inia Seruiratu, ministro fijiano da Defesa, Segurança Nacional e Policiamento entre 2018 e 2022, atualmente líder da oposição, negou que o equipamento chinês tenha sido usado para espionar cidadãos.
“Vigilância? Eles estavam nos fornecendo instrumentos musicais”, afirmou sarcasticamente, qualificando como “teoria conspiratória” relatos e documentos que comprovam a relação.
O espectro da vigilância chinesa voltou a pairar no ano passado, quando Pequim pressionou por um amplo pacto com 10 nações insulares do Pacífico que teria dado à China influência sobre policiamento, aduana, cibersegurança, comunicações, mineração em águas profundas e mais.
“Foi o que eu descreveria como uma proposta estratégica grandiosa, buscando integrar um grupo crucial de ilhas do Pacífico em iniciativas políticas, econômicas e de segurança”, afirmou Connolly, o analista australiano.
Mas a proposta chinesa evaporou depois que o então presidente dos Estados Federados da Micronésia, David Panuelo, enviou um comunicado aos seus homólogos no Pacífico qualificando o pacto como uma “cortina de fumaça” para uma tomada de “controle” da China.
“Quando entramos num acordo como esse, nós basicamente abrimos mão de nossa soberania”, disse Panuelo ao Post em fevereiro, um mês antes de perder a reeleição. Posteriormente, o ex-presidente afirmou que foi seguido em Suva por dois homens da embaixada chinesa durante uma cúpula no ano passado.
Rabuka afirmou que esse episódio mostrou que Panuelo agiu corretamente para impedir a colaboração em policiamento.
“Quem mais eles estão vigiando?”, perguntou o ministro de Interior de Fiji, Pio Tikoduadua, que administra a polícia e o Exército do país. “Quando eu me encontrar com o embaixador chinês, que lhe direi, ‘O senhor está me vigiando também?’.”
‘A China exagerou’
O anúncio de Rabuka em 26 de janeiro de sua intenção de pôr fim ao memorando de entendimento surpreendeu até as autoridades americanas que elogiaram sua disposição, classificando-a como um sinal de inclinação pró-EUA. O novo primeiro-ministro tinha sinalizado esse movimento durante a campanha eleitoral, mas poucos esperavam que ele agisse apenas um mês depois de assumir.
Para a China, a decisão foi uma derrota humilhante — que Pequim tenta reverter. O governo chinês alertou publicamente que poderá encerrar a ajuda a Fiji em resposta, depois de insistir privadamente ao primeiro-ministro que não pusesse fim à colaboração em policiamento.
Mas o movimento de Rabuka ocorreu em meio a uma mudança maior, em Fiji e outras partes.
“Há uma sensação de que a China andou exagerando nos últimos 12 meses”, afirmou James Batley, que serviu como mais graduado diplomata da Austrália em Fiji e nas Ilhas Salomão. “O que vemos agora são vários indicadores de uma reação.”
Para Rabuka, dispensar o memorando de entendimento com a China tem como objetivo atender a um crescente descontentamento em relação às ações de Pequim no país do Pacífico Sul, afirmaram especialistas — não apenas em relação ao policiamento, também em termos de desenvolvimento imobiliário.
Ainda que alguns projetos de construção erguidos por Pequim sejam populares, outros começaram a ruir ou nunca foram concluídos, em meio a inúmeras acusações de suborno e cortes de custos.
O esqueleto do WG Friendship Plaza desponta em Suva. O arranha-céu chinês foi projetado para ser o edifício mais alto do Pacífico Sul. Em vez disso, o prédio segue inacabado em razão de dúvidas a respeito de padrões de construção, da morte de um trabalhador e de uma disputa jurídica.
A 30 quilômetros de lá, um centro médico construído em 2014, no qual Pequim gastou US$ 6 milhões, já está em más condições.
“Todos os dias que venho trabalhar eu rezo a Deus para não perder nenhum paciente em razão de todos esses problemas”, afirmou Doreen Mani, diretora divisional de medicina em exercício no Hospital Navua, onde com frequência falta água e eletricidade e em certas ocasiões os funcionários têm de empilhar dois corpos em uma mesma gaveta do refrigerador do necrotério. “Este hospital é uma bomba-relógio.”
A construtora chinesa que ergueu o hospital concluiu recentemente a construção de duas delegacias de polícia em Fiji.
No ano passado, Fiji assinou o Ordenamento Econômico para Prosperidade no Indo-Pacífico, a resposta de Washington à Iniciativa Cinturão e Rota de Pequim. Mas a nação insular ainda depende da ajuda chinesa em desenvolvimento imobiliário, e o fim da colaboração em policiamento coloca essa relação comercial em risco.
Rabuka pareceu ter recuado de sua decisão em certas ocasiões, afirmando que o memorando de entendimento está apenas congelado enquanto seu governo o analisa. Ele disse ao Post que, se a análise constatar que o policiamento piorou durante a suspensão da colaboração, ele poderia até assinar um novo acordo com a China.
Mas Rabuka e Tikoduadua, o ministro do Interior, afirmaram que preferem trabalhar com EUA, Austrália e Nova Zelândia.
A Austrália tem incrementado suas relações de segurança com nações insulares do Pacífico nos meses recentes, firmando um acordo de estatuto de forças com Fiji, estabelecendo uma colaboração em segurança com Vanuatu e se aproximando de Kiribati. Um acordo de segurança dos australianos com Papua-Nova Guiné, onde os EUA firmaram recentemente um pacto similar, segue em negociação.
A Polícia Federal australiana, segundo relatos, tem expandido sua presença na região. A Nova Zelândia assinou recentemente um acordo de defesa com Fiji.
A disputa dá poucos sinais de arrefecimento. Duas semanas após o anúncio de Rabuka, autoridades da Embaixada Americana em Fiji ofereceram treinamento para a polícia fijiana durante uma visita à corporação.
“Há muito interesse no Pacífico neste momento”, afirmou Tikoduadua. “É como o novo espaço a conquistar. Nós estávamos adormecidos, e então toda essa gente apareceu de repente batendo à nossa porta.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL