PEQUIM - Em Pequim, famílias correram para estocar comida. Os supermercados ficaram abertos até tarde. Moradores enfrentaram longas filas para testes obrigatórios. Um novo surto de coronavírus levantou preocupações de que a capital possa se tornar, depois de Xangai, o próximo grande centro urbano do país a suspender a vida para conter a disseminação da variante Ômicron.
A capital registrou dezenas de contágios na última semana, incluindo 19 casos novos nesta segunda-feira. As advertências de um possível foco de covid na cidade provocaram neste domingo uma corrida aos supermercados de Pequim. No mesmo dia, à noite, muitos produtos ficaram esgotados nos aplicativos de entrega -- e, embora os estoques tenham sido reabastecidos nesta segunda-feira, ainda há temor de escassez entre os moradores da cidade.
Zhao, um homem que revelou apenas o sobrenome, saiu para comprar várias sacolas de mantimentos, incluindo ovos e legumes, depois de ouvir que testes de covid se tornariam obrigatórios na cidade. O homem de 31 anos afirmou que deseja ter certeza de que o filho pequeno terá alimentos suficientes se a família receber a ordem para permanecer em casa. “Os adultos podem sobreviver alguns dias, mas não é a mesma coisa para as crianças”,disse.
Wang, outra moradora de Pequim que correu para o supermercado, disse temer que “as coisas fiquem como em Xangai”. “As pessoas estão ansiosas. Todo mundo está pegando produtos e temos medo de que as coisas acabem”, disse a mulher de 48 anos.
O governo municipal de Pequim decidiu na noite desta segunda-feira, 25, que quase todos na cidade terão que fazer três exames de coronavírus ao longo de cinco dias. A ordem veio depois que 70 casos da doença foram registrados na cidade desde a última sexta-feira.
Quase dois terços dos casos ocorreram no distrito afluente de Chaoyang, que ordenou no domingo que todos os seus 3,5 milhões de habitantes deveriam ser testados na segunda, quarta e sexta-feira. A ordem do governo municipal contempla outros 10 distritos, cujos habitantes serão testados na terça, quinta e sábado.
Enquanto toda a cidade de Xangai está fechada há quase um mês, Pequim está experimentando inicialmente uma abordagem mais seletiva. Alguns bairros foram fechados e os moradores de complexos de apartamentos adjacentes a esses bairros foram fortemente desencorajados a deixar suas casas.
A maior área onde os moradores estão trancados ou são desencorajados a deixar suas casas cobre cerca de um quilômetro quadrado do sul do distrito de Chaoyang, do outro lado de uma ampla avenida da Universidade de Tecnologia de Pequim. As lojas do lado da avenida da universidade ainda estavam abertas no início da noite de segunda-feira, mas lojas de roupas, lojas de conveniência, restaurantes e muitos outros negócios do outro lado da avenida estavam escuros e vazios.
Li Haiqing, um morador de 27 anos de um bairro fechado vários quilômetros a leste, disse que havia estocado comida instantânea, lanches, água e toalhas de papel no sábado e estava pronto quando acordou no domingo de manhã para descobrir que ninguém tinha permissão para sair de seu complexo de apartamentos.
“Eu me pergunto por que aconteceu tão de repente”, disse. “Mas como há casos confirmados, acho que a segurança é a primeira prioridade”.
‘Covid zero’
Durante toda a pandemia, o governo chinês se apoiou fortemente nos bloqueios, apesar de seus altos custos sociais e econômicos, em nome da estratégia “covid zero”. Em várias cidades, os testes em massa se tornaram um prelúdio para bloqueios rigorosos, como o de quatro semanas em Xangai, que provocou reclamações generalizadas dos moradores da cidade.
“O distrito de Chaoyang é agora o foco principal para a prevenção da pandemia”, disse Cai Qi, secretário do Partido Comunista de Pequim, que parecia determinado a mostrar que Pequim não hesitaria em tomar medidas para conter as infecções. “Medidas importantes não podem ser deixadas para o dia seguinte”, disse. “Todos os locais de risco e indivíduos envolvidos nesses casos devem ser examinados imediatamente.”
A tomada de duras medidas em Xangai foi alvo de fortes críticas dos chineses.“Nós, moradores de Xangai, sentimos que houve muitas medidas compulsórias absurdas, desconcertantes e até cruéis”, disse Ji Xiaolong, morador da cidade, que criticou publicamente a forma como o governo lidou com o bloqueio.
Na segunda-feira, as autoridades de saúde de Xangai disseram que a cidade havia confirmado 19.455 casos no dia anterior, uma queda de 1.603 em relação à contagem diária anterior. A cidade permitiu que moradores de algumas áreas consideradas seguras saíssem, mas os líderes alertaram que as restrições mais amplas devem permanecer em vigor até que as infecções sejam eliminadas.
“Xangai está agora em um momento crucial”, disse Sun Chunlan, vice-primeiro-ministro chinês que supervisiona o bloqueio, na semana passada. “A pandemia não vai esperar pelas pessoas, e não podemos pensar em colocar os pés para cima e respirar”.
O surto em Pequim é outro golpe para a já cambaleante economia chinesa. Ondas de vendas atingiram os mercados de ações de Xangai e Shenzhen na segunda-feira, derrubando em 4,9% em um único dia o índice CSI 300 dos preços das ações de grandes empresas chinesas. /NYT e AFP