“Nós não pegamos roupas de inverno quando deixamos a Cidade de Gaza, mais de um mês atrás”, disse ao Washington Post, pelo telefone, Ramzi Mohammed, de 31 anos. Mohammed está instalado em Rafah com sua mulher e seus três filhos. “A única coisa que fazemos à noite é ficar bem juntos para nos aquecer”, afirmou ele.
Durante seu ataque terrestre em Gaza, as Forças Armadas de Israel ordenaram que os moradores rumassem para Khan Younis e Rafah em busca de abrigo. A guerra já matou pelo menos 18 mil palestinos e deixou 50 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo grupo terrorista Hamas. E Khan Younis, antes considerada uma cidade segura, agora é palco de alguns dos combates mais pesados.
Cerca de 1,9 milhão de pessoas em Gaza — ou 90% da população do território, segundo dados das Nações Unidas — foram deslocadas. Muitos civis vivem atualmente em tendas cobertas com qualquer cobertor ou peça de roupa que consigam encontrar.
“Não tem cobertor para vender no mercado”, afirmou Mohammed. “Mas (mesmo) quando tem, eu não tenho dinheiro suficiente para comprar.”
Clima
Modelos computacionais simularam que entre 10 e 35 milímetros de chuva caíram sobre Gaza conforme uma zona de baixa pressão trouxe ar úmido do Mediterrâneo. Registros do Serviço Meteorológico de Israel mostraram que aproximadamente essa quantidade de chuva caiu ao longo de grande parte da costa mediterrânea. Na cidade israelense de Ashkelon, ao norte de Gaza, choveu 15,9 milímetros.
A área de baixa pressão está agora se movendo para o leste, e um tempo seco comum à estação é previsto para a região nos próximos dias. A chuva que caiu em Israel e Gaza é típica entre novembro e março, o período geralmente considerado chuvoso na região.
Saiba mais
A chuva exacerbou problemas que assolam um sistema de assistência de saúde já em dificuldades. Diante da disseminação de doenças e da elevada densidade populacional em Gaza, as Nações Unidas classificaram a situação na quarta-feira como “um desastre de saúde pública”.
“A capacidade máxima dos abrigos foi excedida há muito tempo. As pessoas ficam horas na fila para conseguir usar uma privada — uma única privada disponível para centenas de pessoas”, disse à imprensa a coordenadora humanitária da ONU para os territórios palestinos, Lynn Hastings. “Esta situação ocasiona uma crise de saúde.”
Hastings afirmou que as ordens de Israel para retiradas de civis colocam em risco operações de ajuda. “Tentar levar comida para as pessoas em Rafah é extremamente difícil”, acrescentou ela.
Mahmoud Aziz, de 36 anos, é um dos cidadãos que fugiram para o sul e se abrigaram em Rafah sob ordens de Israel. Atualmente ele vive em um edifício com cerca de 70 pessoas. “Nossa família inteira está com diarreia, que parece ser causada pela água que bebemos, ou pelo frio”, afirmou ele. “Nós deixamos as janelas abertas por causa dos bombardeios; nós temos medo do vidro se houver bombardeio.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO