Esqueça os ternos pretos, óculos escuros e todo o glamour da espionagem de James Bond. Nos Centros para Excelência Acadêmica, da Comunidade de Inteligência dos EUA, a nova geração de agentes e espiões americanos usa jeans, camiseta e tênis. Diariamente, os jovens têm aulas, palestras e workshops - todas com o mesmo objetivo: desenvolver o raciocínio e o pensamento crítico dos alunos. "Depois dos atentados de 2001, as agências de inteligência começaram a procurar maneiras de promover os estudos de inteligência para criar uma força de trabalho mais informada e preparada", disse ao Estado, por telefone, Betty Chaney, diretora do Centro para Excelência Acadêmica da Universidade Clark Atlanta, na Geórgia. "O programa é importante para que o governo possa ter uma força de trabalho mais analista, com profissionais que saibam lidar com situações como as do 11 de setembro." Desde 2005, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI), órgão que supervisiona as 16 agências americanas de informação - entre elas a CIA e o FBI -, promove o Programa de Estudos de Segurança Nacional em centros espalhados por dez universidades do país. A expectativa é de duplicar o número de centros até 2015 O investimento do governo no programa desde sua implementação foi de US$ 12 milhões. A verba direcionada a essas faculdades possibilita também viagens internacionais para os alunos aprenderem e praticarem idiomas. Turquia, Marrocos e China foram alguns dos países visitados até agora. Segundo Betty, os alunos são encorajados a aprenderem idiomas como o árabe e o mandarim. "As recomendações que temos é de que as viagens promovidas pelo centro normalmente têm de ser para países que apresentam um desafio no idioma, como Rússia e China", disse Betty, que já viajou duas vezes para Istambul, na Turquia, com estudantes do centro. De acordo com Arlene Maclin, diretora do centro da Universidade Estadual Norfolk, na Virgínia, o objetivo dessas viagens é exclusivamente estudar a cultura de outros povos. "É importante destacar que nós não vamos até esses países para fazer espionagem", afirmou Arlene, que levou seus alunos para o Marrocos duas vezes. "Queremos aprender a cultura desses povos porque as agências de inteligência buscam profissionais multiculturais." Arlene explica que um dos objetivos do programa é mudar a imagem que as agências têm entre os jovens. "Queremos quebrar o estereótipo do agente secreto e do espião porque precisamos que pessoas comuns se juntem à inteligência." A diretora ressalta que a participação dos alunos no programa não os obriga necessariamente a trabalhar em uma das agências do governo. "Os jovens não têm essa obrigação, mas a tendência é essa porque muitos dos nossos alunos conseguem estágios nessas agências." Em 2007, a estudante de sociologia Sophia Garvin Leigh, de 28 anos, participou da viagem a Istambul, promovida pelo centro da Georgia. Na capital turca, ela estudou a cultura do povo do país. "Passamos três semanas aprendendo mais sobre a inteligência turca e o sistema de segurança do país", disse Sophia, que em maio viajaria novamente pelo programa - dessa vez, para a China.