China teme que modelo da guerra na Ucrânia se repita em Taiwan e amplia apoio à Rússia


Aumento da ajuda militar à Ucrânia alarmou o governo chinês, que teme que a lógica da guerra por procuração entre Otan e Rússia se repita em Taiwan

Por David Pierson e Chris Buckley
Atualização:

NEW YORK TIMES - A cúpula do G-7 na semana passada no Japão terminou com uma série de alertas para a China. Os líderes das maiores economias ocidentais enfureceram Pequim ao desafiar suas reivindicações no Mar do Sul da China e pressionar os chineses em relação a abusos de direitos humanos em Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong. Em paralelo, o aumento da ajuda militar à Ucrânia alarmou o governo chinês, que teme que a lógica da guerra por procuração entre Otan e Rússia se repita em Taiwan.

“A China está pronta para dobrar sua aposta na relação com a Rússia após a cúpula do G-7 porque o tema central desse encontro compreendeu não apenas a invasão russa à Ucrânia, mas também a China e a maneira com que o Ocidente deveria lidar com ela”, afirma Alexander Korolev, palestrante sênior da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que estuda as relações sino-russas. “A cúpula e a presença de Zelenski no evento marcaram uma divisão geopolítica mais aparente e profunda entre o Ocidente, de um lado, e China e Rússia, do outro”, acrescentou.

O presidente americano, Joe Biden, buscou retratar uma atmosfera menos carregada, prevendo que haveria um degelo nas relações com Pequim. Mas para a China, a mostra de unidade entre as democracias do G-7 provavelmente contribui para as alegações chinesas de que os EUA tentam orquestrar seus aliados para provocar um conflito na região do Pacífico.

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Risco de guerra no Pacífico

Conforme descreveu o jornal Global Times, do Partido Comunista, na segunda-feira, os EUA estão tentando “replicar a ‘Crise Ucrânia’” na região Ásia-Pacífico. Ao fazê-lo, reza o argumento chinês, Washington poderia travar uma guerra por procuração com a China da mesma maneira que faz com a Rússia — e justificar posteriormente o que seria um cenário de pesadelo para Pequim: a formação de uma versão para Ásia-Pacífico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para conter a ascensão da China.

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A cúpula do G-7 foi repleta de “imagens desconfortantes” para a China, afirmou Lyle Goldstein, especialista em China do instituto de análise Defense Priorities, de Washington. A principal delas foi o Japão, uma potência em relação à qual a China nutre uma antiga animosidade histórica, ter recebido o evento. Os meios de comunicação estatais chineses atacaram Tóquio esta semana, acusando o governo japonês de fazer “o que os EUA mandam” e inflar a “ameaça China”, para poder emendar sua Constituição e reconstruir suas Forças Armadas pela primeira vez desde a 2.ª Guerra.

Goldstein afirmou que a China percebeu o Japão no G-7 “em conivência com os EUA”, para “trazer a Europa à questão de Taiwan”, um movimento que ele comparou a “agitar uma bandeira vermelha diante de um touro”.

A China encontra-se nessa situação porque sua parceira mais próxima, a Rússia, desafiou os alertas do Ocidente e invadiu a Ucrânia. Apesar dos muitos problemas que isso criou para a China, Pequim continuou a dar apoio econômico e diplomático para o Kremlin em razão de seu desejo comum de enfraquecer o domínio global dos EUA.

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Xi Jinping e Vladimir Putin em reunião em Moscou, em 2019  Foto: Reuters

Aliança estratégica

Discursando em um fórum de negócios em Xangai, na terça-feira, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. afirmou que a Rússia continuará a fomentar relações com a China, que continua uma das únicas fornecedoras de tecnologias como microchips da Rússia e uma de suas maiores compradoras de energia.

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“Nós expandimos o comércio com as economias em rápido desenvolvimento no mundo. Essas palavras se aplicam totalmente à nossa grande amiga China”, afirmou Mishustin, de acordo com os meios de comunicação estatais da Rússia, que noticiaram ambos os lados discutindo expandir a cooperação em transporte, agricultura e energia.

Korolev, o especialista da Universidade de Nova Gales do Sul, afirmou que a guerra e as sanções do Ocidente aceleraram a reorientação da Rússia na direção da Ásia. Essa mudança de política, que começou há mais de uma década atrás, foi recebida com preocupações na Rússia a respeito da possibilidade de seu país desenvolver uma dependência excessiva em relação à China.

“Não há mais nenhuma reserva”, afirmou Korolev. “Todas as barreiras políticas que existiam antes foram agora removidas, e a Rússia não está mais preocupada a respeito de confiar na China — ou até mesmo depender dela — para seu bem-estar econômico.”

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Relações mais próximas

Os dois países também estão ampliando relações de segurança. Chen Wenqing, diretor do comitê de assuntos políticos e jurídicos do Partido Comunista Chinês — que coordena questões de segurança pública — embarcou em uma visita de oito dias à Rússia no domingo e reuniu-se em Moscou com o diretor do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev.

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Em uma conferência de imprensa realizada em Pequim na terça-feira, uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que “a cooperação (sino-russa) possui forte resiliência e grande potencial”, que não seriam “perturbados nem ameaçados por nenhuma terceira parte”, em uma aparente referência aos EUA.

O vínculo cada vez mais próximo entre as duas potências prejudicou a tentativa da China de se colocar como mediadora crível para a guerra na Ucrânia. Na semana passada, a China enviou um representante especial para a paz visitar capitais europeias como Kiev, Varsóvia, Bruxelas e Moscou. O enviado, Li Hui, até aqui fracassou em alcançar qualquer avanço, enquanto a Ucrânia tem insistido na retirada completa das forças russas de território ocupado. O Kremlin rejeita esses termos, e não é claro se a China estaria disposta a pressionar a Rússia a ceder, dado o desejo de Pequim de preservar as boas relações com Moscou.

Neutralidade em xeque

Li também foi acompanhado de questões a respeito de sua neutralidade em razão de sua perceptível proximidade com o Kremlin, após ter servido como embaixador chinês em Moscou.

“Apesar dessa experiência, em si, não significar necessariamente que Li será parcial a favor da Rússia em negociações, ela certamente não dissipa a impressão de que a China quer garantir que sua relação com a Rússia permaneça intacta após as negociações”, afirmou Cheng Chen, especialista em política chinesa da Universidade do Estado de Nova York em Albany-SUNY.

Li deve aterrissar na Rússia na sexta-feira, de acordo com os meios de comunicação estatais russos.

Mesmo que o governo chinês tenha professado neutralidade em relação à guerra, dentro da China a narrativa geral de Pequim a respeito do conflito está repleta de simpatia pela Rússia e uma convicção disseminada de que a China será o próximo alvo se Vladimir Putin for derrotado.

Goldstein, o analista do instituto Defense Priorities, afirmou que um experiente especialista chinês em Rússia lhe disse durante uma conversa em Pequim, na semana passada que, da perspectiva do governo chinês, “se a Rússia perder, a pressão sobre a China apenas se multiplicará e se tornará muito mais severa”.

Em muitos estudos do governo chinês e de analistas militares, a Ucrânia é retratada não como recebedora de uma ajuda crucial e apoio em inteligência do Ocidente, mas como um peão que os EUA atraíram para sua estratégia maior de enfraquecer criticamente a Rússia e, por fim, a China.

“Se os EUA e a Otan rirem por último em sua guerra de confrontação com a Rússia, eles terão então formado finalmente um sistema de poder militar multilateral entre EUA, Japão e Europa”, escreveu em um estudo recente Liu Jiangyong, um proeminente especialista nas relações da China com o Japão e com outros países asiáticos, da Universidade Tsinghua, em Pequim. “Mesmo se a China virar a primeira potência econômica do mundo, seu ambiente de segurança internacional pode continuar a piorar.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

NEW YORK TIMES - A cúpula do G-7 na semana passada no Japão terminou com uma série de alertas para a China. Os líderes das maiores economias ocidentais enfureceram Pequim ao desafiar suas reivindicações no Mar do Sul da China e pressionar os chineses em relação a abusos de direitos humanos em Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong. Em paralelo, o aumento da ajuda militar à Ucrânia alarmou o governo chinês, que teme que a lógica da guerra por procuração entre Otan e Rússia se repita em Taiwan.

“A China está pronta para dobrar sua aposta na relação com a Rússia após a cúpula do G-7 porque o tema central desse encontro compreendeu não apenas a invasão russa à Ucrânia, mas também a China e a maneira com que o Ocidente deveria lidar com ela”, afirma Alexander Korolev, palestrante sênior da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que estuda as relações sino-russas. “A cúpula e a presença de Zelenski no evento marcaram uma divisão geopolítica mais aparente e profunda entre o Ocidente, de um lado, e China e Rússia, do outro”, acrescentou.

O presidente americano, Joe Biden, buscou retratar uma atmosfera menos carregada, prevendo que haveria um degelo nas relações com Pequim. Mas para a China, a mostra de unidade entre as democracias do G-7 provavelmente contribui para as alegações chinesas de que os EUA tentam orquestrar seus aliados para provocar um conflito na região do Pacífico.

Risco de guerra no Pacífico

Conforme descreveu o jornal Global Times, do Partido Comunista, na segunda-feira, os EUA estão tentando “replicar a ‘Crise Ucrânia’” na região Ásia-Pacífico. Ao fazê-lo, reza o argumento chinês, Washington poderia travar uma guerra por procuração com a China da mesma maneira que faz com a Rússia — e justificar posteriormente o que seria um cenário de pesadelo para Pequim: a formação de uma versão para Ásia-Pacífico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para conter a ascensão da China.

A cúpula do G-7 foi repleta de “imagens desconfortantes” para a China, afirmou Lyle Goldstein, especialista em China do instituto de análise Defense Priorities, de Washington. A principal delas foi o Japão, uma potência em relação à qual a China nutre uma antiga animosidade histórica, ter recebido o evento. Os meios de comunicação estatais chineses atacaram Tóquio esta semana, acusando o governo japonês de fazer “o que os EUA mandam” e inflar a “ameaça China”, para poder emendar sua Constituição e reconstruir suas Forças Armadas pela primeira vez desde a 2.ª Guerra.

Goldstein afirmou que a China percebeu o Japão no G-7 “em conivência com os EUA”, para “trazer a Europa à questão de Taiwan”, um movimento que ele comparou a “agitar uma bandeira vermelha diante de um touro”.

A China encontra-se nessa situação porque sua parceira mais próxima, a Rússia, desafiou os alertas do Ocidente e invadiu a Ucrânia. Apesar dos muitos problemas que isso criou para a China, Pequim continuou a dar apoio econômico e diplomático para o Kremlin em razão de seu desejo comum de enfraquecer o domínio global dos EUA.

Xi Jinping e Vladimir Putin em reunião em Moscou, em 2019  Foto: Reuters

Aliança estratégica

Discursando em um fórum de negócios em Xangai, na terça-feira, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. afirmou que a Rússia continuará a fomentar relações com a China, que continua uma das únicas fornecedoras de tecnologias como microchips da Rússia e uma de suas maiores compradoras de energia.

“Nós expandimos o comércio com as economias em rápido desenvolvimento no mundo. Essas palavras se aplicam totalmente à nossa grande amiga China”, afirmou Mishustin, de acordo com os meios de comunicação estatais da Rússia, que noticiaram ambos os lados discutindo expandir a cooperação em transporte, agricultura e energia.

Korolev, o especialista da Universidade de Nova Gales do Sul, afirmou que a guerra e as sanções do Ocidente aceleraram a reorientação da Rússia na direção da Ásia. Essa mudança de política, que começou há mais de uma década atrás, foi recebida com preocupações na Rússia a respeito da possibilidade de seu país desenvolver uma dependência excessiva em relação à China.

“Não há mais nenhuma reserva”, afirmou Korolev. “Todas as barreiras políticas que existiam antes foram agora removidas, e a Rússia não está mais preocupada a respeito de confiar na China — ou até mesmo depender dela — para seu bem-estar econômico.”

Relações mais próximas

Os dois países também estão ampliando relações de segurança. Chen Wenqing, diretor do comitê de assuntos políticos e jurídicos do Partido Comunista Chinês — que coordena questões de segurança pública — embarcou em uma visita de oito dias à Rússia no domingo e reuniu-se em Moscou com o diretor do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev.

Em uma conferência de imprensa realizada em Pequim na terça-feira, uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que “a cooperação (sino-russa) possui forte resiliência e grande potencial”, que não seriam “perturbados nem ameaçados por nenhuma terceira parte”, em uma aparente referência aos EUA.

O vínculo cada vez mais próximo entre as duas potências prejudicou a tentativa da China de se colocar como mediadora crível para a guerra na Ucrânia. Na semana passada, a China enviou um representante especial para a paz visitar capitais europeias como Kiev, Varsóvia, Bruxelas e Moscou. O enviado, Li Hui, até aqui fracassou em alcançar qualquer avanço, enquanto a Ucrânia tem insistido na retirada completa das forças russas de território ocupado. O Kremlin rejeita esses termos, e não é claro se a China estaria disposta a pressionar a Rússia a ceder, dado o desejo de Pequim de preservar as boas relações com Moscou.

Neutralidade em xeque

Li também foi acompanhado de questões a respeito de sua neutralidade em razão de sua perceptível proximidade com o Kremlin, após ter servido como embaixador chinês em Moscou.

“Apesar dessa experiência, em si, não significar necessariamente que Li será parcial a favor da Rússia em negociações, ela certamente não dissipa a impressão de que a China quer garantir que sua relação com a Rússia permaneça intacta após as negociações”, afirmou Cheng Chen, especialista em política chinesa da Universidade do Estado de Nova York em Albany-SUNY.

Li deve aterrissar na Rússia na sexta-feira, de acordo com os meios de comunicação estatais russos.

Mesmo que o governo chinês tenha professado neutralidade em relação à guerra, dentro da China a narrativa geral de Pequim a respeito do conflito está repleta de simpatia pela Rússia e uma convicção disseminada de que a China será o próximo alvo se Vladimir Putin for derrotado.

Goldstein, o analista do instituto Defense Priorities, afirmou que um experiente especialista chinês em Rússia lhe disse durante uma conversa em Pequim, na semana passada que, da perspectiva do governo chinês, “se a Rússia perder, a pressão sobre a China apenas se multiplicará e se tornará muito mais severa”.

Em muitos estudos do governo chinês e de analistas militares, a Ucrânia é retratada não como recebedora de uma ajuda crucial e apoio em inteligência do Ocidente, mas como um peão que os EUA atraíram para sua estratégia maior de enfraquecer criticamente a Rússia e, por fim, a China.

“Se os EUA e a Otan rirem por último em sua guerra de confrontação com a Rússia, eles terão então formado finalmente um sistema de poder militar multilateral entre EUA, Japão e Europa”, escreveu em um estudo recente Liu Jiangyong, um proeminente especialista nas relações da China com o Japão e com outros países asiáticos, da Universidade Tsinghua, em Pequim. “Mesmo se a China virar a primeira potência econômica do mundo, seu ambiente de segurança internacional pode continuar a piorar.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

NEW YORK TIMES - A cúpula do G-7 na semana passada no Japão terminou com uma série de alertas para a China. Os líderes das maiores economias ocidentais enfureceram Pequim ao desafiar suas reivindicações no Mar do Sul da China e pressionar os chineses em relação a abusos de direitos humanos em Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong. Em paralelo, o aumento da ajuda militar à Ucrânia alarmou o governo chinês, que teme que a lógica da guerra por procuração entre Otan e Rússia se repita em Taiwan.

“A China está pronta para dobrar sua aposta na relação com a Rússia após a cúpula do G-7 porque o tema central desse encontro compreendeu não apenas a invasão russa à Ucrânia, mas também a China e a maneira com que o Ocidente deveria lidar com ela”, afirma Alexander Korolev, palestrante sênior da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que estuda as relações sino-russas. “A cúpula e a presença de Zelenski no evento marcaram uma divisão geopolítica mais aparente e profunda entre o Ocidente, de um lado, e China e Rússia, do outro”, acrescentou.

O presidente americano, Joe Biden, buscou retratar uma atmosfera menos carregada, prevendo que haveria um degelo nas relações com Pequim. Mas para a China, a mostra de unidade entre as democracias do G-7 provavelmente contribui para as alegações chinesas de que os EUA tentam orquestrar seus aliados para provocar um conflito na região do Pacífico.

Risco de guerra no Pacífico

Conforme descreveu o jornal Global Times, do Partido Comunista, na segunda-feira, os EUA estão tentando “replicar a ‘Crise Ucrânia’” na região Ásia-Pacífico. Ao fazê-lo, reza o argumento chinês, Washington poderia travar uma guerra por procuração com a China da mesma maneira que faz com a Rússia — e justificar posteriormente o que seria um cenário de pesadelo para Pequim: a formação de uma versão para Ásia-Pacífico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para conter a ascensão da China.

A cúpula do G-7 foi repleta de “imagens desconfortantes” para a China, afirmou Lyle Goldstein, especialista em China do instituto de análise Defense Priorities, de Washington. A principal delas foi o Japão, uma potência em relação à qual a China nutre uma antiga animosidade histórica, ter recebido o evento. Os meios de comunicação estatais chineses atacaram Tóquio esta semana, acusando o governo japonês de fazer “o que os EUA mandam” e inflar a “ameaça China”, para poder emendar sua Constituição e reconstruir suas Forças Armadas pela primeira vez desde a 2.ª Guerra.

Goldstein afirmou que a China percebeu o Japão no G-7 “em conivência com os EUA”, para “trazer a Europa à questão de Taiwan”, um movimento que ele comparou a “agitar uma bandeira vermelha diante de um touro”.

A China encontra-se nessa situação porque sua parceira mais próxima, a Rússia, desafiou os alertas do Ocidente e invadiu a Ucrânia. Apesar dos muitos problemas que isso criou para a China, Pequim continuou a dar apoio econômico e diplomático para o Kremlin em razão de seu desejo comum de enfraquecer o domínio global dos EUA.

Xi Jinping e Vladimir Putin em reunião em Moscou, em 2019  Foto: Reuters

Aliança estratégica

Discursando em um fórum de negócios em Xangai, na terça-feira, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. afirmou que a Rússia continuará a fomentar relações com a China, que continua uma das únicas fornecedoras de tecnologias como microchips da Rússia e uma de suas maiores compradoras de energia.

“Nós expandimos o comércio com as economias em rápido desenvolvimento no mundo. Essas palavras se aplicam totalmente à nossa grande amiga China”, afirmou Mishustin, de acordo com os meios de comunicação estatais da Rússia, que noticiaram ambos os lados discutindo expandir a cooperação em transporte, agricultura e energia.

Korolev, o especialista da Universidade de Nova Gales do Sul, afirmou que a guerra e as sanções do Ocidente aceleraram a reorientação da Rússia na direção da Ásia. Essa mudança de política, que começou há mais de uma década atrás, foi recebida com preocupações na Rússia a respeito da possibilidade de seu país desenvolver uma dependência excessiva em relação à China.

“Não há mais nenhuma reserva”, afirmou Korolev. “Todas as barreiras políticas que existiam antes foram agora removidas, e a Rússia não está mais preocupada a respeito de confiar na China — ou até mesmo depender dela — para seu bem-estar econômico.”

Relações mais próximas

Os dois países também estão ampliando relações de segurança. Chen Wenqing, diretor do comitê de assuntos políticos e jurídicos do Partido Comunista Chinês — que coordena questões de segurança pública — embarcou em uma visita de oito dias à Rússia no domingo e reuniu-se em Moscou com o diretor do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev.

Em uma conferência de imprensa realizada em Pequim na terça-feira, uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que “a cooperação (sino-russa) possui forte resiliência e grande potencial”, que não seriam “perturbados nem ameaçados por nenhuma terceira parte”, em uma aparente referência aos EUA.

O vínculo cada vez mais próximo entre as duas potências prejudicou a tentativa da China de se colocar como mediadora crível para a guerra na Ucrânia. Na semana passada, a China enviou um representante especial para a paz visitar capitais europeias como Kiev, Varsóvia, Bruxelas e Moscou. O enviado, Li Hui, até aqui fracassou em alcançar qualquer avanço, enquanto a Ucrânia tem insistido na retirada completa das forças russas de território ocupado. O Kremlin rejeita esses termos, e não é claro se a China estaria disposta a pressionar a Rússia a ceder, dado o desejo de Pequim de preservar as boas relações com Moscou.

Neutralidade em xeque

Li também foi acompanhado de questões a respeito de sua neutralidade em razão de sua perceptível proximidade com o Kremlin, após ter servido como embaixador chinês em Moscou.

“Apesar dessa experiência, em si, não significar necessariamente que Li será parcial a favor da Rússia em negociações, ela certamente não dissipa a impressão de que a China quer garantir que sua relação com a Rússia permaneça intacta após as negociações”, afirmou Cheng Chen, especialista em política chinesa da Universidade do Estado de Nova York em Albany-SUNY.

Li deve aterrissar na Rússia na sexta-feira, de acordo com os meios de comunicação estatais russos.

Mesmo que o governo chinês tenha professado neutralidade em relação à guerra, dentro da China a narrativa geral de Pequim a respeito do conflito está repleta de simpatia pela Rússia e uma convicção disseminada de que a China será o próximo alvo se Vladimir Putin for derrotado.

Goldstein, o analista do instituto Defense Priorities, afirmou que um experiente especialista chinês em Rússia lhe disse durante uma conversa em Pequim, na semana passada que, da perspectiva do governo chinês, “se a Rússia perder, a pressão sobre a China apenas se multiplicará e se tornará muito mais severa”.

Em muitos estudos do governo chinês e de analistas militares, a Ucrânia é retratada não como recebedora de uma ajuda crucial e apoio em inteligência do Ocidente, mas como um peão que os EUA atraíram para sua estratégia maior de enfraquecer criticamente a Rússia e, por fim, a China.

“Se os EUA e a Otan rirem por último em sua guerra de confrontação com a Rússia, eles terão então formado finalmente um sistema de poder militar multilateral entre EUA, Japão e Europa”, escreveu em um estudo recente Liu Jiangyong, um proeminente especialista nas relações da China com o Japão e com outros países asiáticos, da Universidade Tsinghua, em Pequim. “Mesmo se a China virar a primeira potência econômica do mundo, seu ambiente de segurança internacional pode continuar a piorar.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

NEW YORK TIMES - A cúpula do G-7 na semana passada no Japão terminou com uma série de alertas para a China. Os líderes das maiores economias ocidentais enfureceram Pequim ao desafiar suas reivindicações no Mar do Sul da China e pressionar os chineses em relação a abusos de direitos humanos em Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong. Em paralelo, o aumento da ajuda militar à Ucrânia alarmou o governo chinês, que teme que a lógica da guerra por procuração entre Otan e Rússia se repita em Taiwan.

“A China está pronta para dobrar sua aposta na relação com a Rússia após a cúpula do G-7 porque o tema central desse encontro compreendeu não apenas a invasão russa à Ucrânia, mas também a China e a maneira com que o Ocidente deveria lidar com ela”, afirma Alexander Korolev, palestrante sênior da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que estuda as relações sino-russas. “A cúpula e a presença de Zelenski no evento marcaram uma divisão geopolítica mais aparente e profunda entre o Ocidente, de um lado, e China e Rússia, do outro”, acrescentou.

O presidente americano, Joe Biden, buscou retratar uma atmosfera menos carregada, prevendo que haveria um degelo nas relações com Pequim. Mas para a China, a mostra de unidade entre as democracias do G-7 provavelmente contribui para as alegações chinesas de que os EUA tentam orquestrar seus aliados para provocar um conflito na região do Pacífico.

Risco de guerra no Pacífico

Conforme descreveu o jornal Global Times, do Partido Comunista, na segunda-feira, os EUA estão tentando “replicar a ‘Crise Ucrânia’” na região Ásia-Pacífico. Ao fazê-lo, reza o argumento chinês, Washington poderia travar uma guerra por procuração com a China da mesma maneira que faz com a Rússia — e justificar posteriormente o que seria um cenário de pesadelo para Pequim: a formação de uma versão para Ásia-Pacífico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para conter a ascensão da China.

A cúpula do G-7 foi repleta de “imagens desconfortantes” para a China, afirmou Lyle Goldstein, especialista em China do instituto de análise Defense Priorities, de Washington. A principal delas foi o Japão, uma potência em relação à qual a China nutre uma antiga animosidade histórica, ter recebido o evento. Os meios de comunicação estatais chineses atacaram Tóquio esta semana, acusando o governo japonês de fazer “o que os EUA mandam” e inflar a “ameaça China”, para poder emendar sua Constituição e reconstruir suas Forças Armadas pela primeira vez desde a 2.ª Guerra.

Goldstein afirmou que a China percebeu o Japão no G-7 “em conivência com os EUA”, para “trazer a Europa à questão de Taiwan”, um movimento que ele comparou a “agitar uma bandeira vermelha diante de um touro”.

A China encontra-se nessa situação porque sua parceira mais próxima, a Rússia, desafiou os alertas do Ocidente e invadiu a Ucrânia. Apesar dos muitos problemas que isso criou para a China, Pequim continuou a dar apoio econômico e diplomático para o Kremlin em razão de seu desejo comum de enfraquecer o domínio global dos EUA.

Xi Jinping e Vladimir Putin em reunião em Moscou, em 2019  Foto: Reuters

Aliança estratégica

Discursando em um fórum de negócios em Xangai, na terça-feira, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. afirmou que a Rússia continuará a fomentar relações com a China, que continua uma das únicas fornecedoras de tecnologias como microchips da Rússia e uma de suas maiores compradoras de energia.

“Nós expandimos o comércio com as economias em rápido desenvolvimento no mundo. Essas palavras se aplicam totalmente à nossa grande amiga China”, afirmou Mishustin, de acordo com os meios de comunicação estatais da Rússia, que noticiaram ambos os lados discutindo expandir a cooperação em transporte, agricultura e energia.

Korolev, o especialista da Universidade de Nova Gales do Sul, afirmou que a guerra e as sanções do Ocidente aceleraram a reorientação da Rússia na direção da Ásia. Essa mudança de política, que começou há mais de uma década atrás, foi recebida com preocupações na Rússia a respeito da possibilidade de seu país desenvolver uma dependência excessiva em relação à China.

“Não há mais nenhuma reserva”, afirmou Korolev. “Todas as barreiras políticas que existiam antes foram agora removidas, e a Rússia não está mais preocupada a respeito de confiar na China — ou até mesmo depender dela — para seu bem-estar econômico.”

Relações mais próximas

Os dois países também estão ampliando relações de segurança. Chen Wenqing, diretor do comitê de assuntos políticos e jurídicos do Partido Comunista Chinês — que coordena questões de segurança pública — embarcou em uma visita de oito dias à Rússia no domingo e reuniu-se em Moscou com o diretor do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev.

Em uma conferência de imprensa realizada em Pequim na terça-feira, uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que “a cooperação (sino-russa) possui forte resiliência e grande potencial”, que não seriam “perturbados nem ameaçados por nenhuma terceira parte”, em uma aparente referência aos EUA.

O vínculo cada vez mais próximo entre as duas potências prejudicou a tentativa da China de se colocar como mediadora crível para a guerra na Ucrânia. Na semana passada, a China enviou um representante especial para a paz visitar capitais europeias como Kiev, Varsóvia, Bruxelas e Moscou. O enviado, Li Hui, até aqui fracassou em alcançar qualquer avanço, enquanto a Ucrânia tem insistido na retirada completa das forças russas de território ocupado. O Kremlin rejeita esses termos, e não é claro se a China estaria disposta a pressionar a Rússia a ceder, dado o desejo de Pequim de preservar as boas relações com Moscou.

Neutralidade em xeque

Li também foi acompanhado de questões a respeito de sua neutralidade em razão de sua perceptível proximidade com o Kremlin, após ter servido como embaixador chinês em Moscou.

“Apesar dessa experiência, em si, não significar necessariamente que Li será parcial a favor da Rússia em negociações, ela certamente não dissipa a impressão de que a China quer garantir que sua relação com a Rússia permaneça intacta após as negociações”, afirmou Cheng Chen, especialista em política chinesa da Universidade do Estado de Nova York em Albany-SUNY.

Li deve aterrissar na Rússia na sexta-feira, de acordo com os meios de comunicação estatais russos.

Mesmo que o governo chinês tenha professado neutralidade em relação à guerra, dentro da China a narrativa geral de Pequim a respeito do conflito está repleta de simpatia pela Rússia e uma convicção disseminada de que a China será o próximo alvo se Vladimir Putin for derrotado.

Goldstein, o analista do instituto Defense Priorities, afirmou que um experiente especialista chinês em Rússia lhe disse durante uma conversa em Pequim, na semana passada que, da perspectiva do governo chinês, “se a Rússia perder, a pressão sobre a China apenas se multiplicará e se tornará muito mais severa”.

Em muitos estudos do governo chinês e de analistas militares, a Ucrânia é retratada não como recebedora de uma ajuda crucial e apoio em inteligência do Ocidente, mas como um peão que os EUA atraíram para sua estratégia maior de enfraquecer criticamente a Rússia e, por fim, a China.

“Se os EUA e a Otan rirem por último em sua guerra de confrontação com a Rússia, eles terão então formado finalmente um sistema de poder militar multilateral entre EUA, Japão e Europa”, escreveu em um estudo recente Liu Jiangyong, um proeminente especialista nas relações da China com o Japão e com outros países asiáticos, da Universidade Tsinghua, em Pequim. “Mesmo se a China virar a primeira potência econômica do mundo, seu ambiente de segurança internacional pode continuar a piorar.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

NEW YORK TIMES - A cúpula do G-7 na semana passada no Japão terminou com uma série de alertas para a China. Os líderes das maiores economias ocidentais enfureceram Pequim ao desafiar suas reivindicações no Mar do Sul da China e pressionar os chineses em relação a abusos de direitos humanos em Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong. Em paralelo, o aumento da ajuda militar à Ucrânia alarmou o governo chinês, que teme que a lógica da guerra por procuração entre Otan e Rússia se repita em Taiwan.

“A China está pronta para dobrar sua aposta na relação com a Rússia após a cúpula do G-7 porque o tema central desse encontro compreendeu não apenas a invasão russa à Ucrânia, mas também a China e a maneira com que o Ocidente deveria lidar com ela”, afirma Alexander Korolev, palestrante sênior da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que estuda as relações sino-russas. “A cúpula e a presença de Zelenski no evento marcaram uma divisão geopolítica mais aparente e profunda entre o Ocidente, de um lado, e China e Rússia, do outro”, acrescentou.

O presidente americano, Joe Biden, buscou retratar uma atmosfera menos carregada, prevendo que haveria um degelo nas relações com Pequim. Mas para a China, a mostra de unidade entre as democracias do G-7 provavelmente contribui para as alegações chinesas de que os EUA tentam orquestrar seus aliados para provocar um conflito na região do Pacífico.

Risco de guerra no Pacífico

Conforme descreveu o jornal Global Times, do Partido Comunista, na segunda-feira, os EUA estão tentando “replicar a ‘Crise Ucrânia’” na região Ásia-Pacífico. Ao fazê-lo, reza o argumento chinês, Washington poderia travar uma guerra por procuração com a China da mesma maneira que faz com a Rússia — e justificar posteriormente o que seria um cenário de pesadelo para Pequim: a formação de uma versão para Ásia-Pacífico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para conter a ascensão da China.

A cúpula do G-7 foi repleta de “imagens desconfortantes” para a China, afirmou Lyle Goldstein, especialista em China do instituto de análise Defense Priorities, de Washington. A principal delas foi o Japão, uma potência em relação à qual a China nutre uma antiga animosidade histórica, ter recebido o evento. Os meios de comunicação estatais chineses atacaram Tóquio esta semana, acusando o governo japonês de fazer “o que os EUA mandam” e inflar a “ameaça China”, para poder emendar sua Constituição e reconstruir suas Forças Armadas pela primeira vez desde a 2.ª Guerra.

Goldstein afirmou que a China percebeu o Japão no G-7 “em conivência com os EUA”, para “trazer a Europa à questão de Taiwan”, um movimento que ele comparou a “agitar uma bandeira vermelha diante de um touro”.

A China encontra-se nessa situação porque sua parceira mais próxima, a Rússia, desafiou os alertas do Ocidente e invadiu a Ucrânia. Apesar dos muitos problemas que isso criou para a China, Pequim continuou a dar apoio econômico e diplomático para o Kremlin em razão de seu desejo comum de enfraquecer o domínio global dos EUA.

Xi Jinping e Vladimir Putin em reunião em Moscou, em 2019  Foto: Reuters

Aliança estratégica

Discursando em um fórum de negócios em Xangai, na terça-feira, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. afirmou que a Rússia continuará a fomentar relações com a China, que continua uma das únicas fornecedoras de tecnologias como microchips da Rússia e uma de suas maiores compradoras de energia.

“Nós expandimos o comércio com as economias em rápido desenvolvimento no mundo. Essas palavras se aplicam totalmente à nossa grande amiga China”, afirmou Mishustin, de acordo com os meios de comunicação estatais da Rússia, que noticiaram ambos os lados discutindo expandir a cooperação em transporte, agricultura e energia.

Korolev, o especialista da Universidade de Nova Gales do Sul, afirmou que a guerra e as sanções do Ocidente aceleraram a reorientação da Rússia na direção da Ásia. Essa mudança de política, que começou há mais de uma década atrás, foi recebida com preocupações na Rússia a respeito da possibilidade de seu país desenvolver uma dependência excessiva em relação à China.

“Não há mais nenhuma reserva”, afirmou Korolev. “Todas as barreiras políticas que existiam antes foram agora removidas, e a Rússia não está mais preocupada a respeito de confiar na China — ou até mesmo depender dela — para seu bem-estar econômico.”

Relações mais próximas

Os dois países também estão ampliando relações de segurança. Chen Wenqing, diretor do comitê de assuntos políticos e jurídicos do Partido Comunista Chinês — que coordena questões de segurança pública — embarcou em uma visita de oito dias à Rússia no domingo e reuniu-se em Moscou com o diretor do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev.

Em uma conferência de imprensa realizada em Pequim na terça-feira, uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que “a cooperação (sino-russa) possui forte resiliência e grande potencial”, que não seriam “perturbados nem ameaçados por nenhuma terceira parte”, em uma aparente referência aos EUA.

O vínculo cada vez mais próximo entre as duas potências prejudicou a tentativa da China de se colocar como mediadora crível para a guerra na Ucrânia. Na semana passada, a China enviou um representante especial para a paz visitar capitais europeias como Kiev, Varsóvia, Bruxelas e Moscou. O enviado, Li Hui, até aqui fracassou em alcançar qualquer avanço, enquanto a Ucrânia tem insistido na retirada completa das forças russas de território ocupado. O Kremlin rejeita esses termos, e não é claro se a China estaria disposta a pressionar a Rússia a ceder, dado o desejo de Pequim de preservar as boas relações com Moscou.

Neutralidade em xeque

Li também foi acompanhado de questões a respeito de sua neutralidade em razão de sua perceptível proximidade com o Kremlin, após ter servido como embaixador chinês em Moscou.

“Apesar dessa experiência, em si, não significar necessariamente que Li será parcial a favor da Rússia em negociações, ela certamente não dissipa a impressão de que a China quer garantir que sua relação com a Rússia permaneça intacta após as negociações”, afirmou Cheng Chen, especialista em política chinesa da Universidade do Estado de Nova York em Albany-SUNY.

Li deve aterrissar na Rússia na sexta-feira, de acordo com os meios de comunicação estatais russos.

Mesmo que o governo chinês tenha professado neutralidade em relação à guerra, dentro da China a narrativa geral de Pequim a respeito do conflito está repleta de simpatia pela Rússia e uma convicção disseminada de que a China será o próximo alvo se Vladimir Putin for derrotado.

Goldstein, o analista do instituto Defense Priorities, afirmou que um experiente especialista chinês em Rússia lhe disse durante uma conversa em Pequim, na semana passada que, da perspectiva do governo chinês, “se a Rússia perder, a pressão sobre a China apenas se multiplicará e se tornará muito mais severa”.

Em muitos estudos do governo chinês e de analistas militares, a Ucrânia é retratada não como recebedora de uma ajuda crucial e apoio em inteligência do Ocidente, mas como um peão que os EUA atraíram para sua estratégia maior de enfraquecer criticamente a Rússia e, por fim, a China.

“Se os EUA e a Otan rirem por último em sua guerra de confrontação com a Rússia, eles terão então formado finalmente um sistema de poder militar multilateral entre EUA, Japão e Europa”, escreveu em um estudo recente Liu Jiangyong, um proeminente especialista nas relações da China com o Japão e com outros países asiáticos, da Universidade Tsinghua, em Pequim. “Mesmo se a China virar a primeira potência econômica do mundo, seu ambiente de segurança internacional pode continuar a piorar.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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