China tem controle total de Hong Kong e pretende fazer o mesmo com Taiwan, diz Xi Jinping


Em um discurso de quase duas horas na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da China, líder defendeu crescimento militar chinês e reiterou seu foco na reunificação

Por Redação
Atualização:

PEQUIM - Na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da China, o presidente Xi Jinping, fez um discurso com foco em segurança, uma de suas maiores preocupações especialmente após tensões recentes no Estreito de Taiwan. Ele citou que pretende controlar totalmente a ilha autônoma, assim como fez com Hong Kong, e reiterou seu objetivo de uma reunificação pacífica, mas sem abrir mão do uso da força caso veja necessidade.

Em quase duas horas de discurso, Xi também defendeu sua controvertida política de covid zero, frustrando qualquer esperança de que a medida, que tenta eliminar as infecções por coronavírus com bloqueios rigorosos, termine nos próximos meses. Visando ao futuro, Xi prometeu transformar a China em um grande país socialista moderno que representa uma nova escolha para a humanidade.

“Tentaremos buscar a perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e os maiores esforços, mas nunca nos comprometeremos a abandonar o uso da força”, afirmou, citando como exemplo Hong Kong que, segundo ele, saiu do caos para a governança após a China controlar totalmente. Xi repete em seu discurso uma declaração oficial do partido comunista em agosto sobre Taiwan, na esteira da visita da legisladora americana Nancy Pelosi à ilha.

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Jornalistas registram o discurso do presidente chinês Xi Jinping durante a cerimônia de abertura do 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China no Grande Salão do Povo em Pequim  Foto: Mark R. Cristino/EPA/EFE

Ainda sobre Hong Kong, ele defendeu sua repressão a um movimento pró-democracia na região, dizendo que o partido ajudou a ex-colônia britânica a entrar em um novo estágio no qual restaurou a ordem e está pronto para prosperar.

Sob aplausos dos quase 2.300 delegados reunidos no Grande Salão do Povo em Pequim, Xi também enfatizou que “a influência internacional da China, a atratividade e a capacidade de moldar o mundo aumentaram significativamente”.

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Segundo analistas, no discurso de hoje, Xi reforçou o último livro branco do Partido Comunista, que transformou Taiwan uma questão chave na política chinesa e nas suas relações exteriores. O documento de agosto foi o terceiro livro branco publicado pelo partido, o primeiro foi em 1993 e o último em 2000. Em ambos a China prometia não enviar tropas ou funcionários à ilha, uma promessa que foi revogada este ano.

“As forças internacionais transformaram a questão de Taiwan em um assunto internacional, que a China sempre relutou em admitir no passado”, disse Chen Chien-fu, professor do Instituto de Pós-Graduação de Estudos da China da Universidade Tamkang, na cidade de Nova Taipé. “Sempre sentiu que a questão do Estreito de Taiwan é um assunto interno e uma questão interna da China, mas agora se tornou uma questão internacional inteira.”

Segurança como prioridade

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A China, com o segundo maior orçamento militar do mundo depois dos Estados Unidos, está tentando ampliar seu alcance desenvolvendo mísseis balísticos, porta-aviões e postos avançados no exterior. “Trabalharemos mais rápido para modernizar a teoria militar, pessoal e de armas”, disse Xi. “Vamos melhorar as capacidades estratégicas dos militares.”

Durante o discurso, Xi fez menção frequente aos objetivos de segurança e emitiu um amplo aviso sobre possíveis obstáculos à frente. “Esteja pronto para resistir a ventos fortes, águas agitadas e até tempestades perigosas”, disse ele.

Seus comentários representaram um direcionamento no foco do partido rumo à sua maior preocupação que é a segurança, área em que visa anular todos os desafios ideológicos e geopolíticos ao governo do partido. Ao focar em expansão militar e unidade nacional, o líder falou pouco de economia, a maior preocupação de empresas, governos locais e a população. O discurso ocorre em meio a uma queda acentuada na segunda maior economia do mundo, agravada por tensões com Washington e vizinhos asiáticos sobre comércio, tecnologia e segurança.

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Pessoas assistem em um telão ao ar livre o discurso ao vivo do presidente chinês Xi Jinping durante a sessão de abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês em Hangzhou, na província de Zhejiang, leste da China Foto: AFP

Ao falar da economia, o líder se limitou a dizer que o Estado deve desempenhar um papel maior na gestão econômica e prometeu um “desenvolvimento focado na economia doméstica”, mas sem entrar em detalhes. Em uma análise do discurso, o New York Times observou que o líder se preocupou mais em elogiar o marxismo do que tratar dos mercados, que tendia a ser um dos pilares de seus antecessores ao falar no congresso.

“Xi quer dar continuidade à sua própria história”, diz Alfred Wu Muluan, professor associado de políticas públicas da Universidade Nacional de Cingapura, que acredita que o presidente chinês almeja até um quinto mandato, muito além de 2027. “Ele considera a segurança nacional a prioridade número um do país, o que impede que haja compromissos a esse nível, seja no Mar da China Meridional, em Taiwan ou em Hong Kong”, acrescenta o professor. “Internacionalmente vai ser muito difícil.”

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Os planos do partido pedem a criação de uma sociedade próspera até meados do século e a restauração da China ao seu papel histórico como líder político, econômico e cultural. Pequim expandiu sua presença no exterior, incluindo uma iniciativa multibilionária da Nova Rota da Seda para construir portos e outras infraestruturas na Ásia e na África, mas economistas alertam que a reversão da reforma no estilo de mercado pode prejudicar o crescimento.

Poder quase vitalício

Xi, que foi nomeado para o cargo mais alto do partido em 2012, é quase certo que receberá um terceiro mandato de cinco anos no final da reunião do partido, descartando o precedente de transição regular no poder e consolidando um retorno à regra do homem forte, semelhante à era de Mao Tsé-tung. Ele não fez qualquer menção de quando pretende deixar o cargo, com analistas apostando que ele deve mirar para mais dez anos em vez de cinco.

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“Xi Jinping pretende não apenas um terceiro mandato, mas também um quarto mandato”, disse Willy Wo-Lap Lam, membro sênior do think tank Jamestown Foundation. “Ele tem mais 10 anos para escolher seu sucessor.”

Desde que Xi assumiu o poder, a China viu uma expansão abrangente de sua economia, força militar e papel como potência global. Mas também enfrenta desafios crescentes, em parte criados pelo próprio Xi, incluindo uma economia desacelerada pela implementação forçada de sua tolerância zero à covid, uma política fundamental para ele.

O presidente da China, Xi Jinping, acena ao chegar para a sessão de abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês no Grande Salão do Povo em Pequim Foto: Noel Celis/AFP

O estilo de liderança de Xi, caracterizado pela preferência por dividir as pessoas em inimigos e amigos, significa que ele não é alguém disposto a se comprometer, disse Chien-Wen Kou, cientista político da Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan.

“Isso nos diz como ele pensa em lidar com os inimigos”, disse Kou. “Ele essencialmente não fará concessões em seus princípios básicos, seja para laços China-EUA, relações com Taiwan ou sua abordagem a funcionários corruptos.”

Pequim também enfrenta novas críticas de nações ocidentais pela agressão a Taiwan e sua estreita parceria com a Rússia em meio à guerra na Ucrânia. Xi não mencionou a guerra ou a deterioração do relacionamento de Pequim com os Estados Unidos, que ordenou proibições de exportação no início deste mês que podem prejudicar as aspirações de alta tecnologia do país.

Analistas estão acompanhando de perto a reunião de seis dias em busca de sinais de que as críticas recentes ao partido podem ter enfraquecido Xi ou outros políticos. “Nos últimos anos, Xi tem dado muita ênfase ao apelo à liderança do partido para reviver o espírito de luta”, disse Dali Yang, professor de política chinesa na Universidade de Chicago.

Soldados do Exército de Libertação Popular (PLA) marcham em frente a um cartaz representando o presidente chinês Xi Jinping Foto: Andy Wong/AP

A reunião terminará quando os delegados aprovarem formalmente o relatório de Xi e mudanças na constituição do partido e escolherem um novo Comitê Central. O comitê então se reúne e nomeia um novo Politburo de 25 membros e o Comitê Permanente de sete membros, que é o ápice do poder. É quase certo que Xi será reintegrado como secretário-geral e chefe da Comissão Militar Central do partido, seus dois cargos mais importantes.

Os observadores esperam para ver quem será promovido para se juntar a ele no Politburo e se isso trará a ele qualquer desafio ou será um possível sucessor leal. Mas depois de uma década de Xi concentrando o poder em suas próprias mãos, poucos consideram provável qualquer mudança. Os limites de mandato para a presidência foram descartados em 2018, abrindo caminho para Xi governar por toda a vida, se assim o desejar./AP, AFP, NYT e W.POST

PEQUIM - Na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da China, o presidente Xi Jinping, fez um discurso com foco em segurança, uma de suas maiores preocupações especialmente após tensões recentes no Estreito de Taiwan. Ele citou que pretende controlar totalmente a ilha autônoma, assim como fez com Hong Kong, e reiterou seu objetivo de uma reunificação pacífica, mas sem abrir mão do uso da força caso veja necessidade.

Em quase duas horas de discurso, Xi também defendeu sua controvertida política de covid zero, frustrando qualquer esperança de que a medida, que tenta eliminar as infecções por coronavírus com bloqueios rigorosos, termine nos próximos meses. Visando ao futuro, Xi prometeu transformar a China em um grande país socialista moderno que representa uma nova escolha para a humanidade.

“Tentaremos buscar a perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e os maiores esforços, mas nunca nos comprometeremos a abandonar o uso da força”, afirmou, citando como exemplo Hong Kong que, segundo ele, saiu do caos para a governança após a China controlar totalmente. Xi repete em seu discurso uma declaração oficial do partido comunista em agosto sobre Taiwan, na esteira da visita da legisladora americana Nancy Pelosi à ilha.

Jornalistas registram o discurso do presidente chinês Xi Jinping durante a cerimônia de abertura do 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China no Grande Salão do Povo em Pequim  Foto: Mark R. Cristino/EPA/EFE

Ainda sobre Hong Kong, ele defendeu sua repressão a um movimento pró-democracia na região, dizendo que o partido ajudou a ex-colônia britânica a entrar em um novo estágio no qual restaurou a ordem e está pronto para prosperar.

Sob aplausos dos quase 2.300 delegados reunidos no Grande Salão do Povo em Pequim, Xi também enfatizou que “a influência internacional da China, a atratividade e a capacidade de moldar o mundo aumentaram significativamente”.

Segundo analistas, no discurso de hoje, Xi reforçou o último livro branco do Partido Comunista, que transformou Taiwan uma questão chave na política chinesa e nas suas relações exteriores. O documento de agosto foi o terceiro livro branco publicado pelo partido, o primeiro foi em 1993 e o último em 2000. Em ambos a China prometia não enviar tropas ou funcionários à ilha, uma promessa que foi revogada este ano.

“As forças internacionais transformaram a questão de Taiwan em um assunto internacional, que a China sempre relutou em admitir no passado”, disse Chen Chien-fu, professor do Instituto de Pós-Graduação de Estudos da China da Universidade Tamkang, na cidade de Nova Taipé. “Sempre sentiu que a questão do Estreito de Taiwan é um assunto interno e uma questão interna da China, mas agora se tornou uma questão internacional inteira.”

Segurança como prioridade

A China, com o segundo maior orçamento militar do mundo depois dos Estados Unidos, está tentando ampliar seu alcance desenvolvendo mísseis balísticos, porta-aviões e postos avançados no exterior. “Trabalharemos mais rápido para modernizar a teoria militar, pessoal e de armas”, disse Xi. “Vamos melhorar as capacidades estratégicas dos militares.”

Durante o discurso, Xi fez menção frequente aos objetivos de segurança e emitiu um amplo aviso sobre possíveis obstáculos à frente. “Esteja pronto para resistir a ventos fortes, águas agitadas e até tempestades perigosas”, disse ele.

Seus comentários representaram um direcionamento no foco do partido rumo à sua maior preocupação que é a segurança, área em que visa anular todos os desafios ideológicos e geopolíticos ao governo do partido. Ao focar em expansão militar e unidade nacional, o líder falou pouco de economia, a maior preocupação de empresas, governos locais e a população. O discurso ocorre em meio a uma queda acentuada na segunda maior economia do mundo, agravada por tensões com Washington e vizinhos asiáticos sobre comércio, tecnologia e segurança.

Pessoas assistem em um telão ao ar livre o discurso ao vivo do presidente chinês Xi Jinping durante a sessão de abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês em Hangzhou, na província de Zhejiang, leste da China Foto: AFP

Ao falar da economia, o líder se limitou a dizer que o Estado deve desempenhar um papel maior na gestão econômica e prometeu um “desenvolvimento focado na economia doméstica”, mas sem entrar em detalhes. Em uma análise do discurso, o New York Times observou que o líder se preocupou mais em elogiar o marxismo do que tratar dos mercados, que tendia a ser um dos pilares de seus antecessores ao falar no congresso.

“Xi quer dar continuidade à sua própria história”, diz Alfred Wu Muluan, professor associado de políticas públicas da Universidade Nacional de Cingapura, que acredita que o presidente chinês almeja até um quinto mandato, muito além de 2027. “Ele considera a segurança nacional a prioridade número um do país, o que impede que haja compromissos a esse nível, seja no Mar da China Meridional, em Taiwan ou em Hong Kong”, acrescenta o professor. “Internacionalmente vai ser muito difícil.”

Os planos do partido pedem a criação de uma sociedade próspera até meados do século e a restauração da China ao seu papel histórico como líder político, econômico e cultural. Pequim expandiu sua presença no exterior, incluindo uma iniciativa multibilionária da Nova Rota da Seda para construir portos e outras infraestruturas na Ásia e na África, mas economistas alertam que a reversão da reforma no estilo de mercado pode prejudicar o crescimento.

Poder quase vitalício

Xi, que foi nomeado para o cargo mais alto do partido em 2012, é quase certo que receberá um terceiro mandato de cinco anos no final da reunião do partido, descartando o precedente de transição regular no poder e consolidando um retorno à regra do homem forte, semelhante à era de Mao Tsé-tung. Ele não fez qualquer menção de quando pretende deixar o cargo, com analistas apostando que ele deve mirar para mais dez anos em vez de cinco.

“Xi Jinping pretende não apenas um terceiro mandato, mas também um quarto mandato”, disse Willy Wo-Lap Lam, membro sênior do think tank Jamestown Foundation. “Ele tem mais 10 anos para escolher seu sucessor.”

Desde que Xi assumiu o poder, a China viu uma expansão abrangente de sua economia, força militar e papel como potência global. Mas também enfrenta desafios crescentes, em parte criados pelo próprio Xi, incluindo uma economia desacelerada pela implementação forçada de sua tolerância zero à covid, uma política fundamental para ele.

O presidente da China, Xi Jinping, acena ao chegar para a sessão de abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês no Grande Salão do Povo em Pequim Foto: Noel Celis/AFP

O estilo de liderança de Xi, caracterizado pela preferência por dividir as pessoas em inimigos e amigos, significa que ele não é alguém disposto a se comprometer, disse Chien-Wen Kou, cientista político da Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan.

“Isso nos diz como ele pensa em lidar com os inimigos”, disse Kou. “Ele essencialmente não fará concessões em seus princípios básicos, seja para laços China-EUA, relações com Taiwan ou sua abordagem a funcionários corruptos.”

Pequim também enfrenta novas críticas de nações ocidentais pela agressão a Taiwan e sua estreita parceria com a Rússia em meio à guerra na Ucrânia. Xi não mencionou a guerra ou a deterioração do relacionamento de Pequim com os Estados Unidos, que ordenou proibições de exportação no início deste mês que podem prejudicar as aspirações de alta tecnologia do país.

Analistas estão acompanhando de perto a reunião de seis dias em busca de sinais de que as críticas recentes ao partido podem ter enfraquecido Xi ou outros políticos. “Nos últimos anos, Xi tem dado muita ênfase ao apelo à liderança do partido para reviver o espírito de luta”, disse Dali Yang, professor de política chinesa na Universidade de Chicago.

Soldados do Exército de Libertação Popular (PLA) marcham em frente a um cartaz representando o presidente chinês Xi Jinping Foto: Andy Wong/AP

A reunião terminará quando os delegados aprovarem formalmente o relatório de Xi e mudanças na constituição do partido e escolherem um novo Comitê Central. O comitê então se reúne e nomeia um novo Politburo de 25 membros e o Comitê Permanente de sete membros, que é o ápice do poder. É quase certo que Xi será reintegrado como secretário-geral e chefe da Comissão Militar Central do partido, seus dois cargos mais importantes.

Os observadores esperam para ver quem será promovido para se juntar a ele no Politburo e se isso trará a ele qualquer desafio ou será um possível sucessor leal. Mas depois de uma década de Xi concentrando o poder em suas próprias mãos, poucos consideram provável qualquer mudança. Os limites de mandato para a presidência foram descartados em 2018, abrindo caminho para Xi governar por toda a vida, se assim o desejar./AP, AFP, NYT e W.POST

PEQUIM - Na abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da China, o presidente Xi Jinping, fez um discurso com foco em segurança, uma de suas maiores preocupações especialmente após tensões recentes no Estreito de Taiwan. Ele citou que pretende controlar totalmente a ilha autônoma, assim como fez com Hong Kong, e reiterou seu objetivo de uma reunificação pacífica, mas sem abrir mão do uso da força caso veja necessidade.

Em quase duas horas de discurso, Xi também defendeu sua controvertida política de covid zero, frustrando qualquer esperança de que a medida, que tenta eliminar as infecções por coronavírus com bloqueios rigorosos, termine nos próximos meses. Visando ao futuro, Xi prometeu transformar a China em um grande país socialista moderno que representa uma nova escolha para a humanidade.

“Tentaremos buscar a perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e os maiores esforços, mas nunca nos comprometeremos a abandonar o uso da força”, afirmou, citando como exemplo Hong Kong que, segundo ele, saiu do caos para a governança após a China controlar totalmente. Xi repete em seu discurso uma declaração oficial do partido comunista em agosto sobre Taiwan, na esteira da visita da legisladora americana Nancy Pelosi à ilha.

Jornalistas registram o discurso do presidente chinês Xi Jinping durante a cerimônia de abertura do 20.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China no Grande Salão do Povo em Pequim  Foto: Mark R. Cristino/EPA/EFE

Ainda sobre Hong Kong, ele defendeu sua repressão a um movimento pró-democracia na região, dizendo que o partido ajudou a ex-colônia britânica a entrar em um novo estágio no qual restaurou a ordem e está pronto para prosperar.

Sob aplausos dos quase 2.300 delegados reunidos no Grande Salão do Povo em Pequim, Xi também enfatizou que “a influência internacional da China, a atratividade e a capacidade de moldar o mundo aumentaram significativamente”.

Segundo analistas, no discurso de hoje, Xi reforçou o último livro branco do Partido Comunista, que transformou Taiwan uma questão chave na política chinesa e nas suas relações exteriores. O documento de agosto foi o terceiro livro branco publicado pelo partido, o primeiro foi em 1993 e o último em 2000. Em ambos a China prometia não enviar tropas ou funcionários à ilha, uma promessa que foi revogada este ano.

“As forças internacionais transformaram a questão de Taiwan em um assunto internacional, que a China sempre relutou em admitir no passado”, disse Chen Chien-fu, professor do Instituto de Pós-Graduação de Estudos da China da Universidade Tamkang, na cidade de Nova Taipé. “Sempre sentiu que a questão do Estreito de Taiwan é um assunto interno e uma questão interna da China, mas agora se tornou uma questão internacional inteira.”

Segurança como prioridade

A China, com o segundo maior orçamento militar do mundo depois dos Estados Unidos, está tentando ampliar seu alcance desenvolvendo mísseis balísticos, porta-aviões e postos avançados no exterior. “Trabalharemos mais rápido para modernizar a teoria militar, pessoal e de armas”, disse Xi. “Vamos melhorar as capacidades estratégicas dos militares.”

Durante o discurso, Xi fez menção frequente aos objetivos de segurança e emitiu um amplo aviso sobre possíveis obstáculos à frente. “Esteja pronto para resistir a ventos fortes, águas agitadas e até tempestades perigosas”, disse ele.

Seus comentários representaram um direcionamento no foco do partido rumo à sua maior preocupação que é a segurança, área em que visa anular todos os desafios ideológicos e geopolíticos ao governo do partido. Ao focar em expansão militar e unidade nacional, o líder falou pouco de economia, a maior preocupação de empresas, governos locais e a população. O discurso ocorre em meio a uma queda acentuada na segunda maior economia do mundo, agravada por tensões com Washington e vizinhos asiáticos sobre comércio, tecnologia e segurança.

Pessoas assistem em um telão ao ar livre o discurso ao vivo do presidente chinês Xi Jinping durante a sessão de abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês em Hangzhou, na província de Zhejiang, leste da China Foto: AFP

Ao falar da economia, o líder se limitou a dizer que o Estado deve desempenhar um papel maior na gestão econômica e prometeu um “desenvolvimento focado na economia doméstica”, mas sem entrar em detalhes. Em uma análise do discurso, o New York Times observou que o líder se preocupou mais em elogiar o marxismo do que tratar dos mercados, que tendia a ser um dos pilares de seus antecessores ao falar no congresso.

“Xi quer dar continuidade à sua própria história”, diz Alfred Wu Muluan, professor associado de políticas públicas da Universidade Nacional de Cingapura, que acredita que o presidente chinês almeja até um quinto mandato, muito além de 2027. “Ele considera a segurança nacional a prioridade número um do país, o que impede que haja compromissos a esse nível, seja no Mar da China Meridional, em Taiwan ou em Hong Kong”, acrescenta o professor. “Internacionalmente vai ser muito difícil.”

Os planos do partido pedem a criação de uma sociedade próspera até meados do século e a restauração da China ao seu papel histórico como líder político, econômico e cultural. Pequim expandiu sua presença no exterior, incluindo uma iniciativa multibilionária da Nova Rota da Seda para construir portos e outras infraestruturas na Ásia e na África, mas economistas alertam que a reversão da reforma no estilo de mercado pode prejudicar o crescimento.

Poder quase vitalício

Xi, que foi nomeado para o cargo mais alto do partido em 2012, é quase certo que receberá um terceiro mandato de cinco anos no final da reunião do partido, descartando o precedente de transição regular no poder e consolidando um retorno à regra do homem forte, semelhante à era de Mao Tsé-tung. Ele não fez qualquer menção de quando pretende deixar o cargo, com analistas apostando que ele deve mirar para mais dez anos em vez de cinco.

“Xi Jinping pretende não apenas um terceiro mandato, mas também um quarto mandato”, disse Willy Wo-Lap Lam, membro sênior do think tank Jamestown Foundation. “Ele tem mais 10 anos para escolher seu sucessor.”

Desde que Xi assumiu o poder, a China viu uma expansão abrangente de sua economia, força militar e papel como potência global. Mas também enfrenta desafios crescentes, em parte criados pelo próprio Xi, incluindo uma economia desacelerada pela implementação forçada de sua tolerância zero à covid, uma política fundamental para ele.

O presidente da China, Xi Jinping, acena ao chegar para a sessão de abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês no Grande Salão do Povo em Pequim Foto: Noel Celis/AFP

O estilo de liderança de Xi, caracterizado pela preferência por dividir as pessoas em inimigos e amigos, significa que ele não é alguém disposto a se comprometer, disse Chien-Wen Kou, cientista político da Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan.

“Isso nos diz como ele pensa em lidar com os inimigos”, disse Kou. “Ele essencialmente não fará concessões em seus princípios básicos, seja para laços China-EUA, relações com Taiwan ou sua abordagem a funcionários corruptos.”

Pequim também enfrenta novas críticas de nações ocidentais pela agressão a Taiwan e sua estreita parceria com a Rússia em meio à guerra na Ucrânia. Xi não mencionou a guerra ou a deterioração do relacionamento de Pequim com os Estados Unidos, que ordenou proibições de exportação no início deste mês que podem prejudicar as aspirações de alta tecnologia do país.

Analistas estão acompanhando de perto a reunião de seis dias em busca de sinais de que as críticas recentes ao partido podem ter enfraquecido Xi ou outros políticos. “Nos últimos anos, Xi tem dado muita ênfase ao apelo à liderança do partido para reviver o espírito de luta”, disse Dali Yang, professor de política chinesa na Universidade de Chicago.

Soldados do Exército de Libertação Popular (PLA) marcham em frente a um cartaz representando o presidente chinês Xi Jinping Foto: Andy Wong/AP

A reunião terminará quando os delegados aprovarem formalmente o relatório de Xi e mudanças na constituição do partido e escolherem um novo Comitê Central. O comitê então se reúne e nomeia um novo Politburo de 25 membros e o Comitê Permanente de sete membros, que é o ápice do poder. É quase certo que Xi será reintegrado como secretário-geral e chefe da Comissão Militar Central do partido, seus dois cargos mais importantes.

Os observadores esperam para ver quem será promovido para se juntar a ele no Politburo e se isso trará a ele qualquer desafio ou será um possível sucessor leal. Mas depois de uma década de Xi concentrando o poder em suas próprias mãos, poucos consideram provável qualquer mudança. Os limites de mandato para a presidência foram descartados em 2018, abrindo caminho para Xi governar por toda a vida, se assim o desejar./AP, AFP, NYT e W.POST

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